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O Caçador De Relíquias Mortas
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O Caçador De Relíquias Mortas
E-book251 páginas3 horas

O Caçador De Relíquias Mortas

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Sobre este e-book

No Brasil Império, Jonas, um caçador de recompensas solitário e destemido. Percorre o vasto território do país em busca de justiça para aqueles que não podem encontrá-la por si mesmos. Ele se torna conhecido por se um homem capaz de resolver os problemas mais sombrios e misteriosos. Em meio a uma era de preconceitos e tensões sociais, testemunha os horrores e injustiças que assolam a nação. Mas, sua própria história ganha um novo rumo quando durante um trabalho perigoso, onde tudo parecia estar perdido, uma ajuda inesperada surge em seu auxílio, salvando-o de uma morte certa. Conforme a jornada de Jonas continua, ele descobre que seu encontro com o sobrenatural foi apenas o começo de uma reviravolta em sua vida. Nessa narrativa cheia de mistério, perigos sobrenaturais e ação implacável, Jonas enfrenta seu próprio ceticismo e se torna uma força incansável na luta contra as trevas que assolam as vastas terras do Brasil Imperial. Suas habilidades de caçador se mesclam com o conhecimento do mundo espiritual, revelando um protagonista único em um cenário histórico turbulento, onde nem tudo é o que parece.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de nov. de 2022
O Caçador De Relíquias Mortas

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    O Caçador De Relíquias Mortas - Diego Silvino

    Entes queridos

    Brasil Império, 1820.

    Água Quente – Minas Gerais.

    I

    Corria por entre as árvores o envolvendo e às vezes ouriçando os pelos do corpo. Sentia uma fina brisa gelada desde o entardecer. O céu aberto e estrelado parecia brigar com a escuridão da noite para iluminar toda a floresta por onde seguia. Na estrada, caminhava quase exausto devido à longa jornada que fizera. No calar da noite cercado por árvores que as vezes pareciam tomar formas macabras, o barulho do arrastar do baú que puxava predominava irritantemente, mas não para quem o puxava. Estava há tantos anos o carregando que acostumou com o barulho da madeira velha, porém, resistente. Não ligava, insistia em dizer. O baú seguia abrindo uma pequena vala no chão de terra por onde passava.

    — Eu quase não acreditei quando vi aquilo — arregalava os olhos boquiaberta. — Você matou quantos naquela hora?

    Seguia observando a empolgação dela relembrando um de seus trabalhos.

    — Só com buraco no estomago eu contei uns 4. E não parava de chegar mais — sorria de canto. — Você tinha que ver sua cara quando um pulou em suas costas. Hahaha.

    — Malditos Guajara! — praguejou.

    — Viu o quintal da casa? Tinha corpos espalhados por todos os lados. Até para as galinhas sobrou.

    — É verdade. Mas aproveitei que estavam todas mortas e peguei uma. Garanti o meu jantar daquele dia.

    Sorriram juntos agora. Mas logo voltaram a sentir o peso da viagem novamente.

    — Já estamos chegando? Estou cansada. Tem quase dois dias que estamos vagando sem chegar a lugar algum — resmungou e bufou olhando para ele. — Tem certeza de que estamos no caminho certo? Precisamos de uma carroça — disse, se colocando a sua frente andando de costas para a estrada. — Seria muito mais fácil para você já que vive carregando essa coisa por aí.

    — Não precisamos de uma carroça — torceu os lábios — Nem de um cavalo — terminou se calando. Mexia a boca procurando saliva. Rodava os ombros retraindo e os soltando.

    — Não precisa ficar irritado — se moveu junto com a brisa que soprou suavemente se colocando ao lado dele. — Só estou preocupada com você. Se cair duro aí no chão, não poderei fazer nada para te ajudar. Apesar de eu estar aqui com você, está sozinho.

    — Ah! Daria tudo agora por um belo e suculento churrasco — sua barriga roncou alto ao imaginar.

    — Não compartilho dessas vontades. Mas como pode pensar nisso uma hora dessas?

