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Ad Aeternum
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E-book106 páginas1 hora

Ad Aeternum

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Sobre este e-book

Em viagem para conhecer suas origens escocesas, um jovem latino faz uma descoberta que mudará sua vida para sempre -literalmente!Todo homem sonha em ser imortal; porém, seria a imortalidade algo assim tão desejável?Nosso pobre heroi desfrutará da benção -ou maldição- de viver para sempre.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de fev. de 2023
ISBN9781526075796
Ad Aeternum
Autor

Paulo Marreco

Marido da Letícia. Cristão. Escritor, autor dos livros Vagas Lembranças de Um Quase Atleta (crônicas esportivas) e À noite na Barra (contos de fantasia e suspense). Surfista, torcedor fanático do GALO.

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    Ad Aeternum - Paulo Marreco

    Ad Aeternum

    Paulo Marreco

    2012

    Para Letícia, brisa fresca que ameniza

    as agruras dos meus dias.

    I

    EXTRAORDINÁRIO. Esta palavra nunca se aplicara a nenhuma área de sua vida. Pelo menos, não até aquele dia fantástico no qual se descobriu que ele era...

    Mas estamos andando depressa demais; deixemos para falar sobre sua maravilhosa e terrível condição mais adiante. Por hora, cumpre dizer apenas que ele não era extraordinariamente bonito nem feio; não era extraordinariamente alto nem baixo, nem demasiadamente gordo ou magro, orelhudo, narigudo, não tinha pés ou mãos enormes, não era dotado de habilidades incomuns para esportes, nem para a matemática ou literatura; enfim: nada, absolutamente nada indicava que ele, justamente ele e não Napoleão ou Alexandre ou Mozart ou Borges ou eu ou você, dentro da incontável miríade de geniais, heroicos, valorosos, banais, medíocres ou desprezíveis seres humanos produzidos ao longo da História, poderia ser o que, no futuro se descobriria, ele era.

    Sim, era bem verdade que desde pequenino demonstrara alguma aptidão para o desenho; era verdade que seus traços firmes e bem delineados, além de sua noção -avançada para um garoto de sua idade- de anatomia e das proporções do corpo humano (tinha alguma dificuldade em desenhar cavalos) impressionavam os parentes, e era verdade também que aquela tia, embevecida, vislumbrava no menino um grande pintor (a tia sonhadora chegou mesmo a custear seus estudos junto à única professora de artes plásticas da cidade, que havia sido, em sua juventude, uma pintora com certos dotes e que alcançara algum sucesso no meio artístico); porém o brilhante futuro no universo das artes imaginado pela tia nunca chegou a se concretizar. Um tanto por influência de sua mãe, diga-se. A boa senhora, pragmática e, além disso, profunda conhecedora do intrincado funcionamento das engrenagens do mundo dos homens, não via com bons olhos os projetos do menino, seduzido pelo canto da sereia de um universo voltado para o belo, para o etéreo, para o lúdico, para os sonhos. Precavida, tinha mais de formiga do que de cigarra, e sempre torcera o nariz para as aspirações artísticas do menino, e recriminava firmemente os devaneios inocentes da irmã, ela sim, a própria cigarra da famosa fábula. Achava que o filho devia se voltar para uma carreira mais segura e rentável, como a advocacia, a medicina ou a engenharia, carreiras, dizia, que lhe proporcionariam as bases para constituir família e levar uma vida estável e para, na velhice, desfrutar seus últimos dias de maneira tranquila, sem sobressaltos e privações; além disso, teria condições de ajudar a cuidar do restante da família. Tais benefícios, dizia, seriam impossíveis de serem alcançados se ele optasse pelas incertezas e surpresas frequentes na carreira artística, de sucesso geralmente efêmero e na maioria das vezes incerto. O pai, falecido anos atrás, não teria como opinar a respeito do seu futuro; porém, segundo a mãe, o velho advogado tinha um sonho: que seu único filho homem seguisse a respeitável carreira de engenheiro e construísse pontes imponentes que encurtassem as distâncias entre os homens, subjugassem abismos e rios e oceanos e fizessem seu nome ecoar através dos tempos.

