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Lembra-se De Mim?
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Lembra-se De Mim?
E-book466 páginas6 horas

Lembra-se De Mim?

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Sobre este e-book

Depois de dezoito anos na prisão, Eller Alino volta à liberdade e de forma honesta, inteligente e perspicaz, leva à loucura, Reinaldo Martim, um dos homens mais importantes do país. Eller Alino luta por três objetivos: ficar ao lado dos pais; reconquistar o amor de Andréa, a mulher que sempre amou; e provar que não é um ladrão e assassino. Lembra-se de mim? Esta pergunta te acompanhará durante toda a história, até o desfecho surpreendente, típico do autor. Venha viver os mistérios, os romances e as aventuras entrelaçadas em meio às quatro estações do ano, em mais uma impressionante trama de Carlos Di Vienna. Mais uma vez, o autor nos prende a uma fantástica trama, que nos mostra até onde uma pessoa pode chegar para provar a sua dignidade. Com um desenrolar sutil e bem montado, é uma história muito envolvente e prazerosa .
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2012
Lembra-se De Mim?

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    Lembra-se De Mim? - Carlos Di Vienna

    LEMBRA-SE

    DE MIM?

    Carlos Di Vienna

    © COPYRIGHT 2009 POR CARLOS DI VIENNA

    Todos os direitos reservados ao Autor

    PUBLICAÇÃO PARTICULAR

    Sem nenhum vínculo com Editora.

    Capa: CARLOS DI VIENNA

    Título da obra: LEMBRA-SE DE MIM?

    Demais obras do Autor:

    NOS BRAÇOS DO DESTINO
    ALGUÉM TE OBSERVA
    PRESENÇA TRAIÇOEIRA
    UMA LONGA VIAGEM
    UM ANJO SEM ASAS
    UM ANJO SEM ASAS II
    O OUTRO LADO DA FAMA
    TUDO A SEU TEMPO
    DIFÍCIL ACREDITAR
    OS SETE ESCOLHIDOS – VOO 818
    DE VOLTA AO JOGO – VOO 998 (Continuação de OS SETE ESCOLHIDOS)
    TUDO TEM UM PROPÓSITO (Autobiografia)
    EM POUCAS PALAVRAS (Mensagens)
    POR QUE O MEU FILHO? (Autoajuda)
    INVISÍVEL AOS OLHOS (Poemas)

    Adquira através do site: clubedeautores.com.br

    CONTATO: carlosdivienna10@gmail.com

    LEMBRA-SE

    DE MIM?

    Carlos Di Vienna

    O SEXTO SENTIDO DO ROMANCISTA,

    É O INVENTO DA SURPRESA.

    (Camilo Castelo Branco)

    Prólogo

    A pesada porta foi aberta e Eller Alino foi empurrado para fora.

    Em seguida, o mesmo aconteceu com Adolfo Vieira, que usava o pseudônimo de Adolfo Kuller. Ambos se viraram para observar a extensão do grande muro e a altura da porta feita em aço.

    Antes de fechá-la, o guarda disse:

    ― Estão livres. Espero nunca mais vê-los aqui.

    Em seguida, bateu na porta com força. Ela se travou, dando um forte estalo. Eller e Adolfo olharam-se em silêncio.

    Depois de tantos anos presos naquele local, agora em liberdade, sentiam-se perdidos. Era como se guarda os tivesse jogado em outro país, outro mundo.

    ― E aí, Eller? Tem alguém te esperando em algum lugar?

    ― Sim, mas terei que começar do zero. E você?

    ― Tenho uma família. Só não sei se me aceitarão.

    ― Antes de entrar neste inferno, tinha um emprego ― informou Eller. ― Fiz uma poupança, e ali depositava tudo que conseguia economizar. Pretendia me casar. Neste longo período em que fiquei preso, deve ter rendido uma boa quantia.

    ― Sorte sua.

    ― Também tenho um espaçoso apartamento.

    ― Nada mal. Poderia me hospedar em seu apartamento por um tempo.

    ― Não!  ― Respondeu Eller, ríspido.

    Começaram a caminhar, afastando-se do muro e da porta.

    Avistaram logo à frente um ponto de ônibus. Não havia ninguém no local e não viram nenhum veículo circulando pela rua. Era um lugar que trazia medo, pois vários criminosos cumpriam suas penas ali.

    ― Tem dinheiro para o ônibus? ― perguntou Adolfo. ― Sei que tem grana, mas acabamos de sair, e...

    ― Tenho o suficiente para chegar em um banco.

