Aurora Canibal
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Aurora Canibal - Estaine Alencar
A Casa e o Poeta
Há uma Casa. Uma Casa onde é possível toda forma de expressão. Nessa Casa habitam gatos, grilos, gambás, jabutis, passarinhos, flautistas, cantores, pintores, autores, atores, literatos, poetas... Ah! os poetas… a cada segunda quinta-feira do mês, eles chegam em bando! E assim chegou um dia Estaine Alencar. Veio como quem não quer nada, como quem chegou só para observar.
Estaine, quase um menino-poeta, com manha foi tecendo manhãs fulgurantes com o fio da poesia. A cada dia, uma novidade. Poemas que surgiam com a urgência das traquinagens de menino arteiro. Ao longo dos anos, construiu uma poética baseada em contrastes e irreverências, numa voraz antropofagia contemporânea, nua, crua, intensa: Canibal!
A substância que seleciona para seu farto banquete é originária da Poesia brasileira Clássica e Modernista. Combos
de Casimiro de Abreu com Manuel Bandeira; Drummond de Andrade com João Cabral, uma pitada de Vinícius de Moraes e por aí afora. Tudo junto e misturado. Pronto para ser deglutido tornando-se o avesso, do avesso, do avesso. Ou mesmo uma Pós Geleia Geral brasileira a desaguar num nonsense: "Quando nasci veio um anjo pé-rapado/ E o danado deu-me rapadura/ Eu então criança Severina/ Usei da minha avó a dentadura".
Neste seu segundo livro, o poeta apresenta sua obra, distribuindo-a em três campos temáticos: no capítulo 1 está seu refinado senso crítico desenvolvido, provavelmente, durante a graduação em Ciências Sociais, que se aguça em profunda reflexão: "O que foi taba hoje é comunidade/ O céu hoje cinza um dia já foi anil/ Se ontem foi flecha hoje é bala/ O que foi arco hoje é fuzil" (Uma Cidade). No segundo capítulo, os passos da vida começam a deixar suas pegadas na alma radar do poeta: "Experimentar é preciso/ viver é possível/ no primeiro passo a estrada começa/ com os anos, poeira à beça." (Estrada).
No terceiro e último, Estaine nos brinda com os deliciosos e instigantes poemas quase crônicas, em que sua sensibilidade social se mobiliza, trazendo um arguto olhar como em: "Cigarros, canetas e de cerveja duas geladeiras deitadas/ Um cartaz que diz: "Fiado só amanhã, abestado/ Vários santos