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Olhares Sobre A Polícia Militar
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E-book335 páginas3 horas

Olhares Sobre A Polícia Militar

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Sobre este e-book

OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: questões metodológicas” surge de uma preocupação com as atuais pesquisas realizadas por e sobre polícia militar no Brasil. O “olhar situado”, que na antropologia é uma preocupação constante como uma espécie de escrutínio da objetividade dos dados e da descrição do pesquisador. No método de observação partipante a descrição circunstanciada de eventos e pessoas nada mais é do que a produção de um discurso, no caso antropológico, feito sob condições de produção específicas e efeitos das relações de lugar.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de mai. de 2018
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    Olhares Sobre A Polícia Militar - Fernanda Valli Nummer E Fábio Gomes De França (orgs.)

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR

    QUESTÕES METODOLÓGICAS

    Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

    Biblioteca de Pós-Graduação do IFCH/UFPA

    Olhares sobre a polícia militar: questões metodológicas /

    Fernanda Valli Nummer e Fábio Gomes de França (orgs.). – 1. ed. –

    Belém: Maio, 2018.

    233 p. ; 21 cm.

    Bibliografia no final dos capítulos.

    ISBN: 978-85-63117-38-0

    1. Polícia militar. 2. Policiais - Pesquisa. 3. Segurança pública. 4.

    Policiais - Conduta. 5. Mulheres policiais. I. Nummer, Fernanda Valli. II. França, Fábio Gomes de. III. Título.

    CDD 22. ed. 355.13323

    Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610/1998

    Todos os conceitos, declarações e opiniões emitidos nos manuscritos são

    de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es).

    Todos os direitos reservados

    GAPTA/UFPA

    Impresso no Brasil

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR

    QUESTÕES METODOLÓGICAS

    Fernanda Valli Nummer e Fábio Gomes de França (orgs.)

    1ª. Edição

    Belém – Pará

    GAPTA/UFPA

    2018

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

    GRUPO ACADÊMICO PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO E MEIO

    AMBIENTE NA AMAZÔNIA

    Reitor: Prof. Carlos Edilson de Almeida Maneschy

    Vice-Reitor: Prof. Horácio Schneider

    Coordenador do GAPTA: João Marcio Palheta da Silva

    Editor de Publicações do GAPTA: Christian Nunes da Silva

    Gerência e preparação da revisão: Joyce Caetano

    Revisão Final: Grabriela Fernanda Cé Luft

    Projeto Editorial: Anderson Reis

    Comissão Editorial GAPTA

    Prof. Dr. Christian Nunes da Silva

    Prof. Dr. João Marcio Palheta da Silva

    Prof. Dr. Clay Anderson Chagas Nunes

    Conselho Editorial GAPTA

    Prof. Dr. João dos Santos Carvalho

    Prof. Dr. Carlos Alexandre Bordalo

    Prof. Dr. João Santos Nahum

    Conselho Consultivo GAPTA

    Prof. Dr. Gilberto Rocha – UFPA

    Prof. Dr. Eduardo Shiavone Cardoso – UFSM

    Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa – USP

    Prof. Dr. Rui Moreira – UFF

    Prof. Dr. David Gibbs McGrath – UFOPA

    Profa. Dra. Lisandra Pereira Lamoso – UFGD

    Prof. Dr. Eliseu Saverio Sposito – UNESP

    Profa. Dra. Maria Célia Nunes Coelho – UFRJ

    Profa. Dra. Oriana Trindade de Almeida – UFPA

    Prof. Dr. Ricardo Ângelo Pereira de Lima – UNIFAP

    Prof. Dr. Otavio José Lemos Costa – UECE

    Prof. Dr. Antônio Carlos Freire Sampaio – UFU

    Prof. Dr. Raúl Vincéns – UFF

    Profª. Drª. Cynthia Simmons - Michigan State University/MSU

    Profª. Drª. Judite Nascimento – Univ. Cabo Verde/UniCV

    SUMÁRIO

    Sumário

    Prefácio ...................................................................................... 7

