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Memórias Do Menino Esquecido
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Memórias Do Menino Esquecido
E-book209 páginas3 horas

Memórias Do Menino Esquecido

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Sobre este e-book

Estas são as minhas MEMÓRIAS de menino esquecido pelas circunstâncias da vida. Tive de aprender a sobreviver e encontrar muitas perguntas e algumas respostas. Refletem o que eu vi e senti, então é pessoal e intrínseco à minha natureza e outros poderiam pintar em cenário diferente. É uma obra literária, para rir das peripécias, ou entristecer-se com as infelicidades, mas sentir-se parte neste mágico túnel do tempo somente propiciado pelo encanto de um livro. Não são imaginárias. Aconteceram!... Todavia, por questões literárias, seria enfadonho explicar e detalhar as circunstâncias isoladas de cada acontecimento. Por exemplo, na narrativa número 10 - Frituras, eu realmente caí no tacho de gordura, cruzei com enorme medo a pastagem e tal qual relatado minha avó mineira fez as recomendações para o tradicional castigo. Entretanto, foram em intervalos separados por dias ou meses. Baseado neste mesmo critério, não obedeci a alguma sequência cronológica. Não é um diário. Por isso, procurei juntar os assuntos afins nas trinta e quatro narrativas. Venha comigo!... Vamos juntos percorrer esses caminhos!...
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jan. de 2022
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    Memórias Do Menino Esquecido - José Nunes Pereira Sobrinho

    MEMÓRIAS

    DO MENINO ESQUECIDO

    © Sobrinho, José Nunes Pereira. – Todos os direitos reservados, proibida a reprodução parcial, total ou cópia sem permissão prévia do Autor ou Editora.

    Revisão, Diagramação, Capa e Fotografia:

    JN Produções.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) - (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Memórias : Literatura brasileira 869.803

    Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

    INTRODUÇÃO

    Alguns antigos escritores cultuavam o dispensável hábito de permitirem longas apresentações onde mais exaltavam o ego do apresentador do que propriamente o livro. Isso quando não perdiam o precioso tempo do leitor em elogios vangloriosos ao autor. Então tenham os dedos das mãos quebrados quem ousar escrever esse tipo de apresentação neste livro!...

    Isso explicado, vamos a introdução. E estimo ser breve, pois é igualmente deplorável autores que praticamente escrevem outro livro na Introdução!... Cansam a paciência do leitor!...

    Estas são as MEMÓRIAS do menino esquecido pelas circunstâncias da vida, em seu universo infantil, obrigado a aprender pela dor, em realidade igual a vivida por milhões de crianças ao redor do mundo, enquanto os responsáveis seguem uma rotina questionável e não percebem as contradições de suas atitudes.

    Refletem o que eu vi e senti, então é pessoal e intrínseco à minha natureza. Mostram quais foram os meus sentimentos e sensações sob a ótica infantil, mas relatadas por linguagem adulta e o objetivo é destacar as incoerências que poderiam ser evitadas, principalmente castigos físicos em detrimento a algum ensinamento.

    Não são imaginárias. Aconteceram!... Todavia, por questões literárias, seria enfadonho explicar e detalhar as circunstâncias isoladas de cada acontecimento. Por exemplo, na narrativa número 10 - Frituras, eu realmente caí no tacho de gordura, cruzei o pasto tal qual relatado e minha avó mineira fez as recomendações para o castigo. Entretanto, foram em intervalos separados por dias ou meses.

    Baseado neste critério, não obedeci a alguma sequência cronológica. Não é um diário. Por isso, procurei juntar os assuntos afins. O período situa-se entre dois e dezesseis anos, mas precisei avançar no tempo para dar sentido ou complemento a algum relato.

    Também precisei envelhecer para conseguir a empatia necessária e não me passar por criança perseguida ou em apontar supostos culpados, pois todos os envolvidos foram vítimas do padrão comum e tiveram seus motivos. Exceto quanto ao caso do cabo de vassoura em Monte Castelo, nunca tive maldade e mesmo neste caso, pouco tempo depois sofri o mesmo revés.

