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Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3: Um Mistério do Golfinho de Cristal, #4
Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3: Um Mistério do Golfinho de Cristal, #4
Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3: Um Mistério do Golfinho de Cristal, #4
E-book820 páginas13 horas

Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3: Um Mistério do Golfinho de Cristal, #4

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Sobre este e-book

Série completa Um Mistério do Golfinho de Cristal, disponível em uma coleção.

A proprietária de uma loja de antiguidades, enérgica e com uma paixão pela autenticidade. Uma jornalista freelance com uma propensão para a verdade. Junte-se às detetives amadoras Arabella Carpenter e Emily Garland na cidade não tão adormecida de Lount's Landing, onde segredos, subterfúgios e disputas imobiliárias às vezes levam ao assassinato.

O Laço da Corda do Enforcado (#1) - Quando a escritora freelance Emily Garland recebe uma oferta lucrativa na vila de Lount’s Landing, ela decide arriscar. Tudo o que ela precisa fazer é realocar e descobrir a história real por trás de um plano de desenvolvimento proposto.

Nem todo mundo está feliz com os planos do magnata do mercado imobiliário, Garrett Stonehaven, de converter uma antiga escola em uma mega loja. No topo da lista está Arabella Carpenter, a dona da loja de antiguidades O Golfinho de Cristal, que fará de tudo para preservar a integridade da histórica Rua Principal da cidade.

Mas a Arabella não está sozinha em sua oposição. Em pouco tempo, morre um dissidente vocal. Poucos dias depois, outro corpo é descoberto. Embora ambas as mortes sejam consideradas acidentais, as suspeitas de Emily se despertam.

Colocando à prova suas habilidades de entrevista, Emily se junta a Arabella para descobrir a verdade por trás do mais recente esquema de Stonehaven, antes que o assassino ataque novamente.

Uma Só Tacada (#2) - Na esperança de promover a loja de antiguidades, as coproprietárias Arabella e Emily concordam em patrocinar um buraco em um torneio de golfe beneficente. No entanto, a publicidade acaba sendo tudo menos positiva, quando a tacada errada da Arabella cai na mata, ao lado de um cadáver.

Logo descobrem que a vítima é intimamente relacionada ao ex-marido da Arabella, quem havia atuado como Fiscal de Campo. Com meios, oportunidades e motivos mais que suficientes, ele logo se torna o principal suspeito do Dep. de Polícia, deixando Arabella e Emily determinadas a limparem seu nome, mesmo que não estejam totalmente convencidas de sua inocência.


Todas as pistas levam a um culto misterioso que pode ter algo a ver com o assassinato. Será que Arabella e Emily poderão identificar o assassino antes que o assassino venha atrás delas?

Onde Há Uma Vontade (#3) - Emily Garland vai casar e procurar o lar perfeito para sempre. Quando a velha e, como alguns dizem, mal-assombrada casa dos Hadley é colocada à venda, ela se convence de que é 'a tal'. A casa também é perfeita para o astro de reality shows, Miles Pemberton, e sua nova série de TV. Emily lutará por sua casa dos sonhos, mas os bolsos de Pemberton são mais fundos que os de Emily, e ele manipulará as regras para conseguir o que deseja.

Enquanto Pemberton arrasta inimigos ao redor de Lount’s Landing, Arabella Carpenter, sócia de Emily na loja de antiguidades, foi contratada para avaliar o conteúdo da propriedade, junto com seu ex-marido, Levon. Poderiam os beneficiários rivais decidir que há um conflito de interesses?

As coisas ficam ainda mais complicadas quando Arabella e Levon descobrem outro testamento escondido dentro de casa e, com ele, um segredo de décadas. Será que a propriedade poderia permanecer no mercado?

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento18 de fev. de 2022
ISBN9781667426693
Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3: Um Mistério do Golfinho de Cristal, #4
Autor

Judy Penz Sheluk

A former journalist and magazine editor, Judy Penz Sheluk is the bestselling author of Finding Your Path to Publication and Self-publishing: The Ins & Outs of Going Indie, as well as two mystery series: the Glass Dolphin Mysteries and Marketville Mysteries, both of which have been published in multiple languages. Her short crime fiction appears in several collections, including the Superior Shores Anthologies, which she also edited. Judy has a passion for understanding the ins and outs of all aspects of publishing, and is the founder and owner of Superior Shores Press, which she established in February 2018. Judy is a member of the Independent Book Publishers Association, Sisters in Crime, International Thriller Writers, the Short Mystery Fiction Society, and Crime Writers of Canada, where she served on the Board of Directors for five years, the final two as Chair. She lives in Northern Ontario. Find her at www.judypenzsheluk.com.

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    Um Mistério do Golfinho de Cristal - Judy Penz Sheluk

    Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3

    UM MISTÉRIO DO GOLFINHO DE CRISTAL: LIVROS DE 1 A 3

    JUDY PENZ SHELUK

    BABELCUBE, INC.

    CONTEÚDOS

    Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3

    A Coleção

    O Laço da Corda do Enforcado

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Capítulo 48

    Capítulo 49

    Capítulo 50

    Agradecimentos

    Uma Só Tacada

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Capítulo 48

    Capítulo 49

    Capítulo 50

    Agradecimentos

    Onde Há Uma Vontade

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

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    UM MISTÉRIO DO GOLFINHO DE CRISTAL: LIVROS DE 1 A 3

    Judy Penz Sheluk


    Traduzido por Gerson Aguilar

    Um Mistério do Golfinho de Cristal: Livros de 1 a 3

    Escrito por Judy Penz Sheluk

    Copyright © 2022 Judy Penz Sheluk

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Gerson Aguilar

    Design da capa © 2022 Hunter Martin

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    Vellum flower icon Created with Vellum

    A COLEÇÃO

    O Laço da Corda do Enforcado (Livro #1)


    Uma Só Tacada (Livro #2)


    Onde Há Uma Vontade (Livro #3)

    Cover Livro 1

    O LAÇO DA CORDA DO ENFORCADO

    LIVRO 1

    Para Mike, quem nunca deixou de acreditar

    1

    Emily Garland olhou para a página em branco na tela do computador. Menos de cinco horas para cumprir o prazo limite de sua Vida Urbana, e entretanto não tinha encontrado uma nova maneira de fazer girar as velhas estatísticas de condomínio de sempre.

    Colocou a culpa pela sua falta de concentração no seu próximo encontro com a Michelle Ellis. Por que será que a editora-chefe da grandiosa Vida Urbana Publicações gostaria de se encontrar com ela pessoalmente? Além das aparições obrigatórias em convenções de construtores e galas de premiação, Emily não conseguia se lembrar de uma vez em que havia se encontrado com a Michelle cara a cara. Certamente ela nunca havia sido convidada ao seu escritório. Olhou para o relógio Timex Ironman. 11:03. Hora de começar a escrever.

    Embora seja de conhecimento comum que o mercado de arranha-céus da Área da Grande Toronto (GTA) tenha disparado, a maioria das pessoas não percebe o quão longe tem chegado: no momento da elaboração deste relatório, as suítes de condomínios de arranha-céus representam aproximadamente 60 por cento do total de novas residências vendidas.

    De acordo com a Associação de Construção Urbana (U-BUILD), vários fatores estão por trás do crescimento do mercado de condomínios, incluindo a escassez de terrenos. Com uma oferta limitada, o custo de moradias isoladas e geminadas tem continuado a subir.

    Os condomínios são uma alternativa prática, disse Garrett Stonehaven, um proeminente construtor imobiliário e Diretor-Executivo da HavenSent Desenvolvimentos, S.A. Os construtores estão também 'otimizando o tamanho,' visando a criação de unidades mais eficientes em termos de espaço e, portanto, mais acessíveis.