    A polícia militar sob a lupa da investigação científica ... 15

    Edson Benedito Rondon Filho

    Como adentrar os muros dos quartéis: (re) pensando a

    pesquisa de campo com policiais militares....................... 50

    Marcos Santana de Souza

    Sobre técnicas e respeito pelos direitos humanos em

    pesquisas no campo do controle social ............................. 103

    Dani Rudnicki

    Saber/poder e corpo: a construção microfísica da educação/

    profissionalização policial militar, pós-redemocratização

    política, no Brasil e Paraguai ................................................. 135

    Eduardo Jacondino

    Instituição policial militar: um campo de inquietações

    e contrastes no percurso de uma pesquisa

    sobre mulheres ......................................................................... 167

    Elida Damasceno Braga

    Entre o pesquisador-policial e o policial-pesquisador:

    aspectos metodológicos de pesquisa em uma instituição

    policial militar ........................................................................... 189

    Fábio França

    Sobre os autores ...................................................................... 227

    SUMÁRIO

    5

    6

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    PREFÁCIO

    PREFÁCIO

    "OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: questões

    metodológicas" surge de uma preocupação com as

    atuais pesquisas realizadas por e sobre polícia mili-

    tar no Brasil. O olhar situado, que na antropologia

    é uma preocupação constante como uma espécie de

    escrutínio da objetividade dos dados e da descrição

    do pesquisador. Para Oliveira (2009), no método de

    observação partipante a descrição circunstanciada de

    eventos e pessoas nada mais é do que a produção de

    um discurso, no caso antropológico, feito sob condi-

    ções de produção específicas e efeitos das relações de

    lugar.

    Os trabalhos apresentados aqui não são etnogra-

    fias no sentido habitualmente usado pelo termo, es-

    pecialmente pela implicação da maioria dos autores

    com o objeto de estudo. Para muitos orientadores,

    esse trabalho de estranhamento e desnaturalização

    com a instituição a que foram socializados não é pos-

    sível durante o período de uma dissertação de mes-

    trado ou tese de doutorado. Para muitos orientados

    esse exercício de estranhamento proporciona ao indi-

    víduo uma inquietação indagadora e uma nova repre-

    sentação de mundo nem sempre confortável. Basta

    lembrarmos que para Berger (2011) a consciência so-

    ciológica é uma interessante novidade histórica que

    se pode estudar com utilidade, porém é também uma

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    PREFÁCIO

    7

    ação bastante real para o indivíduo quando ele dá sen-

    tido aos fatos de sua própria vida. Ou seja, incomoda

    e impacienta perceber que determinadas estruturas

    sociais são desiguais, coercitivas, obtusas, violentas.

    O que fazer quando se descobre que os resultados

    de um estudo sociológico não vão mudar estas estru-

    turas, especialmente se o estudante está numa posi-

    ção hierárquica inferior dentro de uma lógica de ges-

    tão e operação? A frustração de nossos alunos pode

    ser superada como? Encontro em Mariza Peirano

    (2014) um alento:

    Os homens podem formular o seu conhecimento de

    acordo com o que percebem como seus interesses

    imediatos, mas também podem formular o que per-

    cebem como seus interesses imediatos de acordo

    com o seu conhecimento. (Elias, 1971, p. 366, tra-

    dução da autora).

    Basicamente, o que ela diz é que mais produção de

    conhecimento, mais divulgação deste conhecimento,

    menos certezas, mais dúvidas, mais liberdade.

    Para cada policial que procura a universidade para

    aprofundar seus conhecimentos vemos uma missão

    como professores e como orientadores: fazer a críti-

    ca sim dos vícios institucionais que aparecem nos re-

    cortes e análises de dados, às vezes até no tema de

    pesquisa, mas incitar a produção da inquietação do

    estranhamento.