    — Penso em muitas coisas o tempo todo e não gosto disso. Então por que não em comida?

    Olhou para o céu estrelado e viu uma estrela brilhante correr para o norte. Um barulho no mato e em seguida, o canto de uma ave noturna que não soube definir qual era. Virou o rosto ainda pra cima, um pouco para o lado e se deparou com a lua: linda e brilhante. Enrugou a testa.

    — Quando é a próxima lua cheia? — perguntou, ainda olhando para a lua enquanto andavam.

    — Em algumas noites — respondeu ela, sem olhar para a lua. — Por isso não quer parar para descansar? Ainda temos alguns dias.

    — Não estou preocupado com isso — estava agora focado na estrada a sua frente.

    — Estou aqui pensando. Por que estamos avançando se teremos que voltar em alguns dias?

    — Estão cuidando dele. Mas não vai ser de graça — respondeu concentrado no caminho.

    — Poderíamos ter encontrado algum serviço por lá mesmo — olhava atenta para algo que chamou a sua atenção na mata ao seu lado. — Não está fácil encontrar serviços como o nosso ultimamente. Mas sempre encontramos alguma forma de ganhar alguns trocados — concluiu ela.

    De repente no intervalo de suas frases, ouviram um barulho vindo atrás deles na estrada. Parou abruptamente fazendo com que ela parasse também. Levou a mão até a boca pedindo silêncio. Ambos ficaram parados atentos.

    — Não precisa mandar eu ficar quieta. Ninguém vai me ouvir — disse pestanejando. — Mas que barulho é esse?

    — Parece uma carroça — disse, ainda fazendo sinal de silêncio.

    — Quer que eu vá ver?

    — Não precisa. É uma carroça — respondeu, se afastando do meio da estrada e indo para a beira arrastando o baú.

    — Agora que você resolve parar? — fechou a cara. — Estou te pedindo isso a quase o dia todo — ele a ignorou.

    O barulho vinha aumentando à medida que se aproximava deles. Logo atrás, havia uma curva na estrada para qual estavam olhando, esperando a suposta carroça aparecer. Jonas sentou-se sobre o baú enquanto aguardava. Ela, no entanto, ficou em pé ao seu lado batendo o pé de braços cruzados.

    — Essa carroça não chega nunca? — resmungou. — Está sendo puxada por tartarugas?

    — Porque está tão nervosa? Sou eu quem está cansado — respondeu sem tirar os olhos da curva na estrada. — E posso ser morto caso o que dobrar naquela curva, seja um bando de bandidos em uma carroça.

    Depois de alguns minutos ansiosos à espera da revelação na estrada, finalmente ela surgiu. Não dava para ver muito bem devido a escuridão, somente a fraca luz dos lampiões, que estavam pendurados estrategicamente nela pelo condutor para poder enxergar melhor a estrada.

    — Lá está ela — disse, curiosa. — Finalmente!

    — Não faça nenhuma besteira — disse, se levantando e permanecendo ao lado do baú na beira da estrada.

    À medida que a carroça ia se aproximando e revelando o que tinha a frente para o seu condutor, sacou seu revólver ao ver um homem parado na escuridão da noite sendo apenas iluminado pela lua. Os cavalos que puxavam a carroça, dois contou, começaram a ficar agitados ao vê-lo a frente na estrada, mas foram acalmados pelo condutor que também tentou manter a calma. Ao chegar próximo dele, parou a carroça com a arma apontada para a sua cabeça. Retirou os olhos dele rapidamente e olhou por entre as árvores próximas, mas nada viu.

    — Não se preocupe. Eu estou sozinho — disse para o carroceiro, retirando seu chapéu preto encostando-o no peito.

    — Esse é o problema — disse o velho que conduzia ainda duvidoso. — O que alguém faz aqui uma hora dessas sozinho parado na estrada? — deu mais uma olhada para os lados sem tirar a sua cabeça da mira da arma.

    — Parei porque escutei uma carroça se aproximando — respondeu sem perder tempo e dar brecha para mais dúvidas. — Estou viajando a quase três dias — continuou. — Queria saber se posso pegar uma carona até a próxima vila.

