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Presença Traiçoeira
Presença Traiçoeira
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E-book564 páginas7 horas

Presença Traiçoeira

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Sobre este e-book

Presença Traiçoeira é um dos livros mais comentados do autor, e só conseguimos entender o porquê, ao terminar de lê-lo. Além do desfecho surpreendente e dinâmico, o que é próprio do autor, Carlos Di Vienna te coloca dentro de uma mansão repleta de suspeitos pelo assassinato do bilionário João Pedro Laia. Presença Traiçoeira é uma história cheia de mistério, romance e ação, o que colocará diante do leitor, inúmeras possibilidades. Numa participação impecável de Messias Ebras, o delegado corre contra o tempo na tentativa de encontrar algum vestígio que o leve ao assassino. Presença Traiçoeira nos dá a possibilidade de perceber a capacidade de criação do autor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de jan. de 2012
Presença Traiçoeira

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    Presença Traiçoeira - Carlos Di Vienna

    Carlos Di Vienna

    PRESENÇA

    TRAIÇOEIRA

    Copyright: 2005 por Carlos Di Vienna

    Título da obra:

    PRESENÇA TRAIÇOEIRA

    Carlos Di Vienna

    PRESENÇA

    TRAIÇOEIRA

    OBRAS DO AUTOR

    CARLOS DI VIENNA

    TÍTULO GÊNERO ANO

    NOS BRAÇOS DO DESTINO       ROMANCE             2003
    ALGUÉM TE OBSERVA              ROMANCE             2006
    PRESENÇA TRAIÇOEIRA              ROMANCE              2007
    LEMBRA-SE DE MIM?             ROMANCE             2009
    TUDO TEM UM PROPÓSITO        AUTOBIOGRAFIA       2010
    UMA LONGA VIAGEM             ROMANCE             2011
    UM ANJO SEM ASAS             ROMANCE             2011
    INVISÍVEL AOS OLHOS              POEMAS             2012
    UM ANJO SEM ASAS II              ROMANCE             2012
    O OUTRO LADO DA FAMA        ROMANCE             2012
    EM POUCAS PALAVRAS              MENSAGENS       2014
    POR QUE O MEU FILHO?             AUTOBIOGRAFIA       2014
    TUDO A SEU TEMPO             ROMANCE             2014
    DIFÍCIL ACREDITAR             ROMANCE             2020
    OS SETE ESCOLHIDOS - VOO 818       ROMANCE             2020
    DE VOLTA AO JOGO – VOO 998       ROMANCE             2021

    Adquira através do site: clubedeautores.com.br

    CONTATO: carlosdivienna10@gmail.com

    O SEXTO SENTIDO DO ROMANCISTA,

    É O INVENTO DA SURPRESA.

    (Camilo Castelo Branco)

    Esta é uma obra de ficção.

    Qualquer semelhança com a vida real,

    terá sido uma mera coincidência.

    Prólogo

    Cacique Zuruquim conversava com a lua cheia.

    A lenda é verdadeira, Guardiã Noturna, e você sabe disso, mas mesmo sendo real não era minha intenção contar a ele. Só o fiz porque estava com o coração cheio de ódio. Ele não respeitou minha terra, o meu povo. Não ia falar nada, mas como tinha enchido meu coração de rancor, resolvi me vingar e contei toda a lenda. Ele nada fez a Zurí, mas os acontecimentos mostram que minha profecia era verdadeira e que a lenda não era falsa.

    Primeira Parte

    Uma janela aberta

    Capítulo Um

    Tereza e Luis Derr conversavam em voz baixa, na pequena sala da casa amarela, construída no sítio São Carlos no município de Avaré. Em frente ao sítio, fora construída a Rodovia João Melão.

    Era um pequeno sítio que Luis herdara do pai falecido há cinco anos. Mas na pequena propriedade, tinha de tudo, e dos lucros provenientes do suor daquele casal, vinham sustentando o pequeno Luka de três anos.

    Conversavam em voz baixa, pois o menino dormia no quarto ao lado. Depois de um dia repleto de brincadeiras, o garoto se rendera ao cansaço. Tereza sorriu por um instante, ouvindo o ronco que vinha do quarto.

    Quando estavam em silêncio e com a televisão desligada, ouviam o barulho dos veículos transitando pela rodovia. Quando Luis estava sem sono, via em sua imaginação os carros circulando na rodovia.

    ― O dia foi corrido pra ele ― comentou Luis. ― A cada dia que passa, cresce mais, e quanto mais cresce, mais corre.

    Tereza sorriu, sem tirar os olhos da televisão.

    ― Nosso menino está crescendo. Até parece que foi ontem que vim do hospital com ele nos braços. Pequenino...

    ― É por ele que labuto o dia inteiro, mulher, de sol a sol, derrubando suor de minha testa. É o nosso tesouro.

    ― Sempre será, amor.

    Luis caminhou até a porta do quarto e observou o filho com carinho.

    Aproximou-se para ver se nenhum mosquito o incomodava. Lindo garoto. Tinha o sonho de triplicar seus bens para poder dar um futuro melhor a ele. Para que temos filhos, se não for para lutarmos por eles?

    Voltou para a sala sorrindo.

    ― Dorme feito um anjinho.

