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Mostra Científica: desafios e possibilidades para o princípio da educação pela pesquisa
Mostra Científica: desafios e possibilidades para o princípio da educação pela pesquisa
Mostra Científica: desafios e possibilidades para o princípio da educação pela pesquisa
E-book399 páginas4 horas

Mostra Científica: desafios e possibilidades para o princípio da educação pela pesquisa

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Sobre este e-book

Esta obra é produto de um estudo que teve como proposta discutir o tema Mostras Científicas e seus impactos para a produção da pesquisa no ambiente escolar. O movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade – CTS a partir da década de 1970 marca as discussões sobre a necessidade de popularizar a ciência para um melhor acesso ao entendimento e posicionamento nas questões sociais. As Mostras Científicas surgem como espaço propício à socialização do conhecimento científico produzido nas instituições de ensino e pesquisa. Tem sido um importante instrumento para viabilizar o desenvolvimento da cultura científica e contribuir para despertar o interesse dos educandos nas atividades de pesquisa no ambiente escolar. O primeiro capítulo aborda aspectos relacionados a estrutura e objetivos do estudo. O segundo capítulo traz um breve levantamento da trajetória histórica das feiras de ciências no Brasil e na região da aplicação do estudo, Teófilo Otoni-MG. O terceiro capítulo discute os Projetos de Feiras de Ciências - PFCs como oportunidade de desenvolver a educação pela pesquisa e o protagonismo do educando. O capítulo quarto descreve o método da pesquisa, que fez uma abordagem qualitativa quantitativa para realizar uma análise descritiva explicativa dos PFCs através de um estudo de campo. O quinto capítulo discute o resultado do estudo revelado em três categorias por meio da Análise Textual Discursiva. O sexto e último capítulo apresenta os resultados e considerações sobre o estudo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de jun. de 2022
ISBN9786525237305
Mostra Científica: desafios e possibilidades para o princípio da educação pela pesquisa

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    Mostra Científica - Aline Hossem

    1 INTRODUÇÃO

    A educação sempre foi tema de recorrentes estudos, pois o homem tem nata inquietude na busca incessante do saber, para o desenvolvimento de novas tecnologias na busca de melhores condições de vida e maior comodidade. Deste modo, o mundo tem passado nos últimos anos por dinâmicas transformações científicas e culturais, a sociedade tem direcionado seus interesses para o desenvolvimento de tecnologias conforme suas necessidades e valores sociais (CASTELLS, 1999; CASTELLS; CARDOSO, 2005).

    Portanto, deter o conhecimento científico e tecnológico acarreta autoridade no domínio econômico e político (STAUB, 2001). Os desafios à competitividade global devem assegurar investimentos no campo da Ciência Tecnologia e Inovação (CT&I), para que seja possível garantir a formação de potencial humano científico de um país. Assim, torna-se crucial o incremento às atividades de pesquisas científicas, parcerias com instituições de ensino, fomento ao empreendedorismo tecnológico, criação de ambientes de inovação (MCTI, 2016). E, especialmente, a promoção de uma maior participação da sociedade nas questões que envolvem o uso dos conhecimentos científicos e tecnológicos através do acesso a uma educação de qualidade (BAZZO, 2011).

    As discussões políticas sobre os impactos do desenvolvimento científico e tecnológico ao bem-estar social ganharam impulso após meados do século XX, dada sua crescente complexidade. Emergem, a partir de então, reflexões críticas nas relações entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade, no movimento denominado de CTS (AULER; BAZZO, 2001). Este movimento por sua vez, traz como um princípio a contextualização da ciência e da tecnologia para uma maior participação social nos processos decisórios através de uma educação científica de qualidade, comprometidos com o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes necessárias ao pleno exercício da cidadania.

    Para que o país seja mais competitivo recorre-se a uma necessária articulação de mecanismos para melhoria da capacidade do incremento no campo científico, tecnológico e social, no desígnio de propiciar uma maior abrangência intelectual da coletividade na concepção do mundo e dos conflitos geridos pela sociedade, de forma a um intervir mais consciente. Portanto, torna-se imperativo o fomento à popularização do ensino de ciência e tecnologia (HARTMANN, 2011). Deste modo, deve-se impulsionar atitudes mais democráticas sobre as ações no campo do desenvolvimento científico-tecnológico e menos tecnocrático (AULER, 2007).