    E alguma força superior ajudou-me a escrever, pois os assuntos foram revividos em minha memória de acordo com cada narrativa numa inexplicável sequência lógica como se já estivessem previamente escritos!... Em alguns casos, sequer com minha concordância. Por isso, escrevi as trinta e quatro narrativas em sessenta dias!...

    Além de propiciar reflexão quanto a critérios na educação infantil, na essência é uma obra literária!... Isso explicado, desejo a todos uma ótima leitura!

    Campo Grande MS, 10 de janeiro de 2022

    José Nunes Pereira Sobrinho.

    01 - O CORCEL

    Meu pai não tinha educação, ainda me lembro, era um grande coração. Ganhava a vida com muito suor e mesmo assim não podia ser pior. Pouco dinheiro pra poder pagar todas as contas e despesas do lar. (Titãs).

    Ontem recebi a notícia sobre um menino supostamente raptado em Naviraí MS, mas algumas horas depois ele voltou. Acho que foi dar um rolê.

    Em minha infância, aos nove anos, eu saia de manhã e voltava à tardinha, com sede e fome, todo sujo de jogar bola no campinho de terra, mas estava tudo bem. Normal naquela época. Hoje em dia, nem pode deixar o portão aberto, quanto mais deixar criança sozinha na rua.

    Lembrei-me de 1971 quando morei em Santa Cruz de Monte Castelo PR e um dia resolvi investigar porque passava tanto carro na rua de casa, se não era saída para nenhuma outra cidade, exceto alguma fazenda ao norte, apesar da existência do cinema duas quadras acima.

    Segui as marcas de pneus deixadas na poeira e após uma curva à direita, andei uns dois quilômetros até próximo a saída para Loanda PR. Cheguei a uma vila cheia de sorridentes mulheres nas portas e janelas!... Na verdade, voltei para casa sem entender o mistério.

    Tempos depois finalmente descobri!... Aquela vila tinha em toda cidade e com o apelido de ZBM!... Atualmente isso não existe mais. A internet ocupou a necessidade do espaço físico. Mas naquela época, por ser Zona de Baixo Meretrício, fico pensando no risco em aventurar-me àquele lugar, pois pedofilia sempre existiu. Só por Deus mesmo!...

    No final de 1971 minha família voltou para a cidade vizinha onde nasci, Santa Isabel do Ivaí PR e cinco anos depois, quando morava perto de um grande matão conhecido como duzentos hectares, era comum pegar o facão de meu pai e se aventurar naquela floresta, algumas vezes, juntamente com uma galera, conhecedora daquela região de ponta a ponta, cada trilha, cada pé de jabuticaba!...

    Conhecia também uma estradinha muito usada, a qual após uns cem metros terminava no nada, numa grande clareira circular no meio do mato!... E ao redor, em algumas sombras, as marcas de capim amassado para virar local de safadeza. Tinha até nome: Mocó!

    Um dia eu estava sozinho e resolvi verificar os ninhos de Assum Preto em uns pés de coco macaúba lá no final dessa estrada que cortava o tal duzentos hectares. E vi passar um belíssimo veículo, um Corcel vermelho novinho, coisa mais linda!... Dentro, um velho magro de bigode e uma sorridente mulher. Eles entraram na tal estradinha.

    Minutos depois cheguei à entrada e safadeza não poderia ser algo bom, então peguei a maior pedra do bornal, coloquei no estilingue, mirei o céu na direção da clareira e atirei!... Em seguida escutei o pipoco da pedra a bater justamente em cima do carro!... Eu não acertava nem passarinho a dez metros, como foi acontecer de acertar o Corcel?...

