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Verão De Outonos
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E-book349 páginas1 hora

Verão De Outonos

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Sobre este e-book

Dolores Maggioni é professora pós-graduada em História das Artes. Integra várias academias literárias no Brasil e no exterior. Com inúmeros livros publicados, é detentora de prêmios em níveis nacional e internacional. Foi destaque em Albacete, na Espanha, onde participou da coletânea Poetas de La Humanidad, em homenagem a García Llorca, e foi digna de pertencer ao Sublime Coro do Olímpico Lírico da Poesia. Finalista do prêmio “La Spezia – Concorso Internazionale di Poesia i della Canzone Italiana”, em Portovenere, na Itália. Premiada por dois anos consecutivos pelo CEPAL – Centro Europeu para Promoção das Artes e das Letras, com sede em Thionville, na França, o que lhe rendeu, em 2002, a cadeira de número 225. Agraciada com Menção Honrosa no IV Concurso Internacional Algar-ve/Brasil, em 2000, em Portugal. Venceu o prêmio “Distinzione”, concedido a personalidades de origem italiana que se destacaram no campo da cultura, pela ACIRS – Associação Cultural Italiana do Rio Grande do Sul, e o prêmio “Iararana” de poesia, da Revista de Arte e Crítica Literária de Salvador, na Bahia. Integra a lista das personalidades do século em Farroupilha/RS.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de nov. de 2022
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    Verão De Outonos - Dolores Maggioni

    Prefácio

    EM ESTADO DE CHOQUE POÉTICO

    Dolores Maggioni é dona de uma poesia com grande surpreendência. O que não surpreende, vindo dela.

    Em seus vários livros, publicados ao longo de décadas, palavra alguma desce ao nível do óbvio, do banal.

    E afirmo isso, seguro, por ser o honrado editor de todos os seus livros publicados. Jornada vitoriosa a sua.

    Seus textos são sopros que nos provocam vendavais em cada um dos cinco sentidos. Causam-nos paralisia, como que nos travando a respiração. Até recuperarmos o equilíbrio e o fôlego pela beleza estética de cada poema.

    E este Verão de Outonos nos entrega, em mãos, 71 comoventes inquietações. Todas de belezas ímpares. Ainda que sejam de permanente efervescência humana, trazendo à tona a desnudez de sua alma, que nunca lhe cabe no corpo ou no pensamento. Arrojos e confissões sempre além do que é humanamente possível escrever. E a poeta Dolores, sempre além.

    São maravilhas dolorianas – doem sem doerem. E que a tudo colorem. Ah, mas que por vezes sangram, isso sim! Igualmente a autocura é imediata. Salvação pelo próprio poema, autocurativo:

    "A madrugada é fria, longa e leviana,

    dessas que desnudam e sobrepõem o sentimento à razão.

    Trôpega, a mão aciona a corda

    do pequeno baú de sonhos orquestrados.

    Estranha necessidade de sentir as suas presenças!

    Começa a rodopiar a saia cor-de-rosa da bailarina ansiosa.

    A sapatilha exibe um laçarote rendado

    e a sinfonia de Mozart explode a solidão da madrugada

    e explode as lembranças que no peito,

    o coração ‘esqueceu de esquecer’"

    (A bailarina, p. 11)

    A propósito. Este título já não é um despropósito de tão belo? Desafio? Enigma?

    Verão de Outonos nos cobre de folhas amarelecidas os olhos, mostrando a nudez das árvores feito roupagem dos caminhos; e o calor dos corpos igualmente despindo-se das roupas e medos – doando-se aos prazeres dos dias e dos amores.

    Encantos envolvem e enlaçam igualmente a primavera e o inverno, partes fundamentais do corpo e do ano. Universos que são filhos do mesmo Deus criador:

    "Desaprendo o pó colado às sandálias,

    velo as demoras,

    monto barquinhos de papel e rumo ao teu encalço.

    Pacientemente prescindo de abstratos cansaços

    e permaneço terna à sombra do poema.

    Desamarro as sandálias de todos os caminhos,

    e o vento calmo conta às folhas,

    que as demoras nos revelam mais humanos.

