Histórias Arrepiantes para Contar no Natal
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Sobre este e-book
O Natal é uma linda época do ano, onde queremos vivenciar paz e harmonia com nossa família e amigos. Essa data envolta em magia, geralmente desperta no ser humano seus melhores sentimentos.
Mas o Natal também é capaz de ter um lado funesto, cheio de sombras e horrores inomináveis. De mistérios e criaturas monstruosas, sem harmonia ou boas ações. Afinal, será que tudo que nos desejam, é realmente sincero? Que sentimentos obscuros se escondem sob o belo sorriso de um amigo ou familiar que nos abraça?
Nos contos que compõe a antologia Histórias Arrepiantes para Ler No Natal, o terror assume diversas formas, seja espreitando sob as luzes coloridas que piscam nas janelas de casas aparentemente normais ou sob os enfeites de uma árvore de Natal repleta de presentes.
São histórias arrepiantes e surpreendentes, contadas por um seleto grupo de autores.
Tenha um Feliz Natal. Se puder…
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Histórias Arrepiantes para Contar no Natal - Rangel Elesbão
Apresentação
Desde os primórdios da humanidade, as pessoas tem o hábito de contar histórias, contos e causos
, desde as que contamos ao redor de uma mesa de bar, até mesmo as que ouvimos ao redor de uma fogueira.
As histórias são as mais variadas, aventuras, romances, mistério, e também: terror. Contos arrepiantes capazes de gelar nossa alma e fazer um arrepio percorrer nosso corpo inteiro, eriçando os pelos da nossa nuca.
Em países frios, como a Inglaterra, há a tradição de se contar histórias à beira da lareira, onde lá fora, a neve cai incessante. Por muito tempo essa foi uma das tradições Natalinas, fomentada pelos livros de Charles Dickens.
Mesmo no Brasil, onde o Natal ocorre num calor beirando 40 graus, podemos ler e contar histórias, como as que apresentamos nessa antologia.
Nos contos escritos por talentosos autores, desfilam fantasmas, monstros, vampiros, assassinos em série e onde também presentes ganham vida.
Prepara-se para essas Histórias Arrepiantes para Ler no Natal.
Mantenha as luzes acesas.
Cuidado com sons estranhos quando estiver sozinho. E não abra a porta para desconhecidos, sobretudo, após o anoitecer.
Rangel Elesbão
Organizador
Terror Natalino
Maria Ferreira Dutra
Noite de natal, nove e meia da noite. Os cachorros latiam muito e pulavam, incomodando a família Duartes.
Solange, mãe do Thiago não gostava de ver animais agitados, dizia que eram sensitivos e que talvez tivesse alguém lá no portão.
Mariem a responde que a campainha estava funcionando e que ela não esperava mais ninguém. Mesmo assim, ela vai até o quintal vê o que estava acontecendo. Seus cachorros correm ao seu encontro e voltam para o portão continuando a latir.
Mariem abre o portão, vê alguém sentado na calçada e pergunta se está tudo bem. A pessoa de cabeça baixa, rosto escondido por um capuz velho, responde que queria algo para comer.
Mariem pede um minuto, fecha o portão e volta para dentro de casa para preparar um prato de comida. Ela também pega uma caixa de suco.
Mariem chama pelos cachorros dela, mas eles não a atendem. Ela vai sozinha entregar a refeição.
Ao abrir o portão ela se surpreende. O pobre homem não se encontrava mais ali. Apenas um cachorro dormia em seu lugar. Ela resolve deixar o prato de comida para o cão e entra para continuar a comemoração natalina com a família.
Enquanto todos conversavam e comiam houve uma queda de luz. Ninguém entendia o motivo da árvore de natal estar acesa. Apenas dona Solange não achava estranho. Ela dizia que isso já havia acontecido na casa dela há vinte nove anos, que as coisas só estavam se repetindo.
Dona Solange toma um gole de vinho e vira pro neto e diz para ele não se preocupar e nem ficar com medo, mas a hora estava chegando.
Foram treze minutos sem luz, mas tudo ficou bem. A campainha toca, Juliano vai atender e um homem entrega 2 o prato de comida vazio. Juliano deseja um Feliz Natal e o homem sorri dizendo que não gostava de natal, mas se divertia todos os anos pois acabava ceando na casa do seu escolhido.
Juliano a pergunta se aquilo era um convite, mas não teve resposta. Assim ele se vira e vai embora, mas o homem dá três toques no portão e Juliano abre novamente, o homem tira um objeto do bolso e o entrega. Era um pequeno pinheiro. O homem diz para entregar aquele presente a criança da casa pois assim seu corpo se abriria e receberia toda energia que ele
precisava. Juliano o agradece e vai embora.
Juliano volta, Mariem pergunta quem era na campainha, Juliano responde que era o senhor o qual ela deu o prato de comida. Mariem pergunta se havia um cachorro junto a ele e seu marido responde que não. Mariem diz ter ficado feliz por ter dado de comer ao necessitado.
