Novos Rumos
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Novos Rumos - Geraldo Souza Pinto
Prefácio
Escrever o prefácio deste livro, cujo autor, meu amigo e companheiro de longa data numa aviação em que nossas carreiras andaram praticamente juntas, é uma honra e muita responsabilidade, pois envolve narrativas de uma fase que se encerra, ou não, assim esperamos, por ser ele um dos que representam, na minha opinião, e de muitos, uma das famílias mais importantes na história da aviação brasileira, a quem nosso país muito deve.
Livro muito interessante, pois aborda uma fase de novos desafios, conseguindo mostrar para o público em geral, e principalmente aos que conviveram algum tempo nesse ambiente, a realidade do que acontece nesse mundo mágico de levar pessoas pelos caminhos mais rápidos, com segurança, principalmente, e muita confiança.
Os desafios relatados fazem parte da construção dessa brilhante carreira, uma aula de superação de obstáculos que prende a atenção numa leitura fácil e repleta de fatos, que a maioria desconhece quando está desfrutando de um voo tranquilo.
Nas diferentes fases abordadas no livro, posso dizer que, para mim, foi um momento especial relembrar os nossos dias participando da construção de uma empresa aérea, a WebJet, na qual, juntos, conseguimos aplicar o aprendizado adquirido na Varig, implementando nela uma filosofia operacional muito parecida nos aspectos de credibilidade e segurança.
Finalizando, posso dizer que a nova geração dos pilotos dessa família, em atividade atualmente, terá, ao ler este livro, mais um motivo para dar continuidade aos Novos Rumos
.
Cmte. Sérgio Gomes
INTRODUÇÃO
Percorrendo diferentes fases em uma aviação que acompanhei desde a infância junto ao meu pai, Lili Lucas Souza Pinto, um dos pilotos pioneiros da Varig, relato, no meu primeiro livro, A Trajetória de um Piloto, a história por mim vivenciada como Piloto de Linha Aérea junto a uma família de aviadores, ao longo de fases históricas da Varig. Pois, dando continuidade, parti para este segundo livro, Novos Rumos – praticamente uma continuação do primeiro –, em que passo a narrar minhas atividades no período pós-aposentadoria da Varig, inicialmente no comando de diretorias de operações em empresas emergentes. Neste capítulo, procuro descrever peculiaridades e desafios com os quais me defrontei por ocasião da criação da WebJet, empresa de linha regular com novas propostas de mercado; da Lynx Táxi Aéreo, atividade bem nova para mim, envolvendo helicópteros e aviões executivos; e no desenvolvimento da WhiteJets, também novidade, uma aviação internacional operando grandes jatos e enfrentando os desafios de voos fretados. Foram diferentes propostas de trabalho e, consequentemente, variadas histórias de aviação.
Com base na experiência adquirida ao participar da criação e do desenvolvimento dessas empresas, cada qual nos seus respectivos tempos de vida, e por ter presenciado de perto o angustiante encerramento das atividades da Varig, com certa tristeza, passo a olhar para trás, constatando a fragilidade das empresas aéreas ao longo do tempo, me fazendo seguir mais adiante, dedicando um capítulo aos Ciclos de Vida na Aviação, em que me permito elaborar reflexões abrangendo não só o tempo de vida das empresas aéreas, mas também de aviões e tripulações.
Ao me encontrar em nova fase de vida, mais dedicada a transmitir conhecimentos a jovens pilotos que iniciam suas carreiras, no capítulo Retorno ao Cockpit, descrevo não apenas minhas sensações ao me deparar com jovens que dão seus primeiros passos, em um caminho que há muitos anos eu iniciara, mas, também, aos desafios que enfrentei, voltando a ser instrutor em um complexo cockpit de simulador de voo, após mais de quinze anos afastado em atividades administrativas.
Para finalizar este livro – repleto de assuntos envolvendo novas tecnologias –, resolvi dedicar um Epílogo ao meu pai, um aviador muito estudioso que sempre acompanhou de perto os avanços científicos, estabelecendo com ele um diálogo imaginário, antevendo suas reações frente ao extraordinário avanço tecnológico ocorrido, caso voltasse ao nosso convívio, trinta e três anos após nos deixar. Foi a maneira que encontrei de comparar épocas, nem tão distantes, me surpreendendo com o vertiginoso avanço da ciência, que ocorre de forma gradual ao longo dos dias, meses e anos, sem nos darmos conta.
Boa leitura, e sejam bem-vindos a bordo de Novos Rumos!
O autor
Conteúdo
Novos Desafios
WebJet Linhas Aéreas
Lynx Táxi Aéreo
WhiteJets Transportes Aéreos
Ciclos de Vida na Aviação
Retorno ao Cockpit
Epílogo
Novos Desafios
O ano era 2003, e a Varig enfrentava sérias dificuldades financeiras com cortes de despesas e devolução de aviões. Entrava em uma fase de incentivar seus funcionários à aposentadoria, principalmente aqueles que já atingiam tempo para o plano de previdência privada Aerus – o meu caso.
Aos 57 anos e meio, recebi em casa um telegrama de RH solicitando meu comparecimento ao setor para um acordo, considerando idade, Aerus, convenção sindical etc. etc., e que eu poderia escolher o destino do último voo e tripulação.