    No meu peito, o amor perscruta

    a plenitude meiga da terra após as chuvas."

    Adágio para destinos desencontrados, p. 16)

    Os poemas dançam sob a batuta da poeta-maestrina, que, hipnotizado com gestos e com as palavras do texto impresso, formam uma orquestra de versos – exímia pianista que já nasceu pianista:

    "A tarde canta, musicada pelo riacho e seus desejos

    /sem perguntas.

    Desperta o plátano de seu sono necessário, sobre

    /a dádiva dos ninhos.

    O vento acena as crinas da relva; abre o ferrolho

    /da porta do delírio,

    enquanto as heras se abraçam à taipa obedecida.

    A hora é rústico granito pesando sobre a teia

    /de augúrios que o cão ladra.

    A sombra da nuvem andarilha cobre o rosto de riacho

    com um lençol de organza." (Cautelosamente, p. 36)

    E não bastasse a magia iluminada deste Verão de Outonos, a autora recebe o bom gosto mágico de Marla, a artista plástica das artes visuais, a qual empresta ao livro uma beleza estética de ilustrações coloridas, que dialogam com o encanto de cada poema.

    E note o leitor que seu grande poema começa, não com o poema de abertura, mas com o próprio Sumário do livro. Anote aí:

    Adagieto para a imagem de uma espera – p. 14

    Cantiga para uma desesperança – p. 32

    Das equações marítimas – p. 47

    Desmaia a flor sob este céu turquesa – p. 57

    Elegia para a solidão de um domingo – p. 65

    Galopam as horas, junto às flores do cristal – p. 71

    Nostálgico andante para a orgia do vento – p. 94

    Tristíssima balada para o voo das gaivotas – p. 132

    Por fim, ou por início, naufrague e salve-se em cada verso deste livro da vida inteira, do ano inteiro que se chama, e é pura chama: Verão de Outonos.

    Rossyr Berny, editor, escritor

    Da Academia Rio-Grandense de Letras

    A bailarina

    Madrugada insone.

    Ventos e cometas brincam no insondável.

    Estendo a mão quase gelada e acendo a luz de cabeceira.

    A tênue claridade ilumina a caixinha de música

    com a delgada bailarina inerte, esperando pela dança.

    A madrugada é fria, longa e leviana,

    dessas que desnudam e sobrepõem o sentimento à razão.

    Trôpega, a mão aciona a corda

    do pequeno baú de sonhos orquestrados.

    Estranha a necessidade de sentir as suas presenças!

    Começa a rodopiar a saia cor de rosa da bailarina ansiosa.

    A sapatilha exibe um laçarote rendado

    e a Sinfonia de Mozart explode a solidão da madrugada

    e explode as lembranças que no peito,

    o coração esqueceu de esquecer

    A melodia toca-me de forma sutil,

    fazendo deslizar tão ternos sentimentos

    que eu julgava adormecidos.

    No apelo da madrugada, o chamado da vida.

    Uma vida capaz de atentar para o riso de uma criança,

    o latido de um cão, o voo de um pássaro, o badalar de um sino,

    a leveza de um anjo, a estranha beleza de um duende.

    A velocidade do porcelânico pezinho recria o verde,

    o arco íris, a geada, a ventania.

    Com ela o cheiro de ervas.

    Com ela o cheiro de orvalho.

    Com ela o teu cheiro.

    Aspiro Mozart.

    No aconchego silencioso da madrugada ultrapasso

    a incógnita geografia dos sentimentos.

    Dá-me a impressão de que tudo possuo.

    Dá-me a sensação de que nada sou.

    Observo a bailarina.

    Ela gira igual ao mundo.

    O mundo é redondo; minha saudade, circulante.

    Nenhuma geometria pode impedir o reencontro.

    Os acordes invadem a meia luz do quarto

    e eu experimento deliciosa sensação,

    despida da racionalidade que me oprime

    e da objetividade que me sufoca.

    Palavras ditas com os olhos descarregam centelhas elétricas

    por sobre a bailarina

    indiferente a tudo que não seja a dança.

    Lá fora chove forte.

    Por baixo do latido da borrasca crio um horizonte crivado de mistérios.

