V I D A D E I N D I O
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V I D A D E I N D I O - Romeu R. De Lima
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2
ROMEU R. DE LIMA é escritor com diversos livros publicados
e recebeu o Prêmio de MÉRITO CULTURAL pela publicação do
livro "OCÊ QUÉ SABÊ? – processo 1046/2007 da
SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DE SÃO
PAULO.
DEVIDAMENTE REGISTRADO NA FUNDAÇÃO
BIBLIOTECA NACIONAL.
REGISTRO: 673.055 Livro 1.297 folha: 326
de 10 de março de 2015.
3
Dados Internacionais de Catalogação na
Fonte.
R103 R. de Lima, Romeu.
Vida de Índio / Romeu R. de Lima. – 2014
146 p.; 21cm.
ISBN 978-15-0015-170-6
1. vida, som, roberto. I. Título
CDD: B869.3
CDU: 82.7
4
ROMEU RODRIGUES LIMA, nome oficial, possui diversos
diplomas e condecoraçoes. Dentre eles menciona-se:
S.B.E.I. – Sociedade Brasileira de Educaçao e Integração;
S.B.E.M. – Sociedade Brasileira de Estudos Municipalistas;
Nonagésimo Aniversário da Imigração Japonesa no Brasil;
Honra ao Mérito Campanha de Alimentação Complementar;
Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo;
Diploma da Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo;
Título de DOM ROMEU R. de LIMA – dec. 1826/83 –
República Argentina.
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Vida de índio
Estória contada pelo grande índio Fumando-sozinho-
no-pasto, pesquisador dos povos das matas e arredores.
(A forma preferida é história - Nota do Autor).
Primeiramente quero contar como surgiu o primeiro
brasileiro oriundo da miscigenação entre um português e uma
índia. (Do livro do Dr. Paulo Saab – 1500 A Grande Viagem – Editora
Augustus 1994-ISBN 85-85497-23-8).
Chamava-se Afonso Ribeiro, o português, e a bela índia
levava o nome de Uaricaá e tudo começou assim:
7
Era ele, Afonso Ribeiro, um dos criados de Dom João
Telo, homem de muito saber e de confiança na tesouraria real.
Ajudava Dom João Telo na escrituração dos bens pessoais de
Dom Manuel, Rei de Portugal e, não raras vezes, acompanhava
seu amo à Casa Real onde, na câmara reservada e de acesso a
poucos, procedia à contagem numérica das peças de ouro de
Sua Majestade.
Devido a esse grau de confiança, Afonso Ribeiro, jovem
de vinte e seis anos, que se criou na casa de Dom João Telo,
filho de uma ama de sua senhora, Dona Joaquina Telo, tinha
livre circulação na casa do patrão. A atribuição dessa
paternidade de um aventureiro que de passagem se aproveitara
de sua jovem mãe, a criada Alva Ribeiro, evitara que se
propagasse, com intensidade inconveniente, a verdadeira
história, de que o pai real do rapaz era o dono da casa.
Acostumado a uma liberdade não comum aos
empregados, Afonso Ribeiro furtou, inicialmente, uma peça de
marfim, que servia de apoio a um prato de estante na cada de
Dona Joaquina Telo. O feito passou despercebido e rendeu ao
ladrão, bons réis no mercado do povo, onde um mercador
interessou-se pela peça sem fazer perguntas.
O dinheiro parou por instantes nas mãos de Ribeiro. No
mesmo mercado, comprou uma capa de pano verde, que jogou
sobre os ombros da jovem Ernanda Telo, filha de Dona
Joaquina e Dom João Telo, três anos mais novo que ele.
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Estavam apaixonados, embora Ernanda estivesse prometida,
por seu pai, para casar-se com o primogênito de Dom Leonardo
Campos, conselheiro do rei para assuntos agrícolas.
Juntar dinheiro e fugir era a meta dos jovens, quando a
notícia da promessa de matrimônio foi comunicada pelo pai à
filha. Afonso Ribeiro, que dava presentes escondidos à amada
com o fruto de seu trabalho e mais o que trabalhava
escusamente, perdeu qualquer tipo de cautela, ao deparar com
a necessidade de andar mais depressa com seus projetos.
Ernanda Telo não o desestimulou. Ao contrário,
dissidente do comportamento imposto pela mãe e assimilado
pelas duas irmãs, Margarida e Eleonora, de quem sempre
divergia, não temia o escândalo e esperava a oportunidade de
fugir com Afonso Ribeiro em direção ao Vigo, onde podiam
casar-se e montar uma banca de comércio, com o que
pretendiam juntar.