    ― Com certeza, homem. Acho que está na hora de deitarmos também. Hoje o dia foi terrível!

    ― Concordo. Vamos.

    Em seguida, Luis pegou na mão de Tereza e caminharam para o quarto.

    Neste momento, ouviram um forte barulho vindo da rodovia.

    ― Você ouviu, mulher?

    ― Sim. Parece que outro carro caiu em nosso sítio ― disse, lembrando-se do último caminhão que caíra carregado de latinhas de cerveja. ― Só espero que não tenha sido na horta.

    ― Nem me fale! Estou com a coluna reclamando de tanto cavar.

    ― Acho melhor irmos ver o que aconteceu, Luis.

    ― Mas Luka está dormindo. Vamos deixá-lo sozinho?

    Tereza foi até a janela e depois de abri-la, deu uma olhada lá fora. A escuridão era total. Ao longe pôde ver apenas duas luzes vermelhas da traseira de um carro se afastando rapidamente. Nada mais, além de alguns vaga-lumes desfilando na escuridão.

    ― Esse menino quando dorme, só acorda no dia seguinte ― comentou Tereza, ainda ouvindo o barulho de algo caindo. Em seguida veio o silêncio.

    ― Está bem. Vamos tentar descobrir o que aconteceu.

    ― Teremos que concertar a cerca novamente ― reclamou. ― Já nem me lembro mais quantas vezes fizemos isso.

    ― Vá dar uma olhada em Luka, enquanto vou ao celeiro pegar uma lanterna.

    Luis Derr abriu a porta do celeiro e ascendeu a luz. Num passe de mágica, a escuridão desapareceu. Caminhou até um pequeno armário encostado na parede, e abrindo a gaveta, retirou a lanterna. Testou para ver se estava funcionando. O foco de luz se projetou na parede de madeira.

    Velha, mas nunca me deixou na mão.

    Apagou a luz e fechando a porta, saiu para a noite escura.

    Observou ao longe um relâmpago iluminar o céu, e percebeu que a frente fria anunciada no rádio, se aproximava. Ficou feliz ao se lembrar dos pequenos pés de alface na horta e da chegada dos compradores.

    Enquanto isso, Tereza observava o filho dormindo, e percebeu que ele estava agitado, debatendo-se em meio a um pesadelo. Chamou seu nome, mas ele apenas virou o corpo para o outro lado.

    Voltou à sala e percebeu que Luis a esperava no quintal.

    ― Encontrou a lanterna?

    ― Sim ― disse, voltando a olhar para o celeiro. ― Tenho que dar uma boa reformada neste depósito. No mínimo uma boa pintura. Venho adiando isso há meses.

    ― Concordo ― disse Tereza, começando a caminhar em direção a rodovia. ― As paredes estão com crateras, e quando chove, molha mais dentro do que fora.

    ― Vamos ver o que aconteceu. Caso alguém precise de socorro, com nossa lerdeza, quando chegarmos lá, estará morto.

    Apressaram o passo e nesse momento ouviram um grito:

    ― Mamãe! Papai!

    Pararam. Virando-se, viram o pequeno Luka em pé na varanda.

    ― Oh, querido! Você acordou? Mamãe vai ficar com você ― disse, indo em direção ao filho. ― Mas queria tanto ver o que aconteceu.

    ― Pegue ele. Vamos levá-lo conosco.

    ― Então espere mais um segundo. Vou pegar um agasalho.

    Entrou correndo e voltou logo em seguida. Vestiu o agasalho em Luka, e pegando-lhe no colo, voltaram a caminhar.

    ― Pra onde estamos indo?

    ― Dar uma voltinha, filho. Pra que lado iremos, Luis?

    ― Tenho certeza que o motorista se perdeu na curva. O carro deve ter caído entre as pedras e as árvores.

    No alto, milhões de estrelas brilhavam.

    Depois de alguns minutos caminhando em meio à grama alta, se aproximaram do local onde Luis imaginava que o carro havia caído.

    Luka estava agora no colo do pai. Sentia-se seguro em seus braços. O garoto estava atento a tudo, porém, não entendia o que acontecia.

    De vez em quando, ouviam um carro passando na rodovia logo acima.

    ― Ali, Luis ― mostrou Tereza. ― Se não estou enganada, tem alguma coisa atrás daquela árvore perto do rio.

    ― Tem razão.

    Apressaram o passo.

    ― Segure-se no pai, Luka.

    Logo depois, estavam ao lado da grande árvore.

    Havia um carro caído entre as árvores. Estava tão amassado, que não conseguiram identificar o modelo. Capotara várias vezes até parar ali.

    ― Segura o Luka. Preciso ver se tem alguém dentro do carro.

    Tereza pegou o menino dos braços de Luiz.

    Quando se aproximou do veículo e iluminou o seu interior com a lanterna, pôde ver uma pessoa imóvel no banco do motorista.

    ― Tem uma pessoa aqui ― informou, dando a volta e se aproximando da outra porta. Voltou a iluminar o corpo. ― É uma mulher.

    ― Nossa Senhora! Será que está morta, Luis?

    ― Não sei. Não se move. Preciso me aproximar um pouco mais.

    Retirou alguns galhos que impediam a aproximação.

    Com sacrifício, conseguiu chegar até a porta.

