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Aleluia!
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E-book107 páginas1 hora

Aleluia!

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Sobre este e-book

«Esses desconhecidos estão perto de nós. Gente que se reúne em caves, em garagens, em lojas suburbanas, para adorar a Deus. Gente que canta e que bate palmas, que proclama alto e bom som o amor a Deus. Gente que, no final, vem para a rua a sorrir. Gente que conhecemos mal.» Após anos de ligação a uma igreja neo-pentecostal, João afastou-se e, mais tarde, criou o seu ministério independente. Nuno estudou no seminário baptista mas, a certa altura, compreendeu que a religião organizada estava a matar a sua fé. Foi então que decidiu fazer uma mudança radical na sua vivência da espiritualidade. Aleluia! é o retrato urbano, pessoalíssimo, de uma nação de fés no plural, narradas na primeira pessoa por B., o guia desta demanda que talvez seja também a dele.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mar. de 2016
ISBN9789898838063
Aleluia!
Autor

Bruno Vieira Amaral

Bruno Vieira Amaral é escritor e cronista no Expresso. Publicou os romances As Primeiras Coisas (Prémio Literário José Saramago) e Hoje Estarás Comigo no Paraíso, um Guia Para 50 Personagens da Ficção Portuguesa e o livro de dispersos Manobras de Guerrilha. Para a coleção Retratos da FFMS, escreveu Aleluia!, reportagem-ensaio sobre minorias religiosas em Portugal. Em breve sairá a coletânea de contos Uma Ida ao Motel. Prepara atualmente uma biografia do escritor José Cardoso Pires, a ser publicada em 2021.

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    Aleluia! - Bruno Vieira Amaral

    Aleluia!

    «Esses desconhecidos estão perto de nós. Gente que se reúne em caves, em garagens, em lojas suburbanas, para adorar a Deus. Gente que canta e que bate palmas, que proclama alto e bom som o amor a Deus. Gente que, no final, vem para a rua a sorrir. Gente que conhecemos mal.»

    Após anos de ligação a uma igreja neo-pentecostal, João afastou-se e, mais tarde, criou o seu ministério independente. Nuno estudou no seminário baptista mas, a certa altura, compreendeu que a religião organizada estava a matar a sua fé. Foi então que decidiu fazer uma mudança radical na sua vivência da espiritualidade. Aleluia! é o retrato urbano, pessoalíssimo, de uma nação de fés no plural, narradas na primeira pessoa por B., o guia desta demanda que talvez seja também a dele.

    Bruno Vieira Amaral

    Bruno Vieira Amaral nasceu em 1978 e licenciou-se em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE. Em 2002, uma temerária incursão pela poesia valeu-lhe ser selecionado para a Mostra Nacional de Jovens Criadores. Colaborou no DN Jovem, na revista Atlântico e no jornal i. É crítico literário, tradutor e autor do Guia para 50 Personagens da Ficção Portuguesa e do blogue Circo da Lama. O seu primeiro romance, As Primeiras Coisas, foi distinguido com o Prémio Literário Fernando Namora e com o Prémio Narrativa do PEN Clube. É editor-adjunto da revista LER e assessor de comunicação das editoras do Grupo Bertrand Círculo.

    Retratos*

    * A colecção Retratos da Fundação traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem viu – e vê – de perto.

    Aleluia!

    Bruno Vieira Amaral

    logo.jpglogo.jpg

    Largo Monterroio Mascarenhas, n.º 1

    1099-081 Lisboa,

    Portugal

    Correio electrónico: ffms@ffms.pt

    Telefone: 210 015 800

    Título: Aleluia!

    Autor: Bruno Vieira Amaral

    Director de publicações: António Araújo

    Revisão de texto: Vasco Grácio

    Design: Inês Sena

    Paginação: Guidesign

    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e Bruno Vieira Amaral, Fevereiro de 2016

    Edição original – Fevereiro de 2015

    O autor desta publicação não adoptou o novo Acordo Ortográfico.

    As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.

    Edição eBook: Guidesign

    ISBN 978-989-8838-06-3

    Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt

    Para o João Leal

    Agradecimentos

    O Coliseu É Nosso!

    Caminhos

    Um fato demasiado apertado

    Depois do Deserto

    Deus em Casa

    Muros Invisíveis

    Novas Práticas

    Metáforas Imperfeitas

    Agradecimentos

    Agradeço a todas as pessoas mencionadas neste livro e que se disponibilizaram para me receber e falar comigo. Devo também um agradecimento a três pessoas que tiveram a generosidade de ler versões iniciais do texto e que me ajudaram com as suas sugestões pertinentes: José Rentes de Carvalho, Susana Moreira Marques e Nuno Quintas. Agradeço ao António Araújo o convite para participar neste projecto e por ter aceitado a minha proposta para o tema. O maior agradecimento tem como destinatário o João Leal. O livro é-lhe dedicado. Agradeço à minha família, à minha mulher e aos meus filhos, a quem roubei as horas necessárias para escrever o livro. Prometo devolvê-las assim que possível.

