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De Volta Ao Jogo
De Volta Ao Jogo
De Volta Ao Jogo
E-book669 páginas8 horas

De Volta Ao Jogo

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Sobre este e-book

Muito mais enigmático e misterioso, DE VOLTA AO JOGO nos mostra uma história repleta de enigmas onde o investigador Messias Ebras continua correndo contra o tempo para salvar os cinco novos escolhidos. Diante da repercussão do caso do Voo 818, o vilão que responde pelo codinome “Raposa” faz a Will uma proposta irrecusável: executar seu plano de vingança em troca da liberdade e um milhão de dólares. Mesmo sabendo que desta vez não estaria no comando, aceita. Messias e Sarah Ebras estão separados há um ano e em visita a família, antes de entrar, recebe no portão uma caixa de papelão. Logo percebem que se trata de um enigma de Will, e a história começa a se repetir. O avião decola com 124 passageiros, entre eles Daniel Ebras e família. Durante o voo, um é assassinado. Will diz que cinco serão escolhidos e sofrerão um atentado no qual levarão consigo várias pessoas. O jogo de vida ou morte é retomado. Com dinamismo, Carlos Di Vienna nos apresenta uma história tão impressionante e agitada quanto OS SETE ESCOLHIDOS, o primeiro livro da trilogia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de jan. de 2021
De Volta Ao Jogo

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    De Volta Ao Jogo - Carlos Di Vienna

    DE VOLTA AO JOGO

    VOO 998

    Carlos Di Vienna

    © COPYRIGHT 2022 POR CARLOS DI VIENNA

    Todos os direitos reservados ao Autor

    PUBLICAÇÃO PARTICULAR

    Sem nenhum vínculo com Editora.

    Capa: CARLOS DI VIENNA

    Título da obra: DE VOLTA AO JOGO – VOO 998

    Demais obras do Autor:

    NOS BRAÇOS DO DESTINO

    ALGUÉM TE OBSERVA

    PRESENÇA TRAIÇOEIRA

    LEMBRA-SE DE MIM?

    UMA LONGA VIAGEM

    UM ANJO SEM ASAS

    UM ANJO SEM ASAS II

    O OUTRO LADO DA FAMA

    TUDO A SEU TEMPO

    DIFÍCIL ACREDITAR

    OS SETE ESCOLHIDOS – VOO 818 (Início deste livro)

    TUDO TEM UM PROPÓSITO (Autobiografia)

    EM POUCAS PALAVRAS (Mensagens)

    POR QUE O MEU FILHO? (Autoajuda)

    INVISÍVEL AOS OLHOS (Poemas)

    Adquira através do site: clubedeautores.com.br
    CONTATO: carlosdivienna10@gmail.com

    DE VOLTA AO JOGO

    VOO 998

    Carlos Di Vienna

    Ao meu filho Kaikke (Carlos Henrique Viana).

    Meu maior incentivador.

    Diante do seu estímulo, este livro aconteceu.

    Carlos Di Vienna

    Sequência de:

    OS SETE ESCOLHIDOS

    - VOO 818 -

    Esta é uma obra de ficção

    criada pelo autor.

    Qualquer semelhança com a vida real,

    terá sido uma mera coincidência.

    VOO 998

    Capítulo Um

    BAIRRO ALTO DA LAPA, SÃO PAULO

    Tião Meire caminhava pelas ruas do bairro, puxando uma carroça de mão em busca de materiais recicláveis.

    Há dezoito anos fora deixado pela esposa, que desapareceu com seu filho recém-nascido numa manhã chuvosa de verão. Decepcionado e sem saber o que tinha acontecido, deixou a amargura e a tristeza tomarem conta do seu coração, e sem conseguir corresponder no trabalho, fora demitido alguns anos depois.

    Sem conseguir um novo trabalho e já sem condições de pagar o aluguel, passou a viver na rua. Construiu um carrinho de mão com rodas de uma bicicleta que encontrara no lixo, e começou a viver com o lucro das vendas dos materiais recicláveis que catava pelas ruas.

    Viveu em vários lugares, porém, há um ano encontrou um terreno cercado por muro e com um portão feito com tela de aço. Havia construções nos terrenos aos lados e nos fundos, e os muros das casas vizinhas o limitava.

    Aproximando-se, pôde ver que o local estava com o mato alto, com algumas árvores de pequeno porte no fundo do terreno. Aparentemente, ninguém visitava o local há muito tempo.

    No início da noite, voltou ao terreno, com um cadeado e um arco de serra fixo que havia comprado com a renda do dia. Serrou a corrente nos dois elos prendidos pelo cadeado.

    A corrente se soltou e o portão se abriu.

    Colocou a carroça para dentro, e fechou o portão com a corrente, fixando o novo cadeado que ele havia comprado.

    Ali no fundo, debaixo das árvores, dá para construir um barraco.

    A sua intenção era ficar ali até o dono aparecer e o expulsar. Isto poderia levar alguns meses. Então, procuraria um novo local para passar as noites. Em sua defesa, alegaria que o portão estava sem cadeado, que comprara um novo e estava cuidando do terreno.

    Com o passar dos dias, os vizinhos perceberam sua presença, porém, não disseram nada, pois mal falava com eles, e quando falou, foi educado.

    Estava em busca dos materiais recicláveis para garantir o almoço e a janta do dia, quando viu um carro parado logo à frente.

    Estranho. Pensou, curioso. O vidro da porta dianteira está abaixado.

    Aproximou-se um pouco mais para ver melhor o interior do veículo, e constatou que não havia ninguém dentro dele.

    Alguém desceu apressado e deixou o vidro aberto.

    Olhou ao redor, mas só tinha ele na rua. Olhou para as casas ao lado, e todas estavam com as portas fechadas e no mais absoluto silêncio.

    Foi quando ouviu alguém gemendo.

    Seus olhos se arregalaram em expectativa, pois os gemidos vinham de dentro do carro. Caminhou até a porta e viu que tinha um homem deitado no banco traseiro. Estava com o rosto machucado e sangrava.

    Alguém bateu muito em você, hein, camarada?

    O homem abriu os olhos e o fitou. Sentiu o corpo se arrepiar, tomando um susto com aquele olhar brilhante, cheio de pavor.

