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Histórias De Fantasmas De Um Antiquário
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E-book218 páginas3 horas

Histórias De Fantasmas De Um Antiquário

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Sobre este e-book

Este livro é uma versão em língua portuguesa das histórias sobrenaturais do volume Ghost Stories of an Antiquary, de autoria de Montague Rhodes James (M. R. James). O volume contém as seguintes histórias: Recados do Cânone Alberico, Corações Perdidos, A Gravura em Meio-Tom, O Freixo, Número 13, O Conde Magnus, Oh, Assobie, e Irei até Você, meu Rapaz!, e O Tesouro do Abade Thomas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de fev. de 2021
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    Histórias De Fantasmas De Um Antiquário - M. R. James

    capa_ogrunge.jpg

    Sumário

    Capa

    Título

    Info. Técnicas e Legais

    Prefácio

    RECADOS DO CÂNONE ALBERICO

    CORAÇÕES PERDIDOS

    A GRAVURA EM MEIO-TOM

    O FREIXO

    NÚMERO 13

    O CONDE MAGNUS

    OH, ASSOBIE, E IREI ATÉ VOCÊ, MEU RAPAZ!

    O TESOURO DO ABADE THOMAS

    Sobre o Autor

    Sobre o Tradutor e Editor

    *****

    capa_ogrunge.jpg

    Título original: Ghost Stories of an Antiquary

    Autor: M. R. James (Montague Rhodes James)

    Ano de publicação: 1904

    Língua: Inglês

    Copyrigth desta edição brasileira © 2020 Silvio Sergio Pacheco Sampaio

    Imagem de Capa: by Jaredd Craig on Unsplash.

    1ª edição 2020.

    James, Montague Rhodes

    Histórias de fantasmas de um antiquário - volume 1 / Montague Rhodes James / Tradução: Silvio Sergio Pacheco Sampaio - - 1ª Edição – Rio de Janeiro: ______, 2020 p.: ebook.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou utilizada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, sem autorização expressa, exceto breves citações em resenhas críticas ou artigos de revistas e periódicos.

    Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens e eventos retratados neste trabalho são resultados da imaginação do autor ou utilizados em contexto fictício.

    PREFÁCIO

    Se alguém estiver curioso sobre os cenários que utilizei nas histórias, registro que St-Bertrand-de-Comminges e Viborg são lugares reais. No conto Oh, Assobie, e Irei até Você, meu Rapaz!, tinha Felixstowe em mente. Quanto aos fragmentos de erudição ostensiva espalhadas nas minhas páginas, quase nada neles não é ficção: nunca existiu, naturalmente, qualquer livro como o que cito em O Tesouro do Abade Thomas, por exemplo. O Livro de Alberico de Mauléon (Recados do Cânone Alberico) foi escrita em 1894 e impressa, logo após, na revista National Review; Corações Perdidos apareceu na publicação Pall Mall Magazine; e as cinco histórias seguintes, a maioria das quais foram lidas para os meus amigos em época de Natal na King's College, em Cambridge, só lembro que escrevi Número 13 em 1899, enquanto O Tesouro do Abade Thomas foi composta no verão de 1904.