    Iluminou o corpo com a lanterna.

    A mulher estava muito machucada, com sangue escorrendo pelo rosto e tinha um rasgo no braço. Seus cabelos eram longos.

    Mesmo diante de uma cena tão horrorosa, Luis percebeu que a mulher era linda.

    ― Ela está morta?

    ― Preciso observar melhor.

    Através do vidro quebrado, Luis colocou o corpo dentro do carro e encostou a mão direita nas narinas da mulher.

    Retirou o corpo com rapidez e gritou para Tereza.

    ― Está viva! Está viva!

    Luis se aproximou de Tereza, que sorria feliz.

    ― Nosso sítio é abençoado, homem. O padre jogou água benta. Ninguém morrerá em nossas terras.

    ― Também tenho esta fé, mas para isso não acontecer, temos que correr. Ela está muito mal. Seu corpo está todo machucado.

    ― Meu Deus! ― exclamou Tereza, levando a mão à boca.

    ― Volte com Luka e ligue para o hospital. Solicite uma ambulância. Ficarei aqui, rezando para que ela aguente.

    ― Está bem, Luis.

    ― Vou fazer uma fogueira para iluminar e sinalizar o local.

    ― Vou falar isto a eles ― disse, já retornando.

    Luis caminhou até o carro e com dificuldades, conseguiu abrir o porta-luvas. Em seu interior não havia nenhum documento, nenhum papel. Estranho. Procurou a bolsa pelo carro, mas não conseguiu encontrá-la.

    Ainda incomodado, recolheu alguns gravetos para começar a fogueira. Os amontoou em um canto e pegando o isqueiro no bolso, acendeu o fogo.

    Aguenta aí, moça. Pediu. Ó meu Deus, faça com que consiga sobreviver.

    Voltou até o carro e colocou a mão perto das narinas da mulher.

    Continuava respirando, entretanto com dificuldade.

    Perto dali inúmeros sapos faziam festa na lagoa, em uma sinfonia estranha e desencontrada. No alto, milhões de estrelas piscavam, e na rodovia alguns carros passavam.

    ― Se estiver me ouvindo ― disse Luis para a mulher imóvel no carro ―, por favor, seja forte e aguente um pouco mais. No momento é tudo que posso fazer, ficar conversando com você e torcer para que a ambulância chegue logo.

    Ajeitou uma mecha do cabelo dela, prendendo-o atrás da orelha.

    ― De onde você vinha, hein? Para onde estava indo? Deus do céu! Tenho que informar a sua família do que aconteceu, mas como?

    Não encontrou a bolsa dela e nenhum documento.

    Neste momento, ouviu o barulho de um carro se aproximando.

    Foi até a pequena fogueira e deu um chute nos gravetos, fazendo o fogo crepitar, soltando fagulhas no ar. Em seguida, avistou o motorista da ambulância dando sinal com o farol. Chegaram, disse para a mulher imóvel no carro.

    Com dificuldade, conseguiram tirá-la do interior do veículo.

    O médico a examinou com atenção e cuidado, admirado por estar resistindo a tantos ferimentos.

    ― Ela bateu forte a cabeça. Vamos! Rápido!

    Tereza se aproximou do médico, com Luka nos braços.

    ― Ela tem chance de sobreviver, doutor?

    ― É difícil dizer, senhora. O que posso adiantar, é que está viva e é uma guerreira. Está lutando pela vida.

    ― E vai conseguir ― completou Luis.

    Colocaram-na no veículo e seguiram para Avaré.

    Novamente em casa, Tereza colocou Luka na cama, pois dormira em seus braços pelo caminho. Ajeitou o cobertor em volta do seu corpo.

    Foi para o quarto e se deitou ao lado do marido.

    ― Vamos ter que falar com alguém para colocar uma proteção à margem da rodovia, Luis. Não aguento mais! Todo mês um carro cai em nosso sítio.

    ― Vou falar com o vereador Raimundo ― disse ele, ajeitando as cobertas. ― É triste ver estes fatos acontecendo. Tomara que ela sobreviva. 

    ― Verdade. Deve ter perdido a direção na curva. E sua família? Como vamos avisá-los do que aconteceu?

    ― Não há como avisar. Não encontrei nenhum documento.

    ― Não é estranho, Luis?

    ― Sim... Muito estranho.

    No hospital em Avaré.

    ― Como vamos preencher sua ficha? ― perguntou a recepcionista.

    ― Não foi encontrado nenhum documento ― disse o doutor Roberto Lemmom. ― Pode ser que no acidente a sua bolsa tenha caído para fora do carro.

    ― Vou preencher a ficha e deixar o local do nome em branco.

    ― Não ― pediu o médico.  ― Coloque Vitória.

    A recepcionista sorriu.

    ― Até descobrirmos quem ela é, de onde veio e qual é seu nome verdadeiro, se chamará Vitória.

    ― E como ela está?

    ― Na UTI em coma.

    Capítulo Dois

    Em uma rua arborizada do bairro do Morumbi, se localizava a mansão da família Laia. João Pedro Laia era o presidente da empresa Metais Laia Ltda. Era um homem de personalidade forte e comandava com punhos de ferro, não somente a empresa, mas toda a família.