    Ele tentou apontar a mão para Tião, mas não teve forças para levantar o braço. Então reuniu o resto de forças que ainda tinha, e emitiu um sussurro.

    ― Por favor... me salve.

    Tião ficou momentaneamente sem ação, pois o homem estava muito machucado e sem forças. Não sabia o que fazer. Quem havia feito aquilo com ele desejava a sua morte, e salvando-o, certamente estaria entrando também na lista do assassino.

    Foi então que ouviu um barulho sonoro contínuo de um bip.

    Olhou para o homem no banco traseiro do carro de olhos arregalados.

    ― Isto é uma bomba?

    Ele balançou a cabeça afirmativamente, e então conseguiu assimilar realmente a gravidade do problema.

    Tinha duas possibilidades a sua frente: sair correndo, ou salvar o desconhecido. A pergunta era: tinha tempo suficiente para salvá-lo? Além de tirá-lo do carro, ainda teria que se afastar com ele nos braços.

    O homem fitava Tião com olhar suplicante, enquanto continuavam ouvindo o barulho do bip.

    ― Por favor...

    Sabia que tinha que tomar uma decisão.

    Não vou conseguir deixá-lo aqui. Pensou, fitando-o. Se fizer isto, nunca mais dormirei tranquilamente.

    Aproximou-se da porta traseira, e abrindo-a, olhou para o homem.

    Pegou-o pelas pernas e o puxou em sua direção, enquanto ele gemia de dor. Com dificuldade o pegou nos braços e foi em direção da carroça que estava próximo ao carro.

    Com gotas de suor surgindo na testa, conseguiu colocá-lo dentro dela, sobre alguns papelões e sacos plásticos com garrafas pets.

    Ouvindo o som do bip da bomba prestes a explodir, agarrou os dois varais da carroça e começou a puxá-la, se afastando do veículo.

    Quando estavam a mais ou menos duzentos metros do carro, ele explodiu. O impacto foi tão grande que o jogou no chão.

    Sentando-se, olhou para o veículo em chamas.

    ― Vamos embora ― sussurrou o homem na carroça.

    Aproximou-se dele e o fitou.

    ― Me esconda. Se descobrirem que estou vivo ― disse com dificuldade ―, vão tentar me matar outra vez.

    ― Não tenho família e nem casa. Durmo num barraco.

    ― Por favor, me leve com você... e não fale com ninguém sobre o que aconteceu aqui.

    ― Mas...

    ― Alguns dias serão suficientes para me recuperar.

    ― Sei que vou me arrepender, pois não sei quem você é...

    ― Confie em mim. Não sou o bandido.

    Tião o ajeitou melhor no carrinho.

    O cobriu com os papelões e os sacos plásticos com garrafas pets.

    Agarrando firme nos varais da pequena carroça, começou a arrastá-la em direção ao terreno.

    Messias Ebras estava sentado no sofá da sala de sua casa, aproximadamente quinhentos metros do local da explosão, e se sentou em expectativa ao ouvir o barulho da detonação.

    Seu instinto pedia para se levantar e averiguar o que tinha acontecido, porém, algo dentro de si exigiu que ficasse onde estava.

    Sentia-se triste e ocioso.

    Sarah teve motivos para ir embora, pensou, triste. Ficar sozinha nesta casa enquanto resolvia os casos por aí, foi entediante demais pra ela.

    Neste instante ouviu alguém colocando a chave na fechadura da porta da sala. A lingueta foi girada e a porta se abriu.

    A princípio se assustou, mas logo se lembrou quem tinha as chaves.

    Depois de meses, viu Sarah entrando com uma caixa de papelão na mão, sorrindo para ele.

    Como ela está linda!

    ― Bom dia, Messias! ― disse, fechando a porta. ― Como está?

    Com muitas saudades de você.

    ― Estou bem... bem só.

    Ela o fitou por um instante, e foi colocar a caixa sobre a mesa.

    ― Daniel, Taís e Sophia ainda não voltaram?

    ― Não. O casamento de Beth deve estar terminando agora.

    Sarah voltou a sorrir e se aproximando dele, o beijou no rosto.

    ― Havia um tumulto próximo à praça. Um carro explodiu.

    ― Ouvi o barulho daqui.

    ― Por sorte não tinha ninguém dentro dele.

    Acomodaram-se no sofá.

    ― Ainda bem.

    Voltaram a se fitar, e ambos sentiam o desejo de se abraçarem.

    ― Sarah... Posso ser sincero?

    ― Deve.

    ― Estou sentindo muito a tua falta. Semana que vem fará um ano que foi embora, mas parece uma eternidade. Hoje, tendo a solidão como companheira, te entendo. Você teve motivos para me deixar.

    ― As investigações tomam todo o seu tempo.

    ― Sim. Quando tenho um caso nas mãos, mas quando não tenho...

    ― E quanto tempo fica sem um caso? ― perguntou ela, se ajeitando melhor no sofá. ― Na maioria das vezes, Messias, nem soluciona um, e já te passam outro.

    Houve um pequeno momento de silêncio.

    ― Devido a sua perspicácia e total entrega ao caso, é um investigador admirado por todos. Também te admiro, mas ficava a maior parte do tempo só. Daniel, Taís e Sophia estavam aqui, mas queria você.

    ― Minha aposentadoria está chegando.

    ― Venho ouvindo isto há anos.

    Sarah fitou Messias profundamente.

    ― Assim como eu, você sabe que o nosso casamento não terminou por falta de amor, mas por falta de tempo um para o outro.

    Depois de uma longa pausa, Messias disse:

    ― Nascemos para ficar juntos. Já que continua com as chaves, e a casa está do jeito que deixou... o que acha de voltar?

    ― Antes mesmo de terminarmos esta conversa ― disse, séria ―, o telefone pode tocar e você ter que sair correndo para a Cimpol.

    ― Amo o que faço.

    ― Sei disso. Por isto não te pressionei... apenas fui embora.

    Messias ia dizer alguma coisa, mas Sarah o interrompeu.

    ― Sem você aqui... sem você em qualquer lugar.

    Ela olhou para a caixa de papelão sobre a mesa.