    Otimizando o tamanho para a acessibilidade. Que monte de besteiras. Depois de dez anos escrevendo sobre a indústria de moradias residenciais, Emily havia estado perto de Garrett Stonehaven o suficiente para saber que ele não tinha um único osso altruísta em seu belo corpo de um e oitenta de altura, pelo menos enquanto as câmeras de televisão estivesse rodando. Mas não importava o que ela pudesse pensar. A câmera o amava. Os leitores de Vida Urbana o amavam. Motivo pelo qual a Emily o citava, sempre que podia. Isso se chamava segurança no emprego, um bem precioso para um escritor freelance. Ela escreveu mais um pouco até chegar a o momento crucial de se concentrar no fecho.

    Sendo uma construtora/desenvolvedora do CondoHaven no Parque, nossa equipe está interessada no potencial de investimento estrangeiro e local, disse Stonehaven. Mas o nosso foco principal é, e sempre será, construir moradias para que as pessoas permaneçam na nossa terra ou voltem para ela.

    - 30 -

    Tagarelice completa, Emily pensou, entrando com o arcaico -30- para denotar O Fim. Ela olhou para seu relógio. Ainda lhe restava bastante tempo para começar sua corrida de oito quilômetros.

    Emily chegou aos escritórios da editora Vida Urbana Publicações, pontualmente às cinco da tarde, a pontualidade sendo a maldição e a recompensa de viver a vida eternamente se esbarrando no prazo final. Os escritórios ocupavam uma porção generosa do quadragésimo quarto andar. Alguém estava se dando muito bem. A taxa vigente para imóveis comerciais no setor financeiro estava realmente valorizada.

    Uma miúda loira de cinquenta e poucos, em um poderoso terno azul marinho, saiu pisando firme de um escritório com paredes de vidro. Emily, querida, que bom que você pôde vir.

    Michelle. Bom revê-la. Emily estendeu a mão antes que a Michelle pudesse se meter em todo aquele negócio de abraços e beijinhos de ar na bochecha.

    Venha ao meu escritório. Precisamos conversar.

    O escritório era muito mais luxuoso do que a Emily poderia ter imaginado. Emily sempre havia pensado que editores se apertavam em cubículos sem janelas e infestados de papel. Isso era definitivamente muito diferente dos cômodos apertados da Rua Queen, onde havia estagiado para uma pequena editora, logo após sua formatura. Aqueles escritórios tinham montes de manuscritos que ameaçavam curvar as mesas já cicatrizadas pela batalha, e havia estantes transbordando de títulos do passado e do presente; bestsellers, fiascos e sonhos transformados em pó.

    O escritório da Michelle, em contrapartida, apresentava um conjunto de janelas com vista para a orla da cidade. Veleiros, um punhado deles, pontilhavam as águas de final de temporada. As paredes restantes estavam cobertas de pinturas, embora nenhuma fosse imediatamente reconhecível, pelo menos aos olhos destreinados da Emily. Ela suspeitou que pudessem ser de artistas promissores. Tinha ouvido que a Michelle estava muito envolvida com a vida artística. Uma enorme mesa de mogno, mogno de verdade, não o laminado que havia em seu próprio escritório, continha um iMac de nada menos que vinte e sete polegadas, uma escultura de acrílico de aspecto retorcido, em tons de ouro e azul cobalto e, em uma moldura prateada, a foto de um adolescente de ossatura fina, seu cabelo cor de palha e bigodinho de penugem cor de pêssego, brilhando ao sol do meio-dia; seus olhos azuis claros olhando com admiração para um adolescente alto e belo, parada ao lado dele.

    Meu filho e seu melhor amigo, disse Michelle. A escultura é de um artista aborígine, do norte de Manitoba. Mas, chega de gentilezas. Tenho certeza que você está curiosa para saber por que a chamei aqui, Emily, querida, em vez de enviar o e-mail de costume. Ou ligar.

    "Um pouco curiosa. Esperando pelo melhor, preparada para o pior. Já um pouco cansada do querida."

    Presumo que você já tenha ouvido os rumores sobre a aquisição da Huntzberger!

    O papo que corria pelas ruas dava conta de que a Michelle e alguns sócios silenciosos estariam negociando a compra da editora Huntzberger Publicações. Emily debateu consigo mesma sobre fingir ignorância, mas em vez disso optou pela verdade. O mundo editorial era algo pequeno. De jeito algum a Michelle acreditaria que ela não teria ouvido a respeito. Sim.

    "É tudo verdade. Como muitas editoras atualmente, a Huntzberger tem sangrado no vermelho. Com a possível exceção do jornalismo tablóide, as pessoas simplesmente não estão comprando a mídia impressa como antes. Mas a perda da Huntzberger é o ganho da Vida Urbana. Meus sócios e eu acreditamos que bem administrada e com alguns investimentos inovadores, aquela editora pode ser mais do que rentável, pode ser lucrativa."

    Mais uma vez, Emily se perguntou por que havia sido convocada. Como escritora freelance, ela não estava exatamente a par de quaisquer segredos corporativos. Tenho certeza de que é uma oportunidade maravilhosa. Endireitou sua postura e tentou parecer adequadamente impressionada.

    "Mais do que você pode imaginar. O anúncio oficial da aquisição foi enviado a todos os meios de comunicação, na manhã de hoje, e ficará embargado até o noticiário das seis da tarde. A partir desse ponto, seremos conhecidos como Urban-Huntzberger, S.A. Meus sócios estão em processo de preparação de nossa IPO (Oferta Pública Inicial). Essas coisas levam tempo, mas esperamos ser listados dentro de poucos meses."

    Preparar uma Oferta Pública Inicial, listar-se na bolsa de valores. As possibilidades já estavam definidas. Talvez a Michelle estivesse a ponto de lhe oferecer um trabalho de tempo integral, um com benefícios: odontológico, médico, férias remuneradas. Uma garota poderia sonhar. Quem são os sócios?

    Eles preferem permanecer como investidores silenciosos no momento, embora isso mudará quando abrirmos o capital. Mas você não precisa se preocupar com essas coisas. Continuarei a ser a editora-chefe de todas as publicações da Urban-Huntzberger e você continuará a se reportar diretamente a mim sobre quaisquer atribuições. O que me traz ao dia de hoje. Gostaríamos de lhe oferecer um trabalho. Mas este é um pouco, hummm, diferente.

    Emily se projetou para a frente em seu assento. Diferente?!

    Envolveria uma transferência.

    Transferência?! Emily percebeu que estava começando a soar como um papagaio. Para onde? Por quanto tempo?

    "Para Lount’s Landing. Pelo tempo que for preciso. Provavelmente de três a seis meses. Possivelmente mais."

    Lount’s Landing?! Emily procurou em seu cérebro qualquer sinal de reconhecimento. Nenhum veio à tona. "Onde exatamente fica Lount’s Landing?"

    Cerca de noventa minutos a nordeste de Toronto. Um pequeno e encantador povoado, situado ao longo das margens do rio Holandês. Acertamos o aluguel mensal de uma casa geminada vitoriana, a uma curta caminhada da rua principal da cidade. Melhor ainda, cobriremos o aluguel durante o período de sua designação.

    Emily tentou não arregalar os olhos. A Vida Urbana Publicações, ou melhor, Urban-Huntzberger, havia alugado uma casa geminada vitoriana?! Em uma cidadezinha chamada Lount’s Landing?! Para uma missão de longo prazo?! Que diacho...?

