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Hotel!
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E-book242 páginas2 horas

Hotel!

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Sobre este e-book

Seguindo as máximas do teatro musical, narra a estória das últimas 24 horas de um tradicional e decadente hotel paulista que encerra suas atividades, deixando desempregados e sem remuneração dezenas de funcionários. As reações explodem, mostrando seres humanos reais que são expostos além do que seria permitido a circunspectos profissionais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de nov. de 2016
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    Hotel! - Marcelo Bossler De Toledo

    HOTEL!

    O MUSICAL

    Marcelo Bossler de Toledo

    REGISTRO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

    N. 344.780 – 2005

    TEXTO E LETRAS DE MARCELO BOSSLER de TOLEDO

    REVISÃO TÉCNICA POR LAETICIA MARIS

    ILUSTRAÇÕES DA CAPA e ILUSTRAÇÕES INTERNAS

    EXECUTADAS PELO AUTOR

    ( marcelobosslerilustrador.blogspot.com )

    FALE COM O AUTOR

    marcelobossler@gmail.com

    FACEBOOK – Marcelo Bossler ( Lone )

    TWITTER - @hoshabell

    INSTAGRAN - marcelobossler

    WHATSAPP – (11) 95469-0570

    2

    3

    4

    INTRODUÇÃO

    Eu era um garoto quando entrei, pela primeira vez, num grande hotel.

    Como coisas marcam fundo aos nove, dez anos de idade !

    Um brinquedo, um livro, um rosto de alguém que nem sabemos o

    nome...uma canção.

    Eu decidi... ‘ Não sei como funciona esse negócio ... mas quero estar aqui um dia !’

    Sempre tive o habito de associar todos os episódios de minha vida à

    musica. Um escapismo eficiente.

    Fazem trinta anos que trabalho em hotéis e creiam...a musicalidade

    insuspeita desse admirável segmento, sempre me arrebatou e serviu como

    lenitivo para maus momentos e exultação para os bons.

    Existem incontáveis livros, filmes, novelas e até alguns musicais que

    abordam o tema da hotelaria, sem no entanto, focar-se com exclusividade na figura de sua equipe, de seus profissionais.

    Recepcionistas, camareiras, mensageiros, garçons e funcionários da

    manutenção, são adornos, figuração e coadjuvantes em outras tramas

    maiores, consideradas de maior vulto.

    Eu reverencio uma camareira que levanta-se às três da manhã, deixa seus filhos com estranhos, enfrenta um transporte indigno e trabalha até sair meio torta, no final de seu turno.

    Eu reverencio recepcionistas que abandonam vida pessoal, eventos

    familiares, um amor...permanecendo em pé, atrás de um balcão, sorrindo

    amistoso, enquanto sua vida pessoal desmorona.

    Como tudo isso é musical, deliciosamente melodramático...e, não raro ...

    cômico !

    Eu agradeço à essa maravilhosa classe, fonte constante de inspiração,

    passionalidade e muito, muito trabalho.

    5

    Procurei com esse libreto – texto de um musical – reunir num único cenário, as pessoas que mais me marcaram na profissão.

    Fiz um amálgama de diversas situações, inserindo-as num espaço

    limitado de tempo que culmina numa situação pela qual todos já

    passaram...desemprego, falta de recursos e as incontáveis reações que

    desnuda profissionais circunspectos, expondo-os como figuras humanas,

    viscerais.

    Uma das regras para a feitura de um musical é :

    Não fale...mostre !

    Bem...como profissional da área hoteleira e escritor...nunca sigo

    regras...e adoro falar, contando minhas estórias.

    Apresento aqui o que o pessoal do meio teatral chama de ‘ primeiro

    tratamento’. Como nunca apresentei o texto a nenhum produtor ou diretor, preferi publicá-lo na integra.

    Escrevi o texto, recheado de explicações que acho pertinentes e

    refletem minha visão de criador. Compus as letras para as canções, sem

    musica. Se algum dia um maluco resolver montar meu HOTEL!, diante de

    um competente compositor, sei que minhas palavras cantadas passarão por um novo crivo.

    Numa eventual encenação, sei também que minha fábula seria mudado,

    vilipendiada, mutilada e emagrecida como, admito, precisa ser.

    Mas não estamos num teatro.

    Ainda não !

    Hoteleiros e curiosos , benvindos à versão - sem cortes e censura – do que senti que precisava contar...

    ... ou cantar.

    Marcelo Bossler de Toledo

    2016

    6

    AGRADECIMENTOS

    É difícil lembrar de tantas pessoas que se tornaram, inadvertidamente,

    responsáveis pela realização desse projeto...

    Trinta anos ! Alguns se tornaram amigos íntimos, outros , inimigos

    declarados, o restante...uma lembrança querida, triste, desagradável ou engraçadíssima.

