Hotel!
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Hotel! - Marcelo Bossler De Toledo
HOTEL!
O MUSICAL
Marcelo Bossler de Toledo
REGISTRO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
N. 344.780 – 2005
TEXTO E LETRAS DE MARCELO BOSSLER de TOLEDO
REVISÃO TÉCNICA POR LAETICIA MARIS
ILUSTRAÇÕES DA CAPA e ILUSTRAÇÕES INTERNAS
EXECUTADAS PELO AUTOR
( marcelobosslerilustrador.blogspot.com )
FALE COM O AUTOR
marcelobossler@gmail.com
FACEBOOK – Marcelo Bossler ( Lone )
TWITTER - @hoshabell
INSTAGRAN - marcelobossler
WHATSAPP – (11) 95469-0570
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INTRODUÇÃO
Eu era um garoto quando entrei, pela primeira vez, num grande hotel.
Como coisas marcam fundo aos nove, dez anos de idade !
Um brinquedo, um livro, um rosto de alguém que nem sabemos o
nome...uma canção.
Eu decidi... ‘ Não sei como funciona esse negócio ... mas quero estar aqui um dia !’
Sempre tive o habito de associar todos os episódios de minha vida à
musica. Um escapismo eficiente.
Fazem trinta anos que trabalho em hotéis e creiam...a musicalidade
insuspeita desse admirável segmento, sempre me arrebatou e serviu como
lenitivo para maus momentos e exultação para os bons.
Existem incontáveis livros, filmes, novelas e até alguns musicais que
abordam o tema da hotelaria, sem no entanto, focar-se com exclusividade na figura de sua equipe, de seus profissionais.
Recepcionistas, camareiras, mensageiros, garçons e funcionários da
manutenção, são adornos, figuração e coadjuvantes em outras tramas
maiores, consideradas de maior vulto.
Eu reverencio uma camareira que levanta-se às três da manhã, deixa seus filhos com estranhos, enfrenta um transporte indigno e trabalha até sair meio torta, no final de seu turno.
Eu reverencio recepcionistas que abandonam vida pessoal, eventos
familiares, um amor...permanecendo em pé, atrás de um balcão, sorrindo
amistoso, enquanto sua vida pessoal desmorona.
Como tudo isso é musical, deliciosamente melodramático...e, não raro ...
cômico !
Eu agradeço à essa maravilhosa classe, fonte constante de inspiração,
passionalidade e muito, muito trabalho.
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Procurei com esse libreto – texto de um musical – reunir num único cenário, as pessoas que mais me marcaram na profissão.
Fiz um amálgama de diversas situações, inserindo-as num espaço
limitado de tempo que culmina numa situação pela qual todos já
passaram...desemprego, falta de recursos e as incontáveis reações que
desnuda profissionais circunspectos, expondo-os como figuras humanas,
viscerais.
Uma das regras para a feitura de um musical é :
Não fale...mostre !
Bem...como profissional da área hoteleira e escritor...nunca sigo
regras...e adoro falar, contando minhas estórias.
Apresento aqui o que o pessoal do meio teatral chama de ‘ primeiro
tratamento’. Como nunca apresentei o texto a nenhum produtor ou diretor, preferi publicá-lo na integra.
Escrevi o texto, recheado de explicações que acho pertinentes e
refletem minha visão de criador. Compus as letras para as canções, sem
musica. Se algum dia um maluco resolver montar meu HOTEL!
, diante de
um competente compositor, sei que minhas palavras cantadas passarão por um novo crivo.
Numa eventual encenação, sei também que minha fábula seria mudado,
vilipendiada, mutilada e emagrecida como, admito, precisa ser.
Mas não estamos num teatro.
Ainda não !
Hoteleiros e curiosos , benvindos à versão - sem cortes e censura – do que senti que precisava contar...
... ou cantar.
Marcelo Bossler de Toledo
2016
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AGRADECIMENTOS
É difícil lembrar de tantas pessoas que se tornaram, inadvertidamente,
responsáveis pela realização desse projeto...
Trinta anos ! Alguns se tornaram amigos íntimos, outros , inimigos
declarados, o restante...uma lembrança querida, triste, desagradável ou engraçadíssima.
Agradeço aos ‘ meu’ Carvalho e à ‘minha’ Zelda ! Em sua homenagem e com seu aval, eu mantive seus nomes originais no texto e - dentro do
possível - tentei contar sua história bonita.