    Eu sei, querida. É tudo um tanto quanto assustador, mas nós especificamente a selecionamos para a designação. Você é uma escritora talentosa. Uma investigadora minuciosa. Você trabalha duro. Totalmente confiável. Mais importante, conhece o negócio de cima a baixo.

    Talvez os últimos cinco anos tentando dar uma nova interpretação às usuais e velhas estatísticas de condomínio não tenham passado despercebidos, afinal. Obrigada.

    De nada. Mas, permita-me ser totalmente franca. Havia uma outra consideração importante. Você não parece ter nenhum vínculo que a mantenha aqui. Michelle voltou seu olhar para o computador, abriu um documento e começou a ler. Sem irmãos. Ambos os pais falecidos. O pai, aos seus quatorze anos de idade. Câncer de estômago. A mãe há dois anos. Fez uma pausa. Overdose acidental.

    Emily passou do silêncio atordoado à indignação descarada. Eles a estavam investigando?! Sabiam, ou pelo menos suspeitavam, do suicídio de sua mãe?

    E toda aquela bobagem sobre não ter laços em Toronto? Claro, Kevin pode ter lhe mandado um pé no traseiro por aquela loira burra que se chamava de personal trainer, mas não era como se ela não tivesse um ou dois amigos para chamar de seus. Além disso, ela sabia que estava tudo acabado com o Kevin havia muito tempo. Mas havia investido bastante tempo e energia nele, tentando fazer com que a coisa funcionasse. E tudo para que ele simplesmente se levantasse e deixasse, em um dia qualquer, como se ela não tivesse sido nada mais que uma diversão inconveniente...

    Se você estiver tentando me retratar como uma perdedora solitária...

    De forma alguma, querida, nem um pouco. Compreendemos o poder de cura da solidão. Também sabemos que você odeia o Garrett Stonehaven. Não sem motivo, caso seja confiável a nossa pesquisa sobre a situação da sua mãe. Levando tudo em consideração, acreditamos que você seja a candidata perfeita para este trabalho.

    Levando tudo em consideração?! O que será que aquele arrogante FDP do Garrett Stonehaven teria a ver com uma designação para Lount’s Landing? Seu gramado sempre havia sido regado no centro de Toronto. Mais importante, o que tudo isso teria a ver com a morte de sua mãe, acidental ou não?

    Gostamos particularmente de sua exposição sobre o desenvolvimento da zona industrial abandonada da Kraft-Fergusson, continuou Michelle. E você está sempre dizendo o quanto gosta do lado investigativo do jornalismo. Estamos simplesmente dispostos a fornecer a oportunidade, embora em um nível muito mais alto. Também estamos dispostos a recompensá-la generosamente pelo privilégio, incluindo benefícios e opções de ações.

    Emily pensou em sua cobertura sobre o escândalo zona industrial abandonada, as semanas de pesquisa investigativa, tentando aprender tudo o que podia sobre os tipos de resíduos perigosos e poluentes químicos que indústrias como a Kraft-Fergusson deixariam para trás. Lembrou-se dos longos dias em que havia passado perseguindo pistas, bem como das horas escrevendo e reescrevendo.

    Havia sido uma das experiências mais gratificantes, e frustrantes, de sua carreira. Gratificante porque ela finalmente havia sido levada a sério como jornalista. Frustrante porque, apesar do fato de que a HavenSent Desenvolvimentos era a proprietária das terras da Kraft-Fergusson, ela nunca havia conseguido relacionar qualquer respingo algum da sujeira tóxica ao Garrett Stonehaven. Graças ao seu contador, Eldon Thornbury, um homem vil que se esgueirou por brechas e depois costurou todas as pontas soltas, a HavenSent e o Stonehaven, por associação, foram considerados completamente isentos de quaisquer delitos. De fato, haviam sido elogiados por sua máxima cooperação com todas as autoridades.

    Sou toda ouvidos.

    Michelle enfiou a mão na gaveta e tirou um contrato.

    Primeiro, Emily, precisamos que você concorde com os nossos termos e condições, a confidencialidade usual e a verborragia de exclusividade. Garanto a você, nada de sinistro está por trás da oferta. Temos somente os seus melhores interesses no coração. Claro, se você não quiser o biscate, há muitos outros escritores que poderiam aproveitar a oportunidade. Kerri St. Amour, por exemplo.

    Kerri sem-amor?! Eles a estavam comparando àquela charlatã faca nas costas?! Emily encarou os números à sua frente e pensou com força. Conseguir evidências contra o Stonehaven e ser remunerada pelo prazer. Havia dinheiro suficiente na mesa para sair do aluguel e dar entrada em uma casa própria. Talvez tirar alguns meses de folga, escrever o romance histórico com o qual se aventurava havia anos. Poderia ser terapêutico um recomeço, ir para um lugar onde ninguém a conhecesse, um lugar onde não fosse a ex-noiva um tanto quanto patética de um tal Kevin. Será que aquilo era bom demais para ser verdade? Tinha que haver um porém. Em sua vida, sempre havia um porém.

    O que eu teria que fazer?

    "A HavenSent Desenvolvimentos está explorando uma oportunidade de prosperidade em Lount’s Landing. Nada incomum, embora seja bem distante, mesmo para alguém tão implacável como o Garrett Stonehaven. Mas a nossa fonte nos diz que há mais no último planejamento do Stonehaven do que aparenta. Muito mais."

    Onde eu me encaixaria?

    "A cidade tem uma revista mensal, Por Dentro de Landing. É um periódico promocional, semelhante à Vida Urbana, embora em uma escala muito menor, com histórias sobre o comércio na comunidade. Sai com cerca de quarenta páginas, poderia ser mais se a receita dos anúncios estivesse presente. Agora, está sob o guarda-chuva da Urban-Huntzberger. O proprietário anterior já estava pronto para vendê-la e se aposentar por algum tempo."

    E o meu papel?

    Você seria a responsável por todo o conteúdo editorial, e faria algumas das melhorias por demais necessárias na publicação. Na verdade, nós as recomendaríamos como parte de sua história de cobertura.

    Ahã, porém número um. Parte da minha história de cobertura. Aí, sim, soava intrigante. Se eu concordasse...?

    "Você se mudaria para Lount’s Landing. Conheceria a cidade, as pessoas, faria alguns amigos. Descobriria o que o Garrett Stonehaven estaria tramando. E nos escreveria uma exclusiva que faria com que o valor de mercado das ações da Urban-Huntzberger disparassem, mais alto inclusive que as do último condomínio de GTA."

    Emily começou a suspeitar que aquilo ia muito além de uma editora tentando ganhar dinheiro. O que será que o Stonehaven havia feito para garantir uma caça às bruxas patrocinada pela Michelle Ellis? Quem seria a fonte de informação da Michelle? Soltou um palavrão para si mesma por querer descobrir, amaldiçoando-se, sendo que cada instinto de seu corpo lhe dizia para deixar a coisa como estava.

    E a fonte?

    "Melhor você não saber. Dessa forma, você pode observar a todos com o mesmo grau de neutralidade, embora tenhamos arranjado para você se conectar com um Johnny Porter. Ele é o presidente da Associação de Comerciantes da Rua Principal. Ele parece ansioso para manter a Por Dentro de Landing operacional, embora isso seja tudo o que ele sabe. Seria melhor para todos os envolvidos se você mantivesse as coisas exatamente assim."

    Emily assentiu. Certamente parecia que a Urban-Huntzberger teria tudo sob controle. Ela se perguntou se deveria estudar o contrato, entrar em contato com um advogado. Reservar um momento para decidir se aquela seria a oportunidade de uma vida ou um ato de insanidade. Quanto tempo eu tenho?