Pois, após percorrer uma variada frota de aviões ao longo de 35 anos na Varig, voando como copiloto dos históricos Douglas DC-3 e na função de comandante dos aviões Avro Hs 748, Boeing 727, 707, 747, 777, McDonnel Douglas DC-10 e MD-11, eu me via meio incrédulo com aquele telegrama na mão, apesar de já ser algo esperado. Era como estar encerrando um longo e feliz casamento, só me restando reunir forças para realizar aquele último voo.
Mas, surpreendentemente, foi uma viagem tranquila para Amsterdam via Paris, até bem festiva por onde passávamos. No retorno, aproximando-se da Área Terminal de São Paulo para pouso em Guarulhos, o instrumento Nav Display me anunciava o TOD, Top Of Descent, um aviso eletrônico pré-programado informando que eu deveria iniciar a descida naquele ponto da rota. Normalmente rotineiro para mim, mas que, naquele momento, tomava também outra conotação, a de me anunciar, não só a finalização daquele voo em alguns minutos, mas também o encerramento da minha carreira como piloto da Varig.
Driblando a emoção, é natural que tenha sido necessária concentração especial para aqueles procedimentos de aterrissagem com a precisão e a habilidade que o momento de despedida exigia.
Felizmente, deu tudo certo e, no retorno ao aeroporto do Galeão, já como passageiro, me esperava um café da manhã festivo com familiares, instrutores, examinadores e amigos.
Cumpridas essas derradeiras etapas, saí mais leve, não carregando mais a sensação de tristeza que me dominara ao iniciar aquele voo, agora aceitando com mais tranquilidade o ciclo que se encerrava.
Minha turma do B777 se aposentava então no ano de 2003, deixando para trás uma Varig combalida, mas que ainda soube honrar seus compromissos relativos aos nossos direitos rescisórios, vindo, infelizmente, a encerrar as atividades em 2006.
Foi uma carreira que considero privilegiada para pilotos que adoram voar, em que percorremos uma variada e empolgante gama de aviões com suas diversificadas tecnologias e rotas.
Mas, e agora? O que fazer após tanta experiência acumulada? Ir para casa desfrutar de uma até merecida aposentadoria?
O comandante Sérgio Gomes, um amigo e colega na Varig, também recém-aposentado, montava uma empresa de treinamento e consultoria aeronáutica, batizando-a de Tripleseven Training, homenagem ao avião no qual havíamos encerrado nossas carreiras. Juntando-me a ele como sócio, ministrávamos treinamentos em simuladores para pilotos em transição para o Boeing 777 da própria Varig, sendo os treinamentos realizados no exterior, por ainda não haver este simulador no Brasil.
Eram vários dias fora, alternando simuladores entre Centros de Treinamento em Paris, Amsterdam, Denver e Miami, com a Varig sempre em busca de melhores preços e disponibilidade de vagas. Um ritmo de trabalho bem estafante, em função dos horários que eram reservados para os de fora
. Nada de horários nobres que propiciassem reparadoras noites de sono – ao contrário, eram treinamentos que atravessavam noites, madrugadas, e ainda enfrentando os fusos horários locais.
No seu Centro de Treinamento no Rio de Janeiro, a Varig ainda mantinha um simulador do Boeing 747 atendendo a demandas de empresas estrangeiras, uma vez que, infelizmente, não contava mais com o Jumbo
na sua frota. A Tripleseven foi então contratada para ministrar treinamento também nesse simulador, um avião que havíamos voado há cerca de cinco anos, e de geração bem anterior ao B777.
Levávamos uma vida bem movimentada, alternando o treinamento entre essas duas gerações de aviões, quando, ao finalizar o treinamento de pilotos para a empresa argentina Southern Winds Airlines, fomos surpreendidos com uma proposta para ministrar instrução nos seus Boeing 747, recém-adquiridos; mas, agora, em voos de rota!
Algo completamente inesperado, fora dos nossos planos, e, após os necessários cheques por inspetores brasileiro e argentino, iniciávamos, em janeiro de 2005, voos fretados nos finais de semana na rota Buenos Aires-Madrid-Buenos Aires.
Decolávamos com aquele B747-200 no seu peso máximo do aeroporto de Ezeiza em voos noturnos bem exaustivos, cumprindo em torno de 13 horas de voo direto até o aeroporto de Barajas, Madri.
Adequávamos, então, os imprescindíveis descansos entre jornadas com as atividades de simuladores, quando chegou uma nova proposta de trabalho que mudaria o rumo de nossas vidas.
WebJet Linhas Aéreas
Recebemos um telefonema do comandante Artur Carlos, um amigo e colega na Varig, falando de uma empresa nova que estava sendo criada e que necessitava de consultoria na área de treinamento.
— Não querem ajudá-los com a Tripleseven?
A empresa já tinha um nome, WebJet Linhas Aéreas, e a fase mais burocrática para seu funcionamento jurídico
já havia sido cumprida mediante apresentação de ampla documentação, entre elas, o Plano de Negócios e a comprovação de capital social mínimo. Era, portanto, uma empresa já com registro na junta comercial, mas ainda não homologada para serviços de transporte aéreo.
Estava a cargo da área de operações e treinamento do projeto o comandante Nicolau Rosa, conhecido nosso da Varig, onde atuara como inspetor do DAC (Departamento de Aviação Civil) e, posteriormente, admitido pela Rio Sul Linhas Aéreas como comandante de Boeing