Juliano volta a sala e não entrega o pinheirinho ao filho. O homem lá fora recebe o sinal de que o presente não tinha sido entregue e fica muito irritado pois os pais nunca entregam seu presente para as crianças. Então ele entende o desprezo como um chamado.
Dez e quinze da noite a criança chamada de Rafael, vai até a árvore de natal e começa a brincar com as bolinhas de natal, nela refletia a sua imagem, fazia careta, colocava as mãos atrás das orelhas e as abanava, deu um tchau para o seu reflexo e se espantou com o seu reflexo dando um grito.
A mãe quis saber o que tinha acontecido. Ele disse que viu uma imagem dando tchau para ele e oferecendo um presente. A mãe sorriu dizendo que estava apenas ansioso pelos presentes. Ela se vira e vai para a mesa para pegar um copo de refrigerante. Rafael dá outro grito. O pai corre e pergunta o que estava acontecendo e ele responde que um olho se mexeu naquela bolinha de Natal. O pai pega a bola e mostra que era o próprio olho dele refletido e assim afasta o filho da árvore.
Mariem comenta com o marido que não estava entendendo o comportamento do filho. Thiago fala para a esposa que o menino estava na idade de fantasiar. Dona Solange diz ao filho que ele também fantasiava nessa idade, mas que não foi o escolhido. Thiago pergunta por que ele não foi escolhido. A mãe responde que ele não foi o escolhido para viver eternamente. Thiago pede a mãe para parar de beber pois o álcool já havia passado para a cabeça. Dona Solange disse o que naquela noite teria um presente muito especial para o Papai Noel, dessa vez ele não falharia.
Rafael deixa o carrinho que estava brincando e vai até a árvore e começa a conversar com ela. A mãe diz que Papai Noel não chega pela árvore de natal e sim pela chaminé.
Rafael diz que tem um homem dentro da árvore e diz ter deixado um presente dentro da fornalha para ele e só quem poderia pegar seria a mãe dele. Mariem se recusa a ir buscar o presente, mas é convencida pela sogra a agradar o filho.
Mariem aceita e leva o filho até a fornalha, lugar onde se passava os animais de grande porte para assar.
Mariem enfia a cabeça no forno e diz não ver nada, o filho pede para ela entrar mais um pouco, ela diz ver alguma coisa, mas não alcança o objeto. Ele pede para entrar mais e sorrindo fala com o filho que conseguiu alcançar o objeto.
Mariem é puxada totalmente para dentro do forno e grita para o filho correr, mas ao invés disso, ele fecha e passa a trava por fora.
Mariem consegue se virar de frente para o filho e pede para ele abrir a porta do forno.
Ele sorri para a mãe com um olhar maligno e diz não. Liga o botão do gás e a mãe tosse e chora pedindo para o filho não fazer aquilo, ele balança a cabeça dizendo que faria sim.
E assim ele liga a fornalha, a mãe desmaia com o cheiro do gás. Rafael volta para a sala como se nada tivesse acontecido.
O pai pergunta pela Mariem e ele diz ter deixado a mãe na fornalha, como Mariem não voltava, Thiago pede licença e vai até o local. Chama pela esposa e ela não responde. Pressiona a porta, a fechadura estava quebrada. Ele arromba a porta dando diversos pontapés. Ao conseguir entrar, chama pela esposa e ao sentir a quentura do local, percebe que a fornalha estava acesa.
Thiago fica chocado ao se deparar com a esposa dentro do forno assada e de boca aberta, com olhos arregalados, com cara de desespero.
Thiago tenta desesperadamente tirar a esposa chorando, tentando descobrir quem havia feito isso. Ele pega a mangueira de água, mas é golpeado com um porrete e desmaia.
Rafael atende a porta de casa, eram os seus avós maternos e eles notam que a criança estava estranha, inquieta e com um taco na mão. Petrolino, seu avô, perguntou o que ele fazia com aquele taco. Ele responde que pegou emprestado com o pai, que havia acabado de matar um porco.
Os avôs eram muito religiosos, fizeram o sinal da cruz e se afastaram.
Sua tia Creuza mandou que todos se sentassem a mesa, pois a refeição já seria servida.
Dona Solange chega com uma garrafa na mão e enche os copos dos convidados, não se sabe bem o que havia naquela garrafa, mas deixou toda a família com a percepção perdida e sugestionáveis.
Thiago entra na cozinha levando a comida e com ele estava aquele senhor que Mariem havia dado de comer. Os dois colocam a comida sobre a mesa e o Rafael tirou o pano que cobria a refeição.
Solange começou a fatiar a carne de Mariem que estava sendo servida em fatia como um chester para a família.
Rafael, sentado a cabeceira da mesa, levanta o seu prato para ser o primeiro a ser servido e assim, todos comem a carne.
Num estalar de dedos, Shaycon, o espírito negro do natal convida todos os seres do mal que vivem no pinheiro para comerem.
Shaycon se apresenta a Rafael como seu pai, único pai pra vida toda e assim o chama para ir com ele, para o pinheiro.