    Precisamos de uma resposta o quanto antes. Você se mudaria no final do mês, ou mais cedo, se possível. A casa alugada foi recentemente reformada e já se encontra disponível.

    Michelle se levantou. Emily, você está neste negócio há tempo suficiente para saber que esse tipo de designação não acontece todos os dias. Trabalhe com a gente. Fique rica com a gente. E nos ajude a expor o Garrett Stonehaven pelo mentiroso, trapaceiro e bastardo, que ambas sabemos que ele é.

    Definitivamente havia muito mais naquele cenário do que aparentava. Emily puxou uma caneta folheada a ouro de sua bolsa, um presente de formatura de sua mãe, uma dúzia de anos atrás. Ela a girou entre os dedos, lembrando-se de como sua mãe havia ficado orgulhosa, sua filha, a primeira na família a ir além do ensino médio. Lembrou-se da aparência de sua mãe na última vez em que a viu, em estado de choque e arrasada.

    Onde eu assino?

    2

    Lount’s Landing parecia ser uma cidade em transição. Aconchegada entre a arquitetura vitoriana e as lojas recém-pintadas com nomes bonitinhos como 'Recanto do Livro' e 'Rosa de Segunda Mão,' sendo a primeira uma livraria, e a última uma loja de roupas em consignação, repleta de moda vintage e de grife famosa; havia também sinais reveladores de mudanças mais radicais, começando com a placa do setor imobiliário 'Vende-se: Potencial de Desenvolvimento' em uma velha Escola Municipal, no início da Rua Principal.

    A primeira ordem do dia para a Emily foi uma reunião com Johnny Porter, proprietário da empresa É uma Vida Colorida, e também presidente da Associação de Comerciantes da Rua Principal, além de seu contato principal; não que ele soubesse o verdadeiro motivo por trás de sua mudança para Lount’s Landing. Para Johnny, ela seria simplesmente a nova editora da Por Dentro de Landing.

    É uma Vida Colorida era um retorno no tempo, o tipo de loja que você esperaria encontrar o Tarcísio Meira perambulando, nos tempos de Irmãos Coragem. Bandejas de tinta de plástico penduradas no teto, como enfeites de Natal enormes. Cada superfície de parede estava coberta com aglomerados de lascas de tinta, um caleidoscópio de vermelhos e azuis e dourados e ocres, de verdes e roxos e rosas e brancos. Abriu seu caminho entre corredores de latas de metal transbordando de rolos e pincéis e lixas e fitas adesivas, desviando-se de latas de tinta empilhadas em pirâmides.

    A principal coisa que a Emily notou sobre o Johnny Porter, além do fato de ele ter mais ou menos a idade dela e ser lindo como uma estrela de cinema, foram seus olhos. Olhos castanhos tão escuros que pareciam pretos. Olhos de Mineiro, como seus velhos amigos do colégio interno os teriam chamado, o tipo de olhos que poderiam cavar seu caminho nas profundezas de sua alma. Emily fez um esforço para se recompor. Agir como uma estudante apaixonada do ensino médio não seria a maneira de começar sua nova vida em Lount's Landing.

    E você deve ser o Johnny Porter. Emily apertou a mão dele, percebendo que seu aperto era firme, mas gentil. Achou, no entanto, que sua mão demorou um momento mais que o necessário. É um prazer conhecê-lo.

    De igual maneira, disse Johnny, embora Emily tivesse a nítida sensação de que ele a estivesse avaliando. Ela se perguntava se havia conseguido a média.

    Eu queria agradecê-lo, Johnny, por todos os seus esforços para facilitar a minha transição desde Toronto. Preparando o espaço do escritório, providenciando o aluguel da casa com a Urban-Huntzberger, todas as suas observações sobre os negócios e lojas ao longo da Rua Principal. Não consigo imaginar o que teria feito sem você.

    Bobagem, disse Johnny, desviando-se dos elogios. "Isso é o que chamamos de boa e antiquada hospitalidade de cidade pequena. Como presidente da Associação de Comerciantes da Rua Principal, considero isso parte de minhas responsabilidades. É do interesse da Associação ter a editora de Por Dentro de Landing advogando em nossa causa."

    Obrigada, de todos modos.

    De nada, de todos modos. Johnny sorriu. Então, suponho que a casa seja boa! Você é a primeira locatária. A proprietária, Camilla Mortimer-Gilroy, comprou o imóvel há alguns meses, uma execução de hipoteca bancária. Estava em situação precária, e a transação deu um brilho nas coisas. Ela mandou reformar de cima a baixo, pintar, colocou novas bancadas e armários na cozinha e no banheiro, retocou todos os pisos.

    As paredes da sala são um pouco mais verdes do que eu gostaria, mas não é nada com o que eu não possa viver. É apenas um aluguel de curto prazo... Emily se deteve. Dia um e ela quase tinha estragado sua história de cobertura. Teria que ser mais circunspecta se objetivasse alguma chance de manter sua missão em segredo. Então, quero dizer, eu posso viver ali por algum tempo. Espero economizar algum dinheiro e comprar para mim um imóvel em condições semelhantes, ou seja, precisando de reformas e com um preço atrativo. Sem necessidade de mencionar que o imóvel em questão seria em Toronto.

    Então, acho que não há razão para viver com uma cor de tinta que você não goste. Eu disse à Camilla para que não escolhesse Dourado Amarelo-Laranja. Parece adorável e suave, mas sempre oferece uma tonalidade verde em uma luz voltada para o norte. Marrom leve teria sido uma escolha muito melhor para a exposição da sala. Aqueceria o ambiente por completo.

    Uau, você sabe muito sobre cores.

    Eu deveria, sendo dono de uma loja de tintas, Johnny disse, com um largo sorriso. Mas a verdade é que as cores sempre me fascinaram. Você sabia que na época vitoriana, as flores eram usadas como uma forma para que os homens comunicassem seus sentimentos às mulheres que estivessem cortejando? As convenções sociais restringiam as conversas por vários motivos, mas o envio de flores, de uma determinada cor ou tipo, permitia o envio de mensagens secretas. Havia até mesmo dicionários de floriografia. Johnny sorriu. Veja bem, o que estou tentando dizer é que as pessoas deveriam aproveitar seus ambientes, e escolher a cor de tinta correta é uma forma de aumentar esse prazer.

    Você me aconselhou a cor marrom claro, embora eu provavelmente devesse verificar primeiro com a proprietária.

    "Não se preocupe com a Camilla. Somos amigos de longa data. Eu era amigo de seu falecido marido, Graham. Ainda me lembro de quando a Camilla se mudou para Lount’s Landing para se tornar a senhora da Mansão Gilroy. Criou uma grande agitação. Todos esperavam que Graham casasse com uma mulher que tivesse conexões com a família e também bastante dinheiro."

    Suponho que ela não tinha nenhum dos dois requisitos.

    Que alguém soubesse... não! Depois que o Graham morreu, Camilla transformou a maior parte da mansão em uma pousada. Criou ainda mais frenesi; não que ela tivesse muita escolha. Graham gostava de viver às custas do legado da família e não se cuidava, no tocante a seguro de vida.

    Quando ele morreu? Sempre a jornalista, um pouco agressiva para seu próprio bem, mas daquela vez ela não precisaria se preocupar. Parecia que o Johnny nada mais gostava que conversar. Ela fez uma nota mental para ter cuidado com o que dizia perto dele.

    Ele morreu há cerca de cinco anos, num acidente de motoneve. Percorreu o rio Holandês, antes que o gelo estivesse em segurança para a atividade e, em certo ponto, a camada se rompeu e ele atravessou direto. Quando alguém o encontrou, já era tarde demais.