    Além de muitos artigos de imprensa que li durante o período de escrita, devo mencionar algumas obras que me foram muito úteis para enquadrar a questão das minorias religiosas em Portugal. Não sendo esta uma obra académica, a percepção teórica do panorama religioso em Portugal foi fundamental para compreender a dinâmica dos movimentos minoritários: Identidades Religiosas em Portugal, Alfredo Teixeira (org.), Paulinas, 2012; Na Posse da Palavra Religião, Conversão e Liberdade Pessoal em dois Contextos Nacionais, Clara Mafra, ICS, 2002; Da Torre de Babel às Terras Prometidas Pluralismo Religioso em Portugal, Helena Vilaça, Edições Afrontamento, 2006.

    Aos domingos, por volta do almoço, a casa agitava-se. Ouviam-se trombetas imaginárias convocando para a adoração ao Deus único e vivente. Estava quase na hora da saída, a avó voava pelos corredores, enervada, enquanto no quarto a mãe, perfumada, passava um lápis vaidoso e demorado pelos olhos. À mesa, insensível ao frenesim, o avô comia pão com conduto. B. andava por ali, empurrado da mesa da cozinha para o quarto onde a avó lhe enfiava um pulôver de decote em bico que deixava à vista uma horrível e cerimoniosa camisa aos quadrados. Depois, penteava-o à bruta, a resmungar, nos limites da violência, com um risco ao lado que lhe dava um arzinho de adulto a fingir, de rapazinho crescido. Por fim, vinham os sapatos de tacão, à velho, em que o pé teimoso só entrava com o auxílio da calçadeira. Ao andar pela cozinha, o temível e distinto barulho dos sapatos fazia-se ouvir, como se cada passo fosse um momento solene com direito a um som próprio. A avó continuava numa agitação imparável, aos gritos com ele por estar ali como um empecilho, com a mãe dele porque não se despachava e com o avô, bem, por assistir impassível e dominical àquele tumulto, à espera de que saíssem de casa para que ele se pudesse levantar, fosse, com toda a calma do mundo, para o clube ver a bola e, ao fim da tarde, jogar às cartas. Eram as roupas engomadas à pressa, nuvens de laca atiradas pelos ares, tudo misturado com o cheiro do cozido e o aroma dos grelhados de domingo. Finalmente saíam de casa numa correria para apanhar o autocarro das três. B. era destacado para ir à frente, «diz ao chófer para esperar um bocadinho», «a minha avó vem aí», e tinha de o fazer com todo o cuidado para não sujar os sapatos na relva, para não cair na lama, para não amarrotar a roupa e para não se despentear. Se isso acontecesse, a viagem de autocarro, que durava pouco mais de dez minutos, seria um inferno, com a avó a endireitar-lhe a camisa, a ajeitar-lhe o cabelo que «até dava nervos», a passar-lhe um guardanapo de papel para limpar os sapatos que já estavam «todos cagados, uns sapatos novos». Costumavam chegar atrasados ou mesmo em cima da hora ao Salão do Reino, tendo de pedir licença às famílias pontuais, que levantavam os humildes rabos de adoradores de Jeová com toda a má vontade e censura permitidas na casa do Senhor. Todos os olhos caíam sobre eles e a B. esses momentos de evidência doíam-lhe mais do que as duas horas de tédio que se seguiam.

    O Coliseu É Nosso!

    O mês começou igual a outros Agostos. Férias para a maioria dos portugueses que, encafuados num parque automóvel envelhecido, atravessavam o país rumo ao Algarve, onde eram esperados pelas águas tépidas, por compatriotas mais apressados e ingleses indefesos perante a beleza arquitectónica de Albufeira. Para trás, abandonadas e à mercê dos assaltantes sem tempo para férias, ficavam as casas próprias que já motivavam avisos nos jornais: «Famílias portuguesas cada vez mais endividadas». Os alertas da PSP para que os veraneantes redobrassem cuidados com a segurança das casas vazias apanhavam os portugueses já em trânsito.

    A ouvir no rádio Sheryl Crow a cantar D’yer Maker, eu estava a caminho da Zambujeira do Mar pré-Sudoeste, onde iria passar quinze dias naquele estado de dormência mais ou menos depressivo que caracteriza as verdadeiras férias de Verão. Para me entreter, levara três ou quatro livros da poesia de Fernando Pessoa e heterónimos e uma grande resistência ao tédio, mal de espírito que os portugueses começavam a combater com o auxílio da raspadinha, a novidade do ano de 1995. Com o país inclinado para Sul, o primeiro prémio de 5 mil contos (25 mil euros) saiu, sem surpresas, em Faro. O Jornal de Notícias aproveitava a edição de 1 de Agosto

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