Voar, Uma Paixão
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Voar, Uma Paixão - André Oscar Schneider
PREFÁCIO
Muito me honrou o convite feito pelo André para prefaciar seu livro. Foi uma bela iniciativa escrever esta obra, pois todo aviador tem passagens em sua trajetória, sempre dignas de registro, e lendo seu livro, percebi o quanto de riqueza pessoal este aviador carrega em sua jornada de vida.
Conheci o André quando ainda seus pais aguardavam com ansiedade seu nascimento. Lembro-me de muitas brincadeiras do Luisinho com seu irmão Carlos, sobre a expectativa de qual profissão escolheria no futuro, este irmão que vinha por aí. Estávamos no início da maravilhosa década de 70 e o Aeroclube de Novo Hamburgo tinha em seu comando o Harro Schmitt e o Bertilo Schneider, este, Pai do André. O Bertilo é o personagem principal no livro do André, homem de personalidade forte que exerceu sobre sua cabecinha loira muita admiração e respeito por sua firmeza de caráter e incansável competência. O Bertilo era a locomotiva do aeroclube, como já disse em outras ocasiões e com a licença do André, é desse homem que vou dissertar a seguir.
Lembro quando estive com meu pai pela primeira vez no aeroclube, no ano de 1967, eu tinha 13 anos de idade e um sonho na cabeça. Meu pai me apresentou ao Bertilo e o questionou sobre o curso de piloto de avião. O Bertilo me encarou do alto de sua magnitude e com seu firme e anilado olhar, sentenciou...:
— Ainda é muito piá...serve no máximo pra ratão de hangar... E, foi o que me tornei pelos longos próximos quatro anos, RATÃO DE HANGAR... Nesse período, nutri todos os sentimentos humanos possíveis pelo Bertilo, do amor ao ódio em seus extremos...
• Amor, por sua dedicação e cuidados que tinha pelo nosso aeroclube e pela sua incessante preocupação pela segurança e integridade de todos nós.
• Ódio, por ser ele um disciplinador ferrenho, não nos dando margem a nada que estivesse fora dos rígidos preceitos disciplinares que regiam a aviação do Aeroclube de Novo Hamburgo naqueles tempos.
O aeroclube recém erguia-se dos escombros psicológicos gerados por um terrível acidente, onde dois amigos do Bertilo perderam a vida tragicamente e com certeza, não queria ver repetida novamente aquela cena entre nós, meninos ansiosos em querer "fazer merda". Hoje, passados todos esses anos, muito temos de reconhecimento pelo trabalho que o Bertilo exerceu no seu tempo no aeroclube. Pessoalmente, seus exemplos de honestidade e incansável competência em realizar tudo o que fosse necessário a qualquer hora e com qualquer tempo, nos deixaram marcas profundas na formação de nosso caráter. Quanto ao aeroclube, essa incansável dedicação trouxe reflexos positivos até os dias de hoje, passados quase quarenta anos de seu desligamento do aeroclube. Sua incessante preocupação materializada em atos pessoais, junto às administrações municipais na época, pedindo a regularização da área do aeroclube que culminou na escritura dos 27,5 hectares do nosso campo, em nome do aeroclube. Quando convidado pelo recémeleito prefeito Foscarini para administrar a pasta dos transportes, o Bertilo colocou como condição sine qua non para aceitar o cargo, que esse como seu primeiro ato, regularizam-se os direitos do aeroclube na área, e assim foi feito. Então, já na gestão do André, como muito jovem presidente do aeroclube e perante um brilhante pronunciamento seu na câmara de vereadores, estes, com o voto de minerva da Exma. Vereadora Marion Brochado, decidiram pela escrituração definitiva da área do aeroclube. A saída do Bertilo do aeroclube deu-se em função de uma queda, enquanto realizava consertos no telhado do hangar principal. Ao seu retorno às atividades normais e já envolvido em seu cargo de secretário dos transportes, suas novas responsabilidades o afastaram das lidas aeronáuticas fazendo com que obviamente o espaço por ele deixado fosse ocupado por novas cabeças que precisaram dar continuidade à vida da entidade. Foram momentos de muita turbulência, pois ocupar o grande vazio deixado pelo Bertilo não foi missão fácil, gerando disputas e desavenças, sempre prejudiciais ao cotidiano do aeroclube. Hoje, tudo superado, restou o agradecimento e o respeito pelo trabalho do Bertilo, bem mais do que possivelmente ele possa compreender.
Lendo o livro do André, muitos fatos me vêm à lembrança, e cá entre meus botões fico a imaginar o quanto valeu a pena a iniciativa e o trabalho persistente de homens iguais ao Bertilo, pelos resultados obtidos diretamente nos sonhos de cada menino que um dia teve sua atenção voltada ao céu com o zunido de um teco– teco e ousou montar em sua bicicleta e buscar no fim da longa e empoeirada estrada do Canudos a realização desse tão significante sonho...