Quando Dom João Telo chamou-o para o interior da
câmara reservada, Afonso Ribeiro seguiu-o, certo de que teriam
nova sessão de listagem dos bens de Dom Manuel, pois a
guarda costumeira já estava à porta da antecâmara, onde não
havia viva alma que se arriscasse a entrar sem autorização
prévia. Pensou também que seria a oportunidade de levar nas
meias, mais uma ou duas moedas de ouro, que depois
registraria nos livros como se lá estivessem. O que de fato fez
tão logo Dom João deu-lhe oportunidade.
9
- Tenho notado a ausência de alguns objetos de valor em
minha casa. Não saberias, por acaso, o que se está passando?
- Nada sei a respeito, meu senhor, pois só cuido de
cumprir as suas prezadas ordens.
- Pior ainda, conferindo os livros das moedas de Sua
Majestade, de quinze dias para cá, vi que faltam dois mil réis,
cunhados em ouro, que serviriam para começar a fazer a
fortuna de qualquer um que deles dispusesse.
- Meu senhor sabe de sua confiança em minha pessoa. E
por que haveria eu de desapontá-lo?
- Pois vou dizer-te. E trata de confessar, porque, se o
fizeres, o castigo será menor, e minha desgraça pessoal ficará
restrita ao rei, de quem ainda não se se perdei o título e o
cargo, por tua causa!
- Meu senhor, por que me acusa se não tem prova de que
fiz o que me atribui?
- Saibas que constatei outro dia, na quinta de Dom
Carlos Dias, uma peça de marfim sobre uma instante, que
despertou minha curiosidade, já que se assemelhava à de minha
casa. Esta não encontrei e, tomando a Dom Carlos, indaguei
sobre a origem da peça. Este consultou sua senhora, Dona
Teresa, que chamou a ama que havia feito compras no mercado.
A ama indiciou o mercador, e ele descreveu o comprador como
sendo alguém de tua semelhança. O que me dizes agora?
10
Afonso Ribeiro ficou sem saída. E fez a confissão,
tentando sensibilizar seu amo para amenizar a culpa.
- Meu senhor há de perdoar-me. Confesso, sim, que o fiz,
e tudo, menos a peça de marfim, que não possuo, hei de
devolver, porque tenho comigo.
- Por que fizeste isso?
- Foi por amor, meu senhor. Amo desesperadamente
uma jovem e a ela dedico o que pude obter, na esperança de
fazê-la feliz.
Dom João Telo já se sentia mais aliviado, pensando
tratar-se apenas de um arroubo juvenil, de paixão de seu criado
por alguma de sua espécie.
- E quem é essa infeliz que te fez roubar a quem mais em
ti confia?
- Não posso dizer-lhe, senhor. Devolverei o que peguei e
me submeterei ao seu castigo, mas não devo dizer seu nome.
- E por que não podes dizer o nome dessa criada?
- Não posso senhor. E peço que me castigue, mas não
insistais.
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- Que saber, já.
- Ela me ama senhor.
Exaltado, Dom João Telo já ofegava. Gordo, pouco mais
de um metro e sessenta, apertado no colarinho duro de sua
camisa, sentia falta de ar e falava alto, atraindo a atenção dos
guardas na antecâmara, os quais, não obstante, nada podiam
entender.
- Quem é a infeliz? – esbravejou Dom João Telo,
batendo na escrivaninha ao seu lado, atrás da qual estava
Afonso Ribeiro. Assustado, o criado não mais se calou.
- Ela não é uma infeliz, meu senhor. É a mais formosa
das jovens de Lisboa. É Dona Ernanda Telo, sua filha.
Dom João sentiu-se sufocar. O ar faltou-lhe e uma dor
no peito, causada pelo choque da notícia, deixou-o sem forças.
Veio à sua mente o fato de ambos, Afonso e Ernanda, serem
irmãos, por sua paternidade, antes de desabar pesadamente
sobre a escrivaninha e bater a cabeça com força, no chão. O
barulho atraiu a guarda. Dois soldados do rei entraram
imediatamente na câmara, no exato momento em que Afonso
Ribeiro, levantava a cadeira que ao cair Dom João Telo fizera
virar.
- Para, o que fazes?
12
Ao ver a cena, os guardas concluíram que ribeiro havia
acertado a