    M. R. James

    *****

    Recados do Cânone Alberico

    St-Bertrand-de-Comminges é uma velha cidade nos sopés dos Pireneus, não muito longe de Toulouse e ainda mais perto de Bagnères-de-Luchon. Era o local de um bispado até a Revolução. Naquela cidade havia uma catedral notoriamente visitada por um grande número de turistas. Na primavera de 1883 um inglês chegou a esse lugar do velho mundo - mal posso dignificá-lo como cidade, pois não há nem um milhar de habitantes ocupando suas ruas. O inglês era um homem de Cambridge, tinha vindo especialmente de Toulouse para visitar a Igreja de St. Bertrand. Havia deixado dois amigos, que eram arqueólogos menos interessados do que o próprio inglês, no hotel em Toulouse, sob a promessa de se juntarem a ele na manhã seguinte. Meia hora na igreja iria satisfazê-los. Depois os três poderiam avançar em uma jornada rumo a Auch, a 116 km dali. Aproveitando o fato de ter chegado mais cedo que o esperado à Saint Bertrand, nosso amigo inglês se propôs a preencher um caderno e várias dezenas de plaquinhas em um exercício de descrição de cada recanto da igreja maravilhosa que domina a pequena colina de Comminges, além, é claro, de fotografar todos os perfis do templo. Na intenção de realizar o projeto de forma satisfatória, foi necessário monopolizar a atenção do sacristão da igreja para o dia todo. O bedel ou sacristão (prefiro a última denominação, por ser mais imprecisa...) foi convocado bruscamente por uma senhora, que é a dona da pousada do Chapeau Rouge, a comparecer à catedral. Quando chegou, o inglês encontrou nele uma interessante e inesperada figura a ser estudada. Não pela aparência pessoal pequena, franzina e enrugada do velho homem, pois ele era exatamente como dezenas de outros guardiões de igrejas na França, mas sim pelo curioso ar furtivo, ou melhor, oprimido, que ele tinha. O sacristão estava perpetuamente meio que olhando para trás, os músculos das costas e ombros pareciam estar debruçados em uma contração nervosa contínua, como estivesse esperando a cada momento ser agarrado, agredido, por um inimigo qualquer. O inglês não sabia como classificá-lo: se era uma criatura perseguida por um delírio fixo, alguém oprimido por um sentimento de culpa, ou um marido dominado pela mulher insuportável... As probabilidades, quando analisadas as opções acima, certamente apontaram para a última ideia, mas, ainda assim, a impressão transmitida foi a de um perseguidor ainda mais formidável do que uma mulher megera.

    No entanto, o inglês (vamos chamá-lo de Dennis) ficou tão profundamente concentrado na escrita em seu caderno, e também muito ocupado em fazer imagens com a câmera fotográfica, que só ocasionalmente direcionava o olhar para o sacristão. Nesses poucos momentos em que observava o velho homem, encontrou-o não muito distante: aconchegando-se contra a parede, ou sentado em uma das deslumbrantes tendas do coro da catedral. Após certo tempo, Dennis começou a ficar angustiado. Pensamentos confusos de que estaria impedindo o sacristão de fazer o desjejum, ou que o homem desconfiava que pudesse tirar alguma das belas esculturas sacras de marfim de St. Bertrand, ou ainda, que fugiria com o crocodilo de pelúcia empoeirado e abandonado sobre a fonte da igreja, começaram a atormentá-lo.

    - Você não vai voltar para casa?, disse, por fim. Posso terminar minhas notas sozinho, se quiser pode me trancar aqui. Precisarei de pelo menos duas horas ou mais neste local, e meu trabalho deve estar sendo bem chato para você, não é?

    - Deus do céu! disse o homem. A sugestão pareceu causar-lhe um terror inexplicável. Parou para refletir por um momento e disse: Deixar o senhor sozinho na igreja? Não, não! Duas horas, três horas... tanto faz para mim. Tomei um bom café da manhã, e não estou chateado com seu trabalho. Meus agradecimentos por sua preocupação.

    - Muito bem, meu homenzinho, você foi avisado e deve assumir as consequências, pensou Dennis.

    Antes do término das duas horas, as tendas do coro, o enorme órgão malconservado, o quadro do bispo John de Mauléon na área do coro, os coloridos vitrais, a tapeçaria e todos os objetos valiosos espalhados pelo edifício e na câmara do tesouro estavam bem e verdadeiramente examinados, catalogados. O sacristão ainda se mantinha nos calcanhares de Dennis e de vez em quando dava palmadas no ar, como se tivesse sido picado, quando ouvia um ou outro dos estranhos ruídos que acometem um grande edifício vazio. Eram muitas vezes ruídos um tanto quanto incomuns.

    - Uma vez, poderia jurar que ouvi uma voz fina, de tom metálico, rindo no alto na torre da igreja. Olhei curiosamente para o sacristão. Ele estava com os lábios brancos, disse-me Dennis.

    - É ele... que é... é ninguém, a porta está trancada, foi tudo que disse o sacristão, e nos olhamos por um minuto inteiro sem palavras ditas.

    Outro pequeno incidente deixou Dennis ainda mais perplexo, quando estava examinando um grande quadro negro atrás do altar - um de uma série de quadros que ilustram os milagres de St. Bertrand. A composição da imagem era quase indecifrável, mas, na parte baixa da moldura, havia uma inscrição latina que dizia o seguinte:

    Qualiter S. Bertrandus liberavit hominem quem diabolus diu volebat strangulare (Como St. Bertrand libertou um homem a quem o Diabo procurava para estrangular.)

