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Racismo Estatístico...um Lugar De Visão
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Racismo Estatístico...um Lugar De Visão
E-book287 páginas3 horas

Racismo Estatístico...um Lugar De Visão

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Sobre este e-book

Nem tudo é o que parece ser. Há alguns anos atrás isso era denominado de “Efeito Denorex”, aquilo que parece mas não é. Nas encrencadas relações humanas e sociais isso também acontece, onde nem tudo é racismo. Parece racismo, tem cara de racismo, tem cheiro de racismo, mas não é necessariamente racismo. Não se trata aqui de um réquiem ao branco malvadão, mas sim a constatação de que tanto brancos quanto negros são vitimas dela, da famigerada estatística e probabilidade. São elas, com as suas influências matematicamente contundentes, as causadoras de saias justas dia sim e outro também. Isso porque se uma situação eventual tem 70% de probabilidade de acontecer. Ela diz que, sim, vai acontecer. Assim, aquele homem negro que vem em sua direção à noite vai te assaltar; aquela moça negra, com certeza é a faxineira; e o rapaz negro vai ser seguido no shopping porque ele certamente quer roubar. Se nada disso porventura for verdadeiro, virão sorrisos amarelos, pedidos de desculpas, e segue o baile. Não há o que fazer. É a estatística e a probabilidade no piloto automático.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de ago. de 2022
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    Racismo Estatístico...um Lugar De Visão - Mauricio De Oliveira

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão

    Racismo Estatístico...

    Um Lugar de Visão

    Teoria da Síndrome da Transferência de Sartre Teoria da Síndrome da Angústia de Kierkegaard Mauricio de Oliveira

    Mauricio de Oliveira

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão

    Todos os direitos reservados.

    ISBN:

    978-65-00-46967-7

    Mauricio de Oliveira

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão

    Ilustração e Design:

    Capa e contra-capa: Mauricio de Oliveira

    Diagramação: Mauricio de Oliveira

    iii

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão Índice

    Capítulo I – Racismo & Costumes & Inteligência.......................10

    CapítuloII – Síndromes da Teoria da Transferência...................33

    Capítulo III – Cidadania, Pra Quem Precisa............................ ..40

    CapítuloIV – O Negro e o Monopólio da Violência .....................51

    Capítulo V – Racismo Vem de Longe...................................... ..64

    Capítulo VI – Viajando Na História....................... .................... .70

    Capítulo VII – Sujeito de Si Mesmo........................................... .87

    Capítulo VIII – As Estruturas, Ou Sistema................................. 91

    Capítulo IX - Pessoas Negras Não Gostam de Pensar? ....... 111

    Capítulo X – As Ações Legislativas Afirmativas....................... 127

    Capítulo XI – A Semana de Arte Moderna de 1922 – Tem Culpa Eu?.....................................................................134

    Capítulo XII – Quilombo, Amargo Quilombo............................ 147

    Capítulo XIII – E do Outro Lado do Espelho? ..........................160

    Capítulo XIV – Mora na Filosofia..............................................182

    Capítulo XV – Desafricanizar, Eis a Questão...........................188

    Bibliografia................................................................................191

    iv

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão SOBRE O AUTOR

    Mauricio de Oliveira é engenheiro industrial mecânico, com larga experiência na condução e direção de obras industriais, além do desempenho de funções executivas ao longo da carreira. Sua atração pela escrita, literatura e filosofia remonta à infância, quando tomou gosto pelas obras filosóficas de Nicolao Maquiavel e dos filósofos empiristas como Francis Bacon, Thomas Hobbes, René Descartes e Baruch Spinoza, para os quais todo conhecimento humano é adquirido através da experiência. E

    não poderia faltar em hipótese alguma, o grande mestre Nelson Rodrigues; além de ter sido leitor por várias décadas do "Jornal do Brasil", e ter tido a oportunidade de conhecer o estilo de grandes colunistas como Carlos Castelo Branco, Walder de Góes, Villas-Boas Corrêa, Marcos Sá Correa, entre outros.