    ― Quando desci do carro, vi um rapaz parado em frente à casa com esta caixa na mão ― explicou. ― Me perguntou se morava aqui. Disse que sim. Então pediu que a entregasse para você.

    ― Sarah, não mude de assunto. Sinto muito a tua falta.

    ― Estava esperando alguma entrega?

    ― Não. Não estava.

    ― Venha ― pediu, se levantando. ― Vamos ver o que tem aqui.

    Aproximaram-se da mesa e Messias pegou a caixa.

    Analisando melhor, percebeu que a caixa era reutilizada, e estava vedada por uma filha adesiva transparente. Puxou-a e a tampa se abriu.

    Havia cinco objetos dentro da caixa.

    Messias retirou e pôs sobre a mesa, um isqueiro, um livro, um lápis, um pote de vidro com cinco dados dentro dele, onde cada um tinha uma letra, e uma pequena garrafa de uísque.

    Enquanto Messias se lembrava da explosão, Sarah perguntou:

    ― O que é isto?

    ― Não sei.

    ― Presentes de um admirador?

    ― Acho que não.

    Ficaram ali por alguns segundos olhando atentamente para os objetos. Sarah pegou o pote de vidro e o girou, analisando os cinco dados os quais cada um tinha uma letra.

    Sarah repôs o pote sobre a mesa.

    ― Não estou gostando nada disso ― disse ela, séria.

    ― Nem eu.

    ― Estão querendo te dizer alguma coisa.

    ― Sim. Isto é um enigma.

    BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL

    Daniel Ebras estava com a esposa Taís e a filha Sophia no interior da Catedral de Brasília, oficialmente a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida.

    Haviam participado do terceiro casamento de Elisabeth, mãe de Taís, e após os cumprimentos, aguardavam para se despedirem.

    ― Agora entendi por que minha mãe escolheu se casar aqui. A igreja é simplesmente linda. Olha só estes vitrais!

    Sophia observava a igreja atentamente.

    ― Entramos por ali ― explicou Daniel ―, e chegamos aqui neste espaço brilhante com telhado de vidro. O telhado é composto por dezesseis partes de fibra de vidro, cada um com dez metros em uma base de trinta metros de largura. Sob esta base estão suspensos dois mil metros quadrados de vitrais criados originalmente em 1990 por Marianne Peretti.

    ― É uma das coisas mais lindas que já vi ― disse Sophia.

    ― Simplesmente encantador.

    ― Vejam sobre a nave ― mostrou Daniel ―, três esculturas de anjos, suspensas por cabos de aço. O mais curto tem 2,22 metros de comprimento e pesa 100 kg, o médio tem 3,4 metros de comprimento e pesa 200 quilos e o maior tem 4,25 metros e pesa 300 quilos.

    ― Nossa ― sussurrou Taís.

    ― As esculturas são de Alfredo Ceschiatti, e teve a colaboração de Dante Croce, em 1970. O altar foi doado pelo Papa Paulo VI e a imagem da padroeira Nossa Senhora de Aparecida é a réplica do original que está no município de Aparecida, São Paulo. O Caminho da Cruz é uma obra de Di Cavalcanti. Sob o altar principal está uma pequena capela acessível por cada lado do altar.

    Sophia olhou para o pai, sorrindo.

    ― Como sabe de tudo isto?

    ― Alguém já tinha me falado da beleza desta Catedral, e quando sua mãe me disse que o casamento de Beth seria aqui, levantei quase todas as informações sobre esta maravilhosa obra de Oscar Niemeyer. Esta Catedral foi o primeiro monumento a ser criado na Capital Federal.

    ― Ah...

    Neste momento, perceberam que Elisabeth se aproximava com o seu novo marido, Márcio Marques.

    Taís era filha de Angelino, primeiro marido de Elisabeth, que faleceu.

    Tempos depois Elisabeth se casara com o milionário João Pedro Laia, o qual fora assassinado na sua festa de aniversário de cinquenta e cinco anos. Então, passou a viver com Plínio, se mantendo da mesada mensal mantida por Lucia Laia, presidente da Metais Laia. Plínio faleceu cinco anos depois.

    Agora, Elisabeth conhecera Márcio Marques, também empresário, e resolveram oficializar o relacionamento, o que deixou Beth radiante.

    ― Obrigado por terem vindo ― disse, feliz. ― Poderia ter faltado qualquer um que não me importaria.... mas vocês, moram em meu coração.

    Sophia abraçou a avó com carinho.

    ― Seja bem-vindo à família ― disse Taís para Márcio, sorrindo.

    ― Obrigado. Agradeço o carinho e a acolhida.

    Mais uma vez, Daniel abraçou Márcio Marques.

    ― Gostou do local, filha?

    ― Estou encantada com a Catedral, mãe. Vai lhe trazer muita sorte.

    ― E por que acha que marquei o casamento aqui?

    Beth deixou escapar uma gargalhada que se espalhou pela igreja.

    ― Aqui tudo é lindo ― disse Daniel. ― Já fomos recebidos na praça de acesso ao templo por quatro esculturas em bronze com três metros de altura que representam os Quatro Evangelistas. Viram o campanário? Ele tem 20 metros de altura e sustenta quatro sinos doados por moradores espanhóis do Brasil. Na entrada, vimos o pilar com passagens da vida de Maria, Mãe de Jesus, pintado por Athos Bulcão. Uma piscina refletora de 12 metros de largura e 40 centímetros de profundidade rodeia a catedral, ajudando a resfriar o edifício. Passamos sob ela ao entrar na catedral.

    ― Bem, filha, depois que Plínio morreu achei que não me casaria de novo, e agora estou aqui... indo para mais uma lua de mel.

    Eles riram, e Taís abraçou a mãe com carinho.

    ― Podem ir ― disse. ― Também estamos indo para o aeroporto.

    Beth jogou um beijo para Sophia e se afastou com Márcio.

    Daniel olhou para o relógio de pulso.

    ― Ainda temos alguns minutos. Ali fica o batistério, e pode ser acessado aqui pela catedral ou através de uma escadaria espiral pela praça. As paredes do batistério oval são cobertas por azulejos pintados em 1977. Os escritórios da Arquidiocese de Brasília foram concluídos em 2007 junto à catedral. O prédio de 3.000 metros quadrados se conecta diretamente à catedral subterrânea.

