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Minhas Lembranças De Papai
Minhas Lembranças De Papai
Minhas Lembranças De Papai
E-book180 páginas2 horas

Minhas Lembranças De Papai

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Sobre este e-book

Trata-se da biografia de Noé Gama, meu pai. Um homem do século XX, que teve vida aventureira e nômade, em parte no interior do Brasil. Além de movimentada, sua vida algumas vezes correu perigo. Nascido no ano de 1909, em Belém do Pará, em 1926 participou de uma revolta do esquadrão militar do estado e teve que fugir, começando sua vida aventurosa aos 17 anos. Casou e teve filhos, levando a família consigo. Trabalhou muito e foi bem sucedido. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1976
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de out. de 2015
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    Minhas Lembranças De Papai - Arthemis Cárcamo

    Sem título

    Para meus filhos e meu irmão

    Sumário

    Esta não é propriamente uma biografia, é mais a história da vida de meu Pai, de acordo com o que presenciei, o que ele me contou, ou que outros me contaram. Talvez pareça bizarra em alguns trechos, àqueles que vivem em cidades grandes e sobretudo que vivem agora e nunca se preocuparam com a realidade do século passado. Também podem estranhar os flashes sobre a 2ª Guerra Mundial, mas meu Pai era profundamente ligado a todos os eventos ligados a essa guerra, que ele considerava um divisor entre o mundo em que ele nasceu e o mundo que seria dos seus filhos. Quanto à política, também a acompanhávamos muito em nossa casa, pois Papai assim nos acostumou.

    Espero que apesar das grandes doses de realidade, esta história possa agradar aos leitores.

    Conteúdo

    Conforme o que já foi exposto no sumário, esta é a história da vida de meu Pai e só tenho a adicionar que o tratamento usado em nossa casa era o TU, à maneira francesa. Achei melhor apresentar tudo no tratamento VOCÊ, para facilitar a leitura aos leitores modernos. Mesmo quando era criança, já aqui no Rio, notava o estranhamento das pessoas que nos ouviam conversar. Também havia das crianças para os pais, um respeito que transparecia apesar da grande confiança que existia entre nós. Outra coisa que chamava a atenção, era o fato de os filhos poderem participar das conversas com adultos, dentro de certos limites, ou seja, sem exageros.

    Índice

    Introdução

    Família

    Sem Rumo

    Manaus

    Belém

    Macaé

    Carlos Chagas

    Rio de Janeiro – Botafogo

    Rio de Janeiro – Cosme Velho

    Rio de Janeiro – Flamengo

    Introdução

    _ Papai, estava pensando...

    _ Mas isso é muito bom, garota, pensar exercita os neurônios.

    _ Muito engraçadinho! Estava pensando como é que você se sente no mundo de hoje, tão diferente daquele em que você nasceu. Afinal, o ano de 1909 foi bem no começo do século XX.

    _ Ora, minha filha, você fala como se eu fosse do século passado. Mas posso confessar que me sinto abençoado. Nestes 50 anos, ter visto tantas mudanças no mundo, tantas novidades, foi maravilhoso. Só espero poder ver mais um pouco.

    _ É verdade que a 1ª Guerra Mundial terminou, quando você era muito criança e além disso, aqui no Brasil, a influência dela demorou um pouco a aparecer. Mas a 2ª, você pôde acompanhar do início ao fim.

    _ Você teve muita sorte, papai _ interveio meu irmão Almerio_ porque este é o século das grandes mudanças. A maneira de viver mudou, a maneira de pensar também mudou, tudo mudou.

    _ É verdade que já no final do século XIX , já havia começado a aparecer novas teorias científicas e alguns inventos. _ Aparteou papai.

    _ E os movimentos sociais? Até o oriente começou a despertar.

    _ É verdade! Depois da Revolução Francesa, o mundo ocidental foi se transformando rapidamente.

    _ Mas sem dúvida, a 1ª Grande Guerra mudou o mundo.

    _ Naquela época o Brasil era visto como um país meio selvagem e remoto. Só a Inglaterra e Portugal, que tinham a ganhar com as relações comerciais, nos conheciam. Nem mesmo a audácia de Santos Dumont, nos colocou no mapa. Na Europa só se falava na Argentina. _ Acentuou Papai.

    Estávamos conforme o costume de casa, conversando depois do jantar e do noticiário da TV, meus irmãos, meus pais e eu.

    Papai viu o Brasil se desenvolver economicamente, passar de mero vendedor de café a grande exportador de minérios, produzir petróleo e fabricar carros, além de construir uma capital ultramoderna, Brasília, que espantou o ocidente. Ele só não conheceu a Internet, que custou a alcançar o Brasil, mas acompanhou o grande desenvolvimento da Comunicação, da petroquímica, o uso rotineiro das vacinas , a descoberta dos antibióticos, o progresso marcante da Medicina e sobretudo a integração do Brasil com o mundo moderno.

