FAYGA OSTROWER E DECIO VIEIRA: ESTAMPAS PARA TECIDOS NOS ANOS DE 1950
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Sobre este e-book
estampas da Tecidos Modernos, empresa fundada por Decio e Fayga na década de 1950. Com esse gesto de confiança e generosidade, Dulce tanto contribuiu quanto reconheceu a relevância da pesquisa de
Vanessa para a história da arte brasileira. A autora descortina uma parte da obra de Fayga que complementa seu perfil multifacetado: a artista, já consagrada no campo da gravura, estende-se para o design sem preconceitos ou purismos, pondo em prática a ideia de aproximação entre arte e vida, uma das influências da Bauhaus na arte moderna. Fayga Ostrower, que aderiu à abstração lírica e renunciou às obras de
cunho social (lugar privilegiado da gravura naqueles anos de 1950) por rejeitar a estetização da pobreza, tem nos tecidos a efetivação do ideal de levar a arte para um público maior e diversificado. A gravura, que já tinha esse caráter de democratização da arte por meio dos múltiplos, tem na atuação de Fayga e Decio uma afirmação desse impulso de abertura. Os artistas conquistam um grande público colocando por terra a crença de que a arte moderna não atendia ao gosto popular. Dessa maneira, ampliaram o alcance da arte ao atingir pessoas não acostumadas ao circuito oficial de exposições, integrando de fato a arte e a vida, a beleza ao cotidiano e ao espaço vivencial. E, como se isso já não fosse um grande feito, ainda colocaram o Brasil em evidência no mercado internacional. Um belo exemplo de socialização da arte para além das utopias.
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FAYGA OSTROWER E DECIO VIEIRA - Vanessa Cristina Cavalcanti de Mendonça
1
FAYGA OSTROWER E O CAMPO ARTÍSTICO
O CURSO DE DESENHO, PROPAGANDA E ARTES GRÁFICAS NA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
Fayga Ostrower, autodidata, emigrada da Polônia, em 1934, chega ao Brasil após passar por diversos países na Europa (KRAKOWSKI, 2001). No navio que a trouxe ao exílio, Fayga Ostrower iniciou-se na prática de desenho. Em troca de chocolates, criou diversos desenhos da tripulação do navio (Fig. 1), como constatei no relato de seu irmão a um periódico (KRAKOWSKI, 2001) — a partir do qual pude compreender melhor esse início de Fayga com a prática do desenho —, seguindo mais tarde, já no Brasil, com a ilustração de livros e revistas, principalmente.
Figura 1 – 1934 | Carvão sobre papel | 23,0 x 34,0 cm
Fonte: IFO
No Rio de Janeiro, Fayga Ostrower e sua família, após rápida passagem pelo bairro do Rio Comprido, instalaram-se no município de Nilópolis, na Baixada Fluminense, onde havia uma comunidade judaica de exilados já constituída, inclusive com uma sinagoga.
Fayga era trilíngue e começou a trabalhar muito cedo, aos seus 14 anos. Deixava sua casa ainda na madrugada, quando o azul profundo e transparente do céu a impactou e se revelou em parte das suas futuras criações artísticas (TAVORA, 1990). Esse encantamento de Fayga com o azul do céu carioca me leva a observar como o lírico e o poético faziam parte da sua essência. Ia até o centro do Rio de Janeiro de maria fumaça
, somente após duas horas de viagem chegava ao seu destino, era tempo bastante para se encantar com formas, cores e transparências.
O primeiro emprego foi na livraria Will, que se situava na rua da Alfândega (BRAGA, 2016). Fayga trabalhou na livraria alemã durante um ano como auxiliar de serviços gerais. Após um ano, a menina poliglota e autodidata saiu de auxiliar de serviços gerais à secretária executiva na multinacional General Eletric.
Em 1937, toda família retorna ao Rio Comprido, onde Fayga conhece seu marido e parceiro, Alberto Ostrower, na livraria Kosmos, onde passam a frequentar para ler livros e namorar (BRAGA, 2016).
No ano de 1938, a artista, frequenta o curso de desenho e modelo vivo, na Sociedade de Belas Artes¹. Aos 18 anos, dando vazão ao seu vício secreto
, como gostava de chamar, Fayga, entra para o Liceu de Artes e Ofícios, entretanto, não se demora ali, pois entendia ser o curso extremamente tradicional e que não valia os sacrifícios para estar ali (BRAGA, 2016).
A artista inicia suas experiências mais profissionais pelos desenhos e ilustrações, principalmente no linóleo. Criou em 1944 ilustrações que viriam a ser da edição especial de O cortiço, de Aluísio Azevedo (1857-1913), que foi lançado em 1948 (Fig. 2 e 3).
Figura 2 – Linóleo em preto sobre papel de arroz | 15,5 x 11,0 cm | Ilustração de 1944 para o livro O cortiço de Aluísio Azevedo (Rio de Janeiro: Editora Zélio Valverde, 1948)
Fonte: IFO
Figura 3 – Linóleo em preto sobre papel de arroz | 19,2 x 10,8 cm | Ilustração de 1944 para o livro O cortiço de Aluísio Azevedo (Rio de Janeiro: Editora Zélio Valverde, 1948)
Fonte: IFO
Fayga Ilustrou diversos livros e periódicos durante as décadas de 1940 e 1950, tais como: Sombra, Rio Magazine, Jornal de Letras, suplemento literário de O Jornal etc. Era uma prática recorrente do campo da época que pedia ao artista que atuasse em frentes diferentes e que levassem o componente artístico à indústria gráfica, entre outras.
Em 1943, Fayga Ostrower conhece aquele que seria seu mestre na xilogravura, Axl Leskoschek (1889–1975). O gravador fez parte de um grupo de artistas que veio refugiar-se no Rio de Janeiro, assim como Lasar Segall (1889–1957), por exemplo, vindo da Lituânia.
A artista relata que foi em livros que teve contato com as primeiras gravuras. Logo adquiriu livros técnicos e iniciou a gravar com o linóleo, pois a xilogravura ainda lhe trazia dificuldades nas técnicas. Na impressão usava guache e nanquim. Por volta de 1943 conheci Leskoschek, recebera uma proposta para ilustrar obras de Dostoiévski. Ele que me ensinou os rudimentos da gravura
(OSTROWER, 1988).
Fayga Ostrower teve uma preferência pelo pensamento gráfico, entretanto, isso não a impediu de experimentar diversos suportes e técnicas na sua vivência nos diversos campos das artes.
Artista plural, Fayga dedicou-se à ilustração, desenho, pintura, gravura em metal, xilogravura, tapeçaria, estampas para tecidos, ourivesaria, cerâmica e projetos de interiores. A artista articula com maestria diversos campos do conhecimento humano em prol da arte, da educação e da vida. Como teórica da arte, escreveu diversos livros em que deixou para as futuras gerações valiosos ensinamentos sobre a arte e seus processos criativos (ALMEIDA, 2006) (Fig. 4, 5,