    Atualmente, as Mostras Científicas são espaços não formais de aprendizado que contemplam a manifestação de trabalhos desenvolvidos no campo científico tais como: feiras de ciências, oficinas pedagógicas, mostras culturais, entre outras exposições de trabalhos artísticos com rico potencial motivador da aprendizagem de práticas nos espaços escolares. Corroboram para a integração das diversas áreas do conhecimento, articulando conteúdos didáticos às experiências práticas do cotidiano, criando um ambiente propício à iniciação a pesquisa no ambiente escolar, bem como a possibilidade do desenvolvimento de projetos de potencial capacidade de inovação por meio da interpretação crítica da realidade dos fenômenos naturais e sociais, conectando o ambiente escolar à comunidade (MANCUSO, 2000; HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009).

    A partir de uma breve contextualização, sobre algumas questões da ciência que trouxeram à baila o tema abrangente Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) aplicado ao campo da educação científica, pretende-se com esta pesquisa adentrar na discussão da popularização da ciência, especialmente sobre as Mostras Científicas e Culturais, e abarcar a importância destes eventos para a educação científica no ensino básico. No delineamento deste trabalho, escolheu-se pesquisar as Feiras de Ciências das escolas públicas estaduais do município de Teófilo Otoni. Nessa perspectiva, objetiva-se compreender as contribuições dos Projetos de Feira de Ciências (PFCs) para o princípio da Educação pela pesquisa (DEMO, 2007), que valoriza o desenvolvimento das capacidades de autonomia do educando no processo de aprendizagem por meio de competências críticas e argumentativas (GALIAZZI; MORAES, 2002), com potencial capacidade para o desenvolvimento da educação científica.

    1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA

    O ensino de ciências no Brasil caracterizou-se, até a década de 1950, pela memorização e mecanização dos conteúdos, com aulas genuinamente teóricas, em que os conhecimentos eram transmitidos como verdades absolutas, livres de um pensamento mais reflexivo proporcionado muitas vezes pelo contato com as práticas experimentais (LIRA, 2012). Apesar de alguns avanços na discussão e orientação para a implementação de novas abordagens para o ensino de ciências e currículos mais inclusivos, ainda permanecem resquícios do ensino dito ‘tradicional’ (SANTOS, 2007b; VIECHENESKI; LORENZETTI; CARLETTO, 2012).

    Percebe-se que o conhecimento científico precisa envolver o educando em um mundo de significados novos (SANTOS, 2007b), no intuito de fazer com que estes sujeitos compreendam a ciência na sua totalidade, para apreender o contexto em que vivem como ser social e em suas relações com a natureza. E isto pode ter início desde os primeiros anos do ensino na educação básica, especialmente no contato com as atividades que propiciem o incremento de trabalhos pedagógicos que possam municiar elementos para a formação de indivíduos mais autônomos, com atribuições mais responsáveis no contexto e no espaço em que vivem (AULER, 2007; DEMO, 2007).

    Freire (1996), também trata a questão das atividades educadoras no sentido de construir uma educação libertadora, a partir de uma autocrítica por parte do educador sobre o educando, possibilitando uma forma emancipadora da educação, um mundo mais consciente. A promoção da ingenuidade para a criticidade não se dá automaticamente, uma das tarefas precípuas da prática educativo-progressista é exatamente o desenvolvimento da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil (Ibid, p. 32).

    O cenário atual da educação no Vale do Mucuri, mesorregião localizada no nordeste do Estado de Minas, não tem apresentado um histórico muito animador em relação ao contexto do Estado. Segundo o Plano Diretor do município de Teófilo Otoni (cidade polo), a região foi caracterizada por extremos contrastes sociais, apresentando problemas básicos de subdesenvolvimento nas mais diversas áreas tais como saúde, saneamento e educação (PMTO, 2007).

    Ao longo dos anos, tem apresentado contrastes quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) com valores preocupantes para alguns dos seus municípios (EM.COM.BR, 2013, online), apesar da cidade de Teófilo Otoni ter apresentado certa evolução nos últimos anos:

    - IDHM ano 2000 foi de 0,589 (índice baixo) (ATLAS BRASIL, 2000, online).

    - IDHM ano 2010 foi de 0,701 (índice alto) (ATLAS BRASIL, 2010, online).

