O Misterioso Coração do Místico
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O Misterioso Coração do Místico - Caligo Beltrão
Monólogo do Homem Torto
fluxo de consciência
– vomitado num delírio,
é claro
Eu estive vivendo no Inferno. E as Artes que eu consumia eram meu único Purgatório. Na sala nunca adentrada, habitava o Jardim Proibido. Eles o chamavam de Paraíso, mas no Paraíso eu jamais poderia adentrar. Há algo de obscuro no universo masculino. E no feminino encontra-se a alma libertadora. A figura da mãe que amamenta e que suporta é não mais que simbologia remota de um pensamento que se estagnou. Nas noites de brisa fria, eu adormecia com vagas alucinações de mim mesmo. Peregrinando, livre, pelo mundo que jamais se mostrou aos meus negros olhos tristes. Nas noites de boca vazia, eu caminhava rumo à visão das estrelas e devaneava com elas os meus sonhos perdidos e um tanto quanto pálidos. Eu rezava para estrelas cadentes que perfuravam o céu noturno, uma a uma. Elas sempre morriam, mas havia tanta beleza em suas dores. E, quando rumavam para o perecer eterno, eu chorava por elas, com elas. Não há nada de glorioso na morte, afinal. O que há é a abstração, libertação. Da alma e do corpo que já morreu até mesmo estando em vida. Quando as pessoas me viam a proferir o que julgavam ser disparates, elas, num remate, decretavam que eu estava romantizando o fenômeno da morte. Mas por que não falar de algo que é tão natural do Homem, intrínseco ao Homem em seu sentido mais profundo? Basicamente, a morte é a própria vida. Evoluída. A transcendência para o divino desconhecido, ignorada pelo senso comum. Não há vantagem em dialogar com pessoas que jamais estiveram no Inferno, que jamais morreram em vida, que jamais provaram da miséria humana, da tragédia do teatro que é esta existência. Elas simplesmente desconhecem a dor legítima. A dor que não se sente e, no entanto, repreende cada vínculo que se criou ao Jardim Proibido quando a inocência era um estado de espírito real. Não há graça em dialogar com estas pessoas, pessoas que sofrem sem sofrer e que jamais provaram da paixão real que, por sua vez, é o verdadeiro ópio da vida. Depois de um tempo se aprende que para ganhar você precisa necessariamente e inexoravelmente perder. Você morre para viver, sobrevive para viver, o que no seu sentido mais profundo nada mais é do que morrer. E a vida nada mais é do que a própria morte que encontra seu sentido e seu eixo também em sua própria morbidez. Você precisa ter tudo e então deixar que o tempo leve. Aí mora o verdadeiro sentido da vida. A vida que é ferida. Ferida que não se vê e não se cura. E posso dizer, jamais a compreendi, como metade destas medonhas criaturas com quem aqui convivo. Contudo, juro amargamente que tentei captá-la o máximo que pude, do jeito que pude. E neste meio-tempo, é claro que há de se perder a bela inocência. Absolutamente toda sua inocência, uma vez que as pessoas vêm, as pessoas vão, e levam tudo o que podem de você. Apesar disso, não gosto de dizer que me arrependo de alguma coisa porque tudo o que cometemos é experiência. E quanto à consideração, posso contar nos meus dedos aqueles que não tentaram me destruir de alguma maneira ao longo de tão tortuoso caminho. E mesmo que eu não quisesse, devo confessar que eles tiraram sim algo de mim. Contudo isso não é de todo ruim. O que é melhor? Viver invicto e ignorante, ou consternado e sábio? É vero que escolho a segunda opção. Apesar de tudo o que passei, eu sempre a preferi. E quanto a você que prometeu manter-me em uma cúpula de vidro, mas acabou por me deixar ao vento e à cerração, eu nasci furioso e fui criado sem a sua companhia, vivendo no útero da matéria prima do mundo. Por isso, eu não vou passar outra noite na cidade que você conhece. Não, eu não vou passar outra noite implorando amor da sua miséria. Para a poesia, contemplo um pensamento e o deixo ecoar em palavras. Eu estive tentando, lutando, definhando para ser o poeta daquelas velhas alucinações das noites de estrelas cadentes. E quando me descobri poeta... bem, eu já estava morto e enterrado.