    Que maneira horrível de morrer.

    Fazendo o que você ama?! Johnny balançou a cabeça. Não, Graham preferiria morrer pilotando um motoneve que fazendo qualquer outra coisa. Sempre foi um sujeito que gostava de se arriscar. E ele havia percorrido gelo fino por anos, literalmente, e em mais de um sentido. Era só questão de tempo. Por vezes me pergunto se a morte dele foi realmente um acidente.

    Mas e quanto a Camilla? Ela deve ter ficado arrasada.

    Ela ficou, embora, para ser honesto, eu nunca tenha dado por certo o que a devastou mais, a morte do Graham ou o fato de que ele a deixou sem um tostão. Eles estavam casados havia menos de dois anos, e acho que o Graham mantinha seus assuntos financeiros sob segredo de estado. Mas a Camilla tem um grande senso de negócios. Começou preparando um quarto e banheiro e alugando-os. Cinco anos depois, ela já é proprietária de uma das melhores pousadas, nesta parte de Ontário.

    Estou ansiosa para conhecê-la. Camilla parece que seria uma ótima entrevista. Os leitores adoram esse tipo de história.

    Eu já sugeri isso a ela, mas ela é tímida com respeito à publicidade. Diz que já se cansou da mídia a perseguindo, depois da morte do Graham.

    Emily podia entender isso. Alguns repórteres, como a Kerri St. Amour, eram absolutamente implacáveis. Ela esperaria, e se certificaria de tentar uma abordagem mais gentil quando fosse a hora certa.

    Vou me lembrar disso quando a visitar.

    Alguém que você definitivamente desejará entrevistar é a Arabella Carpenter.

    Emily se lembrou das observações que o Johnny havia fornecido. A proprietária da nova loja de antiguidades na Rua Principal?!

    O Golfinho de Cristal. A grande inauguração é neste fim de semana.

    "Que excelente timing. Cobrir a abertura me dará algum material para a publicação. Além disso, seria uma grande oportunidade de estabelecer contatos. Presumo que outros proprietários de negócios comparecerão para apoiá-la."

    Comparecerão, pelo menos todos que pertencem à ACRP, mas eu tenho que avisá-la. Arabella é uma especialista quando se trata de antiguidades, e é uma mulher encantadora, mas pode ser também um pouco irascível. Proceda com cautela, é tudo o que estou dizendo. Se ela acreditar que você tenha um motivo ulterior, você estará frita.

    Um motivo ulterior?! O que o Johnny estaria insinuando? Certamente ele não suspeitava...

    Não acho que criar uma rede de contatos seja um motivo ulterior, mas obrigada pela dica. Emily olhou para o relógio. Já estava ficando tarde e queria reler suas anotações sobre a Arabella, antes de se dirigir à sua loja. Farei uma visita à Arabella, logo amanhã de manhã.

    Já que você está indo lá, posso pedir um favor? Você entregaria este convite para a Arabella? Isso vai me poupar a viagem. Sem mencionar um confronto. Entregou a ela dois envelopes de cor creme. Tem um para você também.

    Um confronto?! Interessante. Para que os convites?

    Uma apresentação sobre uma proposta de novo desenvolvimento. Soube pela sua chefe que você conhece o apresentador. Um homem chamado Garrett Stonehaven.

    Sua chefe, Michelle Ellis, havia garantido a ela que o acordo seria confidencial, mas ela não podia escapar da sensação de que o Johnny a estivesse testando. Considerou suas opções e decidiu apelar para a surpresa.

    "Stonehaven está em Lount’s Landing?! Tenho feito a cobertura de seus empreendimentos de condomínio na Vida Urbana por anos. Ele nunca me pareceu o tipo de cara de uma cidade pequena."

    Considere esta a sua oportunidade de descobrir algo mais. Johnny sorriu e Emily pensou ter detectado uma pitada de alívio em seus olhos. Ah, e uma advertência mais.

    Manda!

    Seria melhor se desse o convite à Arabella ao término da visita.

    Por quê?

    Digamos que a Arabella tem sido mais que vocal sobre sua visão do que é correto para a Rua Principal. E eu não acho que os planos do Garrett Stonehaven façam alguma parte disso.

    3

    O rádio despertador tocou exatamente às sete da manhã, o som de Hey Joe ocupando o quarto. Arabella Carpenter apertou o botão de soneca, não apenas pelos dez minutos extras de sono que isso poderia lhe proporcionar, mas também para abafar a música. Ela amava o Rock Clássico da Rádio Q107, mas nunca havia entendido a fixação pelo Hendrix. Especialmente às sete da manhã de uma terça-feira.

    Arabella se arrastou para o chuveiro antes que os dez minutos designados terminassem, sabendo que teria uma semana agitada pela frente. Sábado seria a grande inauguração do Golfinho de Cristal, sua nova loja de antiguidades na Rua Principal.

    Havia alguns, dentre eles seu ex-marido sabe-tudo, Levon, que poderiam dizer que aquele não seria o momento de investir de coração e alma, sem mencionar as economias de sua vida difícil, em tijolo e argamassa, quando grande parte do comércio de antiguidades dos dias atuais era negociada online. Mas, embora a Arabella tivesse considerado a contratação de uma empresa de web design de Toronto para 'aumentar sua presença online,' substituir óleo de limão e couro velho por mecanismos de busca e licitações ao vivo era tão estranho para ela quanto abrir mão da sensação tátil de página e papel por um Kindle.

    Ela se espremeu em uma calça jeans desbotada e vestiu um moletom de suvenir do Museu Real de Ontário. Passou os dedos pelos cachos ruivos que lhe chegavam à altura do queixo, feliz por ter abandonado sua aventura com a chapinha. Um par de tênis, uma jaqueta de penas e saiu pela porta.

    A caminhada da Arabella, de seu apartamento alugado no centro da cidade até o Golfinho de Cristal, levou cerca de 20 minutos, incluindo uma parada no Café Nascer do Sol, onde pegou um café e um pão torrado com canela e passas para viagem. Ela gostava da jornada de ida e volta, todos os dias, ainda que a atividade física não estivesse exatamente em sua lista das dez principais tarefas a fazer. Havia passado também a apreciar os melhores pontos da cidade, visto que quando o Levon a havia arrastado de Toronto para aquele povoado, havia uma dúzia de anos, ela não conseguia se dar conta deles. Sua parte favorita dessas caminhadas era ver a transição gradual de Lount’s Landing, a forma como a cidade estava abraçando sua história. Ela adorava a ideia de fazer parte do avivamento.

    Seu trajeto a levou além da Escola Municipal da Rua Principal. Dois anos atrás, o conselho escolar o havia incluído em sua lista de concessões, alegando que seria muito caro modernizar a arquitetura inicial para as poucas crianças da área. Há alguns meses, uma placa de 'Vende-se' havia sido colocada na propriedade. Na semana anterior, a placa havia sido substituída por um grande outdoor anunciando, 'Outra Propriedade Vendida por Poppy Spencer.'

    Arabella esperava que um desenvolvedor de ponta convertesse o espaço em condomínios de lofts. Ela podia se imaginar morando ali, o terreno da escola com espaços verdes, algumas mesas de piquenique, um lago com patos e gansos, talvez uma fonte que se iluminasse à noite. Havia lido sobre outras escolas sendo adaptadas. Por que não em Lount’s Landing?