    ― Se não fosse tão teimoso e tivéssemos tido um caso... Se tivesse me aquecido nas noites frias ― comentou Adolfo, sorrindo ― poderia estar com muito mais dinheiro agora.

    ― Mesmo que ficasse cem anos neste presídio, jamais teria uma relação com você. Sou hétero.

    ― Mentiroso! ― gritou. ― Ficou com várias pessoas!

    ― Tudo boato ― garantiu Eller. ― Acreditava em tudo que te falavam. A única pessoa com quem fiquei de verdade, foi Marli, a policial que fazia ronda às sextas-feiras. 

    ― Tinha que ter ficado comigo ― insistiu Adolfo. ― Poderíamos ter nos divertido muito. Mas ainda há tempo.

    Dizendo isso, Adolfo Vieira, conhecido na prisão como Adolfo Kuller, segurou firme no braço de Eller, que se desvencilhou dele, fitando-o com ira.

    ― Tire suas mãos de mim! ― ordenou Eller, gritando.

    Eller caminhou apressado, deixando Adolfo para trás. Este se aproximou novamente e tornou a segurar seu braço. Então, virando-se com rapidez, Eller desferiu um soco em sua face. O golpe foi tão forte, que jogou Adolfo no chão. Ele se levantou, levando a mão à boca, e sentindo o sangue escorrendo.

    ― Você me paga, maldito! ― ameaçou Adolfo. ― Humilhou-me por mais de oito anos naquela prisão e continua fazendo o mesmo aqui fora. Mas não perde por esperar. Vou me vingar, e com minhas próprias mãos. Você, Eller, está perdido!

    ― Siga seu caminho, e deixe-me em paz.

    ― Você ainda vai ouvir falar de mim ― garantiu Adolfo.

    Eller voltou a caminhar, mas desta vez, Adolfo não o seguiu.

    Passou direto pelo ponto de ônibus e virou na primeira rua à esquerda. Percebendo que Adolfo não o seguia, continuou caminhando, enquanto aguardava por um táxi. Depois de alguns minutos, avistou um vindo em sua direção. Fez sinal para que o motorista parasse e percebeu que ele ficou com receio, porém, logo depois parou.

    PRIMEIRA PARTE

    INVERNO

    Capítulo Um

    TRÊS MESES DEPOIS

    A mesa estava minuciosamente preparada.

    Martim tomava seu desjejum ao lado da esposa Andréa e de seu filho Davi. De frente a eles, havia uma grande janela da qual se podia ver um enorme jardim, impecavelmente cuidado, onde pássaros faziam seus ninhos e cantavam nas árvores.

    ― Terei um dia cheio ― disse Martim. ― E quanto a vocês?

    ― Normal... Estudar, estudar e estudar.

    Andréa permaneceu calada, como se não estivesse ali. Levou um pedaço de pão à boca e em seguida tomou um gole de café.

    ― E você, querida? Está tudo bem?

    Ela levantou o rosto e observou o marido.

    ― Claro. Tudo bem. Ficarei em casa arrumando alguma coisa em nosso quarto.

    O que foi que eu fiz com minha vida, meu Deus? Pensou Andréa. Como pude deixar me embrenhar por um caminho tão triste?

    ― Mãe, você está triste?

    ― Não. É impressão sua, meu amor. Está tudo bem. Acordei indisposta. Não dormi muito bem esta noite.

    Meu filho... A única coisa boa que tenho do meu lado.

    Martim fitou a esposa, preocupado.

    ― Você tem que sair mais, Andréa. Passear, caminhar...

    ― Sozinha? ― Ela o encarou. ― Quer que eu faça isso, só? Você não tem tempo para nós. Vive correndo o tempo todo.

    ― Você tem suas amigas, nosso filho...

    ― Preciso de companhia, de amizade e de um marido, Martim! Não tenho nada disso há muito tempo. Você só pensa na MITRAM VEÍCULOS e na sua briga com Renato Primavera.

    Martim fitou a esposa com olhar indecifrável antes de dizer:

    ― Este assunto é pra ser discutido em outro lugar.

    ― Ultimamente não temos tempo nem para discutir.

    Martim se levantou, mas antes de sair, disse com mágoa:

    ― Conversaremos mais tarde. Você já estragou o meu dia.

    José Viera, o mordomo, se aproximou perguntando:

    ― Posso ajudá-lo em alguma coisa, senhor Martim?

    ― Sim... Deixe-me em paz!

    Enquanto José seguia para a cozinha, Davi observava a mãe com tristeza. Por um instante achou que ela começaria a chorar, mas Andréa conseguiu evitar.

    ― Fico triste em vê-la assim. Um filho quer ver a mãe feliz.