    Dennis se voltou para o sacristão com um sorriso e sussurrou um comentário jocoso qualquer em seus lábios. Porém, ficou desconcertado ao ver o velho homem de joelhos, olhando para a foto de maneira suplicante, quase em agonia, as mãos firmemente apertadas e uma torrente de lágrimas no rosto. Dennis naturalmente fingiu não perceber nada, mas os questionamentos sobre o que acabara de presenciar não se demoraram a espocar em sua mente: Como uma pintura tão amadora conseguiria afetar alguém tão fortemente? Será algo maligno representado neste quadro? Será alguma espécie de santo?. O escrito em latim poderia ser a pista para a razão da postura estranha do sacristão, que o intrigara o dia todo. O homem deve ser um monomaníaco, mas qual seria sua monomania¹?.

    ¹ Monomania: alienação mental em que uma única ideia parece absorver todas as faculdades mentais do indivíduo. Paixão, ideia fixa, mania exclusiva.

    Eram quase cinco horas da tarde, o curto dia estava chegando ao fim, logo a igreja começou a se encher de sombras, enquanto os muito ruídos dos passos abafados e vozes falando ao longe, ainda assim perceptíveis durante todo o dia, sem dúvida por causa da maior atenção dada à audição provocada pelo ambiente lúgubre da catedral, tornaram-se mais frequentes e insistentes.

    O sacristão começou pela primeira vez a mostrar sinais de pressa e impaciência. Ele soltou um suspiro de alívio quando a câmera e o caderno de anotações foram finalmente embalados e guardados. Com pressa, chamou Dennis à porta ocidental da igreja, sob a torre. Era hora de tocar o Anjo. Puxaram a corda, relutantes, e o grande sino de Bertrand, no alto da torre, começou a falar e lançar sua voz entre os pinheiros e para baixo no vale. Sua voz era tão alta que estremecia as montanhas, convocando os moradores das colinas solitárias a se lembrarem, e repetirem, da saudação do anjo para Aquela a quem Ele chamou bendita entre as mulheres. Com isso, uma profunda calma caiu naquele instante sobre a pequena cidade, e Dennis e o sacristão saíram da igreja.

    Na soleira da porta voltaram a conversar:

    - O senhor parecia interessado nos velhos livros do coro na sacristia..., insinuou o sacristão.

    - Sem dúvida! Eu ia perguntar se existiria uma biblioteca na cidade..., respondeu Dennis.

    - Não, senhor. Existia a biblioteca da Capela de St. Bertrand, mas agora a cidade é tão pequena..., esclareceu o velho homem.

    Nesse momento o sacristão deu uma estranha pausa, como uma espécie de mergulho no inconsciente, depois continuou: Mas, se o senhor é amante de livros antigos, tenho em casa algo que eventualmente pode interessá-lo... é perto, não andaremos cem metros.

    De uma só vez todos os sonhos acalentados por Dennis de encontrar manuscritos inestimáveis em cantos inexplorados da França ressurgiram em sua mente, para morrerem de novo no momento seguinte: Provavelmente vai me apresentar um missal, um livro de orações estúpido impresso pela Plantin de Antuérpia, por volta de 1580... ou então, qual a probabilidade de que um lugar tão perto de Toulouse não tenha sido 'saqueado' há muito tempo por colecionadores?, pensou. No entanto, seria insensato não ir, irei recriminar-me muito caso recuse a oferta..., ponderou ainda preso em suas suposições.

    - Ok, vamos até lá, disse Dennis. Então eles seguiram para a casa do sacristão. No caminho, a irresolução curiosa e a determinação repentina do sacristão despertaram novamente a curiosidade de Dennis e este se indagou, de uma forma envergonhada, se o sacristão estava tentando de alguma forma obter vantagens dele por julgá-lo suposto homem inglês rico. Dennis cismou com a situação e começou a falar sobre amenidades com seu guia - diga-se, de forma bastante desajeitada - visando demorarem-se no percurso, e também falou sobre o fato de que esperava dois amigos para acompanhá-lo na manhã seguinte. Para sua surpresa, o anúncio pareceu aliviar superficialmente o sacristão da ansiedade que o oprimia.

    - Isso é bom!, disse o sacristão, com semblante radiante. Muito bom mesmo! O senhor viajar junto a seus amigos: estarão sempre por perto. Ter companhia numa viagem é algo bastante agradável, às vezes...