    Chegou ao Golfinho de Cristal para encontrar uma mulher esguia, em um casaco fino, tremendo de frio na porta da frente. Arabella havia cometido erros de cálculo semelhantes, em relação ao guarda-roupa em novembro, um mês em que os ventos dominantes de Lount’s Landing poderiam ser tão imprevisíveis quanto um leilão do Mercado Livre.

    Desculpe-me por deixá-la esperando, mas não abriremos até sábado, disse Arabella, apontando para uma placa na janela. Algo era vagamente familiar sobre a mulher, embora ela não conseguisse apontar um dedo. Trinta e poucos anos. Olhos castanhos claros. Cabelo castanho escuro, preso em um rabo de cavalo, uma boina de tricô vermelha caída para trás em sua testa. Ficou bem nela, Arabella pensou, com um toque de inveja. Suas próprias tentativas de usar uma boina haviam resultado na aparência nada lisonjeira de uma touca de banho vitoriana cruzada com um abafador de chá.

    Veja bem, a bolsa Coach que a Garota da Boina carregava era definitivamente uma imitação. As linhas únicas de C's da assinatura da Coach, em comparação com as duplas, a forma como o C's não se alinhava totalmente no centro. Era tudo um evidente indício.

    Arabella se orgulhava de sua capacidade de distinguir o real a partir da reprodução. O mundo das antiguidades era cheio de falsificações. Mas não o Golfinho de Cristal. Dentro de suas paredes, tudo seria original, desde o teto com vigas expostas e os pisos de madeira de pinho cuidadosamente restaurados até as mercadorias que ela vendia.

    A autenticidade importava.

    Perdoe-me por me intrometer, disse a mulher. Meu nome é Emily Garland. Sou...

    É aí onde a havia visto antes. "Eu pensei ter reconhecido você. Você é a escritora da Vida Urbana. Eles sempre incluem a sua foto na seção Colaboradores. Arabella abriu a porta. Entre, você está começando a ficar um pouco azul. Ignore a miríade de caixas. Esta semana é toda voltada para desempacotar e organizar o visual. Os móveis maiores chegarão do depósito, na quinta."

    "Obrigada, estou totalmente congelada. Estou surpresa que você tenha lido a página de Colaboradores. Sempre achei que apenas membros da família e escritores invejosos se atreviam a dar uma olhada naquela parte. Mas o que faz uma proprietária de loja de antiguidades, em Lount’s Landing, lendo Vida Urbana?"

    "A melhor pergunta seria: o que uma escritora da Vida Urbana está fazendo em Lount’s Landing?"

    Isso é justo. Emily entregou à Arabella um cartão de visita. "Na verdade, eu deixei a Vida Urbana. Sou a nova editora da Por Dentro de Landing."

    Então é você a dita. Ouvi dizer que o proprietário finalmente vendeu a revista. Queria se aposentar por um tempo, mas acabou sendo um pouco difícil de vender. Não é de se surpreender. Estava um pouco cansado. Poucas pessoas se preocupavam em ler, iam direto da varanda para a lixeira azul. Arabella enrubesceu. Sinto muito. Eu não deveria ter sido tão direta.

    Sem problema, você está absolutamente certa. Eu também não teria lido a velha revista. Mas tenho grandes planos para um novo formato. Mais cobertura de eventos locais, muitas fotografias, entrevistas detalhadas com proprietários de negócios locais. Dar a ela um pouco de personalidade. Emily deu de ombros. Enfim, pareceu-me uma boa oportunidade.

    Isso soa bem. Ou pelo menos melhor.

    Espero que sim. É por isso que estou aqui. Eu estava conversando com o Johnny Porter.

    Arabella assentiu. Johnny era uma boa pessoa e um forte defensor dos negócios na Rua Principal. Ele até mesmo havia iniciado a Associação dos Comerciantes da Rua Principal, da qual, com muito orgulho, ela era membro naquele agora. Se ela conseguisse êxito, a história certamente estaria dando uma reviravolta em Landing.

    Emily disse, "O Johnny me disse que você está planejando uma grande inauguração no sábado e no domingo. Eu gostaria que o Golfinho de Cristal fosse a primeira grande reportagem da Por Dentro de Landing. Eu poderia cobrir o fim de semana inteiro, incluir algumas informações básicas. A história por trás da loja. O que você me diz? São Relações Públicas gratuitas para você e me daria o pontapé inicial de que preciso."

    Arabella contemplou a oferta. Sem dúvida, o Golfinho de Cristal poderia usar a imprensa livre. Contanto que fosse gratuito. Ela havia ouvido falar de publicações que ofereciam Relações Públicas gratuitas e, em seguida, tentou fazer venda casada com publicidade paga. Concluiu então que, fora a escolha infeliz da bolsa falsa, Emily parecia ser perfeitamente legítima. E ela sabia por experiência própria como poderia ser difícil vir para uma pequena cidade, onde todos se conheciam. Se não fosse por Levon, ela poderia ter voltado para a grande cidade em poucas semanas.

    "Podemos tentar, Emily; vamos ver no que dá. Vou abrir às onze, no sábado, mas não me importaria de lhe mostrar o local na sexta. Tudo estará pronto até lá. Por que você não vem depois do almoço, digamos, por volta de uma hora? Podemos fazer o grande tour. Assim, no sábado, não sentirei que preciso entretê-la e você poderá conhecer outras pessoas da cidade, sem se preocupar em ficar me acompanhando."

    Soa como um plano. E eu prometo, não há absolutamente compromisso algum. Era como se tivesse lido a mente da Arabella. Agora, vou deixá-la em paz.

    Emily estava na metade do caminho rumo à porta, quando se virou. Eu esqueceria a minha cabeça se ela não estivesse presa. Tenho algo para você, da parte do Johnny Porter. Enfiou a mão na bolsa e entregou a ela um envelope cor de creme.

    Arabella abriu o envelope no minuto em que Emily se foi. Dentro havia um convite para uma 'Apresentação Especial,' na terça-feira seguinte, oferecida pelo desenvolvedor imobiliário Garrett Stonehaven, da HavenSent Desenvolvimentos, S.A. Uma bela nota manuscrita do Johnny a incentivava a comparecer.

    Garrett Stonehaven. Não seria o desenvolvedor de Toronto, sobre o qual a Emily Garland sempre escrevia na Vida Urbana? Agora os dois estavam em Lount’s Landing. O que poderia ter sido uma coincidência. Exceto por uma coisa.

    Arabella não acreditava em coincidência.

    4

    Garrett Stonehaven se afastou do púlpito para se dirigir às cinco pessoas sentadas na sala. "E isso, senhoras e senhores, é o ensaio. O que vocês acham? Estamos prontos para a próxima terça, à noite? Será que podemos vender o nosso planejamento para a boa gente de Lount’s Landing?"

    Sim, todos, exceto Carter Dixon, disseram em uníssono.

    Stonehaven cruzou os braços e estudou a única resistência com os olhos apertados. Por um bom tempo ninguém disse uma palavra.

    Eu ainda acho que a escola vai ser problemática, Carter disse, por fim. Quando os membros da Equipe de Reurbanização foram solicitados a considerarem propriedades, a finalidade seria a conversão de um condomínio, não uma mega loja. Todos concordaram que a Escola Municipal da Rua Principal seria perfeita. Incluindo você, à época.

    Já passamos por isso várias vezes, disse Stonehaven, tentando manter a compostura. Cerrou e abriu os punhos. Que parte de 'ganhar dinheiro' aquele caipira de Hicksville não entendia?

    "Converter a escola em condomínios não é economicamente viável, Carter. A StoreHaven exigirá um menor desembolso de capital e incentivará o investimento empresarial local. Isso sem mencionar o seu ganho pessoal, como membro da equipe da HavenSent Soluções, com a participação nos lucros."