    Ele foi casado com Luciana, uma bela mulher, mas ela morrera algum tempo depois, quando Ana Paula nascera. Hoje, tinha Elisabeth como esposa, mas esta fora uma de suas maiores decepções, alguns de seus poucos erros. Nunca convivera bem com Elisabeth e em poucos anos, não suportava mais olhar em seus olhos. Ela vinha de um casamento fracassado, onde o único bom fruto colhido fora a chegada de uma linda filha que ganhara o nome de Taís.

    Tanto na mansão como na empresa, Laia tinha a presença do irmão Hélio. Nunca se entendiam, pois Laia o considerava fraco em pensamento e ações, mas devido a um pedido do falecido pai, não tinha coragem de se livrar daquele incômodo. Laia evitava encontrar com o irmão.

    Laia detestava até a sua aparência. Um homem na posição de Hélio, não pode andar com uma barba enorme como aquela.

    Hélio era obeso. A barriga caía sobre o cinto e quando entrava na sala de reuniões, Laia abaixava a cabeça, envergonhado. Viviam discutindo, e diversas vezes foram separados pelo mordomo Oscar Goffe.

    O motivo quase sempre era o mesmo: inveja. Hélio nunca aceitara a ordem das coisas. Enquanto Laia conseguia vitórias e seus caminhos eram sempre de glórias e realizações, Hélio não conseguia controlar sua conta bancária. Sempre dependera da ajuda do irmão.

    Hélio se casara com Lia, uma linda e simpática mulher que alegou estar grávida e não podia ser mãe solteira. Ele foi obrigado a se casar com ela, enquanto Laia zombava dele, alegando que havia caído no conto da barriga, o que na realidade, fora verdade. Laia teria que sustentar mais uma pessoa, devido à bobagem feita pelo irmão. Sempre que podia, Laia o lembrava deste fato.

    Em um fim de semana, Hélio levou Lia à praia, alegando que precisavam de um tempo a sós. Voltou sozinho. Informou a família que a esposa tinha morrido afogada. Laia desconfiou que ele a tinha matado.

    Lucia era irmã de Laia. Uma bela mulher, com cabelos longos e um corpo exuberante. Diante da beleza e da fortuna conquistada pelo irmão, era sempre assediada por onde passava, mas nunca se casara. A menos de um mês, ficara noiva de Paulo Lins, um homem interessante, mas muito pressionado diante de seu fracasso como empresário, pois falira uma empresa deixada pelo pai.

    Lucia era uma mulher honesta e querida por todos. Ajudava Laia na empresa, mas não o suportava. O irmão era arrogante demais e não aceitava as suas opiniões. Quase sempre discutiam por nada, e por pouco Lucia não abandonou a empresa. Não o fez, pois vivia na mansão, como os demais, e o sustento da família vinha da empresa. Sentia-se na obrigação de ajudá-lo. Mas era quase impossível conviver com ele.

    Lucia tinha uma ligeira suspeita de que Laia havia sido adotado, pois um homem tão mau não poderia ter saído do ventre de sua mãe, uma mulher maravilhosa em caráter, índole e honestidade.

    Laia não tinha compaixão de ninguém. Agredia qualquer um que atravessasse o seu caminho ou não obedecesse às suas ordens. Lucia tinha consciência de que Laia iria às últimas consequências para atingir o seu objetivo. Esses pensamentos faziam com que sentisse medo do irmão.

    Ana Paula era filha de Laia. Uma mulher simplesmente maravilhosa em simpatia e beleza. Seus belos olhos verdes, seus cabelos longos e seu corpo escultural, foram os responsáveis por inúmeros convites de agências de modelo, pois queriam contratá-la para seus desfiles e fotos. Mas sem entender bem porquê, ela não aceitara nenhum deles.

    Preferia viver viajando pelo mundo, curtindo a noite em São Paulo junto com algumas amigas e pegando um bronzeado na imensa piscina da mansão. Laia tinha a filha como seu maior tesouro e realizava todos os seus sonhos, mas mesmo diante de tanto mimo, Ana Paula não se perdera, e tinha a convicção da necessidade de fazer alguma coisa útil. Entrara na faculdade e fizera administração. Agora, estava pronta para ajudar o pai na empresa e substituí-lo, quando se fizesse necessário.

    Na primeira vez que fora visitar a empresa, depois de formada, encontrara com Diogo Lira, encarregado de setor. Um homem bonito, calmo, elegante e inteligente. Aproximaram-se aos poucos e se tornaram namorados.

    Laia não aceitou o namoro, pois para ele, Diogo estava mais interessado em seu dinheiro do que na filha. Passou a investigar o rapaz e descobriu que vinha de uma boa família e nada sujava sua índole. Passou a conversar mais com Diogo e percebeu em suas palavras e ideias, que era um homem de respeito e, talvez, o homem ideal para sua filha.

    Rodrigo era sobrinho de Laia. Há oito anos, os seus pais morreram em um desastre de automóvel.

    Dalila e Jonas foram sepultados, e Laia trouxe o sobrinho para viver na mansão. Sabia que teria problemas com ele, pois não suportava a irmã Dalila e muito menos Jonas, homem frouxo e pegajoso. Com certeza Rodrigo adquiriu a índole e os pensamentos dos pais, pensou o empresário.