    Mas não foram só os conselhos e apelos da mãe que abortaram -era essa palavra que a tia utilizava quando queria censurar a irmã por interferir daquela maneira, inviabilizando o desenvolvimento do raro talento natural que ela percebia claramente no menino- sua incipiente carreira de pintor. Pelo contrário; talvez tenha sido, acima de tudo, sua própria natureza, melancólica e um tanto indolente, quase apática, que o tenha impedido de perseverar no longo, árduo e sacrificado caminho que produz, de tempos em tempos, um Michelangelo, um Mozart, um Goethe, um Cervantes, um Borges ou um Einstein. Apesar de seu temperamento contemplativo, seu embevecimento diante das mínimas belezas do mundo –era capaz de gastar horas assistindo uma pequena aranha tecer sua teia ou esperando que um inseto caísse na laboriosa armadilha para vê-la enrodilhando a presa indefesa no terrível fio de seda que seu abdômen ia produzindo imediatamente-, sua  invencível tendência ao ócio e à procrastinação tiravam-lhe completamente o ânimo e da determinação necessárias para se tornar um grande artista. Não; definitivamente, aquelas mãos não dariam ao mundo uma nova Cistina. Mas, em um certo sentido, sua tia –que acabou se tornando uma espécie de guru esotérica, uma conselheira espiritual das outras senhoras respeitáveis do bairro e até mesmo de outras partes da cidade- estava certa: o garoto cresceu, formou-se com alguma dificuldade num curso superior qualquer, escolhido aleatoriamente –para grande desgosto de sua mãe- e para o qual não dava muita importância e acabou arrumando, por influência de um grande amigo de seu pai e, além de tudo, irmão maçom, grau trinta e três, da Grande Loja do Oriente, um cargo público numa repartição desimportante qualquer. Onde, finalmente, ele exercia displicente e sem maiores preocupações o seu grande talento, desenhando e redesenhando fachadas de prédios a serem construídos ou reformados pela municipalidade. E, como, nas repartições municipais, ocorrem situações estranhas para qualquer cidadão pouco afeito às regras e procedimentos do serviço público -especialmente em países da América Latina-, às vezes chegava a desenhar fachadas de prédios que seriam derrubados tão logo ficassem prontos.

    II

    DISSEMOS NO CAPÍTULO ANTERIOR que nada indicava o assombroso rumo que sua vida iria tomar. Bem, isso não corresponde exatamente à verdade. De fato, havia alguns indícios da sua... especial condição; porém, ainda que estes sinais fossem perceptíveis, nem o observador mais atento seria capaz de desvendar o significado deles no seu futuro.

    Por exemplo, era notável que ele sempre aparentara menos idade do que na realidade tinha; que sua pele, seu cabelo, seus músculos, sua figura, enfim, enganava a qualquer um que tentasse adivinhar-lhe a idade. Em criança, parecia um bebê; adolescente, sua pele lisa e lustrosa como de um recém nascido causava inveja entre os outros meninos e meninas, acometidos -como todos os adolescentes de todos os lugares e de todos os tempos- dos horrores e vergonhas infligidos pelas detestáveis espinhas, acnes e demais infecções de pele. E, adulto, chamava a atenção pelo imutável frescor de sua aparência, mesmo após um dia de árduo trabalho (naquela particular medida relativa aos funcionários públicos), ou de uma das incontáveis noites insones que costumeiramente passava. Mesmo assim, seria quase impossível alguém imaginar o que se escondia debaixo daquela natureza pacífica e complacente, debaixo daquele frescor, daquela jovialidade; mesmo diante dos -tênues- sinais, poucos especialistas no mundo estariam aptos a interpretá-los e a descobrir quem, ou o quê, ele era, na verdade.

    Afora as peculiaridades das quais acabamos de falar, sua infância e juventude transcorreram sem sobressaltos maiores do que aqueles comuns ao desenvolvimento natural de um indivíduo do sexo masculino nascido nos rincões distantes e atrasados dos países latino-americanos. Pequenas quedas, leves escoriações, uma e outra briga por causa de uma partida de futebol ou de uma garota ou de uma brincadeira ou de uma inocente bebedeira; nada de anormal, nada de extravagante para um macho latino de dezesseis, dezessete anos. Entretanto, num determinado momento, alguma experiência frustrante (uma desilusão amorosa? Uma grande humilhação em público? Por mais que tenha insistido, sua mãe nunca fora capaz de arrancar dele o segredo, nunca ficara sabendo o que lhe aconteceu naquele dia em que ele chegou da escola resfolegante, rosto e olhos vermelhos) gerou nele uma invencível timidez e uma prolongada reclusão que, tudo indicava, iria deitar por terra o sonho alimentado pela mãe, de vê-lo casado com uma boa e honesta mulher e de acalentar em seus braços o tão desejado neto. A partir deste momento crucial, ele passara a preferir a companhia dos livros aos bailes e festas de sábado; seus finais de semana eram transpostos inteiros em seu quarto, de onde saía somente nos horários de refeições, devorava distraidamente e o mais rapidamente possível qualquer coisa que lhe colocavam à frente e retornava para o auto imposto exílio de seus aposentos. E assim ele foi se tornando gradativamente um solitário, assim ele graduou-se naquele curso inútil e aleatório; foi assim que o tal amigo do pai arranjou para ele o tal emprego público, foi assim que ele se tornou um adulto solteirão que vivia com a mãe, foi

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