    Agradeço aos ‘ meu’ Carvalho e à ‘minha’ Zelda ! Em sua homenagem e com seu aval, eu mantive seus nomes originais no texto e - dentro do

    possível - tentei contar sua história bonita.

    Sim ! Ela é linda para mim !

    Agradeço ao meu ‘irmão’ Adeilton ! Ele disse que divide sua experiência hoteleira em duas fazes :

    Antes e depois de ter trabalhado com o Marcelo

    Até hoje, não sei se isso foi um elogio !

    Agradeço ao Ailson...porque ele estava comigo ... o tempo todo !

    Agradeço ao Alexandre Mello... como tantos, ele é um talentoso artista, cantor, compositor e ator...antes anônimo como um recepcionista que

    atuava, cantava e compunha !

    Agradeço ao Sandro Cabral...ele é tão intenso, exacerbado nas reações e vulnerável...como eu mesmo ainda sou. Eis ai um amigo que me conhece

    tão profundamente que chega a me embaraçar !

    À Julia, é claro ! Sempre e por tudo !

    Agradeço à grande governanta Ruth e ao Capitão porteiro Isidoro...por

    mais de quarenta anos dedicados à profissão hoteleira. Quando seu tempo acabou eles ‘ partiram’ muito rápido. Não sabiam fazer outra coisa que não fosse ‘ hotelar’.

    Ao meu atual gerente Evandro. Ele, como poucos, vai saber compreender

    as entrelinhas dessa trama burlesca.

    7

    Aos meus maravilhosos colegas ‘atuais’, Wagner, Fabio, Audrey, Anderson, Agnaldo, Bruno, José, Ricardo, Adalberto, Jeferson, Fabiola, Allan, Helena, Inês, Maria Silvério, Sr. Ary, Edilson, Calebe, Dona Cidinha, Lidia, Sirleide, Leda, Edith, Lindalva, Lourdes, Rose, Lucimara, Ivanete, Maria Mercês, Zuleide, Maria José, Silvestre, Silvanete, Mônica, Camila, Luciana, Adriana, ao saudoso Sr. Nelson, Denise, Douglas, Sol, Frank, Livio, Marcelo, Carlinhos, Henrique, Piauí, Daiana, Cícero, Sergio e Eduardo...nossa !

    Vocês não faziam parte da minha história quando escrevi esse texto, mas o pouquíssimo tempo de convívio já me inspirou a escrever mais !

    Por fim, e NUNCA menos importante, agradeço a minha revisora,

    tradutora e amigona, Laeticia Maris...sem ela, acho que já teria desistido de escrever... e publicar.

    Beijos !

    Marcelo Bossler de Toledo - 2016

    8

    "Nenhum gesto de amizade, por muito

    insignificante que ele seja, é

    desperdiçado."

    (Esopo)

    9

    10

    "TODA A AÇÃO DO SHOW É FICCIONAL E SE

    PASSA NO CENTRO DE SÃO PAULO, ENTRE OS

    ANOS DE 1980 E 2013"

    11

    12

    PRÓLOGO

    SÃO PAULO – Agosto de 2013

    INTERIOR DO ‘VELHO HOTEL’ – 33 ANOS

    DEPOIS DE SUA FALÊNCIA

    13

    14

    15

    16

    *

    ( Underscoring – Antes mesmo de as luzes se

    acenderem, ouvimos o tema do show , " Valsa de um

    Hotel ", executada com o som rascante de um antigo

    disco em rotação 78, num gramofone. )

    No centro do palco às escuras, um foco de luz

    acende-se abruptamente sobre o Bell Captain, Dominó.

    Como trata-se de um personagem que emerge do

    passado, a iluminação deve nos remeter a algo

    sobrenatural. Um foco bem direcionado, acompanha o

    ator do centro do palco ao proscênio.

    Dominó é um homem idoso, um pouco obeso, alto e

    negro. Seus cabelos são levemente grisalhos e, a

    despeito de sua figura impressionante, os olhos gentis e

    o sorriso franco atenuam o efeito um pouco

    fantasmagórico proposto para a cena. Traja um

    jaquetão negro com fileiras duplas de botões prateados,

    o que provavelmente lhe rendeu o apelido. Traz nas

    mãos enluvadas uma cartola de copa curta e dirige-se a

    plateia enquanto fala. Apesar de o ator,

    necessariamente precisar ser escolhido entre os

    tenores, o número inicial será declamativo e não

    17

    cantado. As estrofes, no entanto, devem acompanhar a melodia usada como interlúdio.

    A Valsa de um Hotel é o tema principal da

    partitura; Ela será executada aleatoriamente no

    decorrer do show, dando ‘o tom’ intencional de

    nostalgia, presente no libreto. A composição deve ser

    agradável mesmo para o expectador moderno mas é

    imperativo que dê a sensação de ter sido composta no

    início do século passado, época de ouro do Hotel que

    vamos mostrar.