    Moravam juntos na mansão, mas não conseguiam viver em harmonia. O sobrinho não suportava o tio, como sabia que muitos ali também não, mas deixava isto transparecer sem nenhuma preocupação, o que irritava João Pedro Laia. Oscar Goffe interveio em várias discussões.

    Rodrigo continuava na mansão, pois sendo filho de Dalila, tinha seus direitos e sabia que o velho não duraria para sempre. Então, entrava em seu quarto, abria o baú e revia as fotos dos pais. Não aceitava o acidente. Seu pai era um excelente motorista e o carro era novo. A não ser que Laia tenha planejado tudo, pensou Rodrigo em certa noite de insônia.

    Oscar Goffe era o mordomo da mansão. Homem fino, inteligente, discreto e conhecedor de suas funções. Trabalhava na mansão desde o início. Laia construiu a mansão e ao se mudar percebeu que precisava de uma pessoa que organizasse tudo, inclusive os demais servidores da mansão. Então chegara Oscar, depois de uma minuciosa procura em uma seleção de nomes a ele oferecidos.

    No fundo do terreno, após a mansão e a piscina, fora construída uma casa de quatro cômodos onde Oscar Goffe passou a viver com a esposa Catarina e os filhos que vieram a seguir, Alex e Janete. O menino tinha doze anos e a menina oito. Crianças espertas, estudiosas e que aprenderam a respeitar o limite de locomoção imposto por Laia. Era difícil alguém da mansão cruzar com as crianças. Laia sempre que podia, dava os parabéns a ele pela forma como educara os filhos. Quem sempre aparecia na casa dos fundos, era Ana Paula, levando um presente para as crianças.

    Laia tinha um motorista particular chamado Jaime. O homem tinha trinta e um anos e fora indicado por uma agência de empregos. No primeiro dia de trabalho, Jaime assustou Laia duas vezes até chegar à empresa. O empresário chegou à conclusão que iria dispensá-lo e pedir um substituto, mas à tarde quando retornavam, mesmo o veículo sendo novo, apresentou defeito, e Jaime resolveu o problema sem ser necessário chamar por socorro. Isso evitou que ficassem expostos ao perigo em uma rua escura e de pouco movimento. Laia então deu uma chance ao homem.

    Um dia, aguardando a chegada do patrão, Jaime viu Lucia saindo da mansão e caminhando graciosamente em direção ao veículo. Ficou encantado. Nunca vira uma joia tão rara. Juro a mim mesmo que ela vai ser minha.

    Algumas vezes, Jaime era solicitado por Lucia, e ele sempre dava um jeito de conversar com ela e se aproximar, principalmente para abrir a porta, e se inebriava com o seu perfume. Era uma mulher linda e encantadora, irmã de seu patrão, homem bilionário. Seria muito interessante me tornar marido desta flor e herdar o patrimônio do velho.

    João Pedro Laia se encontrava sentado em sua cadeira, atrás da mesa, em seu escritório particular na mansão. Era o dia do seu aniversário. Completava cinquenta e cinco anos de uma vida dinâmica e vitoriosa.

    Olhou orgulhoso para o belo quadro na parede, onde sua imagem sorria na tela que fora pintada em Milão por um famoso pintor Italiano. Sentia-se feliz com a fama e a riqueza, pois fora tudo que sempre sonhou.

    A porta se abriu e o mordomo entrou.

    ― Com licença, senhor Laia. Vim trazer o seu drinque.

    ― Obrigado, Oscar. Dê-me aqui ― disse, pegando o copo. ― Preciso de uma dose para me dar ânimo, pois não é fácil enfrentar esta corja com um sorriso no rosto. Estão todos aí?

    A família o aguardava na ampla sala da mansão.

    ― Sim, senhor. Até o motorista Jaime se encontra presente.

    ― Fique de olho nele. Não deve ultrapassar o seu limite. Se perceber que excedeu, ou tomou alguns drinques a mais, chame a segurança e ponha-o para fora.

    ― Fique tranquilo, senhor Laia. Estarei atento.

    ― Não sei por que, mas já me arrependi de tê-lo convidado.

    ― Mais alguma coisa, senhor?

    ― Não, obrigado. Diga a todos que já estou saindo.

    ― Sim, senhor.

    Oscar Goffe saiu, fechando a porta atrás de si.

    ― Adoro fazê-los esperar. São um bando de idiotas incompetentes que só pensam em meu dinheiro. Que esperem um pouco mais.

    Diogo abraçou Ana Paula e ficaram conversando próximos à mesa de aperitivos. Não cansava de admirar a sua beleza e até agora não acreditava que estavam juntos.

    ― Seu pai está demorando.

    ― Não se preocupe Diogo, ele é assim mesmo.

    Diogo observou os objetos espalhados estrategicamente pela sala. Tudo de primeira qualidade. Observou também a grande escada com inúmeros degraus que levavam ao andar superior.

    ― É uma casa muito linda, Ana Paula.

    ― Uma mansão você quer dizer.

    ― Sim, claro. Longe de ser uma simples casa.

    Neste momento, Rodrigo se aproximou para trocar a taça.

    ― E aí, primo, como está? ― perguntou Ana Paula.