    ― Será que a gente consegue entrar lá, pai?

    ― Podemos tentar. Vamos, Taís?

    ― Sim, claro.

    ― Vamos tirar uma selfie? ― propôs Sophia pegando o celular.

    Se colocaram numa posição onde apareceria o Altar e os maravilhosos vitrais em azul, verde, branco e marrom.

    Após Sophia tirar umas cinco fotos, caminharam em direção à entrada para a Catedral Subterrânea, onde era tão lindo quanto em cima.

    Logo chegaram à cripta, local de oração e recolhimento.

    Daniel olhou para a esposa e para a filha com carinho.

    ― A arquitetura da Catedral ― disse ―, simula mãos voltadas para o céu em oração. Então, filha... junto com tua mãe, vamos orar a Deus em agradecimento pela nossa saúde e pela linda família que Ele nos deu.

    Sophia concordou com um aceno.

    Tais o beijou nos lábios e iniciaram uma silenciosa oração.

    Patrick Lusson, Karen e Suzana caminhavam em direção a escada do Boeing A320 estacionado junto à área de embarque do Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek.

    ― Temos quantos minutos para a decolagem? ― perguntou Karen.

    Patrick olhou o relógio de pulso.

    ― Cinquenta minutos.

    ― Tempo suficiente para organizarmos tudo ― disse Suzana.

    ― E quanto a Lima?

    ― Já está na cabine, Karen, esperando por nós ― disse, sorrindo. ― Ele está sempre adiantado. Este nunca perde o trem.

    ― O avião, você quer dizer ― comentou Suzana rindo.

    Caminharam alguns passos em silêncio, enquanto Karen tentava em vão ajeitar o cabelo que o vento teimava em bagunçar.

    ― Prefiro o eixo Rio/São Paulo ― comentou Karen. ― Além do voo ser mais rápido, os passageiros são da mesma classe que a nossa. Aqui, temos que cuidar de deputados e senadores o tempo todo.

    Aproximavam-se da escada.

    ― Fique tranquila, pois este é o nosso último voo nesta linha ― informou Patrick. ― Vamos voltar ao eixo Rio/São Paulo.

    ― Sério? ― perguntou Suzana.

    ― Me informaram hoje pela manhã. Estavam com carência de pilotos, mas pelo que fiquei sabendo, o problema foi resolvido.

    ― Graças a Deus!

    Chegando à escada, Patrick parou e olhou o céu. Nuvens escuras se aglomeravam na direção onde levantariam voo.

    Elas também olharam para o alto, e como Patrick já subia os degraus, o seguiram em silêncio.

    ― Podemos voltar aqui qualquer dia desses, Suzana, para visitarmos o Zoológico. Ele é simplesmente lindo.

    ― Podemos combinar.

    ― Ele possui uma área de 1,397 quilômetros quadrados. Além dos recintos dos animais, ficam também no local o Museu de Ciências Naturais, um Borboletário, estruturas de lazer e serviços como lanchonetes, playground, áreas para camping, piqueniques, passeios e lagos artificiais.

    ― Interessante.

    ― Sempre gostei de animais. Cresci brincando com gato e cachorro, pois minha mãe sempre tinha um em casa. Quando morria o gato, ela trazia um cachorro, e vice-versa.

    Riram, entrando na aeronave.

    Suzana foi a última. Fez questão de entrar com o pé direito, fazendo o sinal da cruz e uma oração pedindo proteção e um bom voo.

    Patrick caminhava em direção à cabine quanto Karen parou no corredor, obrigando Suzana a fazer o mesmo.

    ― O que foi, Karen? ― perguntou, preocupada.

    Patrick também parou e se voltou para elas.

    ― Aconteceu alguma coisa, Karen? ― perguntou.

    Ela olhava fixamente para o chão do corredor.

    Patrick e Suzana também olharam, e não viram nada além de um piso limpo e brilhoso.

    ― A imagem do assassinato do voo 818 voltou à minha mente ― explicou. ― Vi o sangue escorrendo por debaixo daquela poltrona ali.

    Merda! Praguejou Suzana. Parece que é a mesma poltrona onde Jonas Strong estava naquele maldito voo.

    ― Isto não é um bom sinal ― comentou Suzana.

    ― Parem com isso, meninas. Foi só uma lembrança.

    ― Não estava nem lembrando daquele voo. Apenas olhei para a poltrona e a imagem surgiu na minha mente. Me parece uma premonição. Temos que tomar cuidado.

    Com fisionomia preocupada, Suzana olhou para Patrick em pé no corredor, segurando o paletó sobre o ombro.

    ― Patrick, esta é a mesma aeronave do voo 818?

    Ele levou alguns segundos para responder.

    ― Sim.

    Elas se olharam, preocupadas.

    ― Meninas, parem com isso. Foi apenas uma lembrança guardada no cérebro que voltou aleatoriamente. Fiquem tranquilas, pois o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

    ― Patrick, qual é o número deste voo?

    ― Você está levando muito a sério esta história, Karen.

    ― Qual é o número? ― insistiu.

    ― 998.

    Karen fixou os olhos num ponto qualquer da aeronave, pensando.

    Depois de alguns segundos, voltou a fitar Patrick.

    ― Não é possível! ― exclamou.

    ― O que foi que descobriu? ― quis saber Suzana.

    ― Só um minuto ― pediu, pegando o celular, abrindo o aplicativo de calculadora, e começando a fazer contas.

    Patrick e Suzana se olharam interrogativamente.

    Foram precisos menos de trinta segundos para Karen confirmar a sua hipótese.

    ― Isto é incrível! ― voltou a exclamar, impressionada.

    ― O que é incrível, Karen? ― perguntou Patrick, sem paciência.

    ― Vejam só. O assassinato de Jonas Strong no voo 818 ocorreu no dia 09 de março. Hoje é 04 de setembro. Passaram-se exatamente 180 dias. E o nosso voo agora é o 998. Perceberam?

    Patrick fazia as contas mentalmente, enquanto Suzana apenas olhava para a amiga, sem condições de raciocinar.