A aviação é uma atividade fascinante e o aeroclube é a incubadora deste fascínio. É ali onde os sonhos tomam a formatação real daquilo que buscamos. É um local movido por emoções e sentimentos aflorados à pele em sua mais intensa manifestação. Isso leva a situações onde, por momentos, amigos tornam-se inimigos e viceversa, mas sempre culminando em um entendimento voltado ao bem maior que é a paixão por tudo que gira em torno do dia a dia daquele sagrado local.
O André é uma pessoa admirável. Fraterno, sensato e de alma sensível além de grande profissional do ar dominando todas as variáveis que essa profissão exige, com certeza herança genética de seu velho e querido Pai. Em seu livro, o André nos leva a um saudosismo gratificante de um tempo que vivemos e que marcou profundamente nossa juventude. Foi um tempo de realizações e lutas em busca de um ideal que, apesar das muitas derrotas sofridas em meio a algumas vitórias alcançadas, nos leva hoje a voltar o olhar e concluir que foram momentos intensamente vividos e que valeram a pena serem assim vividos, pois de alguma forma ajudaram a mudar e melhorar a aviação brasileira, realizando sonhos de muitos jovens que estavam tão somente com a cabeça no ar
.
Assim, só me resta agradecer ao André por nos brindar com o livro aberto da sua vida e, também, por este tão honroso convite.
Alceu Mário Feijó Filho
INTRODUÇÃO
Era abril de 1970, mais precisamente dia 4. Finalmente podia ver o mundo que há meses se anunciava e me deixava curioso. Seguidamente sentia uma sensação de estar leve, literalmente voando, ouvia um ruído que ainda não definia por não conhecer, mas que em alguns anos faria parte do que se tornaria minha profissão unindo assim a minha paixão por aviões, voar e a profissão escolhida.
Cresci no Aeroclube de Novo Hamburgo, junto com meu Pai que lá desempenhava à tarde e aos finais de semana as funções de mecânico, dono do bar, alambrador, funileiro, piloto de testes, e muito mais. Era um ambiente gostoso e mágico onde continha um vírus terrível que contaminava algumas das pessoas que ali passavam e que até hoje não se conhece a cura.
Fonte Internet – Autor Desconhecido
Alguns conseguem conviver com ele encubado, mas ele está ali, sempre pronto a aflorar. O vírus AEROCOCUS
apesar de não ser letal, não tem cura. É um bom vírus e traz aos seus portadores a felicidade de pertencer ao fascinante mundo da aviação, mundo este onde, dia após dia, destemidos aviadores tomam o céu, realizando o sonho de voar, juntando pessoas e destinos em todo mundo. Acredito que esse sonho já tomava forma em minha mente antes mesmo de conhecer o mundo fora do ventre de minha mãe nos voos de PA20 aos sábados com a família que meu Pai realizava, enquanto aguardavam minha chegada. Quando criança ao visualizar cada decolagem, cada pouso ou quando por muitas vezes passava horas dentro dos aviões estáticos no hangar imaginava o quão fascinante seria estar no comando de um deles e ser o senhor do destino daquelas fascinantes máquinas voadoras, e o sonho tomava forma e ganhava força. Tenho muitas lembranças, mas certamente algumas se destacam e estão vivas em minha memória onde as guardo com todo carinho, pois de certa forma ajudaram a moldar meu caráter e a ser quem sou hoje.
Com este livro tenho a intenção de perpetuar minhas experiências vividas desde o momento que optei pela aviação até o momento em que completei uma fase da mesma deixando de ser empregado e parti para o voo solo
, onde experimentei o outro lado da mesa sendo necessário além de voar, administrar e dar vida as nossas atividades através de minha própria empresa.
Tenho que agradecer muito ao meu Pai que foi meu grande incentivador, sempre me levando junto ao aeroclube, me ensinando a fazer frenos, me levando em voos de experiência e ainda permitindo que eu realizasse minhas horas de voo iniciais de planador e avião através de seu paitrocínio
. Certamente seu exemplo como homem e piloto foi fundamental para que eu tentasse ser um pouco do que ele foi, dedicado e profissional. Muito obrigado, meu Pai, pela forma que sempre fez eu ver o mundo.
Pelas linhas desta obra tentarei descrever algumas das minhas experiências para que se perpetuem em outras memórias e até, quem sabe, ajudem alguns a procurarem ambientes similares para serem contaminados pelo mesmo vírus que fui contaminado, ou até sirvam de exemplo a outros aviadores que, assim como eu, amam voar e fazem do céu o seu segundo lar.
Por ser escrito com minhas memórias, poderão haver algumas discrepâncias de dados com a realidade, mas quero preservá-las assim, simplesmente como lembro.
MINHA INSPIRAÇÃO
Fonte gentilmente cedida por Germano Hauschild Neto
As primeiras lembranças que tenho