    E pensei: Estou morto! Sozinho na região, uns dois quilômetros de casa. Não tive dúvidas: Entrei no matão, pois conhecia uma trilha de pé de jabuticaba bem perto, cujo início do outro lado era menos de duzentos metros de casa!...

    O coração quase saiu pela boca, mas o engoli de volta e desembestei qual louco pelo mato, nem as moitas de arranha-gato me pararam!... E até hoje fico pensando na maldade que fiz com o velho!...

    A parte mais crítica estava por vir. Antes de chegar à saída, após quebrar cipó no peito por quase um quilômetro, resolvi examinar a situação na beira da rodovia que dava acesso a estrada do matão, pois chegara a uma trilha desconhecida de nossos mapas!...

    Todavia, ao sair da mata, dei de cara com a maior águia que eu tinha visto na vida! Era enorme!... Estava em cima de uma árvore quase seca e ficou a me encarrar!...

    De imediato pensei que o velho do Corcel era um bruxo e tinha se transformado em uma enorme águia para me pegar!... Deu até uma tremedeira nas pernas.

    De repente, a enorme águia – deveria ser da espécie harpia – saltou em minha direção!... Ou o velho era um bruxo poderoso ou jogou uma praga tão grande que uma harpia de outro mundo veio me pegar!...

    Minha salvação foi estar bem próximo da mata e voltei de imediato para a trilha!... A águia contornou a descida e seguiu em direção às fazendas do outro lado do matão. Acho que pegar bezerro era mais fácil!...

    Ela deve ter visto o alvoroço de minha fuga e achou que seria alguma caça!... Imagino que humanos não fizessem parte de seu cardápio, mas diante da frustração de não ser um animal, avaliou que o menino gordinho até daria uma boa refeição, ainda mais por enganá-la!...

    Aliás, tinha uma plantação esquisita nessa trilha, parecia milho novo, mas as folhas eram curtas e serrilhadas, nunca tinha visto esse tipo de milho. Além do mais, era uma plantação pequena, no meio do mato!... Coisa estranha e sem sentido.

    Enfim, andei pelo matão mais uns quinhentos metros e cheguei à trilha da galera, onde o grupinho fizera uma cabana e hoje aparenta ser a sede de uma fazenda ou o aeroporto da cidade. E nada do velho.... Será que ele sofreu um infarto e morreu?...

    Retornei para casa e por vários dias, além da escola, minha atenção foi unicamente jogar bola no areão da esquina de casa ou no campo de futebol da vila do D. E. R. – Departamento de Estradas e Rodagens.

    Foi assim que perdi a graça em caçar. Isso até dezembro de 1976 quando minha família se mudou para Naviraí-MS e dois anos depois comprei uma espingarda de pressão. Fiz muitas caçadas no Córrego do Touro e nas fazendas próximas.

    O motivo que me fez desistir do plano dos dezessete também me levou a trocar a espingarda por um gravador e encerrei esse ciclo!...

    02 - A GUERRILHA

    Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones. Girava o mundo, sempre a cantar, as coisas lindas da América!... (Engenheiros do Hawaii).

    Perdi a graça, mas não o gosto!... E também é preciso esclarecer que velho era qualquer pessoa com mais de quarenta anos e o bruxo do Corcel não era um ancião, pois sequer tinha cabelos brancos.

    O fato é que na quinzena seguinte coloquei o facão de meu pai na capa que eu mesmo costurara na máquina de costura de minha mãe, peguei o estilingue e voltei ao matão!

    Era questão de honra! Como poderia acertar um carro a cem metros e não acertar nenhum mísero Tico-Tico a cinco metros?... Todavia, por precaução, para não confessar o pavor, resolvi que iria caçar no lado oeste, na região da estrada para Loanda PR.

    Não era o domínio de minha atual galera, onde eu era o Zé Gordo. Aquelas bandas pertenciam à turma da região do ginásio de esportes, onde eu morara no início do ano e era conhecido como Zezé.