    O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é um indicativo utilizado para mensurar a qualidade da educação nos anos iniciais e finais do ensino fundamental no Brasil. Em um estudo realizado por Fonseca (2014) entre os anos de 2007 e 2011, o Vale do Mucuri apresentou os piores resultados do IDEB no Estado de Minas Gerais. No município de Teófilo Otoni o IDEB médio entre as escolas públicas estaduais para os anos finais do ensino fundamental apresentou no ano de 2007 o valor de 2,8 (QEDU.ORG.BR, 2007, online), numa escala de avaliação que vai de nota 1 a 10. Já no ano de 2017 esse índice aumentou seu valor para 3,9, porém, ainda permanece abaixo da meta para o município que é de 4,3 (QEDU.ORG.BR, 2017, online).

    Em meio a essa realidade, costumam refletir nas escolas públicas problemas comuns como a desmotivação, evasão escolar, dificuldades na aprendizagem, violência escolar, ausência da participação da família junto à escola, escassos recursos didáticos e tecnológicos. Os ambientes escolares, por vezes, se encontram sob precárias estruturas físicas, sucateadas pela falta de recursos e manutenção do espaço entre outros problemas que têm cooperado para um ambiente pouco convidativo à aprendizagem (FERREIRA, 2016; CABRAL, 2016). Sendo necessários projetos que possam promover os ambientes escolares como lugar atrativo, valorizando práticas pedagógicas contextualizadas de forma interdisciplinar (PRADO, 2005).

    Uma das propostas de trabalhos pedagógicos que se destacam por oferecer um ambiente propício ao enriquecimento curricular, ao estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento da autonomia da aprendizagem em ambiente coletivo são as Mostras Científicas e Culturais (Feiras de Ciências) que são realizadas nas escolas de educação básica. Esses são alguns dos títulos dados à mostra de trabalhos realizados em espaços coletivos vinculados às escolas de nível básico. O termo traz algumas definições por estudiosos destes eventos descritos no Programa de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica (FENABEB), coordenado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC):

    A Feira de Ciências é um empreendimento técnico-científico-cultural que se destina a estabelecer o inter-relacionamento entre escola e a comunidade. Oportuniza aos alunos demonstrarem, por meio de projetos planejados e executados por eles, sua criatividade, o seu raciocínio lógico, a sua capacidade de pesquisa e seus conhecimentos científicos (MORAES, 1986, p. 20 apud BRASIL, 2006, p. 19).

    Com efeito, discutir sobre Mostras Científicas nos espaços escolares, remeteu ao levantamento de um questionamento sobre estes eventos: Como os Projetos de Feira de Ciências (PFC) estão sendo realizados na educação básica e quais são as contribuições desses eventos para promover o princípio da Educação pela pesquisa?

    No intento de buscar respostas, pretendeu-se investigar como foram realizados os PFCs, mais precisamente, delimitando o objeto de estudo com o foco nas escolas públicas estaduais do município de Teófilo Otoni no ano de 2017. Para assim, analisar se os alunos foram orientados ao desenvolvimento de um trabalho de incentivo à pesquisa. Considera-se, preliminarmente, que estes eventos podem ser oportunos e produtivos para a popularização da ciência, enriquecimento de aprendizagens significativas, podendo inclusive capacitar potenciais aspectos inovadores do ensino científico.

    As questões que permeiam a educação sempre foram objetos de estudos por parte da comunidade científica no sentido de buscar compreender as lacunas entre o ensinar e o aprender. Neste sentido, Martins (2012) traz à tona as ideias de Grampsi (1891-1937), sobre o papel fundamental da escola na base educativa para a construção da alfabetização do cidadão, sobretudo colabora como o princípio para o incentivo da busca por novos horizontes do saber, o desenvolvimento de habilidades, criatividade e criticidade, de forma que os estudantes sejam motivados a buscar o verdadeiro sentido do conhecimento.

    Nesta perspectiva as Feiras de Ciências podem ser o espaço propício para o crescimento pessoal dos educandos (MANCUSO, 1995), que conforme Farias (2006, p. 39), constituem-se em momentos importantes no que tange a possibilidade de disseminação da produção científica dos envolvidos, caracterizando uma oportuna troca de experiência e conhecimentos. Vários estudos apontam que a aprendizagem científica se consolida norteada na pesquisa (DEMO, 2007), em que a cognição do indivíduo é o resultado das relações que o indivíduo faz com meio, fundamentada no construtivismo. Essa abordagem foi discutida nos trabalhos de Vygotsky, Piaget, Freire e demais seguidores, que trazem em sua linha filosófica o sujeito ativo no processo do próprio conhecimento (JÓFILI, 2002).