    A última frase parecia acrescida de uma reflexão tardia e, do mesmo modo, aparentava estender ainda mais a melancolia já presente no velho homem.

    Eles potencializaram o passo até a residência do sacristão, que era um pouco maior do que as moradias vizinhas. Era construída em pedra, com um escudo esculpido sobre a porta. O escudo era a marca de Alberico de Mauléon, descendente colateral do bispo João de Mauléon, conforme Dennis esclareceu-me. Este Alberico foi o cânon de Comminges entre 1680 e 1701. As janelas superiores do casarão foram tapadas, e também todas as frestas por onde se poderia observar o interior da construção. Assim como o resto de Comminges, o aspecto da habitação era velho e decadente.

    Chegando à porta, o sacristão fez uma pausa e disse:

    - Talvez... talvez, apesar de tudo, esteja eu agora tomando o seu tempo...

    - Nem um pouco. Tenho muito tempo livre. Nada para fazer até amanhã. Vamos ver o que você tem aí de interessante, respondeu Dennis.

    A porta foi aberta nesse momento, e uma pessoa olhou para fora, tinha um rosto muito mais jovial do que o sacristão, contudo, aquele mesmo olhar angustiante se mostrava presente - só que aqui indicava, não tanto por medo ou para a segurança pessoal, uma ansiedade aguda, uma preocupação com um terceiro não presente. Claramente o dono do rosto era a filha do sacristão, e, acrescentando mais um detalhe ao que descrevi, era uma menina muito bonita. Ela se animou consideravelmente ao ver seu pai acompanhado por um estranho, são e salvo. Algumas observações foram trocadas entre pai e filha, das quais Dennis só pegou essas palavras, ditas pelo sacristão: Ele estava rindo na igreja, palavras que foram correspondidas apenas por um semblante aterrorizado da garota.

    Um minuto depois estávamos na sala de estar da casa, um pequeno cômodo, de pé direito alto, chão revestido com pedras, cheio de sombras em movimento causadas pelo fogo queimando a lenha na grande lareira. O lugar lembrava vagamente um oratório por conta de um crucifixo que chegava quase até o teto de um lado da sala - a figura do santo foi pintada em cores naturais, e a cruz na cor preta. Sob esta estava uma arca de alguns anos de idade e muita solidez. Quando uma luminária foi trazida ao ambiente, e também cadeiras, o sacristão se dirigiu a esta arca, e a partir dela, com crescente excitação e nervosismo de Dennis, retirou um grande livro envolto em um pano branco com uma cruz rudemente bordada em fio tinto. Mesmo antes de a embalagem ser removida, Dennis começou a se interessar mais pelo objeto, devido ao seu surpreendente tamanho e forma: Muito grande para um simples missal, e não tem a forma de um livro de antífonas. Talvez, possa ser algo bom, afinal de contas..., pensou. Em seguida, o livro foi aberto, e Dennis finalmente percebeu que tinha algo muito melhor do que supôs antes. Diante dele estava um grande manuscrito, encadernado, provavelmente do final do século XVII, com as armas do cânon Alberico de Mauléon estampadas em dourado nas laterais. Deveria haver cento e cinquenta folhas de papel no livro, e em praticamente cada uma delas foi colocado um manuscrito iluminado. Dennis nunca tinha sequer sonhado encontrar algo assim tão exuberante. No início do fólio, dez folhas de uma cópia do livro de Gênesis, ilustradas com imagens, que não poderiam ser posteriores a 700 d.C. Mais adiante, um conjunto completo de imagens de um saltério, de origem inglesa, do melhor tipo que poderia ser feito no século XIII, e, talvez o melhor de tudo, havia vinte folhas de escrita uncial em latim, que, conforme indicado por algumas palavras vistas aqui e ali, deviam pertencer a algum tratado patrístico há muito desaparecido. Será que o volume poderia ser um fragmento de alguma cópia dos escritos de Papias, Sobre as Palavras de Nosso Senhor, que se sabe existiu por volta do século XII, em Nimes?* De qualquer forma, a decisão de Dennis já estava tomada: ele retornará à Cambridge com esse livro, mesmo que tenha que ordenar a retirada de todo o seu saldo no banco e ficar em St. Bertrand por mais alguns dias até o dinheiro chegar. Dennis olhou

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