Sim ! Ela é linda para mim !
Agradeço ao meu ‘irmão’ Adeilton ! Ele disse que divide sua experiência hoteleira em duas fazes :
‘ Antes e depois de ter trabalhado com o Marcelo’
Até hoje, não sei se isso foi um elogio !
Agradeço ao Ailson...porque ele estava comigo ... o tempo todo !
Agradeço ao Alexandre Mello... como tantos, ele é um talentoso artista, cantor, compositor e ator...antes anônimo como um recepcionista que
atuava, cantava e compunha !
Agradeço ao Sandro Cabral...ele é tão intenso, exacerbado nas reações e vulnerável...como eu mesmo ainda sou. Eis ai um amigo que me conhece
tão profundamente que chega a me embaraçar !
À Julia, é claro ! Sempre e por tudo !
Agradeço à grande governanta Ruth e ao Capitão porteiro Isidoro...por
mais de quarenta anos dedicados à profissão hoteleira. Quando seu tempo acabou eles ‘ partiram’ muito rápido. Não sabiam fazer outra coisa que não fosse ‘ hotelar’.
Ao meu atual gerente Evandro. Ele, como poucos, vai saber compreender
as entrelinhas dessa trama burlesca.
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Aos meus maravilhosos colegas ‘atuais’, Wagner, Fabio, Audrey, Anderson, Agnaldo, Bruno, José, Ricardo, Adalberto, Jeferson, Fabiola, Allan, Helena, Inês, Maria Silvério, Sr. Ary, Edilson, Calebe, Dona Cidinha, Lidia, Sirleide, Leda, Edith, Lindalva, Lourdes, Rose, Lucimara, Ivanete, Maria Mercês, Zuleide, Maria José, Silvestre, Silvanete, Mônica, Camila, Luciana, Adriana, ao saudoso Sr. Nelson, Denise, Douglas, Sol, Frank, Livio, Marcelo, Carlinhos, Henrique, Piauí, Daiana, Cícero, Sergio e Eduardo...nossa !
Vocês não faziam parte da minha história quando escrevi esse texto, mas o pouquíssimo tempo de convívio já me inspirou a escrever mais !
Por fim, e NUNCA menos importante, agradeço a minha revisora,
tradutora e amigona, Laeticia Maris...sem ela, acho que já teria desistido de escrever... e publicar.
Beijos !
Marcelo Bossler de Toledo - 2016
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"Nenhum gesto de amizade, por muito
insignificante que ele seja, é
desperdiçado."
(Esopo)
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"TODA A AÇÃO DO SHOW É FICCIONAL E SE
PASSA NO CENTRO DE SÃO PAULO, ENTRE OS
ANOS DE 1980 E 2013"
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PRÓLOGO
SÃO PAULO – Agosto de 2013
INTERIOR DO ‘VELHO HOTEL’ – 33 ANOS
DEPOIS DE SUA FALÊNCIA
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*
( Underscoring – Antes mesmo de as luzes se
acenderem, ouvimos o tema do show , " Valsa de um
Hotel ", executada com o som rascante de um antigo
disco em rotação 78, num gramofone. )
No centro do palco às escuras, um foco de luz
acende-se abruptamente sobre o Bell Captain, Dominó.
Como trata-se de um personagem que emerge do
passado, a iluminação deve nos remeter a algo
sobrenatural. Um foco bem direcionado, acompanha o
ator do centro do palco ao proscênio.
Dominó é um homem idoso, um pouco obeso, alto e
negro. Seus cabelos são levemente grisalhos e, a
despeito de sua figura impressionante, os olhos gentis e
o sorriso franco atenuam o efeito um pouco
fantasmagórico proposto para a cena. Traja um
jaquetão negro com fileiras duplas de botões prateados,
o que provavelmente lhe rendeu o apelido. Traz nas
mãos enluvadas uma cartola de copa curta e dirige-se a
plateia enquanto fala. Apesar de o ator,
necessariamente precisar ser escolhido entre os
tenores, o número inicial será declamativo e não
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cantado. As estrofes, no entanto, devem acompanhar a melodia usada como interlúdio.
A Valsa de um Hotel
é o tema principal da
partitura; Ela será executada aleatoriamente no
decorrer do show, dando ‘o tom’ intencional de
nostalgia, presente no libreto. A composição deve ser
agradável mesmo para o expectador moderno mas é
imperativo que dê a sensação de ter sido composta no
início do século passado, época de ouro do Hotel que
vamos mostrar.
