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A economia das festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigência: um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)
A economia das festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigência: um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)
A economia das festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigência: um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)
E-book529 páginas6 horas

A economia das festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigência: um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)

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Sobre este e-book

As festas de devoção a Nossa Senhora do Rosário e aos santos negros São
Benedito e Santa Efigênia estão presentes em centenas de localidades mineiras desde
os tempos coloniais. A pesquisa do antropólogo Francimário Vito dos Santos convida-
nos a conhecer a dinâmica dos bastidores das festas de dois municípios vizinhos e
relacionados pelo trânsito de festeiros e grupos congadeiros. Os personagens dessas
festas são apresentados no entremeio do enredo anual de planejamento e preparação
das festas até o percurso pelas ruas e igrejas durante a temporada animada das
celebrações em Santo Antônio do Monte e Araújos, cidades do centro-oeste mineiro.
O caminho escolhido na pesquisa é a economia das festas, descrevendo as
ações e os sentidos envolvidos na circulação de dinheiro e trabalho mobilizados para
fazer acontecer os eventos de arrecadação das irmandades, os ensaios e as
apresentações dos numerosos grupos que tocam e dançam no reinado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2022
ISBN9786588547366
A economia das festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigência: um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)

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    Pré-visualização do livro

    A economia das festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigência - Francimário Vito dos Santos

    A ECONOMIA DAS FESTAS DE REINADO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, SÃO BENEDITO E SANTA EFIGÊNIA

    Um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)

    Francimário Vito dos Santos

    A ECONOMIA DAS FESTAS DE REINADO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, SÃO BENEDITO E SANTA EFIGÊNIA

    Um estudo comparativo em Santo Antônio do Monte e Araújos (MG)

    Belo Horizonte

    Editora PUC Minas

    2022

    © Francimário Vito dos Santos

    Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

    Grão-Chanceler: Dom Walmor Oliveira de Azevedo

    Reitor: Prof. Dr. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva

    Pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação: Sérgio de Morais Hanriot

    Editora PUC Minas

    Direção e coordenação editorial: Mariana Teixeira de Carvalho Moura

    Comercial: Paulo Vitor de Castro Carvalho

    Diagramação: Luiza Seidel

    Capa: Eduardo Ferreira

    Conselho editorial: Conrado Moreira Mendes, Édil Carvalho Guedes Filho, Eliane Scheid Gazire, Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros, Flávio de Jesus Resende, Javier Alberto Vadell, Leonardo César Souza Ramos, Lucas de Alvarenga Gontijo, Luciana Lemos de Azevedo, Márcia Stengel, Pedro Paiva Brito, Rodrigo Coppe Caldeira, Rodrigo Villamarim Soares, Sérgio de Morais Hanriot.

    Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

    Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086

    Editora PUC Minas

    Rua Dom José Gaspar, 500 – Prédio 6/Subsolo 3

    Coração Eucarístico – 30535-901

    Belo Horizonte – MG

    Fone: (31) 3319-4791

    editora@pucminas.br

    www.pucminas.br/editora

    Àqueles que vieram primeiro, meus ancestrais.

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço, primeiramente, às duas instituições que possibilitaram a realização da pesquisa mediante a concessão de bolsa de estudos: a Coordenação de Apoio de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

    À minha orientadora, professora Candice Vidal e Souza, pela dedicação, paciência e conexão amorosa com que conduziu todo o processo de orientação.

    Agradeço aos membros da banca de defesa, Lea Guimarães Souki (PUC Minas), Amauri Carlos Ferreira (PUC Minas), Patrícia Silva Osório (UFMT) e Luciana Chianca (UFPB), pela leitura cuidadosa.

    Agradeço à comunidade congadeira em Santo Antônio do Monte, pelos ensinamentos e acolhimento; ao presidente Dinho e sua diretoria; aos devotos e devotas com que convivi na cozinha do reinado; a todos os capitães e capitãs das congadas pela receptividade; e aos membros da corte real. In memoriam, agradeço a Seu Luiz do Tutu, Dona Fátima e Seu Toen Bem. Salve Maria!

    Agradeço especialmente aos irmãos congadeiros Geraldo, Fíim e Otaviano, pelas prosas sobre as festas de reinados do passado.

    Agradeço aos congadeiros e congadeiras, reis e rainhas, membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em Araújos, pela generosidade e disponibilidade.

    Agradeço também às amigas Andreia Mendes e Ana Oliveira, pelas leituras cuidadosas.

    Agradeço à amiga Corina Moreira, pelo acolhimento em Belo Horizonte.