    ― Aqui esperando o seu pai ― disse, demonstrando impaciência. ― Parece que Laia faz de propósito. Deveria ter mais respeito por nós.

    ― Concordo, mas faz questão de entrar de forma triunfal.

    ― Quero que ele e o triunfo dele vão pra...

    ― Calma, primo. Ele já vai sair.

    ― Todas as vezes é a mesma coisa... nos deixa aqui de castigo esperando por ele. Quando chega, já estamos de saco cheio de esperar.

    Rodrigo se afastou. Velho idiota. Minha vontade era acabar com ele.

    Lucia estava sentada em um confortável sofá próximo à porta de saída, tendo ao seu lado Paulo Lins. Ele sorria para ela, mas parecia nervoso.

    ― Algum problema, querido? ― quis saber.

    ― Não. Só acho que o seu irmão está demorando muito.

    ― Calma. Que pressa é essa? Ele deve estar concluindo a concentração.

    ― Não estou me sentindo bem, Lucia. Há muita gente concentrada no mesmo lugar. ― Afrouxou o nó da gravata. ― Poderíamos esperar no jardim. Seria bem mais agradável.

    ― Concordo ― disse, sorrindo. ― Todos estão falando ao mesmo tempo, e isso é horrível. Mas é melhor esperarmos aqui.

    Paulo olhou para Lucia com certa preocupação.

    ― Precisa de alguma coisa, querida?

    ― Por enquanto não. Quando Laia chegar, a tensão acaba.

    Ele deu um rápido beijo em seus lábios.

    ― Te amo, querida.

    Ela sorriu, enquanto Paulo pensava: Se conseguisse colocar minhas mãos em toda esta fortuna, ou em parte dela, poderia realizar meus sonhos e seria muito feliz ao lado de Lucia. Mas para isso o velho teria que morrer.

    Sentiu um cutucão na barriga.

    ― No que está pensando? Parece longe.

    ― Às vezes, viajo. Não me conformo em ter perdido a empresa que meu pai me deixou. Foi um passo errado, mas tenho certeza de que se tivesse uma segunda chance...

    ― Acredito em você, amor ― disse, fazendo um carinho em seu rosto. ― Só que agora, não tem mais uma empresa para trabalhar.

    ― Se falasse com seu irmão, talvez Laia me desse uma chance.

    ― E acha que já não falei. Mas ele disse que não tinha tempo, e...

    ― Ele está é nos enrolando, Lucia! Não confia em mim.

    Maldito velho ranzinza. Se morresse não faria falta a ninguém.

    ― Você sabe como ele é difícil. Mas aos poucos concordará.

    ― Acho que isto vai demorar.

    Ela sorriu.

    ― Pode até demorar. ― Ela olhou fixamente para ele. ― Você pode até ter cometido um erro, mas não é por isso que não terá outra chance. Juro que ainda vai trabalhar conosco e com um ótimo cargo.

    ― Falando assim, me anima.

    Ela desvencilhou de suas mãos e ficou em pé.

    ― Vou ao toalete jogar água no rosto. Está muito abafado aqui.

    Ele também se pôs em pé.

    ― Enquanto isso, vou dar uma volta pelo jardim. Preciso oferecer alguns minutos de tranquilidade aos meus ouvidos.

    ― Está bem, querido. Encontramo-nos aqui.

    Cada um caminhou para um lado.

    Hélio Batista Laia conversava com alguns funcionários da empresa, que por sinal foram escolhidos a dedo para a festa, quando o celular tocou.

    Pediu desculpas e se afastou para atender.

    ― Alô?

    ― Oi, querido.

    Era a voz doce de Nina em seu ouvido. Uma linda garota de vinte e poucos anos, que saía com Hélio para conseguir uma boa renda mensal. Ele pagava caro para ter seus carinhos e sua companhia.

    ― Havia pedido para não me ligar, lembra? ― disse. ― Estou em casa na festa de aniversário de meu irmão, e estou muito ocupado. Já disse que hoje é um dia especial.

    ― Sei que é, mas poderia ter me levado com você.

    ― Não podia te trazer...

    ― E por que não? Iria adorar! Nunca fui numa festa destas.

    Ele mostrava impaciência, e olhava o relógio de pulso.

    ― Se estivesse aqui, poderia me atrapalhar. Tenho algo a fazer nesta festa e estando sem companhia, fica mais fácil.

    ― Mas o que tem para fazer de tão importante?

    ― Não interessa! ― foi quase um grito.

    ― Calma. Lembra o que aconteceu da última vez que brigou comigo? Desapareci. Tempos depois me procurou querendo me ter de volta, e pagou caro por isto.

    ― Não estou brigando com você. Apenas disse que estou trabalhando e não me divertindo, entendeu?

    ― Está bem. Vou fazer de conta que acreditei. Ainda acho que não me levou porque sente vergonha de mim.

    ― Vergonha do que, Nina? Você é linda demais e homem nenhum teria vergonha de estar ao teu lado.

    ― Mas sou jovem demais para você.

    ― Hoje em dia ninguém liga mais pra isso... Muito menos eu.

    ― Poderia estar aí me divertindo com você à base de caviar e champanhe, no entanto, estou sozinha neste apartamento, comendo arroz e feijão.

