O Amor É Multifacetado
De H.r.p
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O Amor É Multifacetado - H.r.p
Às vezes eu sinto vontade de gritar.
As palavras rodopiam à minha volta, rápidas demais para que eu as alcance com as mãos.
Debaixo da minha língua, uma enchente aguarda.
Meu silêncio me ensurdece.
H.
Sumário
Paralelo
2
Amnésia
4
Cárcere
9
Tu é?
10
D’alva ao anoitecer
14
Meu talvez
18
Fio vermelho
21
O beijo do vampiro
24
Quem os sonhos escondem
31
Existir sob o seu olhar
34
Uma tarde qualquer
37
Maior que o tempo
39
Primeiro amor intergalático
44
Morte certa
45
Amanhã melhora
47
Imbecil
55
Agradecimentos
74
I.
Paralelo
Eu não sou daqui. Tenho certeza disso.
Um gato de rua passou e se enrolou em minha perna, pedindo carinho. Agachei-me e estendi a mão, ouvindo o ronronar suave.
Minhas memórias não coincidiam com as das pessoas à minha volta em detalhes especí cos e excruciantes. Em algum momento, por volta dos meus dez anos, algo havia dado errado. Eu sabia, por exemplo, que o tio Geraldo havia falecido quando eu tinha uns seis anos, mas todos em casa diziam que não passava dos quatro na época. Sabia também que meu pai ostentava uma falha na sobrancelha esquerda, porque quase incendiou a casa com a churrasqueira certa vez, mas a pessoa com quem moro hoje tinha um risco à direita.
Minha irmã havia nascido numa quarta-feira, há quatorze anos atrás. Sei disso porque, quando recebemos a ligação do hospital, caí das escadas e ganhei uma cicatriz no joelho que lembra o número quatro e achei que era destino. A menina que conheço nasceu numa terça.
Eu me lembro quando tudo mudou. Estava correndo e tinha cabelo por todo o rosto. Ao longe, uma criança contava impacientemente, pulando algumas
dezenas. Apressei o passo, em busca de um esconderijo, e não vi o fosso que se abria na minha frente. Lembro de sentir que caía eternamente. Era quente, incômodo e muito claro. Quando abri os olhos novamente, uma mulher idêntica à minha mãe chorava e me abraçava. Mas eu sabia que aquela não era ela.
O gato foi embora. Limpei as mãos nas calças e segui o caminho até o terminal lotado e mal cheiroso. Subi no ônibus que considerava meu e, por sorte, consegui um banco na janela. Com a mochila sobre o colo e uma música melancólica nos fones, apoiei a cabeça no vidro e esperei.
Algo me fez querer olhar quando o ônibus deu partida.
Do outro lado da estação, indo na direção oposta, havia outra pessoa na janela. Ela simultaneamente ergueu o olhar e de repente não havia nada. Não ouvia a música ou as pessoas ao redor e não via os automóveis ou o concreto das construções. Só existia ela.
Eu vi vida nos seus olhos. Vi nascimentos e mortes, amores e desamores, ganhos e perdas. Eu vi a mim.
O tempo, antes congelado, aos poucos derreteu. Os ônibus lentamente se afastaram e eu assisti paralisada em meu assento, o rosto banhado em lágrimas. Não sei dizer quantos minutos se passaram até que pude me mover, mas levantei bruscamente e abri caminho até as portas,
afundando o botão de parar. Precisava vê-la novamente, tudo dependia disso.
Desci na próxima parada e corri aos tropeços, cega pelas lágrimas. Ouvia alguns murmúrios ao esbarrar nas pessoas que ocupavam a calçada, mas não conseguia me importar. Meus soluços cortavam o ar da noite e a dor, quase física, era o bastante para causar ânsia. Pela primeira vez, eu havia sentido minha própria tristeza. Nos olhos dela, vi a minha solidão e o peso era esmagador.
Eu não aguentava mais estar só.
