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O fluxo da vida: Do humano ao transcendente
O fluxo da vida: Do humano ao transcendente
O fluxo da vida: Do humano ao transcendente
E-book157 páginas1 hora

O fluxo da vida: Do humano ao transcendente

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Sobre este e-book

Neste livro, a psicóloga Tereza Karam narra sua trajetória de vida, fazendo um paralelo com a ciência do comportamento humano e ins­pirando pessoas a se apropriarem de suas vidas e transformá-las no bem-viver.
Suas vivências e as relações que estabelece com o outro na vida pessoal e profissional são con­templadas à luz da Psicologia.
O(a) leitor(a) é convidado(a) a investir em apri­­moramento pessoal visando a transcendên­cia, uma necessidade humana de saber que dei­xa­mos um legado enquanto construímos nossa exis­tência no planeta.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de dez. de 2021
ISBN9786586369717
O fluxo da vida: Do humano ao transcendente

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    O fluxo da vida - Tereza Karam

    O início do meio

    Tudo começa em 2020 – um ano que ficará na história do século XXI – e estou confinada em casa, em isolamento social, para preservar a vida dos meus pais idosos. Afinal, chegar aos 79 anos é para ser celebrado e um vírus letal está circulando pelo mundo. Moro numa casa cinquentenária – a mesma em que cresci, subindo em árvores, brincando de esconde-esconde com amigos do bairro e do colégio público estadual – em Curitiba, capital do Paraná, uma cidade considerada modelo mundialmente.

    Curitiba ganhou fama com a administração – em três mandatos – do prefeito Jaime Lerner, também arquiteto e urbanista e reconhecido como o segundo maior urbanista do mundo, numa lista organizada pela revista norte-americana de planejamento urbano Planetizen.

    Como a casa, eu também já completei 50 anos! Enclausurada para me proteger, bateu a nostalgia e voltei a me sentir com 8 anos de idade, procurando o que fazer para me distrair nas horas vagas.

    Antes do isolamento social, reabastecia-me emocionalmente em belas cafeterias da cidade, acompanhada de livros ou amigas. Agora... fechadas!

    Outro momento de lazer – embalado pela música – ocorria nas aulas de dança contemporânea, onde corpos de várias idades se moviam, coordenados pelo multiartista Ravi Brasileiro. Encontros de dança presenciais em parques, com o som de pássaros ao fundo e em salões de chão encerado. Agora... proibidos!

    Sair da realidade e viajar pelo mundo do cinema em grandes salas da cidade era mais uma opção desejada por mim, para espairecer do trabalho como profissional do comportamento humano. Agora... nem pensar!

    Curitiba não tem praia, mas é possível descer a Serra do Mar e, em uma hora e meia, chegar ao balneário de Matinhos com uma prancha de três metros e aliviar a tensão da semana com o surfe. Mais uma atividade que me fazia relaxar no contato direto com a areia fina, o barulho das ondas e o céu azul. Agora... interditado!

    Só me restou – assim como na infância – o jardim de casa com suas árvores frutíferas, as araucárias e cerca de vinte espécies de pássaros que vêm refrescar-se nesta natureza. Comecei a criar novos rituais, como trocar a água do bebedouro e colocar banana no comedouro, junto à casa de lenhas, sentar nos bancos do jardim e ver sabiás e sanhaços se revezarem nas delicadas bicadas nos alimentos. Nesse jardim, passei pelas quatro estações do ano. Vi ninhos serem construídos na primavera e destruídos pelo vento e chuva intensa no verão. Vi filhotes de beija-flor nascerem e crescerem sem medo de interagir. Afinal, eu estava com eles, confinada, contemplando as pequenas mudanças de todo dia. Vi árvores passando do verde para o amarelo e daí ficando desfolhadas, no aspecto mórbido do inverno.

    Morbidez foi o tema do ano, com mais de dois milhões de pessoas que encerraram seus ciclos neste mundo devido à Covid-19, doença causada pelo coronavírus – um vírus letal altamente democrático, que atinge todas as classes sociais, profissões e idades. Para sobreviver, adotamos novos hábitos e atitudes do universo digital – que eu já usava e passou a ser regra. Como psicóloga, já atendia on-line clientes de fora de Curitiba e do Brasil. Com o isolamento social, os atendimentos passaram a ser 100% on-line e investi numa plataforma chamada Doctoralia, com o sistema de Telemedicina, assim atendo as demandas dos meus pacientes por videochamada, inclusive compartilhando na tela do computador os materiais de apoio, como textos, fotos e vídeos, para uma sessão mais próxima da presencial.

    Tudo o que as pessoas mais desejavam, antes do isolamento, era ter mais tempo livre e, agora, o tempo toma uma dimensão diferente. Economizamos tempo gasto no deslocamento para as sessões presenciais, por outro lado o tempo economizado não pode ser gasto em atividades de lazer ou sociais, pois estamos trancafiados. Então, só nos resta descobrir criativamente o que fazer em casa.

    Com o céu estrelado do inverno, muitas noites foram regadas a vinho e aquecidas por um cobertor, enquanto a madeira no jardim crepitava numa fogueira, contando sua história em estalos e chamas. Nunca as noites frias de Curitiba foram tão belas, pois a solitude foi aceita por mim como um bálsamo emocional. Contemplar a lua nascendo entre os desfolhados galhos das árvores trouxe uma paz e uma gratidão imensas, enquanto meus pais permaneciam aquecidos e seguros em seus quartos nos espaços internos. A solitude é um estado emocional positivo e difere da solidão, que está associada à dor e à tristeza.

