SURFO, LOGO EXISTO: Contos de Água Salgada
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Sobre este e-book
Paulo Marreco
Marido da Letícia. Cristão. Escritor, autor dos livros Vagas Lembranças de Um Quase Atleta (crônicas esportivas) e À noite na Barra (contos de fantasia e suspense). Surfista, torcedor fanático do GALO.
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SURFO, LOGO EXISTO - Paulo Marreco
NOTA DO AUTOR
DEPOIS QUE ESCREVI MEU PRIMEIRO LIVRO, Vagas Lembranças de Um Quase Atleta, onde contava algumas histórias interessantes, um tanto engraçadas, que aconteceram comigo quando eu praticava jiu-jitsu, triatlo e surfe, gostei da brincadeira e continuei escrevendo. Os quatro últimos capítulos de Vagas Lembranças... eram dedicados ao maravilhoso esporte criado pelos reis havaianos (ou por pescadores peruanos, segundo versão que reivindica para a América Latina as origens do surfe).
Ao ser apresentado ao site Ondaon pelo clássico, jurássico Moacir Cicabala, imediatamente pensei: será que os caras se interessariam em publicar minhas histórias?
. Arrisquei. Mandei um e-mail para o site, sem conhecer – até então – seus responsáveis. A crônica foi publicada, e teve uma boa receptividade na tribo das ondas. Empolgado, mandei outra crônica, e outra, e outra, até que acabaram os capítulos sobre surfe de Vagas Lembranças... Só que eu, imediatamente conquistado pela interatividade internética ciberespacial a partir da publicação da primeira crônica, já havia começado a escrever outras bobagens sobre esta maravilhosa experiência de vida que é surfar.
A aventura rendeu uma bela amizade com a família Bissoli, e agora culmina com o livro que você tem nas mãos.
Nas páginas que se seguem, você encontrará alguns escritos que tentam, só tentam, traduzir, revelar um pouco do sentimento que nós, surfistas, temos ao remar de encontro às ondas, ao ficar de pé sobre a prancha. Também notará a tentativa de utilizar o surfe como ferramenta para a produção de literatura (ainda que de qualidade duvidosa), como em Metamorfoseando a Metamorfose, O Chamado, O Mar e a Fúria, Os Outros. Afinal, todo escritor utiliza os elementos de seu universo, suas experiências pessoais, na sua produção literária.
SURFO, LOGO, EXISTO é um livro sobre esporte; especificamente, sofre surfe. Mas não é apenas isso; afinal, o surfe não é apenas um esporte. Não é apenas um hobby, nem é simplesmente um estilo de vida. Surfe é um estado de espírito. Espero que você possa, ao ler este livro, desvendar um pouco desta fantástica aventura que é ser surfista.
Boa leitura!
GÊNESE (Ou: como tudo começou – para mim, é claro)
MEU CONTATO INICIAL COM A CHAMADA CULTURA SURFE deu-se através de Andersen Fidalgo, também conhecido como Gordinho, ou ainda, Bororó. Chamá-lo de Gordinho era uma incoerência, uma ironia ou uma gentileza. O rotundo homem devia pesar cento e vinte, cento e trinta quilos. Era meu instrutor de basquete (já mencionei antes que eu treinei basquete? Bem, não há muito a dizer sobre isso: foi apenas uma tentativa, obviamente frustrada, de acrescentar alguns centímetros à minha mediana estatura). Até onde eu saiba, ele era o dono da primeira loja de surfe de Vila Velha, talvez do Estado, a famosa Surf Point. Tempos mais tarde, viria descobrir que ele era também um shaper, um cara que fabrica pranchas de surfe. Era um dos caciques da tribo do surfe. Engraçado, sociável, mas extremamente perigoso; volta e meia atropelava algum incauto que entrava em sua frente quando surfava alguma onda, no Barrão ou na Belina, seus picos favoritos. O perigo ainda aumentou consideravelmente quando ele passou a surfar de pranchão.
Vestia-se sempre com o melhor da surfwear, que, há época, eram as camisas de malha bicolores da Lightining Bolt, com estampas de mulheres esculturais em meio a lírios e paisagens de locais paradisíacos, e os indefectíveis calções Tico (aqueles do peixinho); esse era o uniforme dos surfistas abastados, e o sonho de consumo dos financeiramente desabastecidos. Estava sempre bronzeado, e seus cabelos e barba eram clareados pela combinação de sol e água salgada, ambos desfrutados em doses cavalares. Gordinho era uma figura exótica. Falador, carismático, o cara chamava a atenção de qualquer um; parecia um samoano feliz.
Foi a partir do contato com ele que comecei a perceber o surfe e a influência dele ao meu redor: vários surfistas faziam parte do meu convívio social, pois eram colegas de escola. Eles faziam muito sucesso com as garotas, e isso era, definitivamente, um fator a ser considerado; estávamos em meados dos anos oitenta, e a imagem do menino do Rio, dragão tatuado no braço, estava explodindo, na mídia e na moda.
Minha primeira tentativa de aprender a surfar não foi das mais animadoras; fomos, eu e Jean, um amigo marinheiro e cearense que trabalhava no Farol, de posse de uma prancha vergonhosamente antiga, ao pico que ficava em frente ao Dunas, onde vários de meus colegas arrebentavam as boas ondas que ali quebravam. Não conseguimos nem ao menos passar a arrebentação, devido à força das ondas; e o cansativo retorno para casa, de bicicleta, foi o desestímulo final de que eu precisava para desistir do negócio.
