Mater Nostra
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Mater Nostra - Ricardo Costa Deotti
O postulado – A Hipótese da Protoginia Humana
Há poucas semanas um detalhe prosaico me chamou a atenção, o fato de todos os homens ainda termos mamilos. Não sei por qual razão me fiz esta pergunta e a busca por uma resposta minimamente defensável me tomou algum tempo e concentração. Uma longa reflexão teve início e o resultado está na formulação de uma hipótese, que agora apresento neste livro, à qual dei o pomposo nome de Protoginia Humana.
Você já se fez esta pergunta?
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/hijab-len%C3%A7o-de-cabe%C3%A7a-retrato-v%C3%A9u-3064633/
Por mais que me esforçasse, não consegui identificar uma única função que fosse para este elemento anatômico universalmente presente no corpo do homem, pelo menos por enquanto. Elemento decorativo? Apêndice para o futuro ou resquício ancestral?
Difícil acreditar que a natureza fosse alocar seus valiosos e escassos recursos para criar um mero adereço anatômico como este, lembrando que por trás de cada 4
mamilo há exatamente o mesmo e complexo sistema endócrino que nas mulheres, apenas atrofiado pelo desuso. Nada impede, no entanto, que ele se torne funcional mediante alguns estímulos mecânicos ou hormonais. Algo de importante deve ter acontecido no passado, portanto, para que ele tivesse sido criado e, pelo menos até um certo ponto, funcionado normalmente, como nas mulheres em lactação.
Tanto me demorei nesta reflexão que passei a considerar a hipótese absurda de termos todos sido, em algum momento, fêmeas, os mamilos sendo apenas um remanescente anatômico desta condição, algo que tenha perdido a função e que estaria, por conta disto, em vias de desaparecer por desuso, coerentemente com uma das Leis de Darwin.
Envolto nesta reflexão, fui levado a algumas outras dela derivadas e me confesso ainda atônito com as conclusões a que cheguei a partir da reunião de vários elementos que me servissem de apoio e referência.
Que existe nosso mundo, inserido em um universo quase sem fim, que existimos nós, homens e mulheres, que fazemos deste mundo nosso lar e que somos bastante diferentes entre nós, do ponto de vista antropológico, ninguém pode duvidar.
Assim sendo, quem teria aqui chegado primeiro, já que não é razoável supor que tenhamos chegado exatamente ao mesmo tempo, homens e mulheres, ainda mais quando consideramos que na escala evolutiva as coisas costumam acontecer em longuíssimos períodos, medidos em nossa escala usual de tempo, já que nela o que é considerado um salto pode acorrer ao longo de, frequentemente, milhares de anos, ou até milhões deles, vez que nosso universo parece ter surgido há quase 14 bilhões de anos, nosso planeta há 4,5 bilhões e, nele, a vida, há cerca de 3,5 bilhões de anos.
Nossa espécie parece ter tido início há cerca de apenas 3 milhões de anos, na forma de nossos mais antigos ancestrais presumidos, alguns Australopithecus ̶ aqui já falando em escala mil vezes menor, portanto, milhões e não bilhões de anos ̶ e, finalmente, nossa espécie, tal como hoje nos apresentamos física e mentalmente, Homo sapiens sapiens, há cerca de meros 150 a 300 mil anos. Não custa aqui lembrar que nossa civilização não tem mais que uma piscadela de olhos neste cenário, um lampejo de 3 a 4 mil anos.
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São escalas, portanto, extremamente dilatadas no tempo. Bastariam cerca de 15
a 20 anos de defasagem entre os surgimentos dos homens e das mulheres para que nossa espécie tivesse se inviabilizado definitivamente, se tornado impossível, a se considerar nossos hábitos reprodutivos.
Nada indica, aliás, que nossa espécie já esteja consolidada como tal, como logo veremos. Muito pelo contrário, estamos em plena formação, bastando algumas poucas observações da realidade para que possamos chegar a esta conclusão de forma inegável, incontestável. Uma espécie em plena formação, como, aliás, é corriqueiro em todo o bioma terrestre.
Vendo esta questão por uma lupa que revele apenas um minúsculo recorte desta marcha evolutiva, parece óbvio que, pela extensão das diferenças entre machos e fêmeas, tanto na conformação anatômica, quanto em assimetrias nos processos fisiológicos, psicológicos e comportamentais, entre outros, estas duas variantes tenham surgido em momentos diferentes do processo evolutivo, provavelmente décadas, séculos ou até milênios, pelo menos. Na verdade, arriscaria dizer que foram milhões deles. O processo de formação do cromossoma Y, basicamente um X que perdeu mais de 90% de seus genes originais, só por si, já demandou alguns milhões de anos. Sabe-se que ele é o principal controlador de todas as características do macho, tanto as genotípicas quanto as fenotípicas. Talvez até das comportamentais, direta ou indiretamente.
Em outras palavras, alguém há de ter chegado aqui muito antes que o outro, ou outra. Necessariamente.
Ainda no terreno da lógica mais elementar, já que é impossível aos homens, na ausência dos sistemas reprodutivo e nutritivo funcionais nas fases iniciais da vida, se procriarem como variantes autônomas dos sexos, fica fácil deduzirmos que as mulheres tenham aqui chegado antes e que, ao longo de algum período de tempo, tenham se reproduzido