DOMINÓ
( Dirigindo-se à plateia )
PARA OS QUE POUCO SABEM,
PARA OS QUE NEM IMAGINAM,
PARA OS QUE AQUI JÁ ESTIVERAM
E, DO QUE FALO, ADIVINHAM.
( Gradativamente, a medida em que Dominó enuncia
suas palavras, o foco sobre ele atenua-se e o cenário,
por trás, surge na penumbra. )
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DA FORÇA DOS QUE PERSISTEM,
INATO, VOCACIONAL..
DO QUE ESTÁ AQUI POR ACASO,
DOS QUE FAZEM BEM,
DOS QUE FAZEM MAL.
DO ÍNTIMO QUE NÃO SE MOSTRA.
DAQUILO QUE NÃO SE FALA.
AQUELES QUE CRUZAM A PORTA,
SOBRE NÓS, NÃO SABEM NADA !
( O lugar, lembra uma exígua entrada de serviços de
um edifício abandonado. Existem caixas e mobília
desmontada, espalhadas pelo pequeno espaço
claustrofóbico, quase aflitivo. A cena desenrola-se
numa plataforma suspensa, para dar a sensação de
‘descida’ quando tiver continuidade no piso inferior, ou
subsolo do hotel . A iluminação deve focar-se
precisamente nesse espaço minúsculo, deixando sua
periferia no escuro. O foco sobre o Bell Captain ,
apesar de diluir-se, não se extingue de todo, sempre
mantendo-o em destaque, ou contraponto cênico. )
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DAS PERDAS NÃO MENCIONADAS.
DA DOR QUE FOI SEGREGADA.
NOSSA VIDA POSTERGADA,
NUNCA, JAMAIS RESGATADA.
( Indicando seu velho e surrado jaquetão. )
UNIFORMES SEM ROSTO,
SOMOS NOMES NUM CRACHÁ.
E QUANDO VOCÊ FÔR EMBORA,
DE NÓS, NÃO VAI SE LEMBRAR.
( No palanque que representa a entrada do edifício,
duas portas são vistas. Uma, em destaque, é a que dá
acesso à rua, a outra conduz ao piso inferior e está
meio oculta, obstruída pelos objetos que ocupam o
lugar. A porta da rua é escancarada após alguns
estalidos característicos de fechaduras. Ao abrir-se, a
madeira apodrecida levanta uma nuvem de poeira. Uma
luz de um vermelho intenso, sugere os momentos que
prenunciam o ocaso. )
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ESSE, ERA MUITO ANTIGO !
TINHA MESMO QUE PARAR,
LEVANDO CONSIGO,
UM TEMPO QUE NÃO EXISTE MAIS.
( Uma silhueta pequena destaca-se contra a
luminosidade crepuscular. Um homem velho adianta-se
lentamente, apoiando-se numa bengala. Aparenta ter
mais de 80 anos e seus trajes mostram que a ação do
prólogo se passa no inverno. )
AINDA SIM É UM ABRIGO.
PERDIDO NO TEMPO, UM LUGAR,
COM JEITO DE VELHO AMIGO
PARA AQUELES QUE QUEREM VOLTAR.
( O velho , apesar da idade avançada e do uso da
bengala, não aparenta excessiva decrepitude. Sob
vastas e eriçadas sobrancelhas, usa óculos com lentes
muito grossas. É possível notarmos incontáveis marcas
de expressão. Procura manter-se ereto tanto quanto
suas limitações o permitam e é inegavelmente altivo,
orgulhoso . )
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HISTÓRIAS ASSIM SE REPETEM,
COMO AQUI, EM TANTO LUGAR..
MAS, PARA QUEM NADA SABE,
ATÉ VALE A PENA CONTAR.
( Dominó sorri , talvez em consonância a pensamentos
íntimos que tenham lhe ocorrido )
DO PRIMEIRO AO SEGUNDO ATO. .
( Do palanque, fitando repreensivamente o Bell
Captain, o velho pigarreia...única e intencional
interação que ocorrerá entre eles. Dominó, meio
embaraçado, olha para o ancião, fungando de forma
característica a um homem bonachão, bondoso,
apanhado em falta.)
Me desculpe, senhor...
DO PRIMEIRO AO TERCEIRO TURNO,
ENQUANTO A PORTA GIRAR,
SERÁ SOBRE ‘NÓS’, E NÃO