    O carroceiro deu uma boa olhada nele, dos pés à cabeça. Depois olhou para trás dele e viu o baú todo sujo de terra. Franziu a testa.

    — Você não é dessas bandas, não é mesmo? Não estou escutando o sotaque dessa região.

    — Sim, é verdade. Sou capixaba — respondeu, observando o sotaque carregado do velho.

    — Sei... — balbuciou. — Esse baú parece ser pesado demais para ser carregado por aí — disse desconfiado.

    — Sim, é verdade. Mas não posso deixá-lo por aí ou em qualquer lugar — respondeu. — Eu tinha uma carroça, a muito tempo. Mas a perdi em um trabalho.

    — Trabalho? Que tipo de trabalho? É um agricultor? Mercador? — perguntou o carroceiro, demonstrando levemente interesse no que foi dito.

    — Queria eu ser um agricultor — disse, com meio sorriso.

    — Por quê? — Insistiu na curiosidade, o vendo ainda sozinho ao lado do baú na beira da estrada somente com a lua o iluminando.

    — Um animal atacou o meu cavalo e destruiu a minha carroça — respondeu.

    Os cavalos da carroça relincharam quase ao mesmo tempo, tirando a atenção do carroceiro dele por um curto momento. Tentou os acalmar novamente.

    — Escuta — aproveitou o momento. — Posso te explicar melhor como vim parar aqui, se quiser — olhou em volta rapidamente —, mas poderíamos sair daqui logo? Está tarde.

    O carroceiro também olhou em volta como se entendesse o que ele estava pensando e fez sinal com a cabeça para que subisse atrás: colocou também o seu baú. Quando o fez, estalou as rédeas e saíram rapidamente seguindo estrada a frente. O carroceiro permaneceu com o revólver engatilhado ao lado de sua perna durante a viagem e pediu para que se sentasse ao seu lado. Apesar de vê-lo armado, não se sentiu ameaçado.

    Debaixo da fina e bela lua brilhante, seguiram pela assustadora e silenciosa floresta. Não tão silenciosa, pois a carroça em que estavam, anunciava aos quatro cantos da terra a sua chegada. Seguiu irritado com tanto barulho que fazia, mais do que o seu baú quando arrastado. Logo, teve dificuldade em escutar o ambiente ao redor. Tinha o costume de fazer para não ser pego desprevenido. Não gostava disso. Não conseguindo disfarçar sua aflição, olhava constantemente em direção a escuridão nas laterais da estrada e, por sorte, nada via.

    II

    Algum tempo de estrada depois sem trocarem uma única palavra, percebeu que entrou em uma pequena fazenda. Deduziu ao sentir o forte cheiro de verduras mistas que certamente estavam plantadas ao redor em pequenas plantações e um terrível fedor de fezes de animais diversos. Isso confirmou o que pensou quando sentiu durante a viagem na carroça, o cheiro de legumes e verduras cobertos atrás.

    Avistou adiante uma casa de dois andares feita de madeira.

    — Então o senhor é mesmo um fazendeiro — o carroceiro nada disse.

    Parou a carroça em frente à casa.

    — Você pode passar a noite se quiser — disse, largando as rédeas. — A vila não é muito longe daqui. Mas como você deve saber, é muito perigoso pegar estrada a essa hora da madrugada — não tinha o que questionar, ele estava certo.

    — Aceito a sua oferta — respondeu, descendo da carroça junto com o carroceiro.

    — É simples, mas é uma boa casa. Quer dizer, já foi melhor.

    — Está ótimo para mim.

    — Bom! — se virou depois da resposta. — Esse baú parece ser importante, se quiser pode trazer ele para dentro.

    — Obrigado!