    ― Prometo que depois da festa, passarei a noite com você.

    ― Não garanto estar acordada quando chegar.

    ― Ah, vai estar... Nua, linda e cheirosa. Pago para tê-la. Este apartamento é meu e a sua mesada será cortada se isso acontecer.

    ― Está bem, está bem. Ficarei te esperando.

    ― Você me tira do sério, Nina! Não gosto de falar assim, mas tem horas que não consigo. Põe uma coisa na cabeça: você só não está aqui porque pra mim não é uma simples festa... Tenho algo sério a fazer.

    ― Ok. Está bem ― disse em tom magoado. ― Sei que sou apenas a sua prostituta de luxo.

    ― Sabe que não é assim. Está sendo dengosa. Espere-me. Agora tenho que desligar. Tchau!

    Repôs o celular no bolso e saiu apressado.

    Taís observava a mãe conversando com Plínio e ele voltou seu olhar para ela. Este maldito me deseja. Estava na cara que era um homem sem escrúpulos. Estava com a mãe pelo dinheiro, e desejava estar com a filha pelo desejo. Queria ter as duas. É conveniente para ele.

    Sentiu nojo só de pensar em estar na cama com Plínio.

    Não conseguia entender o que a mãe via nele.

    Taís passou a procurar por Diogo, mas não conseguiu avistá-lo pela sala e muito menos Ana Paula. Deduziu que deveriam estar em algum canto se beijando. Esse pensamento a deixou nervosa e irritada.

    Tenho que acabar com esse namoro e ficar com Diogo para mim.

    Mas este era um trabalho que teria que ser feito em outra oportunidade. Hoje era o grande dia! O dia do aniversário de João Pedro Laia, seu padrasto. Um velho arrogante e mesquinho, que nunca a tratou como filha. Era sua obrigação tratá-la assim, já que tinha se casado com a sua mãe.

    Taís sabia que o casamento da mãe não tinha ido muito longe. A convivência não passara de um ano, e logo depois se afastaram, e passaram a dormir em camas separadas. Mas ela não teve culpa no que tinha acontecido, e por isto, tinha os seus direitos.

    Sentia-se como uma daquelas empregadas que naquele momento serviam os convidados. Talvez sendo uma, seria tratada com mais respeito.

    Um dia Laia me paga. Se tivesse coragem...

    Caminhou em direção a porta.

    Em uma mesa, estavam sentados alguns funcionários da empresa.

    Cida era a secretária particular de Laia, Adolfo Lonisol o advogado exclusivo da empresa, e Marcelo Sulino, o gerente de vendas e exportação.

    ― Ele não tem jeito ― disse Adolfo. ― Pra que tanta demora?

    ― Acha que estamos à sua disposição como na empresa ― disse Marcelo.

    ― Só estou aqui porque preciso muito deste emprego ― comentou Cida. ― Não conseguiria outro igual nem em cem anos. Mas é difícil aguentar este velho.

    ― Ainda acho que Laia deveria se aposentar e deixar Hélio e Lucia em seu lugar ― disse Adolfo. ― Está difícil aguentá-lo.

    Neste momento, Rodrigo fez sinal para Cida ir até ele.

    ― Com licença. Estão me chamando.

    Cida caminhou apressada até Rodrigo, que estava na outra extremidade da grande sala. Chegando lá, ele falou algo em seu ouvido e ela saiu, deixando-o angustiado e impaciente.

    Adolfo comentou com Marcelo:

    ― O que será que Rodrigo quer com Cida numa hora dessa?

    ― Não sei.

    ― Não se aproxime, Beth ― pediu Plínio. ― Podem desconfiar.

    ― Deixe de ser bobo. Todos sabem que é meu amante, inclusive Laia. Eu e o velho não ficamos juntos há tempo. Não interfiro em sua vida e nem ele na minha. Aposto que ele tem uma linda garota o esperando em algum lugar.

    ― Pode até ser, mas não quero confusão. Fique longe.

    ― Está bem. Enquanto este idiota não aparece, vou até meu quarto pegar o celular. Devo tê-lo deixado lá.

    ― Está bem. Mas não demore. O velho deve estar chegando.

    Ele observou Beth atravessar a sala e começou a procurar o mordomo. Queria trocar a taça e conhecê-lo. Beth vivia falando de Oscar Goffe. Mas não o encontrou. Olhou pelo corredor que levava à cozinha, nada. Foi até a porta e observou o jardim. Silencioso.

    João Pedro Laia tomou o último gole do drinque e colocou o copo na mesa.

    Não há outro jeito. Tenho que enfrentá-los.

    Neste momento, a porta se abriu e alguém entrou.

    ― O que faz aqui? ― ralhou. ― Já estava indo. Diabos!

    Laia percebeu que havia algo errado.

    ― O que foi? Por que está assim? Fale alguma coisa.

    Laia observou o indivíduo sacar um revólver e apontar para ele.

    ― O que pensa... que está fazendo? Espere um pouco. Hei! O que aconteceu com você? Nunca te vi assim.

    Mas a pessoa puxou o gatilho. O estampido foi ouvido por toda a mansão. A bala atingiu o peito de João Pedro Laia que caiu em sua cadeira, imóvel.

    O assassino observou Laia por um instante e vendo que estava inerte, teve certeza de que estava morto.