    Agradeço a melhor instrutora de yoga, Natashi Santos (in memorian), por ter me proporcionado momentos de conexão plena entre corpo e mente durante a escrita do texto.

    Agradeço à minha família, em especial à Maria Letície, pelo apoio incondicional e fonte de incentivo; e ao companheiro Yves, pela presença amorosa e paciência, tudo isso, tornou a jornada mais leve e florida.

    Por último, agradeço aos amigos e amigas santo-antonienses: Leila, Cinara, Cristiane, Viviane, Moises, Alexandre, Júnia, Magna e Dona Regina (rezadeira – in memoriam). Cada um, do seu jeito, ao relatar suas vivências reinadeiras, conduzia-me para conhecer mais sobre a festa. Agradeço, ainda, à Eloisa Borges, pelos diálogos e insights e Marina Vilaça pelas contribuições na produção dos mapas.

    LISTA DE IMAGENS

    Imagem 1 - Mapa de localização do contexto da pesquisa

    Imagem 2 - Congada do Vilão de Varinha

    Imagem 3 - Congada Congadeiros de Maria ou Congada do Tostão

    Imagem 4 - Banquete de santos reis na roça

    Imagem 5 - Congadeiros mais antigos em atividade no reinado em Santo Antônio do Monte

    Imagem 6 - Reinício do Reinado em Santo Antônio do Monte

    Imagem 7 - O bandeireiro Geraldo e o capitão da Congada do Pedrinho

    Imagem 8 - Congadeiro Seu Otaviano

    Imagem 9 - Congadeiro Fiím ao lado do altar e sua residência

    Imagem 10 - Capitão-mor do reinado em Araújos – Toen Bem

    Imagem 11 - Equipe de voluntárias(os) da cozinha durante o reinado

    Imagem 12 - Especialistas em comida reinadeira

    Imagem 13 - Preparativos para o almoço beneficente de 2019

    Imagem 14 - Preparo, cozimento e armazenamento das carnes

    Imagem 15 - Vista panorâmica da cozinha

    Imagem 16 - A transformação do feijão em tutu

    Imagem 17 - O canalzinho – acerto do ponto do tutu

    Imagem 18 - Montagem, entrega e comercialização das marmitas

    Imagem 19 - Objetos usados no jogo de truco

    Imagem 20 - Comidas comercializadas durante o festival

    Imagem 21 - Mastros do Reinado em Santo Antônio do Monte e Araújos

    Imagem 22 - Mordomos com suas bandeiras antes da cerimônia de levantamento dos mastros

    Imagem 23 - Detalhes do levantamento das bandeiras

    Imagem 24 - Dirigentes da Congada São Benedito (mãe e filha)

    Imagem 25 - Mapa trajeto do cortejo de transladação de Nossa Senhora do Rosário até a Matriz de São Sebastião

    Imagem 26 - Os irmãos congadeiros Pedrinho e Tostão

    Imagem 27 - Mapa trajeto do cortejo do primeiro dia de reinado

    Imagem 28 - Cortejo reinado e o Moçambique

    Imagem 29 - Membros da corte real

    Imagem 30 - Objetos do reinado

    Imagem 31 - Ritual de saída da congada

    Imagem 32 - Os irmãos Fiím e Otaviano

    Imagem 33 - Almoço no salão do reinado

    Imagem 34 - Agradecimentos à rainha festeira no palco

    Imagem 35 - Mapa das espacialidades da festa de reinado em Santo Antônio do Monte

    Imagem 36 - Mapa trajeto do cortejo do segundo dia de reinado

    Imagem 37 - Reis e rainhas festeiros entregando suas coroas

    Imagem 38 - Devota beijando a bandeira durante a passagem do terno

    Imagem 39 - Concentração das congadas e formação do cortejo

    Imagem 40 - Mapa trajeto do cortejo do terceiro dia de reinado

    Imagem 41 - Detalhes do rito de coroação dos reis e rainhas

    Imagem 42 - Coroas de rainha festeira do reinado em Santo Antônio do Monte

    Imagem 43 - Coroa de festeira vitalícia do reinado em Araújos

    Imagem 44 - Criança recebendo a coroa de rei festeiro

    Imagem 45 - Mapa trajeto do cortejo e das espacialidades da festa de reinado em Araújos