    Contudo, a edificação de uma pedagogia libertadora e integradora dos conhecimentos, em que a educação científica possa ser vigorada em ambientes não formais, visando promover a alfabetização científica de indivíduos (CAZELLI et al., 1999). Dessa forma, voltado para o contexto escolar, os PFCs podem ser espaços propícios a isso, onde possam ser efetivadas aprendizagens significativas a partir da promoção de um ciclo dialético, que podem se consolidar pelo questionamento reconstrutivo, que busca por meio da interação professor-aluno promover um ambiente de investigação, base dos princípios da Educação pela pesquisa (DEMO, 2007).

    Sobre a Educação pela pesquisa, Demo (2007) defende que deva ser estabelecida nas diversas etapas da vida escolar, como prática cotidiana, tendo o aluno como protagonista no processo de sua aprendizagem, questionando a realidade de forma crítica como sujeito ativo nas interações com o meio físico e social, tendo o questionamento reconstrutivo como perspectiva para autonomia do seu conhecimento. Assim, por meio dos PFCs o aproveitamento das motivações pessoais, lúdicas e desafiadoras do aluno para a pesquisa (PAULA, 2014, p. 16) pode ser o meio para potencializar o desenvolvimento da educação científica.

    Porém, Demo (2007) alerta para a qualidade formal e o rigor com que a pesquisa deva ser conduzida nas atividades escolares. Nesse sentido, Braule e Miranda Neto (2007) levantaram um questionamento sobre a possibilidade de alguns dos projetos de Feiras de Ciências estarem sendo realizados nas escolas como mera formalidade e cumprimento de exigências determinadas aos professores. Frequentemente são atividades impostas, por isso os professores as veem como uma obrigação a ser cumprida para satisfazer as exigências da direção ou equipe pedagógica e não como um instrumento para tornar o ensino mais significativo e dinâmico (Ibid., p. 2). Alguns outros apontamentos também são a falta de planejamento, curto prazo de execução dos projetos bem como os temas propostos que muitas vezes são impostos aos alunos, ficando estes às margens das decisões, o que pode acarretar a falta de interesse pela busca do conhecimento (BRAULE; MIRANDA NETO, 2007; BORGES; ARAÚJO, 2012). Não havia espaço para questionamentos por parte dos alunos e, deixando de serem problematizadas, suas ideias não vinham à tona. Era assim que os professores ‘ensinavam’ e os alunos ‘aprendiam ciências’ (FARIAS, 2006, p. 16, ‘grifo do autor’).

    Também tem sido levantada por Braule e Miranda Neto (2007), a questão da pesquisa que precede a fundamentação de um projeto, e fazem uma crítica sobre trabalhos apresentados nos eventos de feira de ciências, os quais podem ser construídos como mera repetição de experimentos, podendo comprometer a oportunidade de oferecer um tratamento à investigação de tal processo, em que os alunos podem não estar dando a necessária atenção e apenas encarar como um momento ‘festivo’ (p. 2, ‘grifo do autor’). Alguns trabalhos se destacaram mais pela preocupação com a parte visual do que com o conteúdo a ser exposto, a postura e a preparação do material intelectual (BORGES; ARAÚJO, 2013, p. 5), e ressaltam a importância de repensar e avaliar a conduta desses projetos para que estes possam se fazer úteis à sua finalidade que é o processo de estimular a qualidade do ensino-aprendizagem.

    Assim, ao realizar uma imersão nos ambientes dos PFCs pretende-se inteirar dessa realidade, considerando os aspectos qualitativos do processo construtivo que venham a contribuir para uma aprendizagem significativa, o qual espera-se que esses eventos possam promover. Bem como, pontuar questões que podem acarretar prejuízos aos resultados dos PFCs, levando a um trabalho sem o devido respaldo teórico para uma válida educação de qualidade.

    1.2 JUSTIFICATIVA

    A legislação educacional brasileira por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino no Brasil orientam uma educação contextualizada e interdisciplinar, especificada precisamente pelos Currículos Básicos Comuns (CBCs), cooperam para o desígnio de uma aprendizagem que capacite o educando para a realização de atividades nas áreas que contemplem a vida em sociedade, nas suas atividades produtivas e nas experiências cotidianas (BRASIL, 2000, v. 1).