    ― Sinto-me feliz toda vez que olho para você, querido ― disse, tentando sorrir. ― Você é a minha felicidade, o meu tesouro e a razão do meu viver.

    ― Não consigo entender, por que o pai te trata assim. Você é linda, maravilhosa.

    ― Envelheço a cada dia.

    ― Todos envelhecemos. Ninguém está livre das garras do tempo. Você é uma mulher linda, e sabe disso.

    ― Não sou de se jogar fora ― disse, forçando um sorriso.

    ― Exatamente! Vou conversar com o pai. Ele tem que deixar um pouco o trabalho de lado e se dedicar mais a você. Afinal, somos uma família.

    ― Não quero você perturbando o seu pai. Deixe-o no lugar dele. Eu sei lidar com Martim. No fim sempre acabamos nos entendendo. Vá estudar, querido.

    Na realidade, nós nunca nos entendemos.

    ― Está bem, mãe. Não vou me meter. Até mais tarde.

    Depois que Davi se retirou, Andréa foi até seu quarto, pensando na monotonia e na tristeza que tinha se transformado sua vida.

    Não sentia vontade de lutar por dias melhores.

    Um enorme desânimo tomava conta de seu coração.

    Foi até o armário e pegou um pequeno baú e de dentro dele retirou um diário. Ele era bonito e bem cuidado, com várias páginas e na capa tinha um título: ALGUÉM SEMPRE CHORA.

    Sentou-se na cama, e com uma caneta, começou escrever, enquanto lágrimas escorriam em seu rosto:

    O que foi que eu fiz com minha vida? Por que me deixei prender a um casamento do qual tinha certeza de que não seria feliz? Onde estará Eller? Mesmo que eu viva cem anos, nunca deixarei de amá-lo.

    Augusto Telino dirigia o veículo pelas ruas de São Paulo, com calma e competência. Tinha do seu lado o empresário Renato Primavera, dono da montadora PRIMA. Um homem elegante e simpático, que sempre lutara honestamente pelos seus objetivos.

    Ao entrarem em uma alameda, o trânsito parou.

    ― Chegaremos atrasados para a reunião ― comentou Renato.

    ― Na próxima travessa, entrarei à esquerda e tentarei fazer outro caminho.

    ― Tenho certeza de que de nada adiantará. Ninguém consegue mais andar em São Paulo. Mas isto não me irrita, pois fabricamos carros, e se fabricamos, temos que vendê-los.

    ― Devem estar pensando em uma maneira de resolver o problema ― disse Augusto, atento ao trânsito. ― Novas avenidas, túneis e pontilhões seriam uma saída.

    ― Sim, seriam. Mas esta é uma preocupação para os governantes. Eu me preocupo apenas em fabricar carros. A CARROS PRIMA está entre as maiores montadoras do país, e depois que lançamos no mercado o CIAMAR, só perdemos para dois concorrentes... Pena que entre eles, esteja a MITRAM VEÍCULOS de Martim.

    ― O senhor Martim permanece à sua frente. Isto vem acontecendo já há um bom tempo.

    ― Sim. Martim vende mais carros do que eu, mas seus procedimentos são irritantes. Ele joga sujo demais. O maldito roubou o projeto de um dos meus mais belos carros. Nada ficou provado, pois não houve empenho para que isto acontecesse.

    ― Martim deve ter comprado algumas pessoas, evitando assim, qualquer tipo de investigação.

    ― Com certeza, Augusto. Martim faz tudo para evitar que descubram suas trapaças. Mas tenho fé que um dia ainda conseguirei desmascará-lo. Mas depois do lançamento do CIAMAR, me aproximei muito de Martim. Sei que ele está com medo da minha ascensão.

    Neste instante, um veículo veio ultrapassando pela direita, onde era impossível fazê-lo, e bateu na lateral direita do carro onde eles estavam, e os dois veículos ficaram parados.

    Augusto e Renato se irritaram.

    ― Mas que estúpido! ― reclamou Renato. ― Será que ele não percebeu que não cabiam dois carros no mesmo espaço?

    O trânsito parou por completo.

    Neste instante, a porta do outro veículo se abriu e Rômulo Leite desceu. Pela outra porta, Martim fez o mesmo, gesticulando e gritando.

    ― Veja só, senhor... Falávamos do diabo e ele apareceu.

    ― Só podia ser Martim e seu capanga ― reclamou Renato descendo de seu carro.

    Augusto também desceu e correu até Renato.

    Tentou segurá-lo, pois estava indo de encontro a Martim, enquanto acontecia o mesmo do outro lado.

