Nossos nós, pisados nas mós
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Nossos nós, pisados nas mós - Luísa Serrario
Manus Sumus
São tuas.
As mãos que dançam no meu olhar, desfiam a lua.
Esculpem escamas na minha pele nua.
Suportam os dedos que falam dos meus medos,
Quando os lábios teus, mordem segredos.
São nossas.
As mãos que prevêem o futuro,
No ventre do mundo fecundado,
São tela de arco-íris no escuro, onde vejo,
A incógnita da letra, insígnia em cada partida, do nosso beijo.
São minhas.
As mãos que cantam o coro do choro da tua guitarra,
Amantes do verso do vento, no ventre, fervem alento.
Dão lugar no tempo, onde tudo é momento.
No peito, tatuagem encarniçada de cetim
Princesa moura nas mãos da poesia, sem fim.
E, diz o futuro:
Meu corpo frio na beira do rio escreve, e ninguém pode ver.
Meu coração parado a teu lado, e o mar apaixonado, não nos sabe ler.
São tuas, as minhas mãos, dizendo adeus. Serão sempre as nossas.
Todo o gato tem império
Senta-te e ouve com atenção. - Ora, por favor!
A taça na pata do gato faz dele imperador.
Vaidoso e confiante, não quer lareira,
Senta-se no sofá, na beira.
O gato faz sempre a lei, e só ele é rei.
Cruza a perna, boceja com sono; é sua, a casa do dono.
Todo o gato tem império de ócio e ternura,
E bigodes de mistério, numa jarra caída ao chão.
Todo gato sabe que sem juba, é muito mais leão.
Sete vidas, na verdade mais de mil.
E o gato corre, corre sem pressa.
Ali vai o gato; um, dois, três!
Dorme, arranha, mima e planeia.
Acorda o dono, festeja a noite inteira.
Além Tejo, o Lis!
Tejo!
Nota o que trago no bolso,
Memória de um barco de fogo a passar,
E a força da corrente que me leva a outro lugar.
Olha!
Além Tejo, o Lis.
Na serra, a planície que fiz.
Eu ali na morgada, em cada madrugada,
Sonho o sonho do pinhal de D. Dinis.
Na casca do bravo pinheiro, a saudade em verso!
És cor de acrobata, força e âncora.
Lis! Oh, Lis!
És muito mais do que aquilo que vejo.
Não tenhas ciúme,
Porque o que faz arder o nosso lume,
É história de quem deixa passar o cardume.
Tejo! Mira a beleza do Lis,
O rio que tem alma, e lentamente passa e abraça
A cidade dos colibris.
Vê com olhos de memória; ele escreveu a história.
E só não viveu quem não quis.
Tejo,
Trago o Lis na manga que arregaça o coração,
A paixão que recolhe na chama, o abraço da imensidão.
Poesia é
Poesia é saudade de quem não faz ideia
É cheiro da paixão num livro que vive
É nadar oceanos vestidos de pingos de rio que decide
É olhar de sereia.
Poesia é calma furiosa, na revolta das paredes da rua
É tear de pensamento que jura o futuro
É quando a vida engravida
É metade do tanto de um certo todo de mundo.
É quando as palavras fumam nas tardes de nevoeiro.
É amar por inteiro.
Poesia é um comboio que parte sem estação.
É mulher, é voz, é letra e canção.