    Nesse momento, pensou ter visto um vulto atrás de si.

    O escritório ficava no piso inferior e a janela dava para o jardim.

    O assassino saiu com rapidez e desapareceu em meio às plantas.

    Capítulo Três

    Todos na mansão ouviram o barulho do tiro.

    Formou-se um tumulto geral. Todos falavam ao mesmo tempo, querendo saber de onde tinha vindo o estampido. Uns diziam que era da parte superior, outros diziam que veio da cozinha.

    Neste momento, os seguranças que estavam guardando a entrada da mansão, entraram correndo, querendo saber o que tinha acontecido.

    Quase que simultaneamente, todos foram chegando. Oscar Goffe surgiu do nada; Rodrigo estava encostado em um pilar sem reação; como num passe de mágica, Paulo e Lucia se esbarraram no centro da sala; Hélio, Cida e Plínio vieram do jardim. Taís veio do outro lado da sala. Beth apareceu logo depois, vindo também do jardim, e tropeçou em alguma coisa na entrada, quase caindo.

    Jaime se aproximou de Oscar.

    ― O que aconteceu?

    ― Parece que alguém deu um tiro.

    Diogo estava na sala em meio à confusão. Procurava Ana Paula, mas não conseguia vê-la. Segundos depois ela estava do seu lado e isto fez com que se sentisse melhor. Percebeu que tinha que tomar uma atitude.

    ― Acalmem-se! ― pediu. ― Parece que o tiro veio da parte inferior, mais precisamente do escritório de Laia. Vou lá ver o que aconteceu.

    ― Eu fico aqui ― disse Ana Paula nervosa. ― Não sei se teria...

    Todos se olhavam em expectativa, enquanto Diogo se dirigia para o escritório de Laia. Quando lá chegou, encontrou a porta aberta e não ouviu nenhum barulho.

    Ao entrar, se deparou com uma cena lastimável, algo triste e inesperado. O corpo de Laia estava sobre a cadeira e a parte superior caída sobre a mesa de mármore, enquanto o líquido vermelho borrava alguns documentos sob o corpo.

    Levou as mãos ao rosto, em sinal de desespero.

    Voltou para a sala, abatido.

    Ao chegar, todos olhavam para ele esperando uma resposta, mas não foi preciso dizer uma só palavra, pois sua expressão divulgava o que tinha acontecido.

    ― Fale homem! ― pediu Beth. ― O que aconteceu?

    ― Laia está morto.

    Todos começaram a falar ao mesmo tempo.

    ― Acalmem-se! ― pediu Hélio. ― Silêncio! Explique-se melhor.

    ― Ele está caído sobre a mesa com um tiro no peito.

    Novamente houve tumulto.

    O desespero e o horror estavam estampados no rosto dos convidados. O que era uma festa de aniversário se transformara num filme de terror.

    Diogo se aproximou de Ana Paula, que parecia estar em choque.

    ― Vou tomar as providências necessárias ― disse, voltando à atenção aos convidados. ― Ninguém sai da mansão! Peço aos seguranças que fiquem no portão e não deixem ninguém sair. Vou ligar para a delegacia.

    Enquanto Diogo pegava o celular no bolso da calça para fazer a ligação, Lucia e Hélio caminharam lentamente até o escritório.

    Diogo fez a ligação e ficou aguardando alguém atender.

    ― Delegacia de polícia. Em que posso ajudá-lo?

    ― Senhorita, aqui quem fala é Diogo Lira. Estou na mansão do senhor João Pedro Laia. Precisamos de alguém aqui... Laia acabou de ser assassinado.

    ― Entendi. Dê-me o endereço, por favor.

    ― Rua das Jabuticabeiras, n° 195. Morumbi. Estávamos...

    Lucia e Hélio entraram no escritório.

    Hélio amparava a irmã, que só abriu os olhos quando Hélio exclamou: Meu Deus!. Então pôde ver a cena lastimável.

    ― Não consigo acreditar, Hélio, que Laia esteja morto.

    Hélio não moveu um músculo. Olhava para o corpo do irmão como que não acreditando, e seu semblante era sereno.

    Ela caminhou até a mesa.

    ― Não toquem em nada ― pediu Adolfo Lonisol, entrando no escritório. ― Vamos preservar a cena do crime.

    ― Queria apenas vê-lo melhor ― murmurou Lucia.

    Adolfo pressentiu que havia cinismo em sua voz.

    ― Vejam ― comentou Adolfo, mostrando a janela aberta. ― Seja quem for que o matou, fugiu pela janela.

    ― Esta janela dá no jardim ― informou Hélio. ― Com a segurança montando guarda no portão, o assassino não deve ter fugido.

    ― Concordo. Está aqui no meio de nós. Vamos voltar à sala.

    Chegaram à sala e Diogo veio de encontro a eles.

    ― A Cimpol está enviando um investigador. Liguei na portaria, e Rubens informou que ninguém saiu da mansão.

    ― Você sabe o que isso significa? ― perguntou Adolfo.

    ― Sim. O assassino está entre nós.

    Diogo olhou atentamente as pessoas que estavam na sala, passando pelos convidados e parentes de João Pedro Laia. Estavam atordoados.

    É

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