    Assim, os textos desta coletânea, além de demons-

    trar certo ineditismo pelo tema abordado, referencia

    uma nova geração de pesquisadores (policiais e não

    8

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    PREFÁCIO

    policiais) que tiveram na geração do final da década

    de noventa as primeiras experiências de pesquisa

    envolvendo especialmente o recluso mundo das ca-

    sernas policiais. Se o imaginário social, após a aber-

    tura político-democrática ficou marcado pela visão de

    instituições policiais militares afeitas à violência, ao

    conservadorismo e ao autoritarismo, em uma clara

    perspectiva ideológica de proteção do Estado e suas

    elites, a primeira geração de pesquisadores (MUNIZ,

    1999; ALBUQUERQUE & MACHADO, 1999; SÁ, 2002;

    SILVA, 2002; NUMMER, 2014), em nossa opinião, foi

    um pouco além da abordagem sócio-política sobre as

    Polícias Militares. O foco passou a ser, principalmente,

    os processos de socialização e formação dos agentes

    policiais, cujas identidades eram/são forjadas nos re-

    gimes intramuros dos quarteis, o que possibilitou um

    melhor conhecimento e compreensão do que poderia

    estar por trás da violência policial militar.

    Falando de modo específico sobre os pesquisado-

    res policiais militares, podemos dizer que essa inusi-

    tada situação demonstra certo avanço que se deu com

    a abertura político-democrática, já que tal fato seria

    impensável em tempos de repressão como aconteceu

    no período ditatorial. Ideologicamente, as PMs ba-

    seiam-se em regulamentos morais que formalmen-

    te não permitem críticas ao modus operandi de seus

    agentes e ao status quo, especialmente, de seus di-

    rigentes. Suscitar críticas às PMs sendo um de seus

    integrantes é o mesmo que trair a honra de seu cor-

    porativismo institucional, mesmo que as observações

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    PREFÁCIO

    9

    apontadas sejam para denunciar os erros cometidos,

    afinal, isto trata-se de um exercício democrático. O

    discurso corrente dos policiais é de que apontar as

    práticas ilícitas praticadas por eles é ampliar a estig-

    matização às PMs, que já possuem um legado negati-

    vo por conta do período ditatorial. Ao mesmo tempo,

    eles não entendem que expor tais práticas os coloca

    no caminho da transparência democrática, já que tri-

    butos são pagos e as pessoas em sociedade têm o di-

    reito de exercer certo controle sobre quem são pagos

    (as) para vigiar a liberdade delas.

    Nesse âmbito, duas frentes podem ser colocadas

    acerca do dilema de se tornar um policial/pesquisa-

    dor e pesquisador/policial. O primeiro de ordem epis-

    temológica, que coloca em destaque a relação entre a

    objetividade científica e a subjetividade do pesquisa-

    dor. Neste ponto, destacamos a vertente antropológi-

    ca e ressaltamos o ponto de vista de uma "neutralida-

    de relativa", além do olhar weberiano que nos permite

    apontar que as posições assumidas para a consecução

    de uma pesquisa dependem das demandas culturais

    a partir de onde se está inserido. O segundo, de or-

    dem institucional, diz respeito exatamente às possí-

    veis retaliações de superiores hierárquicos, por más

    interpretações de escritos que desnudam a realidade

    institucional e as intimidades corporativas, ou até

    mesmo, de forma simbólica, dos "companheiros de

    farda" de modo geral. Este último caso ocorre pelo

    fato dos PMs estarem imersos na cultura militar e se-

    rem socializados em um mundo no qual honra coleti-

    10

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    PREFÁCIO

    va é o atributo que os leva a se mobilizarem no campo

    moral em defesa da imagem institucional.

    Ainda assim, imbuídos da visão, em certo sentido,

    objetivo da ciência, os escritos que aqui se encontram

    foram somados aos de outros pesquisadores colocan-

    do em debate reflexões metodológicas que servem

    de mote para apreendermos as dificuldades e opera-

    cionalidades encontradas e oferecidas pelo campo

    quando se resolve adentrar as casernas policiais para

    se realizar pesquisa. O que podemos dizer é que, as

    contribuições e os textos apresentados caminham por

    diversas áreas demonstrando a riqueza de suas pro-

    blematizações e a coragem dos autores em caminha-

    rem em terreno tão movediço.

    Os Organizadores

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    PREFÁCIO

    11

    Referências

    ALBUQUERQUE, Carlos F. Linhares de. Escola de Bravos:

    cotidiano e currículo numa Academia de Polícia Militar.