Balada de Luz & Trevas
na jayate mriyate va kadacin
nayam bhutva bhavita va na bhuyah
ajo nityah sasvato 'yam purano
na hanyate hanyamane sarire¹
Vyasa, Bhagavad-Gita
Invenção do Inferno
Canto I
Bem vindos ao meu mundo sombrio
Minha alma sombria, minha tristeza sombria
Abantesma que vaga pelas bordas de um abismo tão profundo quanto minh’alma solitária
Aqui se faz o negrume dos meus dias,
dos teus dias de torpor amargo
Aqui encontro a Dante e sou como ele
Aqui defronto a Virgílio e, encaminhado por ele, desço o mais baixo fosso da melancolia existencial
Sequer morro, mas vivo ao perecer eterno
da vida jamais vivida
Vida que é metabolismo
a distinguir-se do museu de coisas mortas
Das vaidades e dos anátemas,
das vicissitudes e dos estratagemas,
da causa-cerne e primordial
A sociedade industrial? Antropofagia
Em nossa gaiola de ferro, dançamos
e para o deus das bruxas, rezamos
Jogue o que mais ama nas chamas
e eu ceder-te-ei a visão do futuro
Da recaída ao caos? Desolação
E a anarquia fez da apatia revolução
Eis o acaso nude – espinheiro e roseira – a nos construir efêmeros castelos de areia
E cantando a canção dos homens de pouca fé,
faço meus passos em direção às nuvens de bruna cor
tracejando no céu de minh’alma os olhos do meu amado ser
a quem vi morrer e a quem jamais hei de ter
nestas mãos imundas com as quais eu escalo
– demente e incansável – este vasto abismo, frio e invenerado,
pois o caminho de cima tem a natureza de terras caídas
Espelho de Narciso, seu reflexo atormentado
Jamais desejando suportar mais e mais a dor dos meus dias quase sem luz
Ó luz sádica e azul do meu mundo sombrio
Um clarão que se abre e revela o vazio
Brilha como uma floresta de fogo vivo
Brilha como um dia este ser solitário – ao modo de um velário – tão imponente brilhou
Seja o sol de uma manhã divina
ou a manhã de uma divina comédia da existência
Queime voraz este torto coração, caule de pétalas abatidas,
tendo a alma imunda envolta na chama do caos eterno,
etéreo, infinito – um carrossel da manhã
E depois chove sobre mim como a monção de uma terra longínqua
Eis a tempestade de uma terra esquecida por Deus
Guia-me com a tua furiosa sapiência
até minha venerada Beatrice
Fogo da minh’alma,
alimento do meu ser
Dos quatro cantos da Terra,
ouve-se o rugir das perversas feras no rebanho
e o gemer das vítimas a cruzar o campo de relvas
implorando pelos ventos da mudança
Eis o terror do mundo contemporâneo
A ordem se converte no caos
donde antes fez sua pródiga origem:
é cenário de tormento e de vertigem
O olhar de fogo dos streghe fazem as ruínas de Pompéia parecem tão belas
estes trazem a jarra e na jarra tem a peste
É cortês recusar um presente?
Desposai-me a tudo o que me veste
Bem vindos ao meu mundo sombrio
Meu amanhecer sombrio, meu entardecer sombrio
Fruto da pele de minha musa designada perfeitamente pelos negros materiais de um Deus Maior
Seja minha sina, seja o calor da inocência de uma menina,
como um lampião incandescente,
queimando a terra infinita do meu ser
neste tempo sombrio de ter e de não ter
capítulo censurado, queimado e olvidado da história daquilo que somos
Leva-me para longe, para a tua Terra Prometida
Lá onde homem nenhum jamais ousou chegar
encontrarás aí o meu Juízo Particular
Vede Geena, mãe de exilados!
E acalentando-me como uma criança,
beije minhas feridas abertas no peito
Este buraco sem fim que se fez meu leito,
semideus sou à beira d’água, oceano de mim mesmo
Não há mais felicidade na vida, apenas a tristeza do perecer
E chamejando firme como um anjo bom,
erguer-me-ei das trevas que me fez morada
O puro átomo, o atman, a natureza de uma Mônada
Protozoário flagelado movimentando-se à luz da manhã
Erguer-me-ei do medo que me fez habitação
e que me arrancou do peito toda minha graça
Sangramento da minha salvação.
Canto II
Bem vindos ao meu lado sombrio
Casa sombria, morte sombria
Lar dos grandes olhos azuis – globos de vidro cheios de oceano
Chão mortificado, excomungado e inundado,
eis a febre da ira de deuses antigos, Noé ébrio de luz
Cadinho de amor e ódio
Alquimia da dor
Amor como um ardor
Cor e incolor
Escombros com sabor de guerra
Fogo do coração dos deuses – fornalha e ferro
– donos desta raiz bruta que é o amor,
causador das alegrias mais violentas,
causador das melancolias mais pacíficas
Seja meu senhor
Meu amo, meu amor
Destino implacável que cria e que destrói
Serei seu escravo,
estarei sobre o teu poder
Vencido, cativo e alquebrado
ó glorioso sempre-vencedor!
Sua alma está em chamas, guerreiro hebreu
Eu a vejo através do halo, eu a vejo através do teu
Seja minha erva hidropônica
Em tua odisseia me refugio – eu, o Ulisses de mil artimanhas
– aniquilando o meu interior vazio com a azáfama
de meus dias e de minhas façanhas
Eu serei seu desejo
Objeto do teu almejo
Poesia da tua vivência divina
Dos prazeres? A expiação
Sejam eles estéticos, eróticos, anatômicos ou sensuais
Dos suplícios? O fogo
Sejam eles os públicos, violentos, caóticos ou pessoais
Às prisões, punições e disciplinas
O caos dionisíaco fez da ordem, apolínea
Aos Padres, aos Soldados, aos Juízes e aos Homens
a Sorte, cortejada e lamentada desde ontem
pois é aqui que se esvai toda a metafísica
rumo ao Novo Tribunal do Santo Ofício
a atermar censuras eclesiásticas inapeláveis
e a discutir litígios de naturezas inexprimíveis
No mármore do fogo esplêndido
Senhora e Cavalheiro
Para todos é sujeita a invertida Jerusalém
Das Raízes do Mal? O receado desterro
O homem dentre as criações é o ser mais abjeto
Eis que o arco e a coroa enfim se aproximam,
e as rodas não são lineares como há muito nós refletimos
Preparem os largos campos de batalha
vistam-se do elmo, o escudo, a adaga e a espada
o vermelho vai para a guerra
e quando o fim chegar, e quando o fim finalmente chegar
nesta terra onde flores não crescem
todos hão de notar, atiçados pelo lar
que Rei e Peão, lado a lado, se encerram
Bem vindos ao meu mundo sombrio
Terra sombria, forma sombria
Não há homem que tenha escapado vivo deste lugar
Desta imensa selvageria humana e espiritual
Selva de Dante, feras impiedosas
Horizonte profundo, nebuloso e tortuoso
Olhos azuis,