    Agradeço os incentivos monetários e sou totalmente a favor das empresas que estão investindo na histórica Rua Principal. Estou apenas sugerindo que apresentemos os planos para a StoreHaven um pouco mais tarde. Que revitalizemos primeiro!

    Temos que ser transparentes se quisermos ter algum senso de credibilidade. Principalmente se quisermos incentivar os investidores, o que, devo lembrá-lo, sempre foi o plano.

    Mas a escola...

    Não tem sido usada nos últimos dois anos. Certamente ninguém esperava que ficasse desocupada para sempre?

    Desocupada, não, mas ninguém está esperando por isso. Carter Dixon olhou para os outros membros da equipe. Estou certo?

    Ninguém respondeu. Alguns membros apenas olhavam para os pés.

    Tampouco responderão, Stonehaven pensou com satisfação. Nada nem ninguém iria atrapalhar aquele planejamento. Não enquanto ele estivesse comandando as coisas. E já era hora daquele renegado rural aceitar os termos. No entanto, tinha que pelo menos dar a aparência de concessão. E se chamássemos a apresentação de algo como Vizinhos Ajudando Vizinhos?

    Carter resfolegou. Em oposição a Vizinhos Ferrando Vizinhos, Garrett?! Ou Negócios Arruinando Negócios?! Porque é isso que está parecendo para mim.

    Então, você não entende o meu conceito, Carter. E se você não consegue, é possível que outros também não consigam. Stonehaven fechou os olhos e pensou por um momento, abrindo-os novamente quando teve a ideia. Como será que ele não tinha pensado nisso antes?

    E se circularmos todo o conceito de volta à escola? Podemos fazer com que as pessoas saibam que a escola é a pedra angular de uma comunidade renovada. Stonehaven sorriu. E se o chamarmos de O ABC da Revitalização: Vizinhos Ajudando Vizinhos?

    Isso pode dar certo, admitiu Carter. Pelo menos estaremos nos esforçando para sermos honestos.

    Os outros membros da equipe assentiram.

    Não só vai dar certo, como é incrivelmente brilhante, disse Stonehaven. Sua mente e corpo começaram a relaxar. Era o momento de começarem o jogo.

    Stonehaven observou a equipe deixar o Centro Comunitário. Colocou um dólar na máquina de venda automática do corredor, por uma garrafa de água cara; voltou para a sala de conferências e chutou a parede com força. Não o fez se sentir melhor.

    Ele recolheu seus materiais do púlpito, sentou-se a uma longa mesa ao lado da sala e considerou seu plano pela enésima vez. Releu suas anotações, repassou o PowerPoint, reviu os panfletos, olhou os projetos e as representações dos arquitetos, a análise financeira e o caso de negócios. Poderia já estar com tudo preparado, faltando ainda uma semana até sua apresentação oficial para a população da cidade, mas ele era muito mais que um perfeccionista. Você não seria classificado como o número um no primeiro 'Top 40 Antes dos 40' anual da Vida Urbana por ser alguém negligente. E não importava se ele havia cumprido seu objetivo uma semana antes de seu quadragésimo aniversário, ou que tivesse molhado algumas mãos para obter tal honraria.

    Ele esperava, não, exigia, o mesmo grau de dedicação e disciplina de todos os que trabalhavam para ele. E o Carter Dixon o preocupava. Até então, ele sempre havia tido a mesma equipe baseada em Toronto, pessoas em quem ele podia confiar, desde que pagasse o dobro do salário que o trabalho merecia. O dinheiro pode ser um motivador poderoso.

    A vinda para Lount’s Landing significava se familiarizar com a comunidade. Então, ele havia contrariado seus instintos e trazido a bordo uma equipe de empresários locais, escolhida a dedo, gente que teria interesse em revitalizar a histórica Rua Principal, sem falar em encher seus próprios bolsos. Ele estava confiante em sua decisão final. Todos pareciam acreditar no conceito, incluindo o próprio Carter Dixon.

    Sicofantas.

    Stonehaven não se deixou enganar pela forma como Carter havia concordado. Podia sentir problemas da mesma forma que um cão de caça pode captar um rastro. Sem dúvida, ele teria que rescindir o contrato de trabalho do Carter. A única decisão seria como e quando executar a rescisão. Tudo sobre aquele projeto dependia de os comerciantes da Rua Principal aceitarem-no.

    Ele deveria ter previsto isso. Por acaso, Lount’s Landing não havia sido batizada em homenagem ao Samuel Lount? Que tipo de cidade receberia o nome de um homem que havia sido enforcado por traição?

    Uma coisa é certa, até mesmo o Samuel Lount tinha seus apoiadores leais. O mesmo poderia servir de verdade para o traidor, senhor Dixon, embora arranjar um enforcamento estivesse fora de questão. Uma morte acidental, por outro lado, poderia ser algo mais plausível.

    Stonehaven se levantou e começou a andar. Ele odiava quando as coisas se complicavam. Era o momento de ter uma conversa séria com a única pessoa em quem ele poderia confiar, a única pessoa que havia acreditado nele quando era apenas e tão somente o velho Garry Stone. Pegou o celular e pressionou 2-1-5, ouviu o toque, um, dois, três. Esperou que a breve mensagem de correio de voz terminasse.

    Millie, disse Stonehaven, após o bipe. Precisamos conversar.

    5

    Emily passou o resto da terça colocando sua casa em ordem, comprando alguns mantimentos e saindo para uma corrida de uma hora. Decidiu que a melhor maneira de conhecer a região seria percorrendo as ruas a pé. Ao fazê-lo, teve uma noção imediata da comunidade e das pessoas que viviam ali.

    Ela teve também a chance de pensar sobre seu encontro com a Arabella Carpenter e ficou mais que satisfeita com os resultados. Johnny a havia advertido de que a Arabella poderia ficar irritável, mas tudo o que a Emily detectou foi uma cautela que poderia ter vindo de uma desconfiança em relação aos jornalistas em geral. Ela não o levou para o lado pessoal; anos de de trabalho com freelancer já a haviam transformado em casca grossa. Algumas Kerri St. Amours do mundo haviam dado ao trabalho uma má reputação.

    Emily começou a sentir um pouco de pena da dona da loja de antiguidades. Abrir no sábado e os móveis não sairiam do depósito antes da quinta? Isso é que é trabalhar no limite do prazo. E quanto à publicidade? A única forma de publicidade parecia ser uma placa na porta, além do boca a boca. Talvez esse tipo de coisa fosse suficiente em uma cidade pequena, mas uma difusão na Por Dentro de Landing não faria mal algum.

    O primeiro destino de quarta-feira seria o Café Nascer do Sol. De acordo com suas anotações, também ficava na Rua Principal, seis quarteirões ao sul de seu escritório. O restaurante estava aberto havia menos de três meses, mas o Johnny tinha dito que já era um ímã local para um café decente, uma comidinha caseira e, claro, uma boa dose de fofoca regional.

    O Café Nascer do Sol ficava em um estreito prédio vitoriano de tijolos marrons. Uma placa histórica de latão indicava que o prédio já havia sido o estabelecimento do ilustríssimo Murdoch Gilroy. Emily se perguntou se Murdoch Gilroy teria alguma relação com o falecido marido de sua senhoria, e suspeitou que sim. Uma pequena placa de madeira mostrava o horário como sendo de segunda a sábado, das 6:30 às 12:30, fechado aos domingos.

    Ela tentou pensar em um restaurante no centro de Toronto que só abrisse para o café da manhã e, além disso, fechasse aos domingos. Nenhum lhe veio à mente. Os imóveis eram muito caros para depender exclusivamente de bacon e ovos como fonte de renda.

