Poesia Sufocante
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Sobre este e-book
Este livro pode ser considerado um grito. Um grito através do qual ecoam sofrimento, dor, tristeza, angústia, melancolia, pesar e alguns devaneios advindos de mera euforia ilusória que a nada levam.
Esta obra não será dedicada, em moldes machadianos clássicos, aos eventuais vermes que venham a devorar a carne em decomposição de seu autor. Este livro já é dedicado aos vermes que, nesse vale de lágrimas, permeiam e sufocam, em vida, a putrefata mente deste solitário escritor.
Estes são poemas para quem tem estômago. Se estás a procurar alento, este lugar não é recomendado para ti...
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Poesia Sufocante - André Aquino
Epígrafe
A CAPA é um quadro de um grande amigo meu, Fernando Taveira Bernardes, artista plástico, intitulado de ANGÚSTIA
. Algo que, sublime como é, veio a cair como uma luva em quesito de expressão visual para esta obra...
Dedicatória
Às rugas, às pelancas e às decadências biológicas que tomarão conta, apossar-se-ão de minha podre carne humana até que ela chegue à sepultura por fim...
Concha Solitária
Coração apertado
Olhos que lacrimejam
Sem mais nem por quê
Não há nada de novo na TV
Pensamentos cada vez mais apedrejam
O sujeito falsamente enamorado.
Da minha janela
Nada de paixões
Com o peito esmagado
Por efêmeras ilusões
Vejo apenas caminhões.
Ninguém nos ama
Nem sequer nos telefona
A década sombria só se enrola
Mas nunca acaba
Ainda vivo espremido
Espiralmente sufocado
Em minha concha solitária.
A semana de Ana
Um domingo vazio preenche sua vida
Dia sem vida, sem cor
Esse outubro não lhe trouxe nenhuma alegria
Talvez outros mais tragam-lhe apenas mais dor. Ana está agora na calçada sem iniciativa alguma para ir falar com a vizinha
Pensa que gostaria de ter uma filha
Talvez isso desse um pouco de sentido à sua devastada existência
Uma segunda sem graça invade sua casa sem permissão
Ela permanece apática
Não há ânimo para nenhuma reação
Desencorajada até de viver, segue sem procurar por uma paixão
Pergunta-se se um dia será de alguém seu mole coração
Uma terça de profunda tristeza agora instala-se na sala
Ana está esparramada sobre o sofá
Não há entusiasmo algum para se levantar cedo na quarta
Ela segue vivendo a Deus dará
Uma quarta violenta invade a cozinha
Sentar-se à mesa em plena hora do jantar é o que tem para fazer
Não sabe ao certo o que irá preparar para o jantar
Há pouca comida e uma fadiga quase que mortal
O que Ana irá comer, afinal?
Essa é a indagação principal
Não há também no bolso, sequer um centavo
O reino da miséria está finalmente instalado
Uma quinta sombria agora dorme com Ana em seu quarto até o meio-dia
Em sua geladeira, não há vodca ou cerveja
Acabou, enfim, o álcool, o tabaco e até mesmo a,