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Dias De Quartel E Guerra
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E-book349 páginas4 horas

Dias De Quartel E Guerra

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Sobre este e-book

Filho de italianos e primeira geração nascida no Brasil, Mário Novelli estava entre os 25 mil Pracinhas que foram combater pela Força Expedicionária Brasileira, na II Guerra Mundial. De família simples, regressou ao país dos antepassados para ajudá-los a se libertarem do nazifascismo. Anotou em um diário, por mais de dois anos, o cotidiano da preparação para a luta e o cotidiano do front nos Apeninos italianos. Deixou registrado com suas palavras, nas linhas finais do diário, seu desejo de um dia poder escrever um grande livro para mostrar ao mundo o que foi a guerra. Mário nos brinda com suas memórias, compostas por um conteúdo histórico valiosíssimo, publicadas apenas 67 anos após sua precoce morte, aos 39 anos de idade, devido a problemas cardíacos, agravados por um quadro de depressão profunda, fruto dos dias que passou combatendo. Agora, ele nos empresta suas histórias para que nos transportemos para os dias de quartel e guerra, em que ele colocou a própria vida em risco para defender um mundo sem autoritarismo e mais democrático.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de abr. de 2021
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    Dias De Quartel E Guerra - Mário Novelli, Helton Costa E Gerson Doria

    Mário Novelli

    Helton Costa

    Gerson Doria

    Dias de quartel e guerra: diário do

    Pracinha Mário Novelli

    2021

    Idealização:

    Mário Novelli

    Redação e pesquisa:

    Helton Costa, Gerson Doria e Mário Novelli

    Revisão:

    Laura Cielavin Machado

    Colorização e tratamento de imagem da Capa:

    Reinaldo Elias

    Capa e projeto Gráfico:

    Helton Costa

    Acervo fotográfico:

    Gerson Doria

    Colaboração de imagens:

    Márcia Rossi e João Camargo.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Dias de quartel e guerra: diário do Pracinha Mário Novelli/Helton Costa, Gerson Doria e Mário Novelli – Curitiba: Matilda Produções, 2021.

    Bibliografia.

    ISBN: 978-65-86392-04-3

    1. História Militar; 2. Biografia; 3. Força Expedicionária Brasileira; 4. Segunda Guerra Mundial

    CDD: 940.980.070

    Sumário

    Os Novelli no Brasil.............................................................................................6

    Contextualização..................................................................................................9

    Capítulo 1 - 1942...............................................................................................15

    Capítulo 2 - 1943................................................................................................19

    Capítulo 3 - A partida e o embarque................................................................88

    Capítulo 4 - A guerra.........................................................................................98

    Capítulo 5 - Front............................................................................................128

    Capítulo 6 - A volta..........................................................................................177

    Anexos...............................................................................................................181

    Agradecimentos

    Agradeço imensamente ao jornalista Helton Costa por ter tornado real a concretização desta obra, bem como o desejo de seu protagonista. Muito obrigado, especialmente a minha avó Ione Novelli, por ser quem ela é e por contribuir com as pesquisas. Dedico este livro a você, vó e ao vovô Armando. A minha companheira, Mairla Santana, por me encorajar e apoiar a realizar o sonho do Mário. Agradeço muito também, a minha mãe Soraya e as minhas tias Samara e Silvana. Sou muito grato a todos que de alguma forma demonstraram interesse e acreditaram que o sonho deste bravo soldado Andreense chamado Mário Novelli, poderia sim se tornar uma realidade.

    Gerson Doria

    Dedico este livro ao meu avô adotivo, Manoel Castro Siqueira, falecido em 2019. Ele foi soldado da 5ª Cia, do II Batalhão do 6º Regimento de Infantaria da FEB.

    Levou uma vida digna e honrada, porém, nos últimos dias de sua passagem pela Terra, começou a sofrer com as lembranças da guerra, a reviver mentalmente os dias difíceis que passou na Itália, sendo acometido por problemas psicológicos que agravaram seu quadro de saúde já debilitado por conta da idade. Aprendi muito com ele e sei que ele continua a olhar por aqueles que lhe eram queridos. Saudades!

    Helton Costa

    Desenho feito como contracapa do diário de Mário Novelli, de autoria do próprio soldado.