    ― Do voo 818 até hoje passaram-se 180 dias ― continuou Karen. ― 180 era a quantidade de suspeitos pelo assassinato de Jonas Strong. 818 mais 180, é igual a 998... que é o voo que vamos fazer. É muita coincidência.

    ― Não errou com a soma dos dias? ― questionou Suzana.

    ― Não! Hoje faz 180 dias que Strong foi assassinado no voo 818.

    Patrick pegou o celular e começou a contar os dias.

    ― O voo 818 aconteceu no dia 09 de março ― disse, calculando. ― São 23 dias de março... 30 de abril... 31 de maio... 30 de junho... 31 de julho... 31 de agosto e 04 de setembro... total: 180 dias.

    ― Exato! ― exclamou Karen. ― Hoje é 04 de setembro.

    Depois de alguns segundos, Patrick sussurrou:

    ― Realmente, é muita coincidência.

    ― A questão é... será somente uma coincidência ou tudo se repetirá?

    Os três se olharam sem coragem de responder.

    BAIRRO ALTO DA LAPA, SÃO PAULO

    Apreensivo, Tião puxava a carroça pelas ruas do bairro seguindo para o terreno onde construíra um pequeno barraco.

    Controlava-se, pois seu desejo era de sair correndo e largar tudo ali, e se esconder em algum lugar bem longe.

    Estou me metendo num grande problema, pensou, preocupado. Tenho certeza de que isso não vai acabar bem.

    Continuou puxando a pequena carroça com a mente acelerada, pensando em várias possibilidades.

    Aquele homem dentro do carrinho era uma pessoa desconhecida que naquele momento estaria morta se não fosse por sua intervenção. Fosse ele bom ou ruim, o deixaria seguir o seu caminho. O problema era outro. Se quem tentou matá-lo descobrisse que ele estava vivo, certamente iria tentar novamente, e o incluiria no pacote.

    Mas não podia deixá-lo morrer dentro daquele carro.

    Caminhando, se lembrou de uma frase que o homem dissera além do pedido de socorro: CONFIE EM MIM... NÃO SOU O BANDIDO.

    ― Tenho que confiar. Não há outra saída. Largá-lo aqui no meio da rua seria o mesmo que deixá-lo dentro daquele carro? ― se perguntou.

    Pensou por alguns segundos, já vendo o portão com tela de aço.

    Chegou à conclusão de que não era a mesma coisa. Se tivesse o deixado no carro ele estaria morto, deixá-lo na rua, alguém o encontraria.

    Mas onde vou encontrar coragem para deixá-lo aqui? Se perguntou, inquieto.

    Ao passar numa valeta, ouviu o homem gemer dentro da carroça devido ao impacto.

    Ele está muito machucado. O certo seria levá-lo a um hospital.

    Neste momento, viu um carro vindo em sua direção e por pouco não saiu correndo. No entanto, se manteve calmo e viu o veículo passar por ele numa velocidade extremamente baixa. Não ousou olhar para trás.

    Aproximou-se do portão, olhando ao redor, se certificando de que não havia ninguém o observando.

    Foi quando ouviu uma janela se abrindo numa casa à esquerda, praticamente de frente para o terreno. Se voltou para ela e viu uma das vizinhas sorrindo e acenando para ele.

    ― Bom dia! ― disse, retribuindo o aceno.

    Diminuiu o passou, esperando-a entrar.

    Segundos depois, não havia mais ninguém na janela e Tião parava o carrinho de frente para o portão.

    Pegou a chave do cadeado no bolso e o abriu, mas antes de entrar, foi se certificar se o homem ainda estava vivo.

    Puxou um dos sacos plásticos com garrafas pets para o lado, e pôde ver seu rosto machucado.

    ― Hei, amigo! Está vivo?

    Ele abriu os olhos lentamente.

    ― Sim. Me esconda, por favor.

    ― Estou na frente do terreno onde me escondo num pequeno barraco. Mas sei que estou fazendo a coisa errada. Você tinha que ser levado para um hospital. Está muito machucado.

    ― Não. Vão descobrir que estou vivo.

    ― O certo seria chamar o Samu. Eles iriam cuidar de você. Eles sabem fazer isso, eu não. O que eu poderia fazer por você?

    ― No momento... me esconder.

    Tião ficou ereto por um instante, e olhou para o alto.

    ― Deus do céu! Me ajude.

    ― Ele vai ajudar. Agora... me esconda.

    Neste momento, ainda sorrindo e olhando para ele, a senhora da casa em frente apareceu no quintal vindo em direção ao portão.

    A carroça estava colocada de frente para o portão do terreno e a mulher só podia ver o fundo feito com madeirite.

    ― Aguenta aí ― sussurrou. ― A vizinha quer me falar alguma coisa.

    O homem concordou com um aceno.

    ― Olá, dona Judith. Como está?

    ― Bem, Tião. Estou vendo que trouxe recicláveis para o terreno, isso não é bom. Se começar a estocar, poderá surgir bichos peçonhentos.

    ― Não vou estocá-los. Só vim pegar algo que me esqueci.

    ― Ah, sim.

    ― Vou vendê-los em seguida.

    ― Por falar no terreno, não acha que está na hora de dar uma capinada no mato? Está muito alto. Não nos incomodamos com a sua presença, mas o local deve estar bem cuidado.

    ― Claro. Tem toda razão. Vivo correndo atrás dos recicláveis e estou me esquecendo de cuidar do local. Fique tranquila quanto a isto.

    ― Você é um bom homem. Vou preparar uns bifes acebolados para o almoço. Se estiver por aqui, me chame. Faço um prato pra você.

    ― A senhora é um doce de pessoa. Obrigado!

    Ela se voltou para a casa, e Tião se aproximou do carrinho.

    O puxou para dentro do terreno e depois de fechar o portão trancando-o com o cadeado, levou a carroça para o fundo, entre as árvores.

    Depois de tirar os sacos plásticos de cima do homem, tocou em seu rosto para que pudesse fitá-lo.

    ― Não tenho quase nada para oferecer. Não tenho cama, apenas um colchão de solteiro sobre algumas tábuas, e me cubro com duas cobertas que não estão com cheiro muito bom, pois não tenho como lavá-las.

    Ele balançou a cabeça, concordando.