    Dissertação (Mestrado em Sociologia) Universidade Fede-

    ral da Bahia, Salvador, 2000, 239f.

    BERGER, P. Perspectivas Sociológicas: uma visão hu-

    manística. 31ª ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

    MUNIZ, Jaqueline. "Ser policial é, sobretudo, uma razão

    de ser" : cultura e cotidiano da Polícia Militar do Estado do

    Rio de Janeiro. 1999. Tese (Doutorado em Ciência Política)

    –IUPERJ, Rio de Janeiro, 1999. 286 f.

    NUMMER, Fernanda Valli. Ser polícia, ser militar: o curso

    de formação na socialização do policial militar. 2ª ed. Ni-

    terói, EdUFF, 2014.

    OLIVEIRA, João Pacheco de. Pluralizando tradições etno-

    gráficas: sobre um certo mal-estar na antropologia. Cader-

    nos do Leme, Campina Grande, v. 1, n. 1, p. 2-27, 2009.

    PEIRANO, Mariza. Etnografia não é método. Horizontes

    Antropológicos, Porto Alegre, v. 20, n. 42, Dez, 2014. p.

    377-391.

    SÁ, Leonardo Damasceno de. Os filhos do Estado: auto-

    -imagem e disciplina na formação dos oficiais da polícia

    militar do Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Núcleo

    de Antropologia da Política/UFRJ, 2002.

    SILVA, Agnaldo José da. Praça Velho: um estudo sobre o

    processo de socialização policial militar. 2002. Dissertação

    (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Goiás,

    Goiânia.

    12

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    A POLÍCIA MILITAR SOB A LUPA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

    Capítulo - 01

    A POLÍCIA MILITAR SOB A LUPA

    DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

    Edson Benedito Rondon Filho

    A POLÍCIA MILITAR SOB A LUPA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

    15

    O propósito deste capítulo é apresentar as pers-

    pectivas metodológicas vivenciadas ao longo de nossa

    trajetória como pesquisador (inclui-se aqui as orien-

    tações) na busca pela compreensão da polícia militar

    como objeto de investigação e dos policiais como su-

    jeitos em compreensão, o que possibilita visualizar

    em um quadro mais amplo a própria democracia e so-

    ciedade brasileira, como dito por Tavares dos Santos

    (1996).

    O caráter deste texto é meramente descritivo e

    conta com extratos de nossa tese (RONDON FILHO,

    2013) e de outras diversas pesquisas por nós realiza-

    das, o que propicia ao leitor o conhecimento das es-

    tratégias, das táticas e das opções metodológicas para

    abordagem do objeto e sujeitos da relação (polícia e

    policiais) e desmistifica a ideia de certo determinismo

    e colonização ou domínio de específica área de conhe-

    cimento a respeito dessa paisagem muito particular

    incrustada na sociedade brasileira e denominada de

    polícia militar.

    Lembramos que paradigmas transitam nas ciên-

    cias humanas, tensionados pelos antagonismos entre

    as diversas correntes teóricas. O marco dessa tensão

    é o cartesianismo com destaque à tensão gerada entre

    o saber prático e o saber teórico. A ciência pós-car-

    tesiana não trabalha mais essa tensão. O saber agora

    transita na perspectiva da ciência básica ou da ciência

    aplicada e no campo intelectual vigora a interdiscipli-

    nariedade, com diferentes saberes e metodologias, in-

    tegrativas da revolução científica Kuhniana, consti-

    16

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    A POLÍCIA MILITAR SOB A LUPA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

    tuindo-se em tecnologias sociais e simbólicas, onde o

    conjunto de intersubjetividades irá orientar o "cuida-

    do de si" em busca de uma racionalidade que implica

    na operacionalidade das ações sociais.

    Essa transição paradigmática não é exclusividade

    das ciências humanas. A polícia militar como par-

    te do mosaico da segurança pública e da sociedade,

    também, transita para um novo paradigma e deve ser

    observada, descrita e criticada fundamentalmente pe-

    los estudos construídos com recursos metodológicos

    pertinentes.

