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A compreensão étnico-cultural no ensino de história
A compreensão étnico-cultural no ensino de história
A compreensão étnico-cultural no ensino de história
E-book253 páginas2 horas

A compreensão étnico-cultural no ensino de história

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Sobre este e-book

Quais são as representações relacionadas à História que foram ensinadas quando éramos crianças e permanecem presentes na trajetória docente? As experiências históricas vivenciadas na escola contribuem para a construção de identidades étnico-culturais? Pensar sobre a etnicidade em relação ao ensino de história no município de Panambi/RS nos anos iniciais do ensino fundamental foi o objetivo central da dissertação que acabou por transformar-se num livro. Sabe-se que a memória também se refere ao esquecimento, silêncios, aos não ditos e de um processo ativo de criação de significações. Logo, para compreender quais são as memórias e histórias presentes no ensino de História, houve a participação de professoras, alunos, comunidade escolar, moradores antigos durante o processo de pesquisa. A saber, o livro também serve como fonte de pesquisa para analisar as concepções que permeavam o ensino de história, uma vez que se reporta ao início do século XXI. Compreender como se deu a inserção de tais etnias na região, abordagens e recursos utilizados pelas professoras, olhares que os alunos possuem a respeito, contribuirá para que trajetórias étnicas culturais não continuem sendo desconhecidas ou esquecidas. De igual forma, refletir sobre as representações que muitas vezes são criadas e continuam presentes na memória histórica. Finalmente, desenvolver a prática da alteridade, capaz de promover situações de cooperação, imprescindível à prática da cidadania.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de mar. de 2022
ISBN9786525223674
A compreensão étnico-cultural no ensino de história

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    A compreensão étnico-cultural no ensino de história - Édina Francini Simão Hack

    1. A QUESTÃO ÉTNICA: UMA DISCUSSÃO NECESSÁRIA

    1.1 – OLHAR PARA A ETNICIDADE: PENSAR AS DIFERENÇAS CULTURAIS

    Problematizar a questão étnica não se restringe à análise da construção de representações no contexto escolar e histórico cultural de Panambi/RS, pois essa preocupação encontra-se relacionada a contextos mais amplos. Nesse sentido, para Lewis (2001), mesmo o que poderia se tornar uma esperança de satisfação com a queda do muro de Berlim e a reunificação do país, continua sendo manifestado com desalento.

    Apesar dos conflitos étnicos ocorridos, que vislumbravam a possibilidade de uma resolução ou minimização desses fatos, o mundo permanece desordenado. A globalização dá a impressão de contribuir para o alargamento dos conflitos étnicos e isso nos faz perceber que é necessário repensar esse assunto. Pois passou-se a crer que o conflito étnico pode se desencadear em qualquer parte do globo terrestre.

    Para, Lewis (2001), há pouco conhecimento da questão étnica e do Estado-nação e ainda a falta de harmonização entre ambos. Acreditava-se saber o significado da etnicidade e que ela nos conduziria, à divisão, ao tribalismo e, [...], ao separatismo (LEWIS, 2001, p. 91). No entanto, antropólogos mostraram que o conteúdo cultural tem múltiplas peculiaridades, o que permite ao grupo sentir-se solidário às características físicas, língua, religião, costumes.

    Contudo, na história tem-se o exemplo, de povos que habitavam as terras da América, chamados incondicionalmente pelos invasores de índios, (como se não houvesse diferenças entre esses grupos). Barth, quando trata do processo de desconstrução da etnicidade, entende que a etnicidade não é fator nem primordial nem circunstancial, mas uma combinação dessas escalas de prioridades (BARTH APUD LEWIS, 2001, p. 92-93). As pessoas, uma vez que fazem parte de grupos sociais, possuem esse atributo de maneira oculta. Por isso é importante que se realize a análise da questão étnica e do Estado para se entender os conflitos étnicos.

    Acreditava-se que a partir das ideias da Revolução Francesa, os Estados seriam permeados por condições de igualdade, não se despreocupando, contudo, com a questão da identidade étnica. Normalmente o que impera é o reconhecimento e legitimidade de apenas uma identidade étnica para o Estado: O Estado é então levado a corresponder à nação, possuindo uma identidade étnica singular (LEWIS, 2001, p.94). Quem não pertence a essa identidade torna-se cidadão de segunda classe. Na Europa do Leste, a disputa em manter a ‘limpeza étnica’ é espantosa, em especial na Alemanha e na França, onde, algumas vezes, os concidadãos são coagidos como se fossem estrangeiros. Enquanto que na América vários povos para lá migraram e, mesmo que existissem vínculos entre as várias etnias, elas deveriam se manter em uma posição de menor importância em relação à cultura dominante do Estado. Por sua vez, índios, que já se encontravam no local e negros trazidos à força, foram excluídos do contexto de cidadania. No México, há um panorama de luta pela causa indígena: proteção de sua cultura e de suas terras. Já no Brasil e nos Estados Unidos, onde a população indígena era tida como pequena e dispersa, ocorreu um confronto entre os indígenas que desejam reivindicar seus direitos. Além disso, permeava a ideia de que se eles fossem numerosos tornavam-se ameaçadores seus pedidos, e, caso não fossem tão numerosos, poderiam ser esquecidos.