    A cozinha é o ponto de encontro da família, a qual no inverno ganha a opção do fogão à lenha – predileção da minha mãe. A sala com a lareira fica sempre abandonada, até porque foi construída de mau jeito e, quando a lenha pega fogo, nos sufocamos com a fumaça.

    Meu quarto fica ao lado da sala e da minha janela posso controlar quem chega ao portão – os que são bem-vindos e os intrusos. Nele, além de desfrutar do sono da noite, tenho minha poltrona de leitura, estante de livros, muitas plantas penduradas sobre a cabeça e que podem ser vistas pelos meus pacientes, durante as sessões on-line na minha mesa de trabalho.

    O que mais fazer para viver o tempo presente em momentos de lazer? Mergulhar em livros clássicos foi uma opção interessante, uma vez que, durante minha carreira, o investimento sempre foi em conteúdo técnico. Cresci rodeada de livros, com um pai professor, poeta e pesquisador literário. Na construção da casa, a sala ganhou uma estante de madeira de imbuia que cobre a parede de cima a baixo, para receber diversos tipos de livros: romance, poesia, policial, aventura e, lógico, os clássicos da literatura mundial.

    Então, 2020 foi o ano de Shakespeare, e mergulhei no drama de Hamlet, um príncipe atormentado pelo fantasma do pai assassinado. Com Tolkien, descobri que sou uma hobbit, pois os hobbits são administradores natos, adoram andar de pés descalços, se reabastecem em jardins, e não uma elfa da floresta, criaturas de um mundo mágico antigo em que mergulhei por meio de cinco livros, incluindo a série Senhor dos Anéis e O Silmarillion. Conan Doyle e seu detetive Sherlock Holmes aguçaram minha mente analítica com os detalhes minuciosos dos crimes, sempre tentando antecipar o desfecho e identificar o assassino. Dante Alighieri foi uma leitura mais lenta, com a edição luxuosa de capa dura azul, letras douradas e ilustrações chocantes da Divina Comédia, onde almas vivem no purgatório e no inferno com suas várias torturas, dependendo do pecado cometido na Terra, até chegarem ao paraíso, onde poucos usufruem da comunhão com Deus, anjos e santos. Charles Dickens foi emocionalmente pesado, mostrando a dura realidade da pobre Inglaterra do final do século XIX vivida pelo garoto órfão Oliver Twist. Fui remetida aos sofrimentos atuais, nas favelas do Brasil, e a esperança quase se esvaía com as mazelas do menino, mas se mantinha pulsante num romance que alimenta a alma e nos incita a permanecer lutando pela justiça. E, assim, o ano passou exigindo: reinvente-se!

    Onde entra a escrita

    Com um pai leitor contumaz, semanalmente íamos aos sebos de Curitiba para adquirir raridades e também materiais para os trabalhos escolares. Nessas demandas acadêmicas, descobri uma veia para a estética, para a beleza da simetria, e foi aí que veio o desejo de fazer arquitetura – frustrado mais tarde na adolescência.

    Imaginava o paisagismo fundamentado na botânica, enquanto colecionava selos de flores. Os álbuns resistiram ao tempo e, ainda hoje, podem ser folheados.

    Com a leitura, descobri o poder que as palavras têm na organização de emoções e ideias e, assim, os diários fizeram parte de toda a minha existência. Hoje, eles dividem o meu tempo com artigos no meu blog Escrevendo sobre a vida e nas várias mídias sociais. Gosto de escrever, na tentativa de materializar a análise e a síntese daquilo que vejo, sinto, penso e estudo. Quando terminei o curso de Psicologia – que acabou sendo a opção de graduação – eu me inspirava em profissionais escritores e sonhava com o lançamento e a noite de autógrafos, fotos perpetuando o momento e a sensação de realização.

    O tempo passou e isso não se tornou realidade, mas me dediquei a escrever quatro livros em parceria com outras pessoas. Eles foram registrados na Fundação Biblioteca Nacional e enviados para editoras, mas, durante anos, recebi agradecimentos e, com eles, uma negativa de publicação.

    Isso não me intimidou; mesmo desejando feedback positivo, reconhecimento e aprovação; o que mais queria era algo que pudesse impactar vidas, tocar o coração e a mente dos leitores. Assim, minhas produções foram distribuídas como material didático em cursos e terapia com pacientes e usados em matérias de jornais. Afinal, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, como já disse o Pai da Química, Lavoisier.

    Minha forma de expressão também se transformou com a chegada dos blogs e fui atrás de orientação, para aprender essa nova linguagem que alimenta posts em mídias digitais escritas e em vídeos. Aquela jovem recém-formada não imaginava que, para se comunicar com o mundo, os meios até então existentes, como livros, artigos em jornais, entrevistas de rádio, TV e palestras presenciais, seriam transformados significativamente. Eu não imaginava que meu primeiro livro – Psicologia Ambiental: a felicidade percebida no entorno – seria publicado no formato impresso e digital.

    Vinte anos depois do sonho de ser escritora, uma pesquisa no Google pela busca do meu nome revelaria muitas linhas

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