    Imagem 46 - Banquete de café da manhã comunitário

    Imagem 47 - Apresentação da Congada Soldados de Maria durante o café comunitário

    Imagem 48 - Movimentação de congadas em frente ao portão do salão

    Imagem 49 - Trabalho das equipes de voluntários no salão durante as refeições

    Imagem 50 - Mapa trajeto do cortejo do último dia de reinado

    Imagem 51 - Cortejo de encerramento do reinado

    Imagem 52 - Antiga Congada Luís Carolina

    Imagem 53 - Antiga Congada do Dote

    Imagem 54 - Congada do Osvaldo do Dote no Reinado de 2018

    Imagem 55 - Congadeiros Jésu e Ramon

    Imagem 56 - Congada de João Antônio – primeira e segunda gerações

    Imagem 57 - Os 24 ternos de congadas de Santo Antônio do Monte

    Imagem 58 - Ternos de Congadas de Araújos

    Imagem 59 - Membros antigos da corte real do reinado

    Imagem 60 - Rainha conga recebendo visita do terno

    Imagem 61 - Ex-reis morenos Vantuir e Lourdes

    Imagem 62 - Atuais reis morenos – Miguel e Solange

    Imagem 63 - Rainha perpétua do reinado de Araújos

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Caracterização dos colaboradores da pesquisa entrevistados em Santo Antônio do Monte

    Quadro 2 - Caracterização dos colaboradores da pesquisa entrevistados em Araújos

    Quadro 3 - Fatos históricos e mudanças ocorridos no Reinado de Santo Antônio do Monte

    Quadro 4 - Fatos históricos e mudanças ocorridos no Reinado de Araújos

    LISTA DE SIGLAS

    APAE - Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais

    CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

    FIEMG - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

    IEPHA/MG - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais

    IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

    SUMÁRIO

    PREFÁCIO

    INTRODUÇÃO

    Conhecendo os contextos da pesquisa

    Seguindo os caminhos da festa: aspectos metodológicos

    Capítulo 1 AS MANIFESTAÇÕES FESTIVAS E RELIGIOSAS: NARRATIVAS E ETNOGRAFIAS SOBRE OS REINADOS

    As festas e suas múltiplas possibilidades de existência

    As narrativas míticas em torno das festas de reinado

    A força da ancestralidade e o reinado

    Capítulo 2 as festas de nossa senhora do rosário revividas pelos reinadeiros

    As lembranças dos reinados antigos

    Vivências dos devotos e histórias sobre os reinados

    As porcarias no reinado

    A comensalidade, respeito aos congadeiros e as relações familiares

    Os ritos de preparação: os trajetos e os sacrifícios

    A retomada do Reinado em Santo Antônio do Monte: arranjos, mobilizações e empenho da comunidade

    O início dos festejos em Araújos e suas relações com o reinado em Santo Antônio do Monte

    A institucionalização dos reinados e as esferas políticas

    Transformações, ajustes e adaptações nos reinados

    Capítulo 3 PREPARATIVOS E ORGANIZAÇÃO DA FESTA DE REINADO

    As irmandades de Nossa Senhora do Rosário e suas funções

    Os preparativos para o reinado: os ritos que antecedem a festa

    As reuniões ordinárias no salão da irmandade

    O almoço beneficente com comidas reinadeiras

    O torneio de truco no salão da irmandade

    A levantação dos mastros: as bandeiras anunciam a proximidade da festa de reinado

    Capítulo 4 SEGUINDO OS CAMINHOS DAS FESTAS DE REINADOS E SEUS RITUAIS

    Pelos caminhos da festa de reinado na companhia das congadas

    Primeiro ato – a quinta-feira de reinado

    Segundo ato – a sexta-feira de reinado

    Terceiro ato – o sábado de reinado

    Quarto ato – o domingo de encerramento do reinado

    Capítulo 5 FORMAÇÃO DOS GRUPOS NOS REINADOS DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO: INCERTEZA, CONEXÃO, VÍNCULOS DE PARENTESCO E DESFAZIMENTOS

    Passado e presente: a fotografia como instrumento de atualização das congadas

    Diálogos possíveis: rompimentos e interconexões entre os capitães e as capitãs de congadas

    As congadas, a realeza do reinado e outros grupos

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    GLOSSÁRIO

    REFERÊNCIAS

    ANEXO A - Portaria nº 1 (ato normativo) da Festa de Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Santo Antônio do Monte

    ANEXO B - Primeiro Estatuto do Congado da Irmandade dos Devotos de Nossa Senhora do Rosário – Santo Antônio do Monte

    PREFÁCIO

    Fazer a festa, tecer a vida social

    As festas de devoção a Nossa Senhora do Rosário e aos santos negros São Benedito e Santa Efigênia estão presentes em centenas de localidades mineiras desde os tempos coloniais. A pesquisa do antropólogo Francimário Vito dos Santos convida-nos a conhecer a dinâmica dos bastidores das festas de dois municípios vizinhos e relacionados pelo trânsito de festeiros e grupos congadeiros. Os personagens dessas festas são apresentados no entremeio do enredo anual de planejamento e preparação das festas até o percurso pelas ruas e igrejas durante a temporada animada das celebrações em Santo Antônio do Monte e Araújos, cidades do centro-oeste mineiro.