    Era uma casa de fato simples. Mas sabia que casas de dois andares não era para qualquer pessoa. Tudo feito de madeira: as paredes, telhados até os móveis. Tudo muito comum em casas que não fossem de famílias provindas dos barões do café, autoridades ou políticos. Assentou-se onde o fazendeiro indicou gentilmente: na cadeira próximo a lareira que estranhamente já estava acesa quando chegaram. Acomodou-se em frente as chamas quentes que estalavam devido à queima de toda a madeira que servia de combustível. O carroceiro foi até a cozinha e pegou um bule e duas canecas de ferro. Pegou também um casaco de pele e se vestiu. Pele de bezerro. Deduziu, o vendo se vestir. Entregou uma caneca a ele e a encheu de um líquido escuro e muito cheiroso: café forte, disse o carroceiro se sentando ao lado dele em frente a lareira.

    — Sua casa é muito aconchegante — disse, olhando ao redor. — Muito bem arrumada também — retirou o seu chapéu e colocou em seu colo.

    — Eu não vivo sozinho, se é o que você está pensando — respondeu encarando as chamas. — Minha esposa provavelmente está dormindo agora. Lá em cima — deu um gole no café.

    De canto de olho, a viu perambulando pela casa. Curiosamente olhando todos os objetos da sala indo em direção a cozinha. A viu, mas nada disse. Já conhecia a grande curiosa que o acompanhava.

    — Então, se você não é um agricultor, então é um mercador? — perguntou o senhor o olhando de canto.

    — Estou mais para um... um andarilho em busca de trabalho.

    — Eu não devia ter acolhido um estranho em minha casa em tempos como esse, sabe?

    — De fato não — notou a brusca aleatoriedade nos assuntos iniciados pelo velho. Sinal de alguém confuso. Pensou.

    — Mas eu não poderia deixar seja lá quem fosse morrer nessas estradas — apertou firmemente a caneca com ambas as mãos. Percebeu enquanto olhava diretamente para ele. — Ela não ia querer isso. Iria me perturbar até eu voltar lá e ajudar a pessoa — completou com um sorriso perdido.

    Depois de observar e analisar todos os fatos até o momento, deduzia o que se passava com ele e com aquele lugar.

    — Geralmente — bebeu um gole de café — quando o marido sai para vender, entregar suas mercadorias ou caçar, a sua mulher o espera retornar à noite com uma caneca de café, chá quente ou até mesmo cachaça dependendo do clima. Um casaco como este para o esquentar da fria noite — disse, apontando para o casaco do senhor. — E quando se tem filhos, os mesmos raramente querem dormir. Preferem esperar pelo pai junto a mãe. No entanto, não vi nenhum nem outro desde que cheguei aqui.

    O velho respirou profunda e pesadamente em resposta. Apertou novamente a caneca e em seguida a colocou sobre um tronco cerrado a frente que servia como mesa de apoio.

    — Você é um homem curioso, senhor?

    — Jonas.

    — Jonas! — repetiu se recostando na cadeira. — Observador! Isso é típico de bons mercadores. No entanto, você não parece ser um mercador.

    A viu agora parando em frente a escada olhando para o segundo andar. Chamou sua atenção o forçando a olhar em direção a ela, pois sabia que algo despertou o seu interesse.

    — Sinto... uma... enorme dor vindo lá de cima — disse, se virando Jonas. Ele, nada disse.

    — Sabe — disse o senhor, fazendo com que a atenção de Jonas voltasse para ele —, essa casa já teve dias melhores. Você não faz ideia! Sempre cheia de amigos comendo, bebendo, jogando cartas. A mulher ali na cozinha — apontou — faziam uma algazarra que só. As crianças corriam e os cachorros as seguiam pela casa toda — fez sinal com a mão apontando provavelmente para os locais por onde elas corriam. Era quase todos os dias, até quase o dia amanhecer.

    — Conheço casa de fazendeiros e agricultores — disse Jonas. — É admirável a bagunça que vocês fazem. No entanto, a sua casa está morta. Assim como o seu filho, não é mesmo?

    O homem curvou-se na cadeira apoiando seus cotovelos nos joelhos e tampou o rosto com as mãos. Mas não chorou, apesar de seus olhos se encherem de lágrimas.