    ― Seu motorista é um idiota, Martim! ― gritou Renato. ― Aqui não cabiam dois carros! Qualquer um veria isto, menos ele.

    ― Idiota são vocês, que estavam parados aí como se fossem múmias! ― reclamou Martim. ― Por isso o trânsito não anda! Por motoristas como o seu, que tartarugas ganham deles.

    Neste momento, o trânsito começou a fluir e os dois continuavam parados, atrapalhando quem estava atrás e queria passar.

    ― Hei! Parem de brigar e saiam da frente! ― gritou alguém.

    Mas eles não se deram conta que atrapalhavam o trânsito.

    ― Augusto! Vamos embora ― disse Renato, dando as costas para Martim.

    ― Isto mesmo, seu fracassado! ― insultou Martim. ― Saia da minha frente e me deixe passar. Tenho vários carros para fabricar, e assim, continuar à sua frente!

    Renato Primavera se virou e fitou Martim com ódio.

    ― Não sou um fracassado, sou um prejudicado ― disse, nervoso ―, pois você me roubou.

    ― Do que me chamou? De ladrão? Acabo com você agora!

    ― Venha! Estou esperando há anos por este momento! Quero esfregar sua cara neste asfalto e vê-la sangrando!

    Eles se atracaram, agredindo um ao outro. Mas foram separados por Augusto e Rômulo, e pelas pessoas que desceram dos carros e vieram ajudar.

    ― Solte-me! ― gritou Martim. ― Quero acabar com ele!

    ― Acalme-se ― pediu Rômulo. ― Este não é o lugar.

    Augusto segurava Renato, que ofegante, tentava se livrar de suas mãos, enquanto fitava Martim com ódio.

    ― Precisamos passar ― disse uma senhora, irritada.

    ― Vamos, vamos! ― pediu alguém. ― Entre em seus carros e acabem com esta briga.

    ― Você ainda me paga, seu verme ― disse Renato.

    ― Fique atento, pois ainda o matarei ― ameaçou Martim.

    Rômulo levou Martim para o seu carro, enquanto Augusto fazia o mesmo com Renato, e logo depois cada um seguia seu destino.

    Martim é um ladrão! Um ladrão sem-vergonha! Pensou Renato.

    Só serei feliz quando ele estiver sepultado! Pensou Martim.

    José Vieira veio da cozinha, e encontrou sua esposa Maria, e a governanta da mansão dando instruções às empregadas na sala. Elas se retiraram e Maria se aproximou do marido.

    ― Precisamos conversar ― disse ele, preocupado.

    ― Por enquanto, estamos sozinhos. O senhor Martim foi para a Mitram, Davi está na faculdade e a senhora Andréa se encontra em seu quarto.

    José se aproximou mais da esposa.

    ― Maria, você sabe que dia é hoje?

    ― Claro. Já se passaram quase três meses, José.

    ― Estou preocupado, pois ainda não nos ligou.

    ― Calma. Tudo ficará bem. Lembra que combinamos tudo?

    ― Sim. Mas é um cabeça-dura. Só percebe a burrada depois de tê-la feito.

    Neste momento o telefone tocou e José fitou a esposa.

    ― Será que é ele? ― indagou ela.

    ― Vamos ver ― disse José, indo pegar o telefone.

    Maria observava com preocupação e curiosidade.

    ― Alô? Ah! É você ― José fez sinal de positivo pra Maria. ― Por que ficou tanto tempo sem se comunicar?

    ― Estou resolvendo algumas coisas.

    ― Pedimos para não ligar aqui. Como é teimoso!

    José Vieira ouviu por alguns segundos, enquanto Maria aguardava impaciente ao seu lado.

    ― Espero que tenha amadurecido e passe a agir com mais prudência, filho. Sabe que queremos o melhor para você.

    Maria gesticulava do lado, querendo falar com ele.

    ― Espere um instante. Sua mãe quer falar com você. Tchau.

    José passou o aparelho para Maria.

    ― Alô filho! Está tudo bem? Está no apartamento que alugamos pra você?

    ― Sim, mãe. Obrigado por me ajudar.

    ― Vamos te dar todo o apoio possível, querido, mas, por favor, não ligue mais aqui na mansão. Se por um acaso o senhor Martim atender... Nem sei o que será de nós.

    ― Aquele maldito. Vai apodrecer no inferno!

    ― Esqueça tudo que aconteceu e...

    ― Não tem como esquecer. Eu o odeio!

    Maria olhou para José.

    ― Filho... Olhe... Não vamos nem mencionar seu nome aqui na mansão. De hoje em diante o chamaremos de Paia. Entendeu?