    O caminho escolhido na pesquisa é a economia das festas, descrevendo as ações e os sentidos envolvidos na circulação de dinheiro e trabalho mobilizados para fazer acontecer os eventos de arrecadação das irmandades, os ensaios e as apresentações dos numerosos grupos que tocam e dançam no reinado.

    O circuito econômico das festas põe em relação pessoas, produtos e serviços; envolve planejamento, preparação e recolhimento de recursos para as irmandades; os esforços também existem no âmbito dos indivíduos e de suas redes de parentesco e de amizade no sentido de mobilizar suporte financeiro e de trabalho para o pagamento de promessas de participação na festa. Este livro nos conta sobre a organização e estruturação da festa que ganha dimensões de espetáculo, resultando em racionalização das apresentações, como no momento do controle rígido do horário das atividades festivas e da vigilância sobre o comportamento dos festeiros.

    Para acontecer a festa, entram em ação as estratégias da economia popular local, que são os consórcios, os bingos e os almoços beneficentes. O dinheiro envolvido nas celebrações religiosas movimenta as lojas das cidades em que são comprados produtos e serviços que atendem à festa (panos, enfeites, ingredientes do cardápio festivo), impulsionado por obrigações derivadas do pagamento de promessas. Temos aqui uma visada etnográfica privilegiada para a vida social do dinheiro. Dentro de um certo enquadramento moral, os reais não podem comprar qualquer coisa. Aqui a noção de sacrifício no pagamento da promessa aconselha que o devedor pratique a doação do próprio trabalho aos santos de devoção. Como dizem os interlocutores da pesquisa, promessa não se paga realmente quando a oferta é comprada pronta ou feita por outros de fora do circuito festeiro.

    O caminho metodológico da comparação segue duas festas que acontecem nas duas cidades próximas. A celebração em Santo Antônio do Monte é mais antiga e alguns de seus congadeiros frequentam a festa da cidade vizinha desde suas origens. Essas relações se mantêm na circulação de pessoas e grupos congadeiros. A pista que o autor inicialmente seguiu foi o comentário escutado na primeira cidade, de que a outra festa se assemelhava ao Carnaval. Nesse ponto, temos uma exemplar demonstração do valor heurístico da pesquisa rigorosa empreendida por Francimário, posto que ele desvenda a celebração de Araújos para além da dimensão mais espetacularizada dos dias de festa, dada a dimensão dos shows e do comércio provisório animado pela festa, em comparação com sua vizinha mais tradicional. É quando o leitor conhece a dimensão propriamente religiosa das festividades que se conclui sobre a condução mais autônoma dos eventos no cenário araujense, considerando-se o grau de racionalização das festividades santo-antonienses. Para além das competições entre festas, expressas em fofocas elogiosas e depreciativas, o que se registra é o alegre circuito de reciprocidades entre os participantes pela via das retribuições de visita e apresentações trocadas entre localidades.

    Os ganhos que a inserção do pesquisador em duas situações de festas religiosas populares trazem para o saber antropológico sobre esses rituais são variados. Ficam iluminadas as conexões entre festeiros, as adaptações da festa à estrutura social das cidades, as invenções que particularizam celebrações espalhadas por numerosas cidades mineiras.

    A história das festas dos santos negros em Minas Gerais nos informa que suas apresentações rituais e comportamentos presentes entre os dançadores – como o uso da cachaça – foram sendo banidos no todo ou parcialmente. A continuidade dos festejos ao longo do século XX e nos tempos que correm foi garantida pela resistência dos descendentes negros às proibições de autoridades católicas em relação à presença de elementos das culturas afro-brasileiras. Outra riqueza do livro que virá adiante são os relatos de congadeiros antigos sobre suas vivências das festas ao longo de décadas. Narradores da transformação social, esses senhores negros contam também como a festa sobreviveu a investidas repressivas contra a presença negra nos rituais religiosos e à condenação das manifestações dionisíacas também associadas ao festejar popular. O autor deixa este arquivo etnográfico precioso para as comunidades dessas localidades.