Algum tempo depois, eu e Betão, meu grande amigo da adolescência, viajamos para o Rio de Janeiro (mais precisamente, para Niterói), e lá presenciamos um dos espetáculos mais impressionantes que eu já havia visto: em Icaraí, surfistas desfrutavam de uma excelente e rara ondulação, que quebrava sobre uma bancada de pedras e proporcionava direitas de ótima qualidade. Ficamos parados no calçadão, fascinados, assistindo ao show de manobras, executadas com habilidade pelos atletas que eram obrigados a desviar das pedras. Aquilo foi demais para nós, adolescentes deslumbrados: a perícia e a coragem dos surfistas nos cativou. Voltamos desta viagem determinados (confesso que Betão estava mais determinado do que eu): agora nós também seríamos surfistas.
Compramos uma prancha em sociedade, uma quadriquilha, K&K branca, em estado lastimável. Para começar, entretanto, ela seria suficiente. Domingo de manhã, lá fomos nós, em direção à Ponta da Fruta, que era o local onde os garotos tentavam suas primeiras braçadas no surfe. Ali as ondas eram menores e mais fracas do que no Dunas, portanto seria mais fácil o aprendizado. Seu Luís, pai de Betão, ia ao volante do Belinão branco, um tanto aborrecido por não poder assistir à Fórmula Um naquele dia.
Chegando à praia, decidimos no par ou ímpar quem seria o primeiro a tentar surfar. Eu ganhei. Deitei sobre a prancha e saí remando, ou melhor, tentei sair remando em direção à arrebentação. Porque, acredite o leitor ou não, o equilíbrio sobre uma prancha de surfe é algo difícil de se conseguir; mesmo ficar deitado sobre ela é um desafio considerável. Depois, não menos difícil, vem o desafio de varar a arrebentação; em seguida, equilibrar-se sentado sobre a prancha. E os desafios continuam em série, de maneira que um surfista iniciante tão cedo não se preocupa em fazer manobras nas ondas; chegar até elas já é um estágio avançado a ser atingido.
Levei incontáveis caldos até conseguir chegar próximo às ondas. O passo seguinte era esperar uma onda já quebrada, mas ainda com força suficiente para me carregar. Eu deveria virar a prancha em direção à praia, remar com força e ficar de pé. Depois de várias tentativas frustradas, porém, não consegui o meu intento. Betão assobiou da areia; era a sua vez de tentar.
E não é que, em uma das suas primeiras ondas (ou espumas; os iniciantes pegam espumas, não ondas) o cara logo conseguiu ficar de pé? Olhei para ele um tanto despeitado: tínhamos aquela rivalidade natural, entre amigos adolescentes, de querer sempre superar um ao outro; e esse primeiro desafio ele havia vencido!
Somente depois de observá-lo por algum tempo, foi que percebi algumas coisas que eu deveria fazer e não estava fazendo. Isso ajudou no processo. Entretanto, como Betão era canhoto, pisava na prancha com o pé esquerdo atrás; e eu, que sou destro, imitei o seu posicionamento. Talvez isso tenha dificultado um pouco o meu aprendizado, mas em seguida, eu também consegui ficar de pé! Estávamos conseguindo! Nós também seríamos surfistas!
Depois daquele final de semana, seguiram-se muitos e muitos outros. Nossos amigos da rua juntaram-se a nós: Ricardo e Tuxo, dois de meus irmãos; e Arthur e Nuno, irmãos cheios da grana, que já iniciaram no surfe com pranchas novinhas em folha, caríssimas. Após algum tempo, ficamos conhecidos no meio do surfe como a equipe Surfarol. O esporte dos reis havaianos passou a ser parte integrante, até essencial, de minha vida. Fiz grandes amizades, conheci pessoas, lugares, vivi situações de prazer e perigo. Quase morri, pelo menos duas ou três vezes.
Aprendi os fundamentos do esporte, o suficiente para me divertir tremendamente quando estou sobre as ondas. Passaram-se mais de vinte anos, desde aquele domingo. Betão há muito já surfa as ondas celestiais; e os outros garotos da equipe Surfarol abandonaram o esporte. Eu continuo, teimoso que sou, achando que ainda sou surfista. Os finais de semana dedicados às ondas já não são mais tão freqüentes, e andam escasseando ainda mais.
Mas eu sei que aquele adolescente deslumbrado, feliz como ninguém, por ter surfado sua primeira onda, ainda está dentro de mim. Não importa se a barriga cresceu um bocado, se os cabelos ficaram em algum lugar pelo caminho, se a força dos braços e a habilidade já não são as mesmas (quando já não aguentar remar direito, sempre poderei aderir ao pranchão); não importa se, disputando ondas, o surfista ao meu lado diga: aê, tio!
. Não; nada disso importa.
Porque o tempo parou naquele dia, naquela primeira onda; depois daquela onda, eu nunca mais envelheci, e sei que isso jamais acontecerá.
Porque o prazer de ficar em pé sobre uma prancha, de pegar um tubo, de remar em direção ao outside, a água lambendo meus braços, o barulho da arrebentação enchendo meus ouvidos, e o visual das ondas vergando-se sobre si mesmas, perfeitas formas da natureza, sempre despertam aquele garoto. O bramido das ondas é um chamado, um desafio e um convite.
Não, o garoto não vai envelhecer. Ele é o meu