    E os sonhos se assustam com os raios dos fonemas

    que escapam pelo olhar.

    A sinfonia celebra a vida... a mesma vida que retorço

    por entre as palavras contidas pelos lábios

    e expressas no verde das retinas sonolentas.

    E a bailarina dança.

    Ciranda incansável, sem cansaços ou presságios,

    sem pensar que a madrugada se desdobra em um turbilhão de perdas.

    É que as lembranças não se desmancham como barro em temporal.

    Então, enquanto a bailarina rodopia, o coração asfixia

    na estranha tempestade que rugem as palavras só ditas pelo olhar.

    E nelas eu me perco

    na angústia daquilo que revelam,

    entre as ruínas de um incêndio nunca extinto.

    Na aura concebida pelo incansável biscuit de porcelana,

    deixo estrugir a coesão das coisas mais íntimas.

    E, nem mesmo Mozart, nem mesmo a melodia

    são capazes de burlar as lembranças

    de criar a amnésia para as coisas todas que eu perdi.

    A bailarina dança e eu a observo, enquanto vislumbro,

    num espasmo de vida, espécie de longo sono superficial,

    um momento de vigília, para me afogar e diluir,

    sem sobressaltos, as imagens enquadrinhadas neste lapso sutil.

    Recostada na amurada desta sinfonia,

    deixo que a bailarina crie um cais imaginário,

    por onde eu te imagino ver chegando.

    A corda acaba.

    A dança cessa.

    Cala-se Mozart nesta madrugada insone, leviana e fria.

    Não restou nem melodia nem dança.

    Talvez, poesia.

    Adagieto para a imagem de uma espera

    Uma solidão sem préstimo cai sobre a tarde que não te tem

    e abre em mim, tantas gavetas cheias de memórias.

    Minh´alma é hoje como as águas do regato;

    vai brotando silenciosa, sem lendas de reis e de castelos.

    Esse novo jeito de vida

    amadurece de verão meus segredos bordados de receios.

    Nos olhos, sonolentos e transcendentes,

    já suavizam as tortuosas distâncias

    e a ingenuidade deste amor inundado de cantigas.

    Um mosaico de cheiros confere um formato de ar puro

    nos caminhos de te buscar

    e no silêncio que não existia antes da transcendência do teu nome.

    Repito-o

    e entendo que fazes parte do mistério que subitamente me ilumina.

    Por isso este Janeiro está grávido de intenções e outras complacências.

    E, porque tu existes,

    as horas têm vontade de sair, cantando entre si a mansidão

    que o teu olhar acordou na vertigem presente do meu estar e do meu sentir.

    Minha emoção voa igual a uma borboleta branca

    sobre pêssegos colhidos rescendendo seus aromas.

    Tem minha emoção, a alma das memórias e o cheiro das cirandas.

    Brinca este meu coração, assim tão cheio de ti,

    neste espanto inaudito que brota no encanto das saudades

    e voa bem além das circunstâncias.

    Adágio para destinos desencontrados

    Agora é hora de inverter o tempo e perder a noção da pressa.

    Torno audível o silêncio e multiplico o chão

    para o rastro dos ruídos dos nossos momentos.

    Desaprendo o pó colado às sandálias,

    velo as demoras,

    monto barquinhos de papel e rumo ao teu encalço.

    Pacientemente prescindo de abstratos cansaços

    e permaneço terna à sombra do poema.

    Desamarro as sandálias de todos os caminhos,

    e o vento calmo conta às folhas,

    que as demoras nos revelam mais humanos.

    No meu peito, o amor perscruta

    a plenitude meiga da terra após as chuvas.

    Foste.

    E as lembranças não foram contigo.

    Ontem passou.

    E tu não passaste.

    O que restou se entrega ao verso amargurado,

    companheiro deste tempo de ficar.

    Agora sei que dentro de mim disponho

    de um acervo de poemas tingidos de vinho e de carinho,

    feitos da paixão que vem de ti.

    Dou-te meu coração.

    Apanha-o.

    Nina-o,

    para que possas decifrar meus sonhos e meus desígnios.

    Alma

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