    A partir da possibilidade de melhor compreensão da ciência, seu desenvolvimento histórico e as formas pela qual pode influenciar na qualidade de vida e levar o indivíduo ao letramento científico¹. Portanto, o movimento CTS, tem como postulado no campo educacional, a criação de estratégias que permitam promover o interesse dos estudantes em adentrar ao mundo da ciência, compreender os fenômenos da natureza, as relações do ser social com o mundo em sua volta, e a ética que envolve o uso dos conhecimentos científicos e tecnológicos (MAMEDE; ZIMMERMANN, 2005).

    Nesse sentido, por meio da popularização da ciência (RAZUCK, 2012), permitir a formação de cidadãos partícipes, podendo ter uma postura crítica na sociedade, é de fundamental importância, além de possibilitar a inspiração de novos talentos cientistas (MAMEDE; ZIMMERMANN, 2005; AULER, 2007). Por conseguinte, elevar a qualidade dos recursos humanos no país para que possa se tornar mais competitivo, respeitando as diversidades e o meio ambiente.

    A Declaração Sobre a Ciência e o Uso do Conhecimento Científico de 1999² (UNESCO, 2003) traz à luz, a necessidade de uma reflexão mais responsável acerca das relações entre a Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), para que esta possa ser discutida desde os primeiros anos escolares, corroborando para a formação científica do cidadão frente às questões relacionadas à ciência e tecnologia (HARTMANN, 2011).

    Seguindo uma tendência mundial, no intento de promover a difusão e a popularização dos conhecimentos científicos junto à comunidade foi estabelecido, através do Decreto em 2004, a realização da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). O que tem contado com a participação das secretarias estaduais e municipais de ensino, escolas, agência de fomento e demais instituições de ensino e pesquisa com o objetivo de realizar mostras integradoras de produções científicas em diversos cantos no Brasil. A intenção tem sido propiciar um ambiente convidativo à troca mútua de experiências, debates e exposições científicas por todo o país, a fim de instigar a busca por soluções criativas e inovadoras aos temas propostos, integrando instituições dos vários segmentos educativos.

    Nesse mesmo segmento, com o intuito de apoiar o incentivo à popularização dos conhecimentos científicos, foi criado, em 2005, pelo Ministério da Educação o Programa de Apoio as Feiras de Ciências da Educação Básica (FENACEB), cujo objetivo foi estimular e dar suporte à efetivação de eventos de ordem à divulgação científica tais como mostras de ciências possibilitando a participação de estudantes juntamente com seus professores na educação básica (MEC, online).

    Assim, retornam para a educação básica a proposta de convergência de trabalhos realizados no decorrer do ano letivo, para a culminância nas Feiras de Ciências. Estes eventos, geralmente organizados no próprio ambiente escolar, têm ocorrências não tão recentes no Brasil, que segundo Mancuso (1995), surgiram por volta dos anos 60 para a apresentação de aparatos para fins de demonstração de técnicas experimentais.

    Atualmente, os eventos propõem que sejam realizadas exposições de trabalhos frutos de projetos de pesquisas, desenvolvidos pelos alunos, seguindo orientações de seus professores. De acordo Hartmann e Zimmernann (2009), as Feiras de Ciências constituem-se como ponto de partida para a investigação científica, consiste num momento oportuno para uma iniciação científica Júnior, em que os alunos podem buscar conhecimentos que os façam refletir sobre a aplicação dos conteúdos estudados de forma prática.

    As Feiras de Ciências podem ser classificadas como um sistema não formal de educação, pois conforme Dib (1988), a educação formal é uma forma de organização educacional estruturada de forma rígida, com os conteúdos previamente estabelecidos segundo um modelo padronizado. A educação não formal está relacionada às demais formas de organização educacional, flexibilizadas em tempos e espaços, aplicadas fora do modelo tradicional de ensino.

    Moraes e Mancuso (2004, apud FRANCISCO; COSTA, 2013) apontam o caráter de importância dos eventos de educação não formal realizados pelas escolas tais como as Feiras de Ciências ou Mostras Científicas para a comunidade estudantil, que normalmente se sente motivada ao desenvolvimento de projetos de acordo a realidade em que está inserida, percebendo os problemas e buscando soluções para compartilhar com a comunidade ao seu entorno. Assim, com estes eventos têm-se a oportunidade de desenvolver a iniciação à investigação e pesquisa, a produção de modelos e protótipos, a desenvoltura da escrita e oralidade dos estudantes.