    Por outro lado, o gosto pela física, pela matemática e a tecnologia não se sobrepôs ao grande interesse e intimidade com o léxico, com a gramática, com a literatura, e a enorme atração pela filosofia. Muito pelo contrário, caminharam lado a lado, a ponto de quando estudante ter respondido a uma prova de cálculo em estilo poético. Isso me rendeu uma preciosa observação do professor, que disse na ocasião: Mauricio, não filosofe quando estiver calculando e não calcule quando estiver filosofando.

    Inesquecível.

    v

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão PREFÁCIO

    Desde muito cedo eu sempre ouvia

    a mesma história. Fosse na escola, nas salas de leitura, entre conhecidos ou nos grupos de um modo geral; era sempre a mesma coisa: Os portugueses invadiram o Brasil e escravizaram a gente aqui. A gente quem cara pálida?

    Como assim? Não é a gente. Os portugueses também levaram o nosso ouro. Como assim levaram nosso ouro?

    Ouro de quem? Seu? Ah, vocês, negros, vieram num navio negreiro. Não vim. Eu sou brasileiro. Alguns em algum momento da história vieram, sim, num navio negreiro. Mas isso foi há 400 anos atrás, não vieram no ano passado.

    Tudo bem que a história dos negros está ligada a isso. Só que essa ligação não é causal. Os negros não estão aqui hoje única exclusivamente porque aconteceu isso. Na verdade poderia ter acontecido outras milhares de coisas para qualquer um de nós estar aqui. Aconteceu da escravização ter trazido um contingente imenso de africanos para o Brasil, mas também aconteceu de africanos virem para o Brasil por sua livre e espontânea vontade, depois do fim da escravização, numa diáspora tão grande quanto a dos judeus.

    Mesmo aqueles que demonizam o colonizador europeu, dizendo que ele fez isso, ele fez aquilo com a gente, não faz sentido. Isso porque aquele europeu, que hoje esta aquí, já foi europeu. Não é mais. Ele é brasileiro. Ele já deixou de ser europeu há muito tempo. Aqui o europeu é cafuzo, é moreno, é misturado, é um pouco de tudo. Não podemos nos esquecer que depois de 400 ou 500 anos, não dá pra fingir que é tudo a mesma coisa e estimular mais ainda a separação de negros e brancos. Há uma outra lente com a qual podemos focar a realidade, entendê-la e, sobretudo, mudá-la. Só que para querermos mudar o mundo à nossa volta, a primeira providência é começarmos a mudar nós mesmos. Mas é uma coisa muito complicada. E é disso que trata esta publicação.

    Mauricio de Oliveira

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão vii

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão

    INTRODUÇÃO

    É possível combater doenças

    como a malária, tifo, varíola, febre amarela, e até mesmo as mais complicadas como HIV, Covid-19, Leucemias e etc.

    Entretanto é extremamente difícil combater a Idiotice. Vale dizer que idiotice é qualidade de quem é idiota. E a palavra idiota, segundo o Dicionário Online, é a pessoa que faz coisas sem nexo, tolo, estúpido, ignorante, pessoa sem discernimento ou bom senso. Há fortes indícios de que não haja cura para isso.

    O problema, na verdade um problemão, é que o mundo está cheio de pessoas com sinais exteriores de idiotice. Mas nós não vamos conseguir combater a idiotice dos idiotas criando leis restritivas, por exemplo, para impedir uma pessoa acometida desse problema de ser discriminadora, homofóbica ou racista. Alguém acredita que uma lei antidiscriminatória, anti-racista, vai impedir um racista de ser racista? Ou um homofóbico de ser homofóbico? Não. Não vai.

    Então seria muito melhor que não tivesse nenhum tipo de restrição para os racistas, nazistas, discriminadores, homofóbicos e outros monstros do pântano poderem exteriorizar seus venenos verborrágicos pútreos. Porque seria bom ver a cara do sujeito racista sendo racista. Ver a cara do sujeito homofóbico sendo homofóbico. Para isolá-los, ficar livres deles, expurgá-los da sociedade esclarecida.

    Existe um processo civilizatório, que é realizado por meio de experimentar a realidade como ela é. E a realidade é dura.