Rafael pede para esperar um pouco pois tinha que desligar o celular que gravava tudo, mas Shaycon não dá tempo ao menino e vão para dentro do Pinheiro, onde existe um lugar que ainda não tinha sido descoberto. O Yogapa, o lugar mais frio e infernal do mundo e apenas Shaycon e seus escolhidos sobrevivem.
Aquele que achasse essa filmagem e divulgasse, teria o seu natal destruído pelos seguidores de Shaycon.
Três dias depois a polícia bate à porta dos Duartes e como ninguém atendeu, eles entraram e se depararam com restos mortais espalhados e os cachorros estavam empalados na parede atrás da casa.
Sobre a autora:
Maria Ferreira Dutra mora no Rio de janeiro. É desenhista, escultora e escritora. É citada como autora criativa na revista LCB e também no site da Academia Poética Brasileira onde recebeu a Comenda Charlie Chaplin por seus incentivos a arte e a criatividade. Escreve para o blog contos de vampiros e terror do escritor Adriano Siqueira. Tem contos em videos com imagens e audios e estão no canal do youtube do Rodrigo Gallo e do Cassio Witt. Seus contos narrados também estão se expandido na Radio Putz Grila no programa Creepy Metal Show com o radialista Sérgio Pires Fez Alguns desenhos para o livro do Bestiário do editora Dark Books e recentemente fez a capa da Revista 666 Terror da editora Ordem das Bruxas.
A Menina do Eucalipto
Amanda Kraft
Cheguei ao sítio dos meus tios depois de anos sem visitá-los. Não sei exatamente o que levou a mãe a fazer tal visita. Talvez a saudade tenha falado mais forte ou o medo de perder sua única irmã para uma cirurgia de hérnia, bem no período natalino. Papai não quis ir. Não queria correr o risco de ter que passar a noite de Natal no meio do mato, principalmente por achar o sítio um lugar sombrio — uma casinha no meio de uma plantação de eucaliptos — com vizinhos distantes. Confesso que também não apreciava muito, porém não queria a mãe andando sozinha por aquelas paragens. Lembro-me, quando criança, de não ir muito com a cara do marido de minha tia. Seus olhos não me passavam confiança.
Não havia nada que justificasse minha cisma. Apenas algo que se sente e não se define. Somente minha mãe sabe o motivo de demorar tanto para ver a irmã. O que a levou a esse distanciamento se rompeu diante do estado doentio da tia. Prontifiquei-me a ficar com ela no hospital. Mamãe recusou. Disse-me para cuidar da casa, deixando-a limpa e arrumada para seu retorno.
A sensação de desconforto voltou. Aqueles olhos enigmáticos do velho tio ainda me causavam desconfiança embora fosse um homem gentil. Não era muito de falar. Observador ao extremo. Parece que nada lhe escapava. Percebia-o me perscrutando em algumas ocasiões antes da internação da tia, sempre com a cabeça pendendo para um lado, mantendo os olhos semicerrados. Tentei dizer à mãe meus sentimentos em relação a ele. Ela refutava dizendo não ser hora e nem lugar.
Numa tarde, perambulando pelo sítio, bem perto da floresta de eucaliptos, vi uma garota mais ou menos da minha idade. Não conseguia ver seu rosto escondido nas sombras. Aproximei-me devagar, feliz por ter encontrado alguém da minha idade para conversar naquelas paragens de animais e de pouquíssimas pessoas. Ela me encarava, como a me esperar. Apertei o passo, entretanto a garota se foi. Ganhou o frescor dos eucaliptos se embrenhando no meio dos troncos lisos. Chamei por ela, receosa em seguir adiante. Um estalido, vindo de algum lugar perto, me fez frear. Senti um arrepio percorrer a nuca. Olhei para dentro daquele bosque escuro e resolvi voltar para o sol do fim de tarde, recriminando-me por ser boba. Que mal poderia haver em seguir uma garota dentro de um bosque de eucaliptos? Nenhum, não fosse a sensação ruim que me apertava o peito.
A mãe, assim que pôs os olhos em mim, já foi perguntando o que tinha acontecido. Estava branca feito lençol novo. Sorri, desconversando, mas notei a sombra no olhar da tia quando disse que me aproximara da plantação de eucalipto. Ela abaixou os olhos, pensativa, enquanto a mãe tagarelava sem parar.
Naquela noite, ainda com a garota no pensamento, deitei-me sob o clarão do luar. Da janela podia ver o mar de folhas verde escuro e o vento balançando-as serenamente. Aquele movimento constante sob as estrelas foi a canção de ninar que precisava. Senti os olhos pesados. A mãe ronronava na cama ao lado, fazendo-me sentir segura, quando me entreguei ao sono.
Não sei quanto tempo se passou até que meus olhos se abriram num rompante. Um sussurro, depois um chamado: Alessaaandraaaa. Ergui o corpo, apoiando o tronco nos braços e agucei os ouvidos.