    As reviravoltas no reconhecimento social e governamental do ritual das festas do Rosário (e das devoções associadas) podem ser atribuídas aos efeitos das políticas de patrimonialização das manifestações festeiras e devocionais e à disseminação da ideia de valorização de aspectos das culturas locais. Patrimônio e cultura ganham presença viva como categorias popularizadas, em narrativas de enunciação identitária de pessoas e grupos espalhados pelo Brasil. As iniciativas de reconhecimento do patrimônio cultural municipal ativam fluxos turísticos e o movimento dos conterrâneos ausentes na temporada de festejos. Resultam também na chancela pública para as irmandades, principais agentes na organização dessas festas realizadas por pessoas negras e não negras, com diferentes condições econômicas e posições na estrutura de classes local.

    Como outros pesquisadores, Francimário precisou adaptar as ações de pesquisa ao isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19 que impediu a realização do ciclo anual de festas espalhadas pelo Brasil. A princípio, esse impedimento poderia ter trazido resultados deficientes na observação dos acontecimentos de preparação e execução das celebrações. No entanto, o que se pôde ver foi o contornamento das dificuldades de encontro pela utilização de recursos digitais rapidamente enviados ao antropólogo, distante apenas geograficamente. O envolvimento com a devoção que caminha pelas ruas e se abriga nas igrejas conseguiu ser mantido com grupos menores, nas procissões dentro de carros, entre festeiros mascarados com os adereços recém-incorporados. Alguns planejamentos de pesquisa foram abandonados, mas podem-se observar os mundos sociais em processos adaptativos.

    Por fim, o livro apresenta-nos os grupos de congado e suas recomposições constantes ao longo do tempo. A partir das histórias contadas e dos registros da memória dos antigos congadeiros de Santo Antônio do Monte, chega-se aos processos de divisões de grupos, criação de novos coletivos e inovações, como os grupos congadeiros comandados por mulheres. O valor da tese ora divulgada em livro se enuncia exatamente na descrição analítica dos cenários sociais de reprodução das festas religiosas populares: como a festa se renova a cada ano e garante sua continuidade no futuro. Assim é que existem as longas listas de espera para assumir a coroa das festas em anos vindouros. Nesse ímpeto coletivo, corpos que dançam, rezam e trabalham, objetos, enfeites religiosos e comidas reinadeiras são postos em movimento. A tessitura das relações sociais é refeita a cada ciclo festeiro principal assim como na presença de reinados em outras festas ao longo do ano, em louvor de Santo Antônio e São Sebastião.

    Candice Vidal e Souza

    Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PUC Minas).

    INTRODUÇÃO

    O reinado ou congado é uma manifestação religiosa que possui característica afro-brasileira, cuja introdução no Brasil se deu por meio dos negros escravizados vindos do continente africano, no período colonial. A festa de reinado tem como ícone católico a figura da Virgem Maria, mais conhecida como Nossa Senhora do Rosário, e reencena sua coroação e, ao mesmo tempo, o coroamento dos reis e rainhas congos, perpétuos e festeiros. Nas cidades de Santo Antônio do Monte e Araújos, na região centro-oeste do Estado de Minas Gerais, o reinado é a maior festa religiosa. Ao contrário de suas festas de padroeiros, respectivamente, Santo Antônio e São Sebastião, as festas de reinado em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia mobilizam uma grande quantidade de devotos, fiéis e simpatizantes, que se envolvem direta e indiretamente na sua preparação, organização e realização. Geralmente, as festas de padroeiros, por homenagearem os protetores ou patronos das cidades, são a maior expressão de fé e devoção, por parte dos moradores que se afirmam como católicos praticantes ou não praticantes. No entanto, elas assumem o lugar de coadjuvantes em relação às festas de reinados.

    Apesar de em Santo Antônio do Monte, no mês de junho, comemorar-se festivamente o padroeiro Santo Antônio, e em Araújos, no mês de janeiro, prestarem-se homenagens ao patrono São Sebastião, as festas de reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia são as que mais movimentam as cidades.

    Os festejos em homenagem aos santos reinadeiros são o principal evento religioso nas localidades pesquisadas. Fato que não há como ser ignorado, já que o reinado é a festa mais grandiosa em vários sentidos, tanto em número de participantes como em relação à movimentação da economia local. Esse tipo de evento religioso-popular, segundo os dirigentes das diretorias das irmandades de Nossa Senhora do Rosário, responsáveis pela organização, permite que o dinheiro que circula no comércio de bares, restaurantes, hotéis, padarias, supermercados e vendedores ambulantes etc. permaneça no município.