    ― Três vezes por semana me banho na casa dos vizinhos... segunda na Judith aqui em frente, quarta na Mariana aqui do lado, e na sexta na casa de Sarah, mas não vou poder te levar comigo. Aqui, o cheiro não é agradável, pois à noite faço as necessidades naquele canto ali.

    Ele voltou a concordar.

    ― A minha vida não é fácil, e complicou um pouco mais, pois não sei o que vou fazer com você... machucado assim.

    ― Por enquanto, me ajude a chegar ao colchão.

    AEROPORTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA - DF

    Daniel, Taís e Sophia Ebras entraram na sala de espera.

    Caminharam até um local onde puderam se sentar juntos, e Sophia observava o local, admirada.

    ― Aqui em Brasília tudo é grande e bonito, não é mesmo, pai?

    ― Sim, filha.

    ― O que sabe deste aeroporto, professor? ― perguntou Taís, rindo.

    Ele também riu, cruzando as pernas.

    ― Este aeroporto é o terceiro maior do Brasil em número de passageiros transportados, e o primeiro da América do Sul a operar com pistas paralelas simultâneas independentes.

    ― E o que isto quer dizer?

    ― Que podem pousar e decolar mais de um avião ao mesmo tempo em ambas as pistas. Isto agiliza muito os pousos e decolagens. Também mostra que estamos bem evoluídos.

    ― Entendi.

    ― Como você disse, aqui tudo é grande e bonito.

    Taís olhou ao redor, e havia várias pessoas aguardando.

    ― Daniel ― sussurrou ela. ― Veja que há várias autoridades aguardando. Aquele ali ao celular não é o Deputado Federal Marcell Lence do estado do Paraná?

    ― Parece que sim. Sim! É ele mesmo.

    ― Será que vamos viajar no mesmo voo?

    ― Acredito que sim. Estamos aguardando no mesmo local. Sei que há salas de espera vip neste aeroporto, mas vejo que não só ele preferiu aguardar aqui conosco. Acho que vi aquela mulher na televisão ― disse, mostrando com um aceno.

    ― Também vi ela na internet ― disse Sophia.

    ― Acho que é Mara Amaral Sallis, Senadora do estado do Espírito Santo ― disse, pegando o celular. ― Vou verificar no google se é isto mesmo.

    Logo depois, confirmou.

    ― É ela mesma. E tem mais. Aquele ali no canto falando com a mulher com vestido branco, é o Senador Andres Allino. Ele é do estado do Paraná.

    Daniel sorriu.

    ― É, filha. Vamos voltar para São Paulo em meio às autoridades.

    ― Se fosse um cantor famoso poderia até pegar um autógrafo.

    ― Mas eles são importantes, filha, pois a nossa vida gira em torno das decisões que estes deputados e senadores tomam. Criam leis que devem ser respeitadas por todos, para que assim haja harmonia e justiça.

    Taís continuava pesquisando no telefone.

    ― Confirmei mais uma ― disse, conferindo a foto na tela do celular. ― Aquela ali com a bolsa no colo e falando com a menina de vestido azul claro, é Benedita Dejalim, Senadora do Estado de Alagoas.

    ― Não sei se isto é rotina ou se algo aconteceu com o voo deles, mas será um prazer estar voando com eles.

    ― Acho que foi isto mesmo que aconteceu, Daniel. O avião que iriam usar deve ter dado algum problema, e os remanejaram para o nosso voo.

    Sophia acompanhava tudo atentamente.

    Um bebê no colo da mãe chamou a atenção deles, já que ele brincava com o pai e dava maravilhosas gargalhadas.

    Neste momento, ouviram um sinal sonoro informando que o serviço de som havia sido ativado, e em seguida uma voz feminina se fez ouvir.

    ― Atenção passageiros do voo 998 com destino a São Paulo, embarque previsto em quinze minutos.

    Ela repetiu a informação, agradeceu e desejou uma boa viagem.

    ― Temos mais quinze minutos de espera ― disse Daniel. ― Ainda dá tempo de comprar alguma coisa para a viagem.

    Mãe e filha balançaram a cabeça negativamente.

    ― Pai, qual é a duração do voo?

    ― Uma hora e quarenta. Daqui a pouco estaremos em casa.

    ― Que bom! Estou com saudades do vô Messias.

    Daniel sorriu, olhando com carinho para a filha.

    ― Estou preocupada com ele ― comentou Taís. ― Após o caso dos sete escolhidos, não pegou mais nenhum trabalho. Tenta se animar junto com a gente, mas está sentindo muito a falta de Sarah.

    ― Já faz um ano que a mamãe saiu de casa para morar com tia Marly. Isto está acabando com ele, pois a ama muito.

    ― E Sarah também o ama ― disse Taís ―, porém, os casos tomam muito o tempo de Messias, e isto os afastou. Lembro-me que ela me disse que com Marly, pelo menos uma faria companhia a outra.

    ― O vovô deveria se aposentar.

    ― Também acho, filha, mas isto ainda não aconteceu porque ele ama o que faz e tem uma mente brilhante, a qual consegue ver o que a maioria não vê. A Cimpol precisa muito dele.

    ― Difícil ― murmurou Taís.

    ― Não sei como esta história vai terminar.

    ― Também não ― disse Sophia. ― Só sei que amo muito os dois.

    Taís puxou a filha para si, e sorrindo, a abraçou.

    ― Nós também.

    BAIRRO ALTO DA LAPA, SÃO PAULO

    Messias e Sarah estavam em pé diante da mesa olhando os objetos que formavam um novo tipo de enigma.

    Ele se colocou na frente dela, de costas para a mesa.

    ― Vamos repor estes objetos na caixa e jogá-los no lixo ― disse, fitando-a. ― Se prosseguirmos, se iniciará um novo caso.

    ― Pedi pra você os deixar quando ainda estava aqui. Pode continuar. Sei o quanto estes casos são importantes pra você.

    Messias olhou para ela com carinho.

    ― Como eu queria que me entendesse, Sarah. Sei que ficava muito tempo longe de casa, mas não imagina como foi importante pra mim salvar quatro dos sete escolhidos do voo 818.

    Ela acariciou o rosto de Messias.