    Os jovens de hoje não podem nem imaginar como era a vida aqui, no começo do século passado. Não havia indústria, a não ser a extrativa. Nosso principal produto era o café e mesmo assim, o café colombiano sempre foi considerado o melhor. Lembro até hoje, como papai ficava revoltado ao ouvir A Hora do Brasil no rádio, todas as noites, com a cotação do café. Ele achava que nós tínhamos que ter mais produtos para exportação (na verdade tínhamos também o algodão e minérios, embora em quantidades medíocres). A agropecuária era só uma ideia, por isso os laticínios eram todos importados, havia pouca carne, geralmente importada da Argentina (comia-se muito frango, peixes de água doce, porco e carne de caça miúda). Para completar, o estilo da política era pior do que o de hoje, porque como o voto não era secreto, havia os chamados currais eleitorais e quem dominava eram os dois estados, Minas e São Paulo.

    Papai foi batizado na religião católica, ao nascer, e recebeu o nome de Noé, do qual ele não gostava, por isso, não quis que seus filhos fossem batizados. No fim de contas , já adultos, nós, os três, nos batizamos antes de casar, na religião católica. Ele sempre usou o sobrenome Gama, por isso, mamãe sempre o chamou de Gama, assim como amigos e conhecidos e só a mãe, a Dra. Emília, a tia que o criou, e os irmãos o chamavam de Noé.

    Felizmente, era um homem de mente aberta, graças à educação liberal que recebeu, ao seu interesse por matemática e sua grande curiosidade. Ele só não gostava de política, embora acompanhasse a política nacional e internacional por meio de jornais e também pelo rádio. Estava sempre pronto para experimentar qualquer trabalho. Adorava ler, escrevia bem, gostava de idiomas e das artes em geral. Era generoso e tinha bom coração. Ele, que em casa era o chefe, embora ouvisse minha mãe, achava que a mulher tinha tanta capacidade quanto um homem. Papai era muito avançado para a sua época e pensava que bastava a mulher estudar e trabalhar, para poder vir a ser independente, por isso me criou para ser uma profissional liberal. Creio que ele era um feminista, sem saber.

    Ele tinha tudo para vir a ser milionário, inclusive por ter nascido em família de posses, mas seu principal defeito sabotou suas possibilidades: tinha mau gênio, reagia mal quando confrontado. Viveu bem porque trabalhou muito e teve a sorte de se casar com a única mulher capaz de controlá-lo um pouco.

    Família

    A campainha da porta estava tocando. Corri para abri-la, mas meu pai chegou antes. Ele abriu a porta e vimos no Hall, um senhor de meia idade, uma senhora e uma moça bonita, todos sorrindo para nós. Papai abriu um largo sorriso e foi na direção do senhor, dando-lhe um forte abraço.

    _ Ora, Francisco, que prazer em revê-lo, mano. Faz favor de ir entrando. _ Disse o meu pai, enquanto o trazia para dentro da sala.

    Eu fiquei parada, com um meio sorriso, olhando para esse homem, moreno, nada parecido com meu pai, mas muito simpático. Ao mesmo tempo espichava o olho, para ver a senhora e a moça, que o acompanharam logo.

    _ Já fazia tempo que eu queria vir _ falou já dentro de casa _ mas você sabe, é preciso cuidar dos negócios. Terminei vindo, como vê e claro que trouxe a Zilda e também a filha mais interessada no Rio. Sorrindo, olhou ao redor e reparou em minha mãe que tinha se aproximado e lhe estendeu a mão. _ E você, Didi? Continua bonita, hein?

    _ É um prazer enorme revê-los. Há muito tempo vocês vinham prometendo esta visita e nada. Mas dá gosto ver como o tempo se esqueceu de vocês, não mudaram nada. Você está muito bem, Francisco. Voltando-se para a cunhada: _ Queria muito ver você, Zilda._ Disse minha Mãe, enquanto a abraçava.

    _ Não mais do que eu. Não só queria ver você, o Noé e os meninos, mas queria também conhecer o Rio, pois você sabe que é a primeira vez que venho ao Sul.

    O tio olhou ao redor e perguntou: _ Os meninos estão todos aqui, não é? Arthemis deve se lembrar um pouco de mim, mas os dois meninos, nem eu lembro deles.

    _ Ora, tio, o Alfredo só nasceu aqui no Rio, quer dizer, no interior, em Macaé e não poderia ter sido visto por você. Quanto ao Almerio que foi muito louro até aos oito anos, mudou muito. Estou muito contente de vê-lo, assim como à tia Zilda, pois papai e mamãe sempre nos contaram as peripécias da vida de vocês, que para nós até parecia um filme.

    _ Seu pai tem a língua muito comprida. Mas é bom vocês saberem que têm parentes lá bem no norte.

    Meu pai, muito alegre, fez o pessoal ficar à vontade e fechou a porta.

    _ Vamos sentando, minha gente. Como vai você, Zilda? Sempre alegre e bem disposta, não é? E esta moça bonita deve ser a Omair.