    ― Isto é ridículo, mãe! ― revoltou-se.

    ― Não quero que Martim se lembre que você existe. Quero você bem longe daqui... E longe dele. Você sabe como ele é ranzinza e poderoso.

    ― E como sei! Mas é por isso que ele é assim. Todos têm medo, e acabam fazendo tudo exatamente como ele quer.

    ― Fique longe dele. Tenho certeza de que só tem a ganhar.

    José se aproximou de Maria.

    ― Peça a ele que só ligue em nosso celular.

    ― Seu pai está falando uma coisa aqui, e ele tem razão... Não ligue mais neste telefone. Ligue em nosso celular.

    ― Mas vocês não me deram o número.

    ― Logo mais à noite, te ligo e então você salva o número.

    ― Combinado, mãe. Tchau.

    ― Fique com Deus, querido.

    Depois de desligar, Maria se sentou no sofá e respirou fundo.

    ― É, José, temos mais uma preocupação.

    ― O senhor Martim não pode saber que Paia retornou.

    ― Não vamos deixá-lo saber. Se descobrir, estamos perdidos.

    Andréa surgiu no alto da escada.

    ― Vamos trabalhar. A senhora Andréa está descendo.

    ― Sim. Não vamos deixá-la desconfiar de nada, José.

    ― Caso desconfie, poderá comentar com Martim.

    ― E não queremos que isto aconteça. Vamos!

    Ambos cumprimentaram Andréa e se retiraram.

    Jéssica e Davi almoçavam em um tranquilo restaurante na praça de alimentação do Shopping Tamboré. O local estava repleto de fregueses, porém, como eram clientes importantes, o garçom conseguiu uma mesa em um local reservado.

    Formavam um belo casal. Eram jovens e inteligentes.

    Davi pegou a mão de Jéssica com carinho.

    ― Depois que entrou em minha vida, tudo se modificou.

    ― Espero que para melhor ― disse ela, sorrindo.

    ― Claro. E só ficarei satisfeito, quando nos casarmos.

    ― Somos jovens demais para pensarmos nisso. O seu pai não gostará da ideia, Davi.

    ― Tenho certeza de que aprovará. Ele quer a minha felicidade. Ele me ligou agora há pouco para dizer que discutiu na rua. Você acredita nisso?

    Meu pai também me ligou dizendo a mesma coisa, pensou Jéssica.

    ― Ele tem um concorrente direto chamado Renato Primavera, que é também seu inimigo, e eles se encontraram na rua. Você conhece Renato Primavera, não conhece Jéssica?

    Claro. É meu pai.

    ― Se não conhece acabará conhecendo. Ele é o proprietário da montadora Prima. O que sei é que eles não se suportam. Quando se encontram, como agora há pouco, acaba dando no que deu.

    ― E você também odeia Renato? ― perguntou, receosa.

    ― Se meu pai não gosta dele é porque Renato não deve ser boa pessoa. Por outro lado, tenho que ficar do lado do senhor Martim, afinal, ele é meu pai.

    Davi não faz ideia do pai que tem.

    ― E se tivesse que se relacionar com Renato, como seria?

    ― Um dia terei que me relacionar com ele. Agora é uma pessoa distante, mas num futuro próximo, assumirei o controle da Mitram, e então serei eu quem brigarei com ele. 

    Como vou dizer a Davi que sou filha de Renato Primavera?

    ― Você já conversou com Renato? O conhece pessoalmente? Só assim terá a sua própria opinião. Talvez seja uma boa pessoa.

    ― Não. Não o conheço.

    ― Então. Talvez ele não seja tão ruim, como seu pai diz.

    ― Você tem o direito de duvidar do meu pai, mas eu não.

    ― Não estou duvidando dele, Davi. Só acho que pode estar equivocado. Eles brigam para se manterem na frente um do outro na questão de fabricação e venda de carros, e esta rixa transformou-os em inimigos. Mas no fundo são boas pessoas.

    ― Pode ser. Mas não estou interessado neste assunto.

    Jéssica o fitava com preocupação.

    Não posso continuar escondendo esta informação de Davi. Ele tem que saber que sou filha de Renato Primavera. Mas como contar isto a ele?

    ― Vamos mudar de assunto... O que fará hoje à noite?

    ― Irei dormir cedo. Tenho alguns compromissos com minha mãe logo pela manhã.

    ― Você se dá bem com seus pais, não é mesmo? Isto é bom.

    ― Sim. Meus pais são uns amores, apesar de algumas pessoas acharem o contrário.

    Davi sorriu para Jéssica.