    No dia a dia lidamos com uma quantidade enorme de gente acometida de estupidez e idiotice. E tentar silenciar essas pessoas, é a pior forma que se pode fazer pra combater seus psico-desvios. A estupidez tem de ser eviscerada, ela tem que aparecer pra que se olhe e se possa identificar o sujeito. Então, quanto mais visível estiverem os estúpidos e os idiotas, mais fácil será combatê-los.

    i

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão

    Mauricio de Oliveira

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão Capítulo I

    Racismo vs Costumes vs Inteligência

    Não importa o que pareça a princípio, o problema é sempre as pessoas. O Ser Humano. Por conta disso o Racismo e a Discriminação nunca vão acabar, porque são atos de sordidez e mesquinharia, que são as principais características dos seres humanos.

    Mauricio

    É isso! O racismo e o preconceito nunca vão acabar enquanto existirem pessoas, seres humanos, porque a mesquinharia e a sordidez são características que só os humanos têm. Uma vaca mesquinha ou uma serpente sórdida só existirão no imaginário popular. Ou quando o genro mora na casa da sogra, e a ela se refere. Racismo e preconceito são atitudes com um grau de imbecilização tão ilógico, tão maligno, tão estúpido que nada tem a ver com a cor da pele, com o grau de obesidade, com o gênero, ou qualquer outro fator.

    A explicação mais próxima talvez seja a ocupação do espaço, alguém está chegando, e de alguma maneira vai ocupar algum espaço que hoje é seu. Entendendo-se aqui que esse espaço não é necessariamente físico, mas também econômico e cultural. Mas claro, se for alguém de um fenótipo diferente, tipo negro, oriental ou indiano, aí fica mais fácil destilar o veneno. Mas... porque razão um homem branco, europeu, de olhos azuis, sofreria, então, discriminação e preconceito racial? Porquê? Porque o racismo é ilógico, imbecil, anacrônico, vil, mesquinho e sórdido.

    Que o diga o grande cantor americano Frank Sinatra, o The Voice, que registrou esses acontecimentos numa carta memorável, num depoimento magistral, como tudo o que ele fazia, e que ajuda um pouco a ilustrar tudo o que este livro se

    1

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão propõe. Na verdade ele dá uma aula, faz um libelo à inteligência, e que de maneira alguma poderia ficar de fora desta publicação. Este texto ele escreveu na década de 80, para uma liga anti-preconceito; foi editado por várias publicações norte-americanas. Nele, Sinatra lembra o preconceito racial que sofreu por ser descendente de italianos, e o sofrido por seus amigos negros, além de apontar meios de como o cidadão comum pode lutar contra a discriminação. Abrindo aspas para Frank Sinatra:

    "Meus amigos, que são muitos, vivem espalhados pelo mundo. São de muitas cores e religiões, ricos, pobres, intelectuais e analfabetos. Um amigo, para mim, não tem raça nem classe social e não faz parte de nenhuma minoria.

    Minhas amizades são formadas a partir do afeto, do respeito e do sentimento de que temos algo marcante em comum.

    São valores eternos, que não se enquadram em nenhuma classificação racial. Algumas de minhas amizades deram lugar a idéias distorcidas a meu respeito. Devido ao fato de alguns de meus bons amigos serem negros, há quem já tenha dito que eu teria uma preferência por negros.

    A verdade é que eu não gosto de negros mais do que de judeus, muçulmanos, italianos ou outro grupo. Não gosto

    segundo a cor da pele ou o lugar onde um homem faz as orações. E nunca escolhi um amigo em função de sua nacionalidade.

    Em Hoboken, Nova Jersey, onde fui criado, a comunidade era dividida em compartimentos raciais e religiosos estanques. Havia ítalo-americanos, americanos de origem irlandesa, judeus e negros. Cada grupo ocupava seu setor.

    Se alguém penetrasse em território estrangeiro, irrompiam atos de violência. Havia brigas sangrentas entre meninos de diferentes quarteirões, com punhos e pedras. Minha principal recordação dessa fase da vida é de que foi amarga, violenta, dura e carente de amor e segurança afetiva.

    2

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão Mas sobrevivi e aprendi uma lição: não é possível manter ódio no coração e, ao mesmo tempo, viver uma vida saudável. Preconceito não combina com cidadania.Tenho opiniões bem definidas sobre os problemas que hoje dividem as nações e freqüentemente sinto necessidade de falar sobre questões com as quais os entertainers

    normalmente não se preocupam. Quando um entertainer

    evita cumprir seu dever de cidadão numa crise, merece ser criticado tanto quanto qualquer outra pessoa. E quando enfrenta uma questão que, devido à sua importância nacional, o afeta diretamente, merece ser aplaudido.

