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Em Outro Universo
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E-book321 páginas3 horas

Em Outro Universo

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Sobre este e-book

Viagens espaciais, universos paralelos, experiências científicas, sociedades secretas... Tudo isso e muito mais nessa empolgante seleção de contos de ficção científica para arrepiar os cabelos (ou nem tanto!). Convidamos o leitor a viajar conosco nas páginas de Em Outro Universo & outros contos .
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de out. de 2020
Em Outro Universo

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    Em Outro Universo - Geraldo M. Fontes Jr.

    Em Outro Universo

    & outros contos

    Geraldo M. Fontes Jr.

    Sumário

    A Cobaia

    A Sociedade

    Milagre de São Jerônimo

    A Mensagem

    Em Outro Universo

    Hiperquantum

    Transmorfismo - O Melhor de Dois Mundos

    Dedico esse livro à minha família e aos meus amigos.

    A Cobaia

    I

    Tenho poucas lembranças da minha falecida mãezinha. Quantos anos eu tinha quando ela se foi para sempre? Seis anos? Ou seriam sete? Mas tudo começou ainda antes disso...

    Éramos paupérrimos. Meu pai morrera antes que eu nascesse e minha mãe teve que cuidar de mim sozinha. O casebre em que morávamos não tinha conforto algum. Os buracos na parede deixavam o vento entrar e, nesses momentos, eu sentia frio. Mesmo assim, éramos tão felizes quanto podíamos.

    Deve ter sido difícil para a mãezinha. Eu havia nascido com várias deformidades físicas. Minha mão esquerda não se abria, o braço direito e a mão dificilmente era reconhecidos como tal, tamanha a deformidade dos mesmos e minha coluna vertebral nunca iria permitir que eu andasse ereto. E ainda havia o problema dos pulmões. Pobre de mim.

    Mesmo com todas as dificuldades, minha pobre mãe era uma mulher valente. Não me lembro de tê-la visto um dia sequer sem um sorriso para mim. Pelo menos até o dia em que chegaram os homens de terno preto.

    Não tenho recordações daquele dia, mas dona Marli me contou tudo depois que cresci. Eles subiram o morro em que morávamos como que procurando algo importante. Detiveram-se diante do nosso barraco. Um deles bateu à porta. Minha mãe abriu.

    – Dona Neiva?

    – Sim – respondeu minha mãe, apreensiva diante daqueles desconhecidos.

    – Podemos ver seu filho, senhora?

    Não sei qual foi a resposta da minha mãe. Só o que sei é que, mesmo a contragosto, saímos do barraco com aqueles homens. No sopé do morro, dois carros nos aguardavam. Os homens de preto levaram minha mãe para o carro da frente, enquanto eu fui levado ao outro, maior e mais luxuoso.

    Foi ali mesmo no carro que me deparei com dona Marli. O olhar cândido me cativou. Ela me recebeu como se eu fosse seu próprio filho. O senhor ao seu lado não teve o mesmo entusiasmo ao ver aquela coisa feia e deformada que era eu. Mesmo assim, permitiu que eu fosse no carro com eles.

    Pude ver que minha mãe não estava tranquila no outro carro, mas os homens de terno preto não lhe permitiam vir até mim.

    O senhor que não simpatizou comigo deu instruções ao motorista do carro e saímos. Devemos ter viajado cerca de meia hora. Só quando entramos no bairro chique foi que eu percebi que algo importante estava acontecendo.

    Chegamos finalmente à mansão do casal. Minha mãe veio correndo até nós tão logo conseguiu se desembaraçar dos homens de terno preto. Dona Marli teve que fazer um sinal para que eles a deixassem. Assustada, minha mãe perguntou o que estava acontecendo e porque estávamos ali.

    O senhor, que depois vim a saber, se tratava do marido de dona Marli, iniciou a explicação, mas foi interrompido pela esposa.

    – Vocês vão morar conosco a partir de hoje, dona Neiva.

    O jeito manso e o olhar sereno de dona Marli fizeram com que poucas palavras convencessem minha mãe. Eu, por minha vez, estava maravilhado demais com aquele jardim lindo que ficava na frente da mansão para me importar com explicações.

    Daquele dia em diante passamos a morar ali. Minha mãe fazia alguns pequenos serviços para dona Marli, mas não era considerada uma empregada da casa. E eu recebi os melhores cuidados que alguém da minha condição poderia precisar.

    II

    Os dois anos em que vivi com minha mãe naquela casa foram os melhores da minha infância. Eu tinha de tudo e dona Marli não regateava esforços para fazer nossas vidas melhores. Ela era o anjo bom, que sem sabermos o porquê, surgira em nossas vidas. Mesmo com a indiferença – ou eu deveria dizer, a quase implicância – do seu marido, o senhor Aroldo, desfrutávamos de um conforto que minha mãe nunca poderia imaginar, nem mesmo em seus melhores sonhos.

    Um dia, porém, quando eu estava perto de completar meus oito anos de idade, estranhei o fato de minha mãe se demorar mais na cama do que de costume. Fui até seu quarto e abri a porta devagarinho, não só pelo receio de incomodá-la, com também pela minha dificuldade de locomoção.

    Passaram-se poucas semanas desde aquele instante em que a vi, tão fraquinha em sua cama, até o desenlace final. A doença fulminante não lhe deu muito tempo para se despedir de mim. Mesmo assim pude ver, pela primeira vez, tristeza em seus olhos.

    O enterro da minha querida mãezinha realizou-se debaixo de chuva forte. Poucas pessoas compareceram. Eu fiz o possível para não derramar lágrimas, mas o sentimento de perda era grande demais. Embora a certeza de que dona Marli não permitiria que me faltasse nada, a mãezinha era a única família que eu tinha. Sua partida, com certeza, iria significar grandes mudanças em minha vida.

    E não demorou muito para eu perceber os primeiros sinais dessas mudanças. Poucas semanas depois daquele dia, o senhor Aroldo chamou dona Marli até a biblioteca e, de portas fechadas, conversou com ela durante várias horas.

    Nunca fiquei sabendo exatamente o que eles conversaram. Mas com certeza, era sobre mim, porque quando saíram, dona Marli olhou para minha direção e seus olhos se encheram de lágrimas. Dali a poucos dias eu era levado da mansão até um local distante que eu não conhecia.

    O carro que me levou era uma vã de cor escura. Nos bancos da frente, dois homens de terno preto. Atrás, sentado ao meu lado, um senhor de óculos e avental branco. À exceção de umas poucas falas entre os homens do banco da frente, toda a viagem transcorreu em silêncio. Nem mesmo responderam as minhas perguntas. Quando vi que não teria nenhuma resposta útil, desisti de perguntar e me calei até que chegamos ao nosso destino.

    O local, distante da cidade de cerca de quarenta minutos, até que não era feio. Mas um tanto quanto solitário. Um prédio baixo, cercado por um bonito e extenso gramado. Poucas árvores e alguns bancos de cimento. Era tudo.

    Cercando a propriedade, uma grade alta, interrompida somente onde ficava o portão de entrada e a guarita da vigilância.

    A vã nos levou até a entrada, depois de atravessarmos as poucas dezenas de metros que separavam o portão da edificação propriamente dita. Um moça de cara sisuda veio abrir a porta para descermos. Havia uma cadeira de rodas me esperando. Embora as minhas dificuldades, eu não precisava daquilo, mas eles insistiram que eu me sentasse e fosse levado por eles.

    O senhor do avental branco e a moça sisuda me conduziram pelos corredores do prédio. Fomos seguidos durante todo o tempo pelos homens de terno negro. Aquilo parecia mais um daqueles filmes da TV que a minha mãe não gostava que eu assistisse.

    Quando atingimos um quarto, com cama, uma televisão e outros poucos móveis, o senhor de avental dispensou os homens de terno. Levantei-me da cadeira sem esperar maiores instruções. A moça tomou a cadeira e se dirigiu ao senhor de avental:

    – O senhor precisa de mais alguma coisa, doutor?

    – Obrigado, senhorita Janete. Está tudo bem por enquanto.

    Em seguida o doutor se dignou a me dizer algumas palavras:

    – Esta é sua nova residência, Ricardo. Aqui você pode ter o que quiser. Daqui a pouco alguém virá até aqui para conversar com você e explicar algumas coisas. Por hora, peço que não saia deste quarto. Pode assistir televisão se desejar .

    E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o doutor se encaminhou à porta. Abriu-a e saiu, trancando-me naquele quarto, que a partir daquele momento, me pareceu tão pequeno e solitário.

    III

    Não encontrei um canal de TV que me satisfizesse. Estavam todos ali, mas eu é que não estava em condições de assistir qualquer coisa.

    Poucos minutos se passaram desde que o doutor saíra do quarto até o instante seguinte, mas tive a impressão que foram várias horas. Sem nada para fazer e apreensivo, o tempo parecia não correr.

    Quando a porta se abriu novamente, duas coisas me chamaram a atenção. O senhor Aroldo estava do outro lado, mas pareceu não querer ser visto, porque tratou de dar alguns passos na direção do corredor quando me viu. Surgiu então aquela que seria minha única amiga naquele local.

    A moça alta de sorriso macio me deixou à vontade. Seus cabelos escuros me davam vontade de me engalfinhar neles e acariciá-los. Após entrar no quarto e fechar a porta, começou a conversar comigo:

    – Tudo bem, Ricardo? Parece que a partir de agora nos veremos bastante. Sou Márcia.

    Era a primeira vez que alguém me tratava como pessoa humana naquele local. Não foi difícil gostar dela.

    Além de me trazer algumas coisas – revistas, alguns brinquedos e outras coisinhas – Márcia me explicou porque eu estava ali e o que iria acontecer comigo.

    Sempre sorrindo, a moça tomou meu braço direito – o que apresentava as maiores deformações e perguntou se eu gostaria de ter corrigidas aquelas deformidades. Eu não sabia o que era ter um braço normal, já que havia nascido daquele jeito, mas respondi que sim.

    Márcia me explicou então que eu iria ser submetido a um tratamento que iria me deixar igual às outras pessoas, ou talvez um pouco melhor. Eu não compreendi tudo que ela falou, mas fiquei satisfeito só pela forma como ela falava.

    A mim tudo parecia tranquilo. A minha inocência infantil não poderia prever o que estava por vir. Dessa forma, me entreguei aos cuidados da moça de cabelos macios, que tanto me encantara.

    Ficamos ali conversando por várias horas. Minha mente de criança estava cheia de perguntas, que poderiam parecer tolas, mas que significavam muito para mim. Márcia respondeu todas com uma paciência que nem minha mãe tinha comigo.

    Quando eu demonstrei estar satisfeito, ela acionou um botão numa caixinha na parede. Uma voz saiu da caixinha. Márcia pediu então para que preparassem algo para comermos. E na hora certa. Meu estômago começava a pedir algo e eu só dei conta disso quando ela falou em comida.

    Dali a pouco percorríamos os corredores do prédio, indo em direção à cantina. Acho que somente hoje é que percebo que não vi muitas pessoas naquela instituição. Os longos corredores estavam vazios e a cantina enorme, continha apenas mesas vazias. Uma mulher gorda serviu-nos uma comida gostosa, que comi com prazer.

    Márcia me acompanhou, mas comeu muito pouco. Mesmo criança, pude perceber naquele instante porque ela era tão magra. Sorri e lhe disse o que pensava. Ela me retribuiu o sorriso sem dizer nada.

    Depois de comer, fomos passear pelo prédio da instituição. Márcia me mostrou os locais aonde eu poderia ir para me divertir, para fazer uns exercícios físicos e coisas assim. Mostrou-me também as portas que eu não deveria abrir, ou seja, os locais proibidos para mim. O que haveria nesses locais? Creio que até hoje eu não saiba.

    Quando finalizamos o passeio, já era noite alta e eu estava cansado. Fui então conduzido ao meu quarto. No dia seguinte eu deveria fazer os primeiros exames para o meu tratamento.

    IV

    Primeiro vieram os remédios. Comprimidos, injeções, líquidos... Acho que tomei mais remédios naqueles primeiros meses que em toda a minha vida que se seguiu. Depois foi a vez dos exames. E como eram numerosos! Perdi a conta de quantos exames fiz ali.

    E a primeira cirurgia que sofri foi na mão esquerda. Não sei quanto tempo levou tudo. Só sei que, quando acordei, já no meu quarto, estava com a mão toda enfaixada. Apesar disso, pude ver que algo estava diferente. Não se percebia, por debaixo das faixas a deformidade que me acompanhava desde meu nascimento.

    À medida em que as horas avançavam e o efeito da anestesia foi passando, comecei a sentir fortes dores. Era como se uma lâmina de metal atravessasse minha mão. Eu me queixava das dores com Márcia, que procurava me consolar. Mas os médicos não permitiam que ela me desse remédios para a dor. Nunca consegui entender a razão disso.

    Após uns dois dias, o doutor veio ao meu quarto, acompanhado de uma enfermeira para retirar as faixas que envolviam minha mão. Eu ainda sentia dores, mas elas eram menos intensas.

    Quando o último pedaço de tecido foi retirado, pude ver o que havia sido feito em mim e fiquei meio chocado. Uma placa metálica cobria o dorso da minha mão. Ao que pude perceber, ela realmente penetrava a pele.

    O doutor examinou minha mão e, ao que parece, ficou satisfeito. Disse à enfermeira alguma coisa, mas eu não entendi quase nada. Somente uma palavra me chamou a atenção, exatamente por não conhecer seu significado: exoesqueleto. O que era aquilo? Márcia também não soube me explicar.

    Alguns meses se passaram. Eu não sentia mais dores e cheguei a pensar que o pior já havia passado. Apesar disso, os remédios continuavam.

    Comecei a estudar na próprio instituto. Eram aulas iguais às de qualquer escola, exceto pelo fato de que eu não tinha colegas.

    Aliás, durante todo o tempo em que fiquei no instituto, me senti muito só. Márcia estava sempre presente. Às vezes me levava à cidade. Eu gostava de ir ao parque, mas não podia ir lá sempre que queria. Sempre havia os exames.

    Dona Marli me visitava uma ou duas vezes por mês. Na maior parte das vezes ela vinha em companhia do motorista. Poucas vezes eu via o senhor Aroldo e quando isso ocorria, ele estava sempre com aquela cara séria.

    Às vezes eu recebia presentes de dona Marli. Um dia ela me trouxe uma caixa quadrada. O que seria aquilo? Abri o pacote e me deparei com uma coleção completa de DVD's de uma série de ficção científica que eu não conhecia.

    Tão logo dona Marli se despediu de mim, coloquei o primeiro DVD no aparelho para ver o primeiro episódio. Gostei tanto, que assisti também os dois seguintes no mesmo dia. A partir dali, eu brincava que o instituto era a nave e eu o capitão. Até arranjei um posto para Márcia. E na minha imaginação de criança, o doutor e os homens de terno, que sempre andavam pelos corredores, eram os alienígenas e outros seres que eu via na série.

    Os meses iam passando. Eu ainda não conseguira ver nem a metade dos DVD's quando chegou o dia da segunda cirurgia. Eu tremi de medo quando me disseram que seria a vez do braço direito.

    – Vai doer como na outra vez, doutor? – perguntei.

    – Não se preocupe com isso, Ricardo.

    Como sempre, o doutor dava respostas curtas que não diziam muita coisa. Acho que ele não gostava de mim.

    Quando me despertei, vi que todo o braço direito estava enfaixado.

    E dessa vez a recuperação foi mais demorada.

    As dores que senti eram insuportáveis. Não fosse a presença de Márcia eu não teria aguentado.

    Quando chegou o dia de tirar as faixas, eu quase morri de susto quando vi aquilo. Se fiquei chocado com a placa de metal na mão esquerda, agora quase caí para traz.

    Uma peça de metal por cima e por baixo do antebraço. A mão parecia não ter mais ossos. Eram pedaços de metal, tanto na palma, quanto no dorso. Os dedos também receberam sua porção de implantes daquele tipo.

    Depois de ver os DVD's que ganhara de dona Marli, fiquei imaginando se aquelas pessoas estavam querendo me transformar num daqueles seres meio homem, meio máquina que eu via nos episódios da série. Cheguei a perguntar isso ao doutor, mas ele pareceu não saber do que se tratava. Nunca havia visto sequer um episódio da série.

    Queixei-me com Márcia sobre tudo o que eu estava sofrendo e ela me explicou, com a paciência de sempre:

    – Você não precisa ficar assustado, Ricardo. Veja seu braço. Percebe que agora ele não está mais torto como antes?

    Meu assombro com os pedaços de metal que saíam de dentro da pele foi tanto que eu nem me dera conta disso.

    Depois de algumas semanas de fisioterapia, eu já podia mexer normalmente o braço. Mais algum tempo e eu já o utilizava para pegar coisas e até para escrever.

    Certa vez o doutor veio ao meu quarto com uma bolinha de tênis e pediu-me para apertá-la, demonstrando antes como fazê-lo. Tomei a bolinha e, para meu espanto, a mesma se rompeu quando fiz pressão. O doutor pareceu não se importar com isso.

    Ao final de um ano eu já podia utilizar meu braço direito e minha mão esquerda da mesma forma que uma outra pessoa qualquer. Eu achei que estava terminando o tratamento. Como me enganei...

    V

    Num dia frio de julho daquele ano, o doutor veio a mim e me disse que era o momento de mais uma cirurgia. Embora eu não gostasse das cirurgias por causa das dores, fiquei satisfeito ao saber que meus problemas de respiração iriam cessar. Era a vez dos pulmões serem operados.

    Realmente as dores foram menores dessa vez. E não ficou nenhum metal visível. Depois de muita insistência minha, o doutor me explicou que havia instalado alguns aparelhos para auxiliar meus pulmões fracos. Mas eram aparelhos de alta tecnologia que me proporcionariam uma capacidade até maior que as outras pessoas. Na época eu não entendi direito o que aquilo significava. Levei vários anos para perceber do que se tratava.

    E quando achei que tudo voltaria ao normal para mim, chegou o momento da cirurgia da coluna. Eu tinha então pouco mais de dez anos.

    Creio que, de todas as cirurgias por que passei, aquela tenha sido a pior. Mas foi também a que me deixou com uma aparência mais perto do normal. Eu agora não era mais aquela coisa feia, encurvada que nem sequer podia andar de pé sem ajuda.

    Meses depois eu já andava normalmente e até mesmo corria. Ao cabo de uns dois anos, o pessoal do instituto tinha dificuldade de me alcançar quando eu resolvia correr de verdade.

    Os anos foram passando e eu continuava ali, no instituto. Um dia perguntei a dona Marli quando eu poderia sair daquele local. Expliquei-lhe que me sentia só a maior parte do tempo, mesmo tendo Márcia ao meu lado. Eu já estava entrando na adolescência e até então minha vida se resumia ao instituto e uns poucos passeios pela cidade. Sem amigos, sem família...

    Vi que lágrimas brotaram nos olhos de dona Marli, mas ela não pôde

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