    ― Preciso conhecê-los. Acho que vão gostar de mim.

    Eu não tenho tanta certeza.

    ― Dia desses, combinaremos um jantar em família ― sugeriu Davi. ― Assim, conhecerei seus pais e você os meus.

    ― Está bem. Mas conversaremos sobre isso depois.

    ― Claro.

    Estou com o pressentimento de que o nosso namoro terminará quando Davi souber quem é meu pai. O que farei? Amo tanto, Davi.

    Jéssica tocou de leve na mão de Davi, dizendo:

    ― Eu te amo demais, Davi. Não quero perdê-lo.

    ― Isto nunca acontecerá.

    Eller Alino estava sentado no sofá, diante de sua mãe Elza e seu pai Gerson.

    ― Então, filho? Agora que está livre, o que pretende fazer?

    ― Vou ajudá-los com a loja de roupas e tentar encontrar um emprego. Mas sei que será difícil, pois vão me fechar as portas. 

    ― Você não roubou aquele quadro e nem matou o segurança.

    ― Vocês sabem disso, eles não.

    ― Mesmo agora, depois de ter cumprido a sua pena, ter perdido todos estes anos naquele presídio imundo, ainda não me conformo, filho, com o que aconteceu.

    ― Também não, mãe. Mas Martim fez tudo muito bem pensado.

    ― Ele é uma ratazana velha que apodrecerá no inferno!

    ― Pare com isso Gerson! ― Elza o censurou. ― Mesmo sendo uma pessoa má, não podemos julgá-lo. Só Deus tem este direito. 

    Gerson estava nervoso com a situação do filho.

    ― Quero voltar à minha vida normal ― disse Eller com calma. ― Mas antes, vou me vingar de Martim. Passei todos os dias destes dezoito anos preso naquele presídio pensando num meio de me vingar. Se não o fizer, não vou conseguir seguir em frente.

    ― Meu filho... Isto me preocupa. Martim é poderoso.

    ― Não será tão difícil, mãe. Martim não se lembra de mim.

    ― Será? ― indagou o pai.

    Eller se acomodou melhor no sofá, e seus pensamentos foram longe. Depois de alguns segundos, olhou para a mãe.

    ― Sofri muito naquela prisão. Passei a metade da minha vida naquele lugar, acusado por um roubo e um crime que não cometi. Mas o que mais me machucou, foi saber que Andréa se casou justamente com Martim, e logo depois teve um filho dele.

    ― Eu faço ideia, querido.

    ― Andréa era tudo que eu mais amava. 

    ― Hoje, filho, ela é uma das mulheres mais ricas do Brasil.

    ― Sim. Só não sei se é feliz ― disse Elza, esfregando as mãos. ― Dinheiro não traz felicidade. Por outro lado, Andréa não teve culpa no que aconteceu.

    ― Será que realmente não teve? ― questionou Eller pensativo. ― Mas esta não é minha preocupação agora.

    Ó meu Deus! E eu que achei que minhas preocupações tinham acabado, pensou Elza.

    Capítulo Dois

    Andréa estava na cozinha com a mãe Celma Marim.

    Juntas, preparavam um bolo de cenoura. Isto sempre acontecia quando Celma recebia a visita da filha, pois era um bom motivo para ficarem juntas e fazendo algo que as duas adoravam. 

    ― Onde está o pai?

    ― João foi abastecer o carro. Hoje à noite tem jogo de futebol e ele levará os amigos ao estádio do Morumbi. Fazem isto com frequência. Não sei como não se cansam.

    Depois de colocar o bolo no forno, Celma puxou duas cadeiras e fez sinal para a filha se sentar em uma delas. Em seguida se sentou na outra, ficando de frente para ela.

    ― Estamos no inverno ― comentou Andréa ―, mas este ano está mais rigoroso.

    ― Não estou preocupada com o inverno, e muito menos com o frio. Estou preocupada com você.

    ― Está tudo bem, mãe, e...

    ― Não. Não está tudo bem, e nós sabemos muito bem disso.

    Andréa ficou calada, evitando olhar para a mãe.

    ― Quero ajudá-la. Conte para mim o que está acontecendo.

    ― Ninguém pode me ajudar. Esta é a minha vida. Sou a responsável por ela ter tomado esta direção. Tenho que aceitá-la.

    ― Ninguém pode viver com tamanha tristeza, Andréa. É visível. Mãe nenhuma gosta de ver a filha assim. Temos que buscar nossa felicidade. Lutar até o fim por ela.

    ― A minha felicidade se perdeu no passado, e mesmo que quisesse encontrá-la, isto não seria possível.