    ― Sei disso. Mas repito: sem você aqui, sem você em qualquer lugar.

    ― Como eu gostaria de encontrar uma forma de continuar na Cimpol, e ter você novamente ao meu lado. Mas juro que te entendo.

    ― Que bom. Agora vamos ver o que diz este novo enigma.

    ― Não estou empolgado como das outras vezes. Hoje me falta o principal... aquilo que dá sentido à minha vida.

    Ficaram ali por alguns segundos, mais se flertando do que se fitando.

    ― Sei o quanto foi importante pra você salvar aquelas quatro pessoas do voo 818, como também sei o quanto foi importante para cada família delas. Por isso, assim como você entende minha partida, também entendo seu amor pela profissão e da importância dela, já que salva vidas e preserva famílias.

    ― Que bom que você também me entende.

    Por um instante, quase se beijaram.

    Sarah se voltou para os objetos sobre a mesa.

    ― Concentre-se e descubra o significado deste diferente enigma. Tenho certeza de que novas pessoas serão salvas por você.

    ― Obrigado, Sarah.

    ― Vamos! Concentre-se!

    Messias voltou sua atenção para os objetos.

    ― Alguém quer me dizer alguma coisa.

    Ele pegou o pote de vidro, de treze centímetros de altura, por seis de largura, tapado por uma rolha. Analisou os cubos dentro dele, sendo que cada um tinha uma letra.

    Balançou o pote por alguns segundos, ouvindo o barulho que os dados produziam se chocando entre eles, e tirando a rolha, os deixou cair sobre a mesa. Os dados se misturaram: R V I E L.

    Cada cubo tinha a respectiva letra nos seis lados.

    ― Eles formam uma palavra de cinco letras ― disse Messias.

    Sarah pegou os dados, os balançou na mão, e os jogou sobre a mesa novamente: R I L E V.

    Ficaram ali por um tempo, observando as letras, tentando descobrir a sequência certa de cada uma.

    Como não chegaram a nenhum resultado, Messias voltou a pegar os dados, balançou-os na mão por um tempo mais longo agora, e os jogou sobre a mesa: I R V E L.

    Voltaram a observar as letras por um tempo.

    ― Acho que descobri ― disse Sarah, pegando o dado L, depois o I, em seguida o V, o R, e finalmente o E. ― A palavra é: LIVRE.

    Messias olhou para Sarah, sorrindo.

    ― Parabéns! Perfeito! É isto mesmo.

    ― Estou aprendendo com você ― disse, o olhando com carinho. ― E quanto aos objetos?

    Messias olhou para o livro, o isqueiro, o lápis e o uísque, e pensou por alguns segundos, coçando o queixo.

    Então colocou os objetos na ordem certa: primeiro o uísque, depois o isqueiro, o lápis e o livro.

    ― Percebi que entendeu o enigma.

    ― Acho que sim. Uísque é em inglês: WHISKY... ISQUEIRO... LÁPIS... LIVRO. As iniciais formam: WILL. Will está livre.

    ― Will é o psicopata que criou o maldito jogo dos sete escolhidos?

    ― Sim. E a mensagem é clara: o jogo vai recomeçar.

    Capítulo Dois

    VINTE DIAS ANTES

    O Chefe estava sentado em sua cadeira com os braços sobre a mesa, tendo Caleb e Isaac em sua frente.

    ― É um plano ousado ― comentou Caleb ―, mas pode dar certo.

    ― Vai dar.

    ― Perdoe-me dizer ― disse Isaac ―, mas acredito que não vamos...

    ― Não serão vocês quem executarão o plano. Vocês vão auxiliar uma pessoa que o executará.

    Isaac olhou para Caleb, sorrindo aliviado, porém ele se manteve sério.

    ― Estou confiando em vocês, pois os tenho como irmãos.

    ― Claro, Chefe ― disse Caleb, enquanto Isaac concordava.

    ― Se derem com a língua nos dentes, ou deixarem escapar alguma coisa que leve ao fracasso do plano, ou descubram quem eu sou, vocês serão homens mortos. Sabem disso, não sabem?

    Eles balançaram a cabeça afirmativamente.

    ― Por outro lado, se tudo der certo, terão muito o que ganhar.

    O sorriso de Caleb foi bem mais amplo do que o de Isaac.

    ― Também sabem disso, não sabem?

    Eles voltaram a balançar a cabeça afirmativamente.

    O Chefe esfregou as mãos, impaciente.

    ― Então chegou a hora.

    Eles se levantaram e fitaram o Chefe.

    ― Iniciemos o primeiro passo.

    Will, conhecido em todo território nacional devido ao caso os sete escolhidos, estava no catre de uma das celas do Complexo Penitenciário do Interior do Estado de São Paulo.

    Rolava de um lado para o outro, sonhando que estava em uma praia com uma bela namorada, tomando água de coco e se bronzeando ao sol. Ao longe na linha do horizonte, viu um barco que se aproximava rapidamente da praia. É o barco da minha liberdade. Disse, em meio ao sonho.

    De repente ele mudou de direção, e começou a se afastar. Então começou a gritar: Hei! Estou aqui! Estou aqui! Não vieram por minha causa?!

    ― Hei, Will!

    O grito era forte. Real.

    ― Quer calar a boca! Eu quero dormir!

    Percebeu então, que tivera mais um sonho onde alguém vinha libertá-lo daquela maldita prisão.

    Quem havia gritado querendo dormir fora Montanha, um homem forte, com voz grave como o urro de um leão, que estava preso na cela em frente. Estava ali porque matara um amigo que havia comprado o seu carro, e não voltara para pagar.

    ― Quer calar a boca! Preciso dormir um pouco.

    ― Estava sonhando.

    ― Cara, não adianta ficar aí sonhando, pois não vai surgir ninguém do nada para te tirar daqui. A nossa vida é esta agora. Pelo menos pelos próximos anos.

    Will viu o barquinho desaparecendo na linda do horizonte.

    ― Não tenho controle sobre os sonhos.

    ― O sonho nada mais é do que aquilo que pensamos o tempo todo. Se você pensa muito numa coisa, ela fica fixa na mente, e quando dormimos, a mente retrata em sonho.

    Eles se fitaram através das grades e o corredor.