    A porta da frente estava pintada de um amarelo brilhante, quase ensolarado. Emily puxou uma alça de latão e fez seu caminho para dentro. Ficou surpresa ao encontrar o lugar lotado.

    O restaurante era charmoso em um estilo country aconchegante, com estampas coloridas de galos e outras criaturas da fazenda adornando as paredes. Acima, ventiladores de teto com lâminas alternadas de amarelo e laranja brilhantes giravam preguiçosamente, espalhando o cheiro de café, canela e torradas com manteiga.

    Um mostrador alto e de vidro, cheio de frutas, tortas caseiras e muffins, separava os comensais de uma cozinha aberta. Uma cesta de tâmaras embaladas individualmente e biscoitos de chocolate enormes estava estrategicamente colocada ao lado da caixa registradora. Cidade pequena ou não, quem quer que fosse o proprietário do Café Nascer do Sol tinha experiência em negócios.

    Uma garçonete loira era a única atendente à vista. Ela era magra, tinha vinte e poucos anos, e olhos azuis escuros emoldurados por cílios fortemente maquiados.

    As mesas estavam artisticamente organizadas para maximizar o espaço, ainda assim proporcionando um mínimo de privacidade. Uma pequena janela saliente dava para a Rua Principal, um vaso de rosas amarelas brilhantes ornamentando o recanto.

    Ela se sentou à mesa individual e tentou parecer discreta. Um homem bem forte, vestindo uma camisa de hóquei do Toronto Maple Leafs, de imediato a fulminou com o olhar; sua jaqueta impermeável de esqui estava pendurada descuidadamente sobre a cadeira sobressalente, e as mangas caindo ao piso.

    Emily o encarou de volta, quando o cara começou a resmungar em voz alta sobre os 'fãs da cidade;' a ironia de torcer para um time de hóquei da NHL aparentemente havia se perdido nele. Da última vez que havia observado, Toronto era uma cidade. Uma grande; assim era o tanto que entendia do esporte. Assistiu a cena do homem censurando a garçonete por ter deixado potes de manteiga de amendoim na cesta de geleia.

    A pobre tropeçou na volumosa jaqueta de esqui ao tentar chegar à cesta. Com o rosto vermelho e os lábios trêmulos, a garçonete se levantou, tirou os potes de manteiga de amendoim da cesta infratora, jogou-os no bolso do avental e murmurou um pedido de desculpas. Respirou fundo, pegou um menu plastificado de uma pilha no balcão e foi até a mesa da Emily.

    "Bem-vinda ao Café Nascer do Sol, e minhas desculpas pelo espetáculo. Meu nome é February. Estou aqui para lhe servir."

    "Emily. Eu sou nova na cidade. Assumi o comando da Por Dentro de Landing. Ela percebeu o olhar confuso da February. É uma revista mensal."

    Desculpe-me por isso. Sou bastante nova aqui. February se inclinou, de forma conspiratória. Eu também sou uma escritora.

    Quem não era? Emily desejava receber um dólar para cada vez que alguém dizia isso a ela. Pelo menos a garota não estava alegando ser poetisa. O pior era quando começavam a recitar haicai.

    Não fui publicada, reconheceu February, como se sentisse a hesitação da Emily, mas tenho muitas histórias para contar. Sua voz caiu para um sussurro. Trabalhando em um restaurante você vê e ouve de tudo.

    Vê e ouve de tudo. Essa jovem de rosto pálido pode ser útil. Tenho certeza que sim, February. Que tal conversarmos quando você não estiver tão ocupada? Emily remexeu na carteira e tirou um cartão de visita. Aqui está. Ligue-me a qualquer hora.

    February pegou o cartão e o colocou no bolso do avental. Obrigada. É melhor eu me movimentar ou a senhora Moroziuk, quero dizer Gloria, vai sentir a minha falta. Ela apontou para a cozinha, onde uma mulher robusta, Gloria provavelmente, estava trabalhando em uma grelha quente, cheia de ovos, bacon, salsicha e panquecas. Posso trazer um chá ou café para começar?

    Um café seria ótimo, obrigada. Emily devolveu o menu. Você teria algo remotamente vegetariano?

    "Que tal um BAT (bacon, alface e tomate) sem o som de bacon?"

    Emily considerou. Ela estava tentando fazer a mudança para o vegetarianismo, muito por conta de seu ex-noivo, Kevin, mas a verdade é que não conseguia se esquecer do sabor do bacon. Principalmente quando era totalmente crocante. E todos os vegetais do mundo não impediram que o Kevin a deixasse. Deliciar-se com bacon de vez em quando não poderia fazer mal algum. Poderia?

    Vou de BAT, com o B.

    February anotou o pedido em seu bloco, antes de seguir para a cozinha. Emily puxou seu tablet. Sempre seria bom escutar às escondidas, com pretexto de estar lendo algo, e tinha em mãos a lista em PDF, cedida pelo Johnny Porter, dos comerciantes da Rua Principal que estariam ali dentro. Ela poderia passar o tempo tentando descobrir quem era quem.

    Johnny estava certo. O Café Nascer do Sol era um foco de fofoca. Não demorou muito para que a próxima apresentação de Stonehaven se tornasse a fonte de um debate acalorado. Camisa de Hóquei deu o pontapé inicial, uma carranca digna de Primeira Divisão se espalhou por seu rosto.

    Não entendi onde você está querendo chegar, Chantal, disse Camisa de Hóquei, dirigindo-se a uma jovem atlética sentada à mesa ao lado dele. Como você pode pensar que um desenvolvedor de cidade grande saberá o que é bom para este povoado?

    Eu não disse que seria bom para a cidade, Carter. Eu disse que deveríamos manter a mente aberta. O cabelo da mulher era preto como as costas de um corvo e cortado bem curto. Com exceção de um par de brincos de diamante, ela parecia estar adornada com roupas de ioga da cabeça aos pés.

    Emily passou os olhos pelo PDF e a identificou como Chantal Van Schyndle, proprietária do Spa Serenidade e Estúdio de Ioga. Presumiu que Camisa de Hóquei fosse Carter Dixon, dono da Tiro Certo, uma loja de artigos esportivos, sobre a qual o Johnny havia escrito que mal frequentava.

    Chantal está certa, disse outro homem. Tinha a pele avermelhada de alguém que passava grande parte de sua vida ao ar livre. Vamos esperar, até ouvirmos a apresentação na próxima semana e ter todos os fatos.

    E você acha que conseguiremos todos os fatos, Ned? Você é um sonhador, disse Carter. Por outro lado, talvez seja necessário um sonhador para abrir uma loja que venda nada além de sementes de pássaros.

    A compleição do Ned passou de ruborizada para irada, mas ele conseguiu manter a voz baixa. "Nossa loja Cantos de Pássaros vende muito mais que sementes de pássaros, Carter. Nós vendemos suprimentos para observadores de pássaros de quintal, algo que você saberia se não estivesse tão envolvido em seus preciosos perdedores do time de Maple."

    Emily verificou o PDF novamente. Ned seria Ned Turcotte. 'Um pouco temperamental,' havia escrito Johnny, 'mas o mantém sob controle na maioria das vezes.'

    "Este será o ano dos Leafs," disse Carter.

    Quem é o sonhador agora, hein, Carter?

    Cavalheiros, por favor, vamos todos tomar um comprimido para esfriar a cuca. Gloria saiu da cozinha, enxugando as mãos no avental. "Este aqui é um estabelecimento respeitável. Se

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