    Sabemos que a compreensão dos fenômenos liga-

    dos à polícia e à segurança pública encontra alguns

    impedimentos de ordens teórica e política, uma vez

    que atinente a organizações que disputam poder e

    contam com aspectos materiais e simbólicos, gerando

    uma complexidade por vezes não apreendida pelos

    observadores. Mesmo com todos esses percalços, esta

    compreensão não deve ser negligenciada, muito me-

    nos refutada.

    Para desiderato dessa compreensão temos como

    importante aliada a Sociologia que opera no campo

    de leitura das relações existentes em sociedade, bus-

    cando compreender não só essas relações como os

    discursos produzidos a respeito delas. As relações de

    papéis, de influência, de historicidade, de poder, de

    gestão, de ação, de estrutura, de conflitos, de reco-

    nhecimento e culturais são algumas possibilidades de

    compreensão de fenômenos ou sujeitos.

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    A POLÍCIA MILITAR SOB A LUPA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

    17

    Segundo Touraine (1982), pelas observações um

    sociólogo pode: 1º) procurar decifrar as redes de in-

    terações sociais e da estrutura social; 2º) polemizar

    e combater incessantemente o poder, seja no campo

    discursivo, seja no categórico, seja no repressivo ou

    de exclusão; 3º) explorar o mundo da exclusão e ouvir

    o silêncio. "Um sociólogo completo deveria ter o espí-

    rito de análise dos primeiros, a cólera dos segundos e

    a compaixão dos últimos". O sociólogo deve lutar con-

    tra as aparências e ao mesmo tempo reconhecer que a

    ação não tem seu sentido ditado somente pelo ator. A

    crítica pela crítica deve ser evitada e, de preferência, o

    sociólogo deve descrever as práticas para, então, jus-

    tificar seu posicionamento.

    Portanto, refletir segurança pública e, via de con-

    sequência, polícia militar implica em um não-des-

    prezo dos saberes produzidos pelos agentes das or-

    ganizações policiais, pois que produzidos com base

    no controle de conhecimentos e especialidades para

    emprego em interesse comum, por vezes demandan-

    do muito treinamento e afirmados pelo método da

    tentativa e erro.

    A ressalva é justamente no papel que a academia

    deve exercer ao estabelecer parâmetros na aquisição

    desse conhecimento, evitando experiências degra-

    dantes e desumanizadoras e conciliar a base desse

    conhecimento que passa pelos próprios acadêmicos,

    pelos líderes das instituições e pelos agentes executo-

    res, sem nos esquecermos do conhecimento popular

    18

    OLHARES SOBRE A POLÍCIA MILITAR: QUESTÕES METODOLÓGICAS

    A POLÍCIA MILITAR SOB A LUPA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

    que a sociedade tem a respeito da segurança pública

    e suas instituições.

    Como exemplo de conhecimento produzido sobre

    essa temática, temos as reflexões realizadas sobre as

    academias de polícias militares em razão do conceito

    de educação e das práticas organizacionais abordadas

    nos aspectos institucional, social e de alteridade que

    envolvem a ação policial em si.

    Após esse breve introito necessário se faz apresen-

    tarmos nossa compreensão sobre a polícia militar en-

    quanto objeto de estudo e por que pesquisa-la e assim

    definir as possibilidades metodológicas de aplicação.

    Conhecendo a polícia militar no contexto da

    segurança pública

    A construção de um novo paradigma para a segu-

    rança pública e para a polícia vem sendo delineado

    no Brasil a partir dos anos 80 do século XX, marcado

    no campo acadêmico inicialmente pela escola Uspia-

    na (Núcleo de Estudos da Violência – NEV), através

    dos precursores estudos sobre a violência, que hoje,

    adicionados às demais pesquisas realizados por todo

    o Brasil, já somam mais de 8.250 teses e disserta-

    ções sobre estudos policiais (TAVARES DOS SANTOS,

    2011).

    Nos anos 90, vários Estados da Federação expe-

    rimentaram experiências de compartilhamento de

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