    DOMINÓ

    ( Dirigindo-se à plateia )

    PARA OS QUE POUCO SABEM,

    PARA OS QUE NEM IMAGINAM,

    PARA OS QUE AQUI JÁ ESTIVERAM

    E, DO QUE FALO, ADIVINHAM.

    ( Gradativamente, a medida em que Dominó enuncia

    suas palavras, o foco sobre ele atenua-se e o cenário,

    por trás, surge na penumbra. )

    18

    DA FORÇA DOS QUE PERSISTEM,

    INATO, VOCACIONAL..

    DO QUE ESTÁ AQUI POR ACASO,

    DOS QUE FAZEM BEM,

    DOS QUE FAZEM MAL.

    DO ÍNTIMO QUE NÃO SE MOSTRA.

    DAQUILO QUE NÃO SE FALA.

    AQUELES QUE CRUZAM A PORTA,

    SOBRE NÓS, NÃO SABEM NADA !

    ( O lugar, lembra uma exígua entrada de serviços de

    um edifício abandonado. Existem caixas e mobília

    desmontada, espalhadas pelo pequeno espaço

    claustrofóbico, quase aflitivo. A cena desenrola-se

    numa plataforma suspensa, para dar a sensação de

    ‘descida’ quando tiver continuidade no piso inferior, ou

    subsolo do hotel . A iluminação deve focar-se

    precisamente nesse espaço minúsculo, deixando sua

    periferia no escuro. O foco sobre o Bell Captain ,

    apesar de diluir-se, não se extingue de todo, sempre

    mantendo-o em destaque, ou contraponto cênico. )

    19

    DAS PERDAS NÃO MENCIONADAS.

    DA DOR QUE FOI SEGREGADA.

    NOSSA VIDA POSTERGADA,

    NUNCA, JAMAIS RESGATADA.

    ( Indicando seu velho e surrado jaquetão. )

    UNIFORMES SEM ROSTO,

    SOMOS NOMES NUM CRACHÁ.

    E QUANDO VOCÊ FÔR EMBORA,

    DE NÓS, NÃO VAI SE LEMBRAR.

    ( No palanque que representa a entrada do edifício,

    duas portas são vistas. Uma, em destaque, é a que dá

    acesso à rua, a outra conduz ao piso inferior e está

    meio oculta, obstruída pelos objetos que ocupam o

    lugar. A porta da rua é escancarada após alguns

    estalidos característicos de fechaduras. Ao abrir-se, a

    madeira apodrecida levanta uma nuvem de poeira. Uma

    luz de um vermelho intenso, sugere os momentos que

    prenunciam o ocaso. )

    20

    ESSE, ERA MUITO ANTIGO !

    TINHA MESMO QUE PARAR,

    LEVANDO CONSIGO,

    UM TEMPO QUE NÃO EXISTE MAIS.

    ( Uma silhueta pequena destaca-se contra a

    luminosidade crepuscular. Um homem velho adianta-se

    lentamente, apoiando-se numa bengala. Aparenta ter

    mais de 80 anos e seus trajes mostram que a ação do

    prólogo se passa no inverno. )

    AINDA SIM É UM ABRIGO.

    PERDIDO NO TEMPO, UM LUGAR,

    COM JEITO DE VELHO AMIGO

    PARA AQUELES QUE QUEREM VOLTAR.

    ( O velho , apesar da idade avançada e do uso da

    bengala, não aparenta excessiva decrepitude. Sob

    vastas e eriçadas sobrancelhas, usa óculos com lentes

    muito grossas. É possível notarmos incontáveis marcas

    de expressão. Procura manter-se ereto tanto quanto

    suas limitações o permitam e é inegavelmente altivo,

    orgulhoso . )

    21

    HISTÓRIAS ASSIM SE REPETEM,

    COMO AQUI, EM TANTO LUGAR..

    MAS, PARA QUEM NADA SABE,

    ATÉ VALE A PENA CONTAR.

    ( Dominó sorri , talvez em consonância a pensamentos

    íntimos que tenham lhe ocorrido )

    DO PRIMEIRO AO SEGUNDO ATO. .

    ( Do palanque, fitando repreensivamente o Bell

    Captain, o velho pigarreia...única e intencional

    interação que ocorrerá entre eles. Dominó, meio

    embaraçado, olha para o ancião, fungando de forma

    característica a um homem bonachão, bondoso,

    apanhado em falta.)

    Me desculpe, senhor...

    DO PRIMEIRO AO TERCEIRO TURNO,

    ENQUANTO A PORTA GIRAR,

    SERÁ SOBRE ‘NÓS’, E NÃO

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