Vasculhei as ruas à sua procura, guiada por um instinto primitivo, abismal. Numa espiral perpétua, cambaleei pelo que me pareceu horas, até que ouvi o mesmo silêncio de antes. Ergui o olhar para vê-la do outro lado da pista de carros imóveis, cujos faróis formavam linhas luminosas borradas.
Ambas corremos para a passarela, escorregando nos degraus. Meu coração parecia rugir no peito, chamando um nome que eu não lembrava, mas conhecia tão bem quanto o sangue que pulsava nas minhas veias.
Quando a vi na outra ponta, abandonei a mochila no chão.
-Eu conheço você. - Sussurrei conforme corria e a vi mover os lábios, sorrindo em meio ao choro. Gritei a plenos pulmões. -Eu conheço você!
Esticamos os braços, entrelaçando as pontas dos dedos.
Não existe tempo. Todos os segundos sumiram.
Eu senti o calor que emanava dela me engolir como uma onda febril e forçar todo meu ar para fora. Minha pele ardia e a pressão sobre mim era devastadora. Em meio ao inferno, sua mão se agarrou à minha e colidimos num abraço arrebatado. Segurei-a com toda a minha força, sentindo a realidade estarrecedora que era seu corpo contra o meu.
As lágrimas evaporavam à medida que deixavam meus olhos e não havia como respirar. Sorri com os lábios rachados e me escondi em seus cabelos, seus afagos ternos em minhas costas. Eu não estava só.
A última visão de que me recordo foi uma luz intensa, ofuscante, que nos envolveu por completo. Senti o cheiro de grama fresca e ouvi uma voz familiar rir gostosamente em algum lugar próximo. Então o zumbido nos ouvidos se tornou ensurdecedor.
II.
Amnésia
Quando acordou, ele possuía uma única lembrança, distante e embaçada, como olhar por uma janela de vidro manchado. Talvez sequer fosse uma memória, era apenas uma sensação profundamente enraizada no peito.
Abriu os olhos, a luz do sol lhe acertando em cheio da fresta da cortina, e se sentou. A cama era macia e quentinha, e os lençóis azuis de cetim re etiam os raios tímidos da manhã. O homem olhou ao redor lentamente, até que seu olhar pousou num corpo adormecido ao seu lado, ressonando baixinho debaixo das cobertas. Não houve sobressalto da sua parte.
Quando a outra pessoa se moveu e acordou, aos poucos se acostumando à claridade, seus olhares se conectaram. O homem observou os movimentos cautelosos e ambos se sentaram eretos.
-Há quanto tempo está aí? - Foi a pergunta que ouviu daquela voz rouca.
-Acordei somente um pouco antes de você. - Ele esclareceu e juntou as mãos num gesto nervoso, involuntariamente girando o anel prateado no dedo. -Sei que vai soar estranho… Mas você me conhece?
-Não… - O outro suspirou. -Acredito que também não saiba quem eu sou.
O homem deixou o olhar cair para o anel com o qual se distraía e franziu as sobrancelhas. Na mão esquerda daquela pessoa, havia um anel igual. Ele engoliu em seco e retirou a joia, analisando-a. A prata, retorcida de maneira rústica, era decorada em padrões assimétricos que lembravam rastros de raios na areia da praia. No interior, gravado em uma fonte oreada, havia um nome. Victor.
Ergueu os olhos para o homem sentado à sua frente, ainda alheio à sua possível descoberta e um tanto sonolento, e mordeu o interior da bochecha pensativo.
-Acho que seu nome é Victor. - Ele mostrou o anel, atraindo a atenção do outro. Os olhos castanho claros dele se arregalaram um pouco ao som do nome, que, de alguma maneira, soava certo. Devagar, ele também retirou sua aliança, lendo em voz baixa o que estava escrito.
-Kaleo. - Disse, recolocando o anel. -Seu nome é Kaleo.
Uma onda de alívio inundou o interior de Kaleo e ele apoiou as costas na cabeceira da cama. Alguns instantes se passaram, o silêncio no quarto