    ― Pare de pensar tanto na liberdade e os sonhos desaparecerão.

    ― Não posso. Aprendi que quando queremos muito uma coisa, temos que pensar nela, pois quanto mais pensamos, mais o universo conspira a favor para que aconteça.

    ― E quem virá tirá-lo daqui?

    Will ficou sem resposta.

    ― A fada madrinha? O super-homem? Sidney ou a Raquel?

    Os olhos de Will se encheram de lágrimas.

    ― É por eles que anseio sair daqui, para continuar minha vingança.

    ― Seus pais estão mortos e não tem nenhum parente rico. Quem viria tirá-lo daqui? Pare de sonhar com o impossível e me deixe dormir!

    ― Não posso parar. Se fizer isto, eu morro.

    Houve um momento de silêncio.

    ― Lá fora, tem pelo menos uma mulher bonita, com um bom emprego e alguma grana no banco esperando por você?

    Will balançou a cabeça negativamente.

    ― É, meu amigo. Você realmente não passa de um sonhador. E ainda acha que é vidente.

    ― Sei que não sou vidente, mas aprendi que quando queremos muito uma coisa, temos que fixar o pensamento nela, e ela acontecerá.

    ― Ok, Will. Então faça isso. Faça hoje... amanhã... semana que vem... ano que vem... assim por diante, até a liberdade chegar daqui algumas décadas.

    Se passar uma década aqui, realmente ganharei a liberdade, mas sairia dentro de um caixão.

    ― Continue sonhando, Will. Mas, por favor, sonhe acordado, pois dormindo você faz muito barulho.

    Ambos voltaram para os seus catres.

    Will estava deitado em silêncio, e pôde ouvir Montanha se virando em seu catre na cela em frente.

    Foi neste momento que ouviram a porta do corredor sendo aberta. O barulho do cadeado se abrindo e a trava sendo puxada com força se espalhou pela prisão como um grito no despenhadeiro.

    Ambos ficaram em expectativa, pois um dos seguranças se aproximava, e eles nunca traziam boas notícias.

    Com fisionomia fechada, impecavelmente vestido no uniforme padrão da penitenciária nas cores cinza e verde-escuro, o segurança se colocou em frente à cela de Will.

    Montanha observava da outra cela.

    Pegando o molho de chaves, o segurança escolheu uma delas e abriu o cadeado da cela de Will. Puxou a trava com força, e novamente o barulho se espalhou pela prisão.

    ― Venha! ― ordenou, abrindo a porta. ― Você tem visita.

    Will olhou para o segurança, surpreso.

    ― Visita? Quem veio me visitar?

    ― Se você não sabe, eu vou saber? Venha aqui! ― pediu, pegando uma algema no cinto. ― Vire-se com as mãos para trás.

    Will obedeceu e foi algemado.

    ― Agora siga em frente, e não banque o engraçadinho. Estou bem atrás de você e morrendo de vontade de mandá-lo para o inferno.

    Antes de iniciar a caminhada, Will olhou para Montanha.

    ― Mentiu pra mim? Você disse que não tinha ninguém lá fora que se importasse com você.

    ― E realmente não tenho.

    O segurança o empurrou e Will começou a caminhar.

    ― Então quem é?

    ― Não faço a mínima ideia.

    Chegaram à sala de visitas.

    Após abrir a porta, o segurança retirou a algema e empurrou Will para dentro da sala com violência.

    Will ouviu ele fechando a porta atrás de si.

    Analisou o local calmamente.

    Se encontrava em uma sala de no máximo quatro por quatro metros, com paredes pintadas na cor cinza, e o teto branco; no centro, sobre a mesa, havia uma luminária que iluminava razoavelmente o local; havia duas cadeiras junto à mesa, e uma delas estava ocupada por um homem alto musculoso e bem vestido.

    Mantendo o semblante sério, o homem fez sinal para Will se sentar.

    Will não o obedeceu, e se virou para a porta.

    ― Não te conheço. Não tenho nada para falar com você.

    ― Tem razão. Você tem algumas coisas sérias pra conversar, porém, não será comigo. Sente-se. Vai gostar do que vai ouvir.

    Will se virou, e fitou o homem silenciosamente.

    ― Sente-se ― pediu outra vez.

    Desta vez, obedeceu, e se sentou de frente para o homem.

    Após alguns segundos onde ambos se analisavam, o homem disse:

    ― Meu pseudônimo é Caleb. É um grande prazer estar de frente para o temido Will.

    ― Pelo jeito me conhece bem. Então deve saber da minha história.

    ― Claro que sim, entretanto, o que me dá prazer em estar contigo, é a sua força, inteligência, audácia e ousadia.

    Will preferiu não fazer nenhum comentário.

    ― Você levou 180 pessoas a loucura com aquele jogo mortal, inclusive o famoso investigador Messias Ebras. Admiramos a sua força, pois fez tudo sozinho e a sua inteligência esteve o tempo todo à altura do detetive, que é considerado um dos mais sábios na profissão. Mas o que mais nos chamou a atenção, foi a sua audácia em realizar ações extraordinárias que surpreenderam a todos, inclusive Messias.

    Novamente, Will permaneceu calado.

    ― O que acha de voltar ao jogo e concretizar a sua vingança contra Messias Ebras?

    Caleb pôde ver os olhos de Will ganhar um brilho especial.

    ― Poderia ser mais claro? Olha onde estou? Como poderia voltar ao jogo? Agindo aqui de dentro da prisão?

    ― Como havia dito, não é comigo que você vai falar ― disse, sério, o fitando ―, e sim com o Chefe.

    Caleb pôs a mão no bolso do paletó e pegou um celular.

    Colocou o aparelho com cuidado sobre a mesa, e em seguida olhou para o relógio de pulso.

    Então se ajeitou melhor na cadeira, e começou a brincar com um anel que tinha no dedo anelar direito, como se estivesse a sós na sala.

    Segundos depois, o celular começou a vibrar sobre a mesa.

    ― Atenda ― pediu Caleb. ― É pra você.

    Will olhou para o celular e na tela estava escrito: O CHEFE.

    Clicou em atender, e em seguida colocou no sistema viva-voz, tudo isto sem pegar o telefone, mantendo-o sobre a

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