    Louis Armstrong, que sempre admirei como artista, resolveu encarar um grande problema nacional e expressou seu ponto de vista de maneira inequívoca a um jornalista. Louis estava indignado com o fato de nove estudantes negros em Little Rock não terem tido seus direitos respeitados. Muitas pessoas apoiaram-no. Outras disseram que ele se excedeu ao falar sobre assuntos que não a música. Embora eu, na época, tenha sentido que Louis poderia ter deixado de fora algumas das palavras ásperas sobre o presidente e o governo, sua indignação contra a injustiça era correta e apropriada.

    Quando Nat King Cole foi agredido num palco de teatro por vândalos preconceituosos em Birmingham, Alabama, a classe dos artistas como um todo reagiu. Fiquei furioso quando soube do incidente e imediatamente tentei falar com Nat pelo telefone para lhe falar da minha própria indignação.

    Finalmente consegui localizá-lo num hotel de beira de estrada, às 3h do dia seguinte, e lhe transmiti minha preocupação e solidariedade, dizendo que estava chocado, triste e irado. Além de um grande artista, Nat era um cidadão de primeira categoria.

    Sammy Davis Jr. é um dos mais talentosos e bem-sucedidos entertainers do mundo. Eu o conheço intimamente desde que ele era criança, quando se apresentava no circuito dos clubes e dos teatros de 3

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão variedades, com seu tio e seu pai, vivendo com o pé na estrada. O afeto que tenho por Sammy e May Britt ultrapassa o grande talento de Sammy e é motivado por qualidades

    humanas

    que

    me

    comoveriam

    independentemente de quem as possuísse. Eu já disse e repito que eu não me apresentaria depois desse homem em qualquer clube ou teatro em parte alguma, nem por todo o ouro de Las Vegas. Tenho orgulho de seu sucesso fabuloso.

    Aplaudo os artistas de grande talento que apóiam boas causas, e Sammy é exatamente esse homem.

    Alguns anos atrás, ele fez uma apresentação solo, de três horas, na Chicago Civic Opera House, em benefício da Liga Urbana da cidade, uma organização que se dedica à promoção de oportunidades econômicas para negros americanos. O show rendeu US$ 20 mil para a Liga Urbana, e, para Sammy, a noite foi uma diversão. Tenho outros amigos de longa data, como o grande Joe Louis e o incomparável Sugar Ray Robinson, cujos triunfos e derrotas venho compartilhando há muitos anos. Minha paixão pelo boxe me aproximou de pugilistas que viraram meus ídolos e que, mais tarde, aprendi a admirar como amigos.

    Um deles é Jersey Joe Walcott. Grande e corajoso. Fora do ringue Walcott é gentil e sensível. A doçura é uma qualidade raramente encontrada hoje em dia, mas Joe a possui de sobra. Eu não me atreveria a identificar meu boxeador predileto, pois já conheci e admirei muitos, mas Joe Louis sempre será uma de minhas pessoas favoritas.

    Venho acompanhando os altos e baixos de sua carreira desde a noite de 1938, em que derrubou Max Schmeling no primeiro round e recuperou para os EUA o título dos pesos-pesados. Com ou sem título de campeão, rico ou falido, Joe sempre simbolizou a dignidade humana. Em sua presença, sinto-me humilde. Joe Louis tornou-se uma lenda ainda em vida porque possuía o talento de um verdadeiro artista, a força de um demônio e o coração de um leão. Sempre amei 4

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão Jimmy Cannon por ter criado aquela frase maravilhosa:

    Louis é motivo de honra para a sua raça: a raça humana.

    Em termos profissionais e musicais, não posso nem começar a avaliar a tremenda importância dos cantores e músicos negros. A dívida com eles é imensa demais para ser paga. Venho recebendo inspiração de uma sucessão de grandes cantores e jazzistas negros, que vem desde Louis Armstrong e Duke Ellington. Em termos de meu canto, já me perguntaram, algumas vezes, como tudo começou, e normalmente acho difícil apresentar a história em forma de narrativa contínua. Desde minha infância, venho ouvindo sons e cantores, negros e brancos, absorvendo um pouquinho aqui e um pouquinho ali. Inúmeros músicos de talento me ajudaram.