    Celma pegou a mão da filha com carinho.

    ― Você nunca deixou de amar Eller, não é mesmo?

    Andréa tentou evitar o choro, mas não conseguiu. Lágrimas escorreram em seu rosto, deixando o sinal úmido da tristeza.

    ― Eller foi e sempre será o meu grande amor, mãe.

    ― Ah, filha...

    ― Duas décadas se passaram, e quase todas as noites sonho com seus beijos, com seus carinhos. É algo inevitável. Martim nunca conseguiu ocupar o lugar de Eller.

    ― Então por que se casou com ele? Ó meu Deus! Você não deveria ter feito isso, filha. Foi uma loucura. Não podemos nos casar com quem não amamos.

    ― Sei disso, mas quando dei por mim, estava nas mãos de Martim. Além disso, ainda tinha a minha... Deixa pra lá! Não vai adiantar nada revirarmos o passado.

    ― Não vai mesmo, mas... Você não pode viver assim.

    ― Às vezes fico assim, mas logo passa. Tenho Davi, uma mansão para cuidar e um marido que faz tudo que quero. No fundo não posso reclamar.

    ― Martim pode até te dar tudo, mas ele não te faz feliz.

    Na realidade, estou encostada, como um objeto naquela mansão.

    ― Como disse, às vezes ficou assim.

    ― Se Martim não te faz feliz, separe-se dele. Você é jovem e linda. Ainda tem tempo de ser feliz.

    Ninguém conseguirá me fazer feliz, a não ser Eller.

    ― As coisas não são assim, mãe. Martim é um homem poderoso. Uma separação causaria um grande escândalo e isto não seria bom para ele. Além disso, para que me separar, se meu grande amor ficou perdido no passado?

    ― Não sei se você sabe, mas Eller está livre neste momento.

    ― Por mais que ainda o ame, nosso amor continua perdido no passado. Ele acaba de sair da prisão, e eu hoje, sou a senhora Martim. Estamos presos em mundos separados. Mesmo com sua liberdade, somos como o sol e a lua.

    ― Anos se passaram e eu ainda não me conformei. Por que Eller foi roubar aquele maldito quadro e matar o segurança?

    ― Sei lá, mãe! Mas isto destruiu as nossas vidas.

    Celma ficou em pé e se aproximou do forno.

    Observou seu interior através do vidro, e comentou:

    ― Vai ficar uma delícia. Agora, quanto a você, seja feliz.

    ― Eu sou feliz, pois além de ter Davi, tenho pais maravilhosos. Vocês são as pessoas que mais amo neste mundo.

    ― Quero vê-la feliz, filha. Isto é o que importa.

    ― Eu estou bem, mãe.

    ― Você sabe que nenhum filho consegue enganar sua mãe.

    Andréa forçou um sorriso antes de dizer:

    ― A senhora me conhece tão bem quanto eu mesma.

    Ela focou o olhar em um ponto qualquer na parede.

    Como gostaria de ver Eller, poder abraçá-lo e dizer que ainda o amo. Andréa! Pare de sonhar! Isto é impossível! Nunca mais ficaremos juntos. Tire isto da cabeça.

    Davi estava sentado à mesa comendo um lanche. Acabara de chegar da faculdade, e como sempre, em vez de almoçar, preferiu o belo sanduíche de Maria.

    Sorrindo, Maria observava Davi.

    ― Como sempre, está uma delícia.

    ― Não fale de boca cheia, menino.

    ― Sabe... Estou realmente apaixonado por Jéssica, Maria. Ela é a tampa da minha panela. Consegue me fazer feliz. Por isso, quero me casar com ela.

    Será que ele não mudará de ideia quando souber que Jéssica é filha de Renato Primavera? Pensou Maria. E se não mudar, o que Martim pensará de tudo isso? Aceitará este namoro?

    Márcia conversava animadamente com Jéssica na sala.

    A televisão estava ligada, mas não prestavam atenção à programação, pois se divertiam vendo algumas fotos em uma revista. 

    Neste momento, para surpresa de ambas, Renato Primavera entrou, com fisionomia pesada, e foi cumprimentá-las.

    ― Que surpresa, amor. Não avisou que viria almoçar ― disse Márcia. ― Não pedi nada especial para o almoço.

    Renato se aproximou da filha e beijou-a no rosto, dizendo:

    ― Não se preocupe com isso, meu amor. Uma refeição simples está de bom tamanho. Só precisava vê-las por alguns minutos e sair um pouco daquele escritório.

    Ele se jogou no sofá em frente a elas, respirando fundo.

    ― Estamos vendo que está irritado, pai.