    Os Novelli no Brasil

    Uma história que se inicia no século XIX em uma pequena cidade da Toscana/Itália chamada Buti. Lindo lugar, cercado por montes verdes de belas paisagens, composto por igrejas, castelos e construções milenares. Neste local, no dia 10 de dezembro de 1865, nasceu Giuseppe Novelli, filho de Valentino Novelli e Maria Leporino. Giuseppe era o caçula de quatro irmãos, Sabatino era seu irmão mais velho, seguido por Anselmo e Caterina. Seu avô paterno se chamava Michele Novelli, e toda a família, incluindo tios e primos, vivia nas imediações de Buti, Cascine di Buti e Bientina, comunas localizadas na província de Pisa.

    Município de Buti/ Pisa, Itália (Imagem de Lido Scarpellini com colaboração de Gilda Rinaldi) Giuseppe foi batizado um dia após o seu nascimento na Parrocchia di San Giovanni Battista, localizada em Buti, igreja esta que os registros de origem apontam para antes dos anos 1.000. Ainda nos dias de hoje, seus eventos culturais e o cuidado com a preservação das tradições permitem que o seu bom funcionamento continue acontecendo ininterruptamente.

    6

    Paróquia de San Giovanni Battista/Buti (Acervo Lido Scarpellini) Ainda jovem, Giuseppe trabalhava como agricultor nas produtivas terras de olivas e castanhas que compunham a obra de arte natural dos montes Serra e Pisano, mas, devido à escassez de recursos básicos e a uma situação econômica pouquíssimo favorável durante um período desta época, aos 22 anos, Giuseppe tomou uma decisão que mudaria completamente o seu futuro e o de seus descendentes. Começaria ali a escrever um novo capítulo em sua trajetória. Assim como milhões de italianos, Giuseppe atravessou o oceano a bordo do vapor Cheribon, em uma viagem cansativa, aborrecedora e longa, porém esperançosa, tendo que passar o Natal e o Réveillon em alto mar para dar início a uma nova vida em território brasileiro.

    Chegando ao porto do Rio de Janeiro no dia 7 de janeiro de 1888, Giuseppe se deslocou para o estado de São Paulo, onde se instalou na cidade de Santo André que, na época, segundo consta, ainda se chamava Villa de São Bernardo do Campo.

    O local oferecia seus atrativos e, com a experiência que Giuseppe carregava consigo, não encontrou dificuldades em conseguir trabalho, uma vez que a mão de obra de imigrantes tomava conta do cenário econômico desta região. O crescimento do cultivo de café entre outros produtos agrícolas sendo produzidos em larga escala, a importância do comércio e as facilidades que a linha férrea trazia transportando produtos até o porto de Santos fizeram com que sua permanência na cidade fosse bastante promissora e, em 1896, casou-se com uma italiana jovem que conhecera em Santo André. O nome dela era Gemma Tiezzi e ela tinha apenas 17 anos de idade quando se casaram.

    7

    Gemma e Giuseppe (Acervo Gerson Doria)

    Gemma era natural da Província de Arezzo/Itália, filha de Giuseppe Tiezzi e Rosa Bacconi. Dois anos após o casamento, Gemma e Giuseppe tiveram a primeira dos sete filhos. Seu nome era Claudina Novelli. Logo na sequência, vieram Valentin, Zelindo, Maria, Genny, Armando e, por último, o caçula Mário, nascido 19 anos após o casamento.

    Mário foi o único que voltou para o país de origem dos Novelli e dos Tiezzi, e não foi a passeio. Voltou para lutar bravamente em um conflito devastador que marcaria para sempre a história da humanidade. Parte da trajetória de vida, dos feitos e acontecimentos mais improváveis e emocionantes que um jovem poderia enfrentar, você verá nas próximas linhas, contados pelo próprio Mário.

    Boa leitura!

    Gerson Doria

    Sobrinho bisneto de Mário Novelli

    8

    Mário Novelli aos 24 anos, em 1939. (Acervo Gerson Doria)

    Contextualização

    O Brasil na II Guerra Mundial

    A II Guerra Mundial começou em 1939. Até 1942, o Brasil se manteve neutro no conflito. Porém, com o ataque japonês a Pearl Harbour em 7 de dezembro de 1941, por conta de acordos assumidos anteriormente em âmbito internacional, os brasileiros deixaram de ser neