O Tratado: Entre o Amor e o Egoísmo
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Sobre este e-book
Jessica O. M. Prioli
Brasileira, nascida em 1990, casada e grande consumidora de livros.Mesmo trabalhando como uma profissional da área da Tecnologia da Informação, Jessica se aventura escrevendo histórias, composições musicais e tutoriais nas áreas de música e tecnologia.
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O Tratado - Jessica O. M. Prioli
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, não porque normalmente seja um cliché dizer isto em todos os agradecimentos, mas porque creio que Ele é o centro de tudo, criador de tudo, que mantém tudo e que sustenta todo o Universo. Sem Ele eu não seria nada do que sou, não estaria onde estou e não teria nenhum sentido pensar em um futuro onde Ele não esteja.
Agradeço aos meus pais por toda dedicação. Por sempre me incentivarem em toda criação minha e por sempre acreditarem que eu posso ser sempre uma pessoa melhor. Obrigada mãe por ter me ensinado a ler e a escrever quando eu ainda tinha três anos de idade, me incentivando a exercer minha curiosidade em aprender e ler tudo o que eu via pela frente.
Agradeço ao meu marido, que sempre me apoia em tudo o que eu faço. Somos uma equipe e tanto. Talvez a melhor que eu já tenha visto até hoje.
Agradeço à minha irmã que lia cada capítulo que estava sendo escrito antes mesmo da história ter um fim. Se este livro for um sucesso, ela é tão responsável quanto eu, porque ela estava sempre me dando um feedback de como a história estava ficando, se ela estava gostando, pontos positivos e negativos que foram ouvidos e colocados em prática a fim de que a história pudesse agradar não só ela, mas vários outros leitores.
Agradeço a você, que está lendo este livro. Demorei cerca de três anos para terminá-lo, porque muitas coisas aconteceram dentro deste período que me fez adiar sua escrita por várias vezes. Espero que goste e que esta seja apenas uma das muitas histórias minhas que você tenha vontade de ler.
A Autora
Calúnia
Acordo assustado, com meus dois irmãos mais novos pulando na minha barriga em plenas 4:30hs da madrugada. Eles estão eufóricos e eu demoro pra perceber o motivo de tudo aquilo.
- Vamos, Anthony! Está chovendo!
Me levanto imediatamente e corremos para o quintal, com vários baldes, vasilhas e recipientes e armazenamos toda a água que conseguimos. Não chovia há meses e por diversos problemas políticos, o sistema de abastecimento de toda a região tinha sido cancelado. Não costumamos ter muito para comer, conseguimos comprar algumas coisas com uns mercadores que passam por aqui semanalmente, mas temos muita dificuldade nos pagamentos, porque apenas eu e minha mãe trabalhamos em casa, já que meu pai nos deixou há muitos anos, quando resolveu se alistar no Tratado do Reino.
Meu nome é Anthony Crasso, tenho 15 anos, moro com minha mãe e dois irmãos mais novos, Ítalo de 10 anos e Cármen de 8. Trabalho como carpinteiro desde os 12 anos, junto ao Seu Gérson, um senhorzinho de 84 anos de idade, que me ensinou a profissão.
Todo o problema que sofremos hoje começou há 5 anos, quando Kleber Marques assumiu o governo e fez da nossa região uma espécie de aldeia esquecida e desmembrada do restante da nação. A ideia era criar uma espécie de reino, onde as pessoas não poderiam mais possuir grandes indústrias, grandes empresas e comércios. Algumas pessoas conseguem viver bem, mas para isto devem se alistar no Tratado e isto significa abandonar tudo e todos os que você possui para viver no sustento do governo. Não podemos sequer rever estas pessoas, pois a Cidade do Tratado fica afastada e cercada por uma grande muralha onde ninguém sai, senão por ordem estrita do General Marques.
Minha mãe sempre acreditou que tudo isto era errado e que deveríamos continuar com nossas vidas sem que fosse necessário abandonarmos uns aos outros e eu também acredito nisto. Do que adianta termos uma vida melhor se não podemos ter um ao outro? As pessoas do Tratado recebem comida, roupas, moradia, mas nada é deles de fato. Eles recebem tudo em troca de lealdade
incondicional ao Reino.
Recolhemos água suficiente para bebermos durante mais alguns dias. Precisamos economizar em tudo, já que as outras famílias que estavam fora do Tratado também estavam passando necessidades e muitas não compravam mais nenhuma mobília. De vez em quando eu consigo vender alguma coisa para os mercadores, mas se as coisas continuarem assim, não sei quais serão minhas opções.
Voltamos a deitar por pouco tempo. Logo pela manhã eu já tenho que me levantar, colocar um casaco mais grosso e ir até a floresta para apanhar madeira. O Seu Gérson já não aguenta mais com a parte pesada do serviço e então eu faço sozinho.
Chego na carpintaria e as luzes estão todas apagadas, a porta está trancada e
não vejo ninguém por perto, chamo pelo Seu Gérson, mas ele não parece me escutar.
Com um tronco mais grosso, tomo impulso e consigo abrir a porta. Entro de cômodo em cômodo e não consigo acreditar no que vejo. Bem ali, na minha frente, o pobre senhorzinho, estirado no chão, sem respirar.
Sinto uma mistura de sentimentos, um nó na garganta, uma vontade desesperada de chorar, não sei se saio correndo para avisar alguém, tudo é tão novo, tão doloroso.
Deixo toda a madeira amontoada dentro da casa, com muita dificuldade coloco o corpo sobre a cama e saio da casa à procura de alguém que pudesse fazer algo. Minha mãe tinha saído para procurar algum alimento e levou meus irmãos com ela. Sem ter quem me socorresse, construo um simples caixão com a madeira que eu apanhei, cavo um grande buraco e enterro o Seu Gérson da forma mais digna que consigo.
Não sei se agi da forma mais correta, mas depois disto resolvo ir para casa, minha mãe está demorando muito para voltar e o aperto no peito me deixa cada vez pior.
Escuto um barulho de passos perto da minha porta e corro para ver. Três homens entram em minha casa perguntando sobre o Seu Gérson. Eu tento explicar que o encontrei morto, mas eles não parecem me escutar. Amarram minhas mãos e pés e colocam uma fita sobre minha boca para que eu não conseguisse gritar. Disseram que eu deveria ir a julgamento, mas eu sequer podia explicar o que tinha realmente acontecido. Minha mãe deve estar voltando e eu não posso dizer onde estou e com quem estou.
Me deitam em cima de uma carroça cheia de feno e eu não consigo mais acompanhar o trajeto. Eu me sinto tão mal que ainda não consigo imaginar o que pode estar por vir, não conheço ninguém que um dia tenha passado por um julgamento, eu não sabia nem que tínhamos leis para seguir, já que não estávamos envolvidos no Tratado. Espere, o Tratado, será que eles estão me levando para ser julgado pelo General Marques?
Interrogatório
Escuto vozes, muitas vozes, mas não consigo identificar o que tanto falam, mas temo que eu seja o assunto principal. Meu corpo dolorido por ficar tanto tempo na mesma posição e este cheiro de feno está ficando insuportável.
De repente, a porta traseira da carroça é aberta e vejo duas pessoas com capuzes escuros. Eles me tiram da carroça e abrem um alçapão que estava logo ao lado, descem uma grande escada de madeira, me levando em seus braços e seguem até um longo corredor escuro. Ao final do corredor, uma porta estreita de madeira é aberta e uns dois ratos saem de dentro dela. Eles me deixam dentro de um tipo de calabouço e depois vão embora num silêncio assustador.
O lugar era iluminado apenas por um pequeno buraco no teto. Fiquei imaginando como deveria ser ali dentro durante a chuva. Ao redor muita sujeira e umidade, eu sequer conseguia um espaço para me deitar e dormir.
Horas depois, quando já não havia mais luz entrando pelo buraco e o silêncio passava a ser ensurdecedor, escuto vários passos vindo pelo longo corredor e eles se aproximam cada vez mais rápido. Logo a porta é aberta e cerca de quatro homens entram e prendem algumas correntes em meus braços e no meu pescoço. Eu devo ser mesmo uma ameaça muito grande para precisar de tanta segurança.
Sou levado, puxado pelas correntes, através daquele mesmo caminho que conheci: o longo corredor, as escadas de madeira, que agora parecem ainda mais frágeis com tantas pessoas subindo ao mesmo tempo e o alçapão.
É no momento em que saímos ao ar livre que começo a perceber onde eu estava. Mesmo com a escuridão da noite, o local era todo iluminado por grandes tochas, haviam vários quarteirões com casinhas iguais por todos os lados, era possível notar a sombra de muros altíssimos ao redor de tudo. Imagino que aqui tenha horário máximo para a locomoção nas ruas, porque apenas aqueles quatro homens e eu estávamos caminhando. Mas onde estávamos indo? Seria aquele o reino do General Marques? Pode até parecer um pouco com o que eu imaginei, mas onde estaria o seu castelo? Impossível imaginar que um homem tão poderoso morasse em casas tão símplices.
Quando nos aproximamos das muralhas percebo que apenas uma das casas estava iluminada e saia uma leve fumaça pela chaminé. Nos aproximamos daquela casa lentamente. Havia uma coroa desenhada na porta da casa que era cortada por uma espada na diagonal. Abaixo da figura havia uma placa dourada com a escrita Casa 01. Os homens que estavam comigo bateram levemente na porta que se abriu em instantes. Dela saiu um senhor de baixa estatura, olhos ternos, cabelos grisalhos até os ombros, vestido de roupas elegantes e discretas.
Este nos encarou com um sorriso e nos convidou para entrar em sua sala de estar, onde nos serviu pão e chá. Fazia tanto tempo que eu não comia tão bem, que foi inevitável repetir.
Enquanto estávamos comendo, o senhorzinho me olhou no fundo dos olhos e
começou a conversar:
- Você sabe quem é Gérson Marques?
Eu fiquei assustado com a pergunta. O nome Gérson me parece familiar, mas não sei ao certo qual era o seu sobrenome.
- Eu conhecia um senhor chamado Gérson, mas não sei se o sobrenome dele era Marques. Ele era carpinteiro e me ensinou a profissão. - disse