    Na América, a colonização ainda permanece, por isso o conflito entre os índios e os invasores continua acontecendo. As áreas recentemente descolonizadas da África e da Ásia encontram-se atualmente confinadas ao conflito étnico. No entanto, há uma contestação quanto a essa afirmação, pois a artificialidade das fronteiras coloniais tem sido exagerada. As potências coloniais, ao levarem em consideração essas fronteiras, cuidaram ao delimitar seus territórios, porém mesmo não desejando dividir os grupos étnicos, isso pode ter ocorrido algumas vezes. Mesmo os Estados pós-coloniais, que defenderam as suas fronteiras coloniais, possuem grupos étnicos com poucas características em comum. Decorre, desse fato, uma disputa pelo controle estatal entre grupos étnicos distintos, sendo o Estado administrado apenas por um grupo étnico. Na Ásia, a Índia procurou agir, conforme os ideais iluministas: não aceitaria o reconhecimento ou a acomodação de grupos étnicos. Não haveria, portanto, distinção entre os grupos étnicos, inclusive, aqueles que se definiam pela religião. Tal sistema funcionou até que os conflitos tornaram-se intensos entre hindus, muçulmanos e sikhs.

    O conflito étnico geralmente acontece quando há um interesse e estratégias internacionais, principalmente, no momento atual com o impulso da globalização. Exemplo disso é o Sri Lanka, país em que a partir de arranjos étnicos, além de já serem divididos, tornaram-se polarizados. Faz-se necessário, por isso, uma outra abordagem, a fim de buscar tratar da questão étnica por meio da divisão de sistemas sociais e políticas que possam acomodá-la (LEWIS, 2001, p. 99). Porém, os estudos do autor mostram que o problema está na maneira como os povos lidam (ou não lidam) com a questão étnica, a fim de suprimi-la.

    Como toda a pesquisa se encontra permeada por essa preocupação, tendo em vista um outro recorte, não basta abordar essa temática sem conceituá-la. Essa conceituação ocorrerá à guia de Barth (1998).

    1.2 – UMA LEITURA: A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

    Barth⁸ (1998, p. 191) critica o conceito dado até então para conceber a diversidade cultural, pois leva a imaginar cada grupo desenvolvendo sua forma cultural e social em isolamento relativo, essencialmente, reagindo a fatores ecológicos locais, ao longo de uma história de adaptação por invenção e empréstimos seletivos. Como consequência há um mundo de povos separados, cada um com sua própria cultura, podendo ser descrito isoladamente.

    Para Barth (1998, p. 193) os grupos étnicos são vistos como uma forma de organização social, tornando-se fundamental a característica de auto atribuição ou da atribuição por outros a uma categoria étnica. Assim sendo, uma atribuição categórica é uma atribuição étnica quando classifica uma pessoa em termos de sua identidade básica mais geral, [...] determinada por sua origem e seu meio ambiente. Quando os atores usam identidades étnicas para categorizar a si mesmos e outros, com objetivo de interação, acabam formando grupos étnicos em tal sentido organizacional. (BARTH, 1998, p. 193 - 194)

    Entretanto, as características que são consideradas referem-se àquelas que os próprios atores consideram significativas. São utilizados pelos atores alguns traços culturais como sinais de diferenças, outros são ignorados e, em alguns outros relacionamentos, diferenças radicais são minimizadas e negadas.

    As dicotomias étnicas têm seu conteúdo cultural que pode ser de duas ordens. A primeira constitui-se de sinais ou signos manifestos como vestuário, língua, moradia ou estilo de vida em geral. O segundo consiste em padrões de moralidade e excelência pelos quais as ações são julgadas (BARTH, 1998, p. 194). Pertencer a uma determinada categoria étnica condiz com o reconhecimento de ser julgado e de julgar-se por padrões que são importantes para aquela identidade. Não se pode prever quais serão os traços realçados e tornados relevantes pelos atores. Portanto, as categorias étnicas fornecem um cadinho organizacional dentro do qual podem ser colocados conteúdos de formas e dimensões várias em diferentes sistemas socioculturais (BARTH, 1998, p. 194). Essas categorias podem ter importância para o comportamento, sem, no entanto, necessariamente sê-lo, podendo permear toda a vida social ou serem significativas apenas para setores limitados de atividade.

    O traço fundamental dos grupos étnicos é a atribuição. Os traços étnicos dependem da manutenção de uma fronteira, porém os traços culturais que demarcam uma fronteira podem mudar, e as características culturais de seus membros podem igualmente se transformar. Isso significa que a progressiva dicotomização entre membros e não-membros contribui para especificar a natureza de tal continuidade e investigar o conteúdo da transformação cultural. Outra característica é que apenas os fatores socialmente relevantes tornam-se próprios para diagnosticar a pertença, e não as diferenças ‘objetivas’ manifestas que são geradas por outros fatores (BARTH, 1998, p. 195). As dessemelhanças que se referem ao comportamento dos membros não importam. Por isso,

    se eles dizem que são A, em oposição a outra categoria B da mesma ordem, eles estão querendo ser tratados e querem ver seus próprios comportamentos serem interpretados e julgados como as de As e não de Bs; melhor dizendo, eles declaram sua sujeição à cultura compartilhada pelos As. (BARTH,1998, p. 195)

    É nessa perspectiva que a fronteira étnica se torna o ponto fundamental da pesquisa de Barth, pois ela define o grupo e não a matéria cultural que abrange. As fronteiras são fronteiras sociais, mas nada impede que tenham contrapartidas territoriais. Mesmo ao interagir com outros, o grupo conserva a sua identidade. Isso evidencia que existem critérios para designar o pertencimento e meios para manifestar a exclusão. É preciso, pois, analisar que os grupos étnicos não são simplesmente baseados na ocupação de territórios exclusivos como também nos diferentes modos pelos quais se conservam, não apenas através de um recrutamento definitivo, mas por uma expressão e validação contínuas. (BARTH, 1998, p. 195-196). Para identificar o pertencimento de uma pessoa a um determinado grupo étnico é necessário haver o compartilhamento de critérios de avaliação e julgamento. Quer dizer

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