    As homenagens festivas religiosas a Nossa Senhora do Rosário existem em várias partes do Brasil, de Norte a Sul, porém, em Minas Gerais, São Paulo e Goiás as manifestações de louvor e devoção são mais expressivas e acontecem quase o ano inteiro. Em Minas Gerais ocorrem praticamente em todo o ano. Iniciam-se no mês de janeiro, com as homenagens a Chico Rei, considerado por alguns historiadores como responsável por introduzir na antiga Vila Rica do Ouro Preto, no final do século XVIII, a tradição do culto aos santos pretos. Depois, há um breve intervalo no período da Quaresma e durante a Semana Santa. Após esse período, no mês de abril, os grupos reiniciam as homenagens e continuam até o mês de novembro e começo de dezembro. Dá-se início a outro ciclo festivo que homenageia os três Reis Magos, conhecido como Folias de reis. Geralmente começa com as comemorações natalinas e finda no dia 6 de janeiro, dia dedicado aos santos.

    Na estrutura da festa de reinado algumas personagens são fixas, outras são móveis. Os cargos de rei e rainha perpétuos e congos são fixos e permanecem com eles até sua morte, quando são repassados para outros integrantes, preferencialmente pela via do parentesco consanguíneo. Já os reis e rainhas festeiros que, geralmente, são pagantes de promessas e também patrocinadores das comidas servidas aos dançadores de ternos de congadas, são cambiáveis, isto é, mudam ano a ano, obedecendo a uma lista de espera, que é controlada pela diretoria da irmandade. O devoto ou simpatizante interessado em participar procura a entidade e se inscreve. A cada edição da festa são escolhidos quinze festeiros(as) inscritos(as) (três mordomos de bandeiras e doze para coroas), segundo a ordem de inscrição. Em 2019, quando entrevistei o presidente da Diretoria da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, em Santo Antônio do Monte, a informação passada foi que havia na lista 72 inscritos. Para o representante isso garante a sustentabilidade da festa pelos próximos 5 anos.

    No reinado de Araújos, a dinâmica é um pouco diferente. Há um rei congo e uma rainha perpétua e um casal composto por um rei e uma rainha morenos, que compõem a realeza coroada. Os pagantes de promessas ou patrocinadores são denominados apenas por festeiros e festeiras, não recebendo o título de rei ou rainha. Os cargos são vitalícios, mas apresentam especificidades. Alguns festeiros e festeiras são fixos, pois há mais de trinta anos, ou desde que o reinado acontece, oferecem comida para os ternos de congadas da cidade e dos municípios vizinhos que prestigiam o evento. Nas últimas edições da festa a quantidade de festeiros beirou os sessenta. Mas, segundo o que consegui averiguar por lá, a diretoria também já adotou o mecanismo da lista de espera, devido à grande procura de pessoas interessadas em fazer as festas (assim falam as pessoas que dão comida no reinado). Outros personagens essenciais que integram as festividades são os grupos de dançadores ou brincadores, conhecidos nas cidades de Santo Antônio do Monte e Araújos como ternos, guardas ou cortes.

    Apesar de apresentarem semelhanças estéticas e musicais, há diversas modalidades de grupos, que podem ser congo, moçambique, catupé, vilão, marujo etc. Usarei a terminologia ternos de congadas, pelo fato de os participantes e simpatizantes das localidades pesquisadas assim se referirem aos grupos de dançadores. O sentido usual do termo congada parece se alargar ainda mais quando se percebe que algumas pessoas o utilizam, também, para nomear o próprio evento: festa de congada ou festa de reinado. Porém, oficialmente, para a diretoria da irmandade, entidade responsável pela realização dos festejos, o mais usual é Festa de Reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia. Portanto, a Congada ou Reinado de Santo Antônio do Monte e de Araújos constitui-se de vários ternos de congada, congo, moçambiques, vilão e catupé. Essas são modalidades de grupos que aparecem com mais frequência nos dois contextos de pesquisa.

    Ternos de congadas, com seus bailados, cânticos e batuques são encarregados de fazer as homenagens aos santos reinadeiros. Em algumas regiões podem ser conhecidos como guardas, bandas, entre outros. Os grupos, com seus brincadores trajando fardas (uniformes) padronizadas apenas na cor branca, como é o caso dos grupos de moçambiques, ou coloridas e adornadas com brilhos, no caso dos ternos de congos, congadas e vilão, também conduzem em procissão pelas principais ruas da cidade a côrte coroada, composta por reis e rainhas congos, reis e rainhas perpétuos, reis e rainhas festeiros, príncipes, princesas e mordomos. Essas personagens integram o reinado de Nossa Senhora do Rosário. Esse pequeno grupo, por sua vez, segue expondo seu poder simbólico materializado nos trajes de pompas e indumentárias, que remetem ao imaginário do cotidiano da realeza. Cada rei e rainha segue a procissão com suas capas de veludo adornadas de dourado, segurando suas coroas pelas principais ruas e avenidas, todos os dias de reinado, no final da tarde.