    Márcia foi se sentar ao lado do marido.

    ― Relaxe, querido ― disse com ternura, fazendo um carinho em seus cabelos. ― Agora você está aqui conosco.

    ― Mas o que aconteceu, pai, para deixá-lo tão nervoso?

    ― O meu dia nem tinha começado, quando cruzei com Martim...

    Só podia ser isto. Pensou Márcia. Eles se detestam.

    ― ...E acabamos nos desentendendo.

    ― Não acredito que brigou com ele!

    ― Não briguei com ninguém, amor, apenas me defendi. Se não o fizesse, acabaria levando a pior, e isto não podia acontecer. Basta o que ele já me fez.

    Por que tive que me apaixonar justamente pelo filho de Martim? Pensou Jéssica. Eles se odeiam e nunca aceitarão nosso namoro.

    ― Mas o que aconteceu para vocês chegarem a esse ponto?

    Renato Primavera se ajeitou melhor no sofá.

    ― O trânsito estava parado e Augusto aguardava o momento de seguir. Foi quando surgiu o carro de Martim, dirigido pelo seu capanga, e veio para cima de nós chocando-se contra o nosso veículo.

    ― E Martim sabia que era o seu carro? Sabia que estava nele?

    ― Não sei. O que sei é que desceu e veio nos ofender.

    Jéssica observou o pai por alguns segundos antes de dizer:

    ― Vocês brigam porque um quer estar à frente do outro e...

    ― Brigamos porque ele é um ladrão! ― interrompeu o pai. ― Martim me deu um golpe! Só não abri falência graças às economias que vinha fazendo com muito sacrifício.

    Márcia fitou o marido, preocupada.

    ― Me preocupo quando fala assim. Se Martim ouve, pode abrir um processo contra você, e não terá como provar nada.

    ― Só não consegui provas porque o maldito fez tudo muito bem pensado. Ele compra todo mundo. Martim é um devasso e só sabe jogar sujo. Mas um dia se dará mal. Tenho certeza disso.

    Jéssica também se aproximou do pai e se sentou ao seu lado.

    ― Nos preocupamos com você, pai. Não queremos que nada de mal lhe aconteça. Posso pedir uma coisa?

    ― Claro.

    ― Deixe Martim bem longe das nossas vidas. Esqueça-o. Coisa ruim só atrai coisa ruim.

    ― Concordo. Mas esquecê-lo é algo impossível.

    ― Pelo menos pense no assunto ― pediu Márcia.

    Renato abraçou-as com carinho.

    ― Não posso prometer algo que não cumprirei, mas tentarei me afastar deste crápula, e me estressar um pouco menos.

    ― Já é alguma coisa, pai.

    ― Eu amo vocês.

    Martim estava no escritório, sentado em sua cadeira, lendo os e-mails que tinham acabado de chegar, quando um em especial lhe chamou a atenção, pois o nome do e-mail cadastrado era estranho: lembrasedemim@lembrasedemim.com.br.

    Ficou receoso em abrir a mensagem, devido aos inúmeros vírus que transitavam pela rede, e dos inúmeros hackers que viviam tentando invadir seu computador, mesmo assim, a curiosidade foi maior, e decidiu verificar do que se tratava.

    Clicou e aguardou a página abrir, enquanto pensava: deve ser aquela loira linda com a qual saí ontem à noite. Ela é fantástica! Será que me enviou algumas fotos nua?

    A página abriu e a mensagem surgiu em letras maiúsculas na cor vermelha. Mas para sua decepção, as fotos da loira não chegaram, e a preocupação fez desaparecer seu sorriso, enquanto lia a mensagem:

    Lembra-se de mim? Martim, ladrão idiota! Lembra-se de mim?

    Você é uma merda fedorenta! Sim, é isso o que você é!

    Sei tudo da sua vida, e vou acabar com você!

    Em pouco tempo estará na sarjeta!

    Como um gato velho e magricela, implorando por uma migalha.

    Lembra-se de mim, maldito?

    Socou a mesa com tamanha força, que jogou para o alto os objetos que nela estavam. O monitor do computador balançou.

    ― Quem é você?! ― gritou para a sala vazia. ― Quem é você?!

    Deixou o corpo relaxar na cadeira, enquanto seu cérebro trabalhava em alta velocidade tentando localizar alguém com possibilidade de ter enviado aquele e-mail. Eram várias pessoas. Tinha consciência dos inúmeros inimigos que havia ganhado durante a vida, mas, quanto mais melhor, pois satisfazia seu ego. Porém algo dentro de si alertava que não era nenhum deles.

    Apenas uma pessoa poderia

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