    _ Sou sim, tio. Queria muito conhecer o Rio.

    Fui para perto da prima, que nunca tinha visto antes e que me pareceu bonita e simpática. Dei-lhe um abraço e dois beijinhos como se usa aqui.

    _ Você é a mais velha das meninas, eu creio, porque o Bivar e o Ilivaldo são mais velhos, não é, prima? _ Perguntei enquanto a fazia sentar em um sofá.

    _ É isso mesmo, Arthemis. Mas seus irmãos são mais novos que você, não é?

    _ É verdade. Almerio e Alfredo são mais novos e como você vê, Almerio é quase da minha idade. _ Venham cá falar com a prima, meninos.

    Em seguida, fui falar com minha tia, de quem mamãe sempre falou muito bem. As duas estavam ainda em pé, junto às janelas.

    _Tia Zilda, mamãe sempre falou muito de você, da sua luta com tantos filhos, no interior do Amapá.

    _ Ah! Aquilo não foi brincadeira.

    _ As histórias de vocês, são sempre lembradas entre nós, porque é bom saber que quando se trabalha com fé, sempre se é bem sucedido.

    _ É! A luta foi séria. Você sabe que fomos para lá, quando ainda era um Território e não um Estado. O que valia lá era a produção de ouro e foi isso que nos atraiu.

    _ Mas não acredito que Tio Francisco fosse encarar um garimpo.

    _ Ora, minha filha _ interveio minha mãe _ isso seria impossível, com os filhos ainda tão pequenos.

    _ Claro que não _ continuou tia Zilda _ nós ficamos na capital, que era um vilarejo. Francisco não pensava em ser garimpeiro, mas foi às minas para conhecer e viu que havia ouro a valer. Viu também que eles careciam de tudo e se queixavam de não ter remédios. O comércio era só do básico e tudo vinha de fora. Avaliou e chegou à conclusão de que o mais imperioso era ter remédios para as doenças tropicais.

    _ O tino comercial de tio Francisco logo se manifestou.

    _ É claro. Mas mesmo na cidade, longe do garimpo, havia a falta de uma rede de água, além de não haver esgoto, isso provocava doenças na população. Tudo era muito primitivo.

    _ Vocês que tinham saído de Belém, devem ter sofrido um bocado com a falta de infraestrutura para viver bem.

    _ Foi um sufoco. Já tinha sofrido anos antes no Maranhão, quando estive com seu pai, só que agora, com a família, ficou tudo mais difícil. _ Falou meu tio, que estava ouvindo a conversa.

    _ Pois é! _ Continuou minha tia. _ Mas não desistimos. Como Francisco tinha conseguido juntar um dinheirinho, antes da viagem, resolveu comprar medicamentos em Belém, para levar direto ao garimpo, onde vendia, aceitando o pagamento em ouro em pó.

    _ É! _ Continuou tio Francisco. _ O ouro, vendido em Belém dava um lucro muito bom. Daí eu já voltava com novos remédios para vender. Aos poucos fui conseguindo financiamento e aumentei as compras, montando uma farmácia na cidade, que se tornou conhecida, progrediu e é a que nos mantém até hoje.

    _ No começo ele tinha que ir aos garimpos vender os remédios,_ falou minha tia, _ mas aos poucos isso mudou, contratou gente para o serviço. Também passou a comprar diretamente daqui do Rio, com isso, abatendo os custos.

    _ Bom, eu soube que a Farmácia de vocês é tão grande, que a indústria Farmacêutica envia seus representantes até lá e vocês fazem as compras diretamente deles.

    _ É verdade.

    _ Que progresso, tia!.

    _ Foi assim que conseguimos sobreviver, crescer e chegar onde estamos agora.

    _ É. Mas acho que tia Zilda também ajudou muito. Mamãe me disse uma vez, que você tinha até feito papel de cigana e lido a sorte das moças.

    _ O que é Arthemis? Por que você está rindo escondido? _ Perguntou minha Mãe.

    _ É que eu estou imaginando a tia Zilda, fantasiada de cigana e lendo as mãos das moças.

    _ Ah! Isso aconteceu porque eu gostava de usar saia comprida bem colorida e usava, muitas vezes, um lenço colorido na cabeça. Uma vez que estava na porta de casa, uma moça se aproximou e perguntou se eu lia a mão. No primeiro momento nem entendi. Mas quando ela perguntou o preço, logo disse que sim e comecei a trabalhar nisso, embora desse pouco.

    _ Você não bobeava, hein, tia? Mas não era difícil?

    _ Que nada. Quem é que não sabe o que qualquer moça quer saber?

    _ É verdade. A inteligência serve para essas coisas também.

    _ No começo o dinheiro era muito curto e a família grande. Também costurava para fora e nisso ganhava um pouco mais.

    _ Com o trabalho de casa e da filharada, você nem tinha tempo de pensar.

    _ É! Foram trinta anos de luta, mas fomos bem recompensados.

    _ Minha filha, Zilda conta sua

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