    Mas é Billie Holliday, que eu ouvi pela primeira vez em clubes na rua 52, no início dos anos 30, que foi e continua sendo minha maior influência isolada. Lady Day foi inquestionavelmente a mais importante influência do canto popular americano dos últimos 20 anos. Com poucas exceções, todos os grandes cantores pop americanos de sua geração foram influenciados pelo gênio dela, de uma maneira ou outra. A profundidade do canto de Lady Day sempre me comoveu profundamente.

    Quando eu a ouvi pela primeira vez, debaixo de um spot numa casa de jazz da rua 52, movendo o corpo para acompanhar o ritmo, fiquei maravilhado com sua beleza suave, arrebatadora. Era o tipo de rosto que fazia um homem sentir vontade de acariciá-lo com ternura. Quando eu era um cantor jovem, ouvia Ethel Waters com frequência.

    Seus sentimentos pelo blues e seu calor humano me tocaram profundamente. Nunca vou esquecê-la. A arte de Ella Fitzgerald cresceu com o passar dos anos -e me carregou junto. Na minha opinião, Ella é a maior das cantoras de jazz contemporâneas.

    5

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão Minhas experiências na música me ensinaram que o talento é cego no tocante à cor da pele. O jazz se tornou uma força internacional porque as habilidades e os talentos criativos de músicos de muitas cores e nações se reuniram para fazer dele o que hoje é. Nossa América é um grande caldeirão que mistura pessoas de todas as cores e crenças.

    Essa mistura vem acontecendo desde o início dos tempos e nada pode interromper.

    O casamento entre pessoas de raças e religiões diferentes nunca é um problema para seres humanos civilizados, e, quando falo nisso, estou pensando não apenas em casamentos de brancos com negros, mas também entre judeus e não-judeus, entre católicos e protestantes. Sempre me ensinaram que o matrimônio nasceu no céu e que essa união sagrada de dois corações possui integridade própria.

    Na minha própria profissão, o show business, sempre nos orgulhamos de nossa tradição de avaliar e aceitar os artistas com base em seu mérito e nada mais. O entretenimento tem, de modo geral, estado à frente do resto do país no que diz respeito à democracia real. Ainda restam algumas poucas áreas em que falta fazer muita coisa. A música, por exemplo: ainda é fato trágicoque várias cidades têm subsedes racialmente segregadas do sindicato dos músicos.

    Mas bandas de rádio e de gravação estão ficando cada vez mais racialmente integradas.

    Na minha vida, já senti o preconceito. Muitas pessoas têm preconceito contra italianos. Não muito tempo atrás, uma mulher levemente bêbada sentou-se à minha mesa num nightclub na Califórnia e me disse: Sabe como te chamamos na minha casa? Chamamos você de o cantor wop'. Não foi a primeira vez que me chamaram de wop"

    (termo

    pejorativo

    para

    designar

    um

    italiano)

    e

    provavelmente não será a última. Uma maneira pela qual o cidadão médio pode ajudar é manifestar-se contra o uso de epítetos pejorativos de cunho racial, sempre que os ouvir. Já faz tempo que adotei o hábito de interromper qualquer 6

    Racismo Estatístico...Um Lugar de Visão conversa na qual estou envolvido, quando surgem termos como nigger (crioulo), wop, kike (judeu) ou hunky

    (imigrante do Leste Europeu).

    Em 1945, quando alguns estudantes do colégio Froebel High School, em Gary, Indiana, fizeram greve para impedir a admissão de alunos negros, sua iniciativa fez manchetes no país inteiro e até no exterior. Fui até Gary para tentar fazer alguma coisa e descobri que agitadores de fora da cidade tinham incitado os alunos. Fiz um discurso no auditório da escola e cantei The House I Live in.

    Algumas pessoas acharam que eu estava me arriscando ao me intrometer naquela situação explosiva, mas meu único intuito era acalmar aqueles adolescentes e derrubar os muros do ódio, erguidos artificialmente. De certo modo, foi a apresentação mais importante da minha vida. Começou ao som de vaias.

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