    — Me desculpe! Eu não quis ser rude — desculpou-se Jonas. — Infelizmente já estou acostumado com isso.

    — Eu nunca tive um filho — respondeu o senhor, se recompondo. — Mas tive uma filha — respirou fundo. — Uma noite ela saiu, foi até o celeiro pegar um pouco de feno para dar a um filhote de coelho que encontramos naquela tarde. Quando percebi que estava demorando a voltar, fui atrás dela. Não a vi pelo quintal e achei estranho. Então a chamei bem alto, mas ela não respondeu. Fui até o jardim a procurar, mas também não tive resposta. Temendo o pior, entrei rapidamente no celeiro, mas também não a vi. Encontrei somente um pedaço de seu vestido. E nele havia uma pequena mancha vermelha — sangue, deduziu imediatamente Jonas.

    Novamente lagrimas surgiram nos olhos do carroceiro, era visível a dor que tomou conta daquele homem. Observava com atenção cada movimento dele, cada expressão. Achava importante, pois o ajudava a descobrir sinais ocultos que geralmente não eram ditos, mas expressados.

    — Acredita que ela possa estar viva? — perguntou.

    — Jesus Cristo! — disse o homem, passando as mãos nos olhos tentando enxugar as lágrimas. — Eu quero acreditar que sim.

    — Faz quanto tempo que isso aconteceu?

    — Cinco dias — respondeu. — Eu sei que é muito tempo, mas eu tenho fé que ela esteja viva — afirmou olhando para Jonas. — Eu tentei pedir ajuda. Fazer um mutirão para encontrá-la. Mas ninguém quis ajudar.

    — Belos amigos ele tem, não é mesmo? — disse ela, se aproximando. — Vamos ajudá-lo. Não podemos deixá-lo assim. Isso está acabando com eles. Olha esse lugar? Que energia sombria há aqui — Jonas a ignorou novamente.

    — Eu vou ajudá-lo a encontrar a sua filha.

    — Você? — surpreendeu-se o velho. — Olha, eu apenas quis desabafar com você. Guardar isso está me matando. Não quis jogar isso em cima de você — disse cabisbaixo.

    — Eu quero ajudá-lo. Só não irei te prometer nada — disse, sério. — Você tem que aceitar que cinco dias é muito tempo para alguém estar vivo depois de ter sido levado por alguém ou algum bicho — concluiu.

    — Como você sabe que pode ter sido algum bicho? — pestanejou.

    — Se fosse um sequestrador, talvez não esperaria uma semana para fazer exigências — disse —. Se fosse um ladrão, teria roubado a sua casa, matado ou não todos vocês. Mas não teria sequestrado a sua filha.

    — Lá vem você de novo com toda a sua frieza — resmungou ela, encarando Jonas.

    — Virgem Maria! — afirmou com certo desespero o velho. — Você pode ter razão.

    — Se você quiser, posso ir atrás dela, mas não trabalho de graça. Farei por um preço — o homem o olhou enrugando a testa. — Não me entenda mau. Eu preciso de dinheiro para sobreviver como todo mundo.

    O velho pegou a caneca novamente e bebeu todo o café de uma vez. Estava quase frio, constatou Jonas ao beber também o acompanhando.

    — Entendo. E você tem razão — fechou os olhos os apertando de cansaço.

    — Assim é a minha vida. Eu vago por aí a procura de trabalho. Se alguém precisa de ajuda, me pagam e eu faço o serviço — concluiu com meio sorriso, tentando passar confiança para o homem que o encarava pensativo.

    — Como a vida é engraçada, não acha? Nossos caminhos se cruzando justamente nessa situação. Acho que estou com sorte — suspirou.

    — Não acredito em sorte. Mas todo mundo é livre para pensar assim.

    Se levantou da cadeira que estalou tão alto que não soube se era a madeira velha ou as articulações do velho já cansado. Em pé de frente para a fogueira, cruzou os braços devido à queda de temperatura que caiu consideravelmente naquela madrugada.

    — Você é um sujeito estranho, senhor Jonas. E não sei se posso confiar em

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