    Além do mais, a rivalidade do pessoal de Santa Isabel do Ivaí nem de longe espelhava a hostilidade das quadrilhas de Santa Cruz de Monte Castelo!...

    Ali sim a situação era sinistra! Chegavam a treinar Kung-Fu, andavam armados de cassetetes e lembro-me de uma batalha que testemunhei na quadra de esportes ao lado do colégio, onde cada grupo entrou por um portão e foi pedrada e estilingada para todos os lados!...

    Não foi à toa que fui suspenso da escola por trinta dias por inocentemente levar uma faca no estojo, mas era apenas para apontar o lápis!... A garota da música americana me entregou!... A mesma que depois reencontrei lá em Naviraí, mas essa é outra história!... Infelizmente com tanta confusão entre os jovens, a Diretora não quis saber de meus argumentos.

    Ela morava numa casa de esquina e eu na mesma rua, numa casa rosa, ao lado da casa do Alfredo, o filho de fazendeiro que havia me ludibriado a colocar em sua coleção o único carrinho de plástico que eu ganhara, após conhecer o Papai Noel.

    Dias antes da suspensão, a Diretora colocou a cabeleira cheia de bobes na janela e aos berros reclamou de nossa algazarra na rua.

    O Cacá baixou a cabeça e foi para casa, ainda mais que há pouco tempo o pai o deixara amarrado, sem roupas, num poste de balaústra, ao lado da casa da educadora, durante toda a noite!...

    Ninguém fez nada.... Foi o castigo mais constrangedor que vi na vida. Nessas horas, cada um cuidava de sua vida e ninguém se intrometia.

    O fato é que eu fiquei indignado e quando a Diretora reclamou de nossas brincadeiras, imediatamente mandei-a tomar cuidado, mas desconfio que ela escutou só a primeira sílaba...

    E por isso, seria muita inocência depois esperar ela aliviar a minha barra por causa de uma singela faca de dez centímetros e que eu trocara por um estilingue com um menino de uma das quadrilhas!...

    Eram vinte horas, chovia muito, mas eu permanecia firme entre a parede da casa e as goteiras, pois se entrasse, levaria uma surra pior do que o castigo do Cacá. Onde já se viu?!... Improperar a Diretora da escola!... Nesse dia eu aprendi que criança precisa ter palavra de honra, mas adultos não!... Enfim, depois eu conto essa história.

    Em Monte Castelo, um dos líderes era filho do dono da loja de venda de baterias, bem na esquina perto da praça da Igreja Matriz. Algum tempo depois a família dele também veio para Sansabel e lhe perguntei:

    – Qual o motivo de tanta rivalidade"?...

    – Não sei. – Ele respondeu: – Simplesmente foi assim...

    Em Sansabel a única rivalidade era no campo de futebol, de meu pessoal da região do D. E. R. (Letra por letra) – Departamento de Estradas e Rodagens, contra os carinhas da Vila do Sapo, lá na baixada do estádio municipal.

    A região central do matão contava com muitos pássaros. Era comum avistar Sabiás, Bem-te-vis, Gralhas, Sanhaços, Alma de Gato, Pombas, Coleirinhas, até Periquitos e Papagaios. Mas fui logo encontrar um dos pássaros mais bonito! Era um Sanguinho, também conhecido como Sangue de Boi, por sua plumagem vermelha e preta, tipo camisa do time do Flamengo!...

    Em casa existia um pequeno aviário. Não fora meu pai quem fizera. Já estava ali abandonado e arrebentado quando meu pai comprou a casa. E concertei as telas, reformei a portinha e até fiz uns poleiros. Faltava apenas uma ave de estimação para habitar o local, antes que minha mãe resolvesse encher com galinhas...

    Na primeira vez que entrei no matão da região central, entre várias trilhas, optei por uma não longa e não demorou muito a deparar-me com uma enorme arapuca e uma Gralha Azul dentro!...

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