    No reinado, os dançantes prestam homenagem a Nossa Senhora do Rosário, aos santos de sua devoção e, principalmente, aos santos negros São Benedito, Santa Ifigênia e Nossa Senhora Aparecida. Mas também é comum prestarem homenagens a São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, Nossa Senhora das Mercês etc. Cada terno de congada se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das músicas, nos instrumentos e na forma de dançar.

    Geralmente, as cidades que costumam homenagear os santos reinadeiros possuem uma data definida no calendário festivo local. Em Santo Antônio do Monte e Araújos, os períodos festivos são bem próximos um do outro, porém não chegam a coincidir. No início ou meados do mês de julho, os santo-antonienses realizam o Levamento dos Mastros ou Bandeiras, rito de anunciação da festa. Porém, a festa mesmo só ocorrerá de fato um mês depois, em meados e final de agosto. Em Araújos, a abertura da festa dá-se com o hasteamento da bandeira, que ocorre na primeira semana de julho, e sua realização é fixa, sempre no último final de semana do mês de setembro. Optei pelo uso do termo festa de reinado por ser assim conhecida nas duas localidades. A diferença é que, enquanto no reinado da primeira localidade os santos homenageados são apenas três (Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia), na outra, além desses, também se homenageiam Nossa Senhora das Mercês e Nossa Senhora Aparecida.

    Ao acompanhar de perto as dinâmicas de sociabilidades das duas festas de reinado, observei que, além das trocas simbólicas e afetivas que as tangenciam, como cortejos, missas, trocas das coroas, visitas das congadas aos reis e rainhas festeiros e aos membros da corte real, pagamentos de promessas, agradecimentos pelas comidas, outros intercâmbios, mais amplos, no sentido mais alargado das interações, também, estão presentes e atuantes. Foi justamente a partir dessas percepções que surgiu a necessidade de investir na economia da festa como um conceito que se mostrou próspero por ser capaz de ajudar na compreensão dos processos e das trocas que se estabelecem nas festividades religiosas das duas cidades. Ao mencionar que se trata de um conceito mais expandido, que abarca outras práticas e ações, realizadas pelos diversos grupos que participam dos festejos, a intenção é me afastar da lógica binária, ou seja, do utilitarismo e do simbolismo puro e simples. A partir desse exercício reflexivo é possível perceber os sentidos práticos, não apenas aqueles que são intangíveis, nas vidas das pessoas que vivenciam os festejos do reinado, para além da fé.

    O desafio do meu estudo e, portanto, minha contribuição para a antropologia, reside justamente no fato de refletir criticamente sobre a dimensão mais prática das festas, por isso utilizo a ideia de uma economia das festas como norte. Bastou-me acompanhar os bastidores das festas de reinado para observar a quantidade de recursos financeiros e humanos, em especial de mão de obra, que elas mobilizam. No entanto, o discurso que mais sobressai é o de que a fé na santa é o que faz a festa acontecer. Sem dúvida, esse elemento é central, ainda mais por se tratar de celebrações nas quais a intenção e os esforços são destinados a reverenciar a entidade-mor dos festejos, a Virgem Maria, símbolo maior no catolicismo. No entanto, em termos práticos, é como se a materialidade, as coisas e os objetos não tivessem um papel primordial na concretização do reinado. Eles pouco são ressaltados, apesar de serem imprescindíveis. Nesse sentido, o desafio não é somente refletir sobre as festas de santos no que se refere às trocas simbólicas, como as rezas, as cantigas, as danças, os afetos, os desafetos, mas, também, pensar sobre a circulação do dinheiro, a força de trabalho despendida nos afazeres da festa e a diversão. Nesse sentido, a pesquisa prima pela adição de perspectiva, e não como competição entre modos de ver a festa antropologicamente.

    Normalmente, o trabalho aparece nas festas de santo revestido de sacrifício, e dessa maneira seu sentido prático e, consequentemente, desgastante acaba não sendo evidenciado. A ideia é mostrar os dois lados, que o trabalho dedicado aos santos é feito em retribuição a algo valoroso recebido pelo fiel voluntário, como, por exemplo, o restabelecimento da saúde, mas, também, perceber que há um trabalho árduo e desgastante, que sem ele as festas não aconteceriam. Ainda busco perceber os sentidos do dinheiro, elemento fundante que permite a realização das festas, para além da monetarização e do lucro pelo lucro.