    O princípio da Educação pela pesquisa se constitui como uma proposta progressista à reconstrução do ambiente educacional desmotivado, em que diversos estudos já foram realizados e apontados com evidências positivas para a qualificação profissional de professores bem como o desenvolvimento de aprendizagens dos alunos (PAULA, 2014). Nessa perspectiva, o presente estudo pode contribuir para identificar as lacunas existentes nos PFCs que possam interferir na sua qualidade, e torna-se oportuno apresentar à comunidade as contribuições dos PFCs como espaços promissores ao desenvolvimento do princípio da Educação pela pesquisa, que possibilita o desenvolvimento da educação científica.

    Portanto, tomando como base as questões apresentadas até o momento, e demais que possam vir a aflorar no decorrer deste estudo e, levando em consideração a vivência ao longo dos anos de experiência no trabalho como docente nas áreas de ciências da natureza e suas tecnologias, participando de projetos escolares, dentre esses as Mostras Científicas Escolares (Feiras de Ciências) nas escolas estaduais de Minas Gerais ressalta-se a relevância do presente estudo para a comunidade envolvida.

    Assim, este trabalho parte inicialmente dos seguintes pressupostos:

    ✓ Os PFCs fornecem o amparo para que os estudantes se mostrem motivados para a concretização de atividades, para a ajuda mútua, ampliação de seus horizontes, desenvolvimento da criticidade, melhor organização de ideias e performances criativas, conforme apontado por Mancuso (1995).

    ✓ Os PFCs contribuem para o incremento da autonomia para a pesquisa dos estudantes, conforme referencial teórico proposto por Demo (2007); Galiazzi, Moraes e Ramos (2003), baseados no princípio da Educação pela pesquisa. Visto que o aluno motivado à busca pelo seu próprio conhecimento pode ter um maior envolvimento para com as atividades do projeto e melhor interação professor-aluno através da problematização, argumentação e validação de suas ideias sobre as realidades vividas no meio cotidiano, conduzindo assim a ampliação dos conhecimentos científicos.

    Diante dos desafios que a educação brasileira enfrenta no atual cenário político-econômico e as reformas previstas para o ensino, questiona-se acerca do futuro dos projetos destinados ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, ao entender que a elevação da qualidade da educação deve passar pela valorização da cultura científica.

    Não obstante, diante da realidade preocupante da educação no Vale do Mucuri, pautados nos baixos índices do IDEB (PMTO, 2007; FONSECA, 2014), acredita-se que diagnosticar o processo de gestão dos PFCs nas escolas públicas estaduais de Teófilo Otoni, pode ser um grande desafio, de forma a oportunizar a comunidade escolar e participantes dos PFCs a reafirmar a importância do desenvolvimento da autonomia dos educandos para a pesquisa de modo mais fundamentado teoricamente, no intuito de apontar as possíveis demandas necessárias à construção de projetos que possam promover a consolidação de uma educação científica de qualidade apoiada no princípio da Educação pela pesquisa.

    Contudo, espera-se contribuir para um maior envolvimento da comunidade escolar nesta discussão, para uma releitura dessa realidade e contribuir para a proposição de futuras ações que viabilizem a emancipação do conhecimento científico nessa região. Assim, formar cidadãos críticos e alfabetizados cientificamente, capazes de tomar decisões mais conscientes sobre a complexidade das questões que envolvam a ciência, a tecnologia e a sociedade.

    1.3 OBJETIVOS

    1.3.1 OBJETIVO GERAL

    Avaliar como estão sendo sistematizados os Projetos de Feira de Ciências (PFCs) nas escolas estaduais do município de Teófilo Otoni e como esses projetos podem contribuir para o princípio da Educação pela pesquisa.

    1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    ✓ Investigar o processo de criação e organização dos PFCs nas escolas públicas do município de Teófilo Otoni por meio de um trabalho de pesquisa de campo.

    ✓ Avaliar se estes eventos têm contribuído para ampliar a capacidade autônoma do educando sobre a pesquisa.

    ✓ Examinar se os PFCs têm colaborado para elevar a capacidade crítica dos educandos quanto aos aspectos do princípio da Educação pela pesquisa, tais como a problematização, argumentação e validação.

    ✓ Averiguar como tem sido os procedimentos utilizados para a orientação

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