    O contexto de economia da festa engloba todas as atividades que acontecem na época em que os santos reinadeiros são louvados, e que Roberto Da Matta (1997) chama de tempo extracotidiano. Trata-se de uma série de eventos que vão desde o momento em que ternos de congadas saem às ruas bailando e batendo as caixas em homenagem aos santos, da preparação das comidas reinadeiras até a formação dos estados, que é o cortejo ou procissão. Neste rito, que acontece em todos os dias das festas, ao final da tarde, as imagens dos santos, os personagens da realeza e os devotos, são conduzidos pelas principais ruas em direção à igreja. Apesar de ser um rito, portanto, um ato simbólico executado por sujeitos sociais, para os devotos a procissão elimina a distância física entre a terra e o céu, o que se caracteriza como uma experiência viva. É a festa posta na rua no que há de mais pleno.

    Durante todo o ano várias pequenas etapas da festa de reinado acontecem, na maioria das vezes, longe dos olhares dos devotos e simpatizantes, apenas com a participação daqueles que fazem parte das comissões criadas pelas diretorias das irmandades. Apesar de ter pouca visibilidade, elas são fundamentais como meio para se chegar ao fim, que é o abrilhantamento da festa. Na verdade, são processos complementares que podem acontecer separados ou simultâneos, que denominarei de elaboração, produção e realização da festa.

    A primeira etapa tem a ver com as ações de planejamento e avaliação, como reuniões ordinárias e extraordinárias com a participação dos(as) congadeiros(as), diretoria, dirigentes de órgãos públicos, reunião pós-festa, formação de equipes de trabalho, definição do material publicitário, realização de bingos e almoços beneficentes, para arrecadação de fundos e outros, ensaios dos grupos etc. Já a fase de produção está relacionada com o que os congadeiros e integrantes da diretoria chamam correr atrás dos papéis, referindo-se às licenças e alvarás emitidos pelos órgãos públicos, aos materiais publicitários, como camisetas, folders, cartazes e panfletos de divulgação da festa, aos patrocínios etc. A realização ou o acontecer da festa congrega e amalgama as etapas anteriores, que exigiram a concretização de tarefas, dedicação, trabalho, recursos financeiros, tempo e tantos outros.

    É importante constatar que, durante os festejos, os esforços são redobrados, principalmente no que diz respeito à força de trabalho oferecida pelos vários voluntários que se dedicam às atividades de fiscalização nas ruas, preparação das comidas, limpeza dos espaços, entre outras. Em Santo Antônio do Monte, a diretoria da irmandade criou várias comissões para justamente dar conta das demandas que a festa exige. Sem o somatório de esforços é praticamente impossível realizar uma festa que dura quatro dias e acontece nos espaços públicos.

    É importante destacar ainda que, no momento de realização da festa atual, a edição seguinte já está sendo planejada e produzida. Essa especificidade mostra o quanto as festas de reinado se constituem num complexo sistema de relações, redes e trocas, que está em constante e frenético movimento. No terceiro dia de reinado, no sábado à noite, ocorre a cerimônia de coroamento dos reis e rainhas festeiros, que oferecerão as comidas aos congadeiros, no ano seguinte. Na ocasião, encontram-se presentes na igreja os doze festeiros, que por meio de um sorteio saberão em qual dia de reinado darão comida, e se será almoço ou jantar. A partir daí compreendi que a festa acontece dentro da festa, isto é, que os preparativos da festa do ano vindouro começaram com a festa atual ainda em andamento. Ao contrário da grande maioria dos participantes das festas de reinado, que, após o cortejo de encerramento, dirigem-se às suas casas e as têm como finalizadas, para os integrantes da diretoria da irmandade e alguns capitães de congadas, foi apenas um ciclo que se fechou, pois a próxima festa já começou. Sem mencionar que, logo em seguida, é preciso desfazer a festa: limpar o galpão, organizar a cozinha, prestar contas, retirar os enfeites das ruas e fachadas das casas dos reis e rainhas, realizar reunião de prestação de contas etc.

    No reinado de Araújos, as trocas de coroas acontecem no segundo dia de festa, domingo, após a missa campal. Os atuais festeiros e festeiras, com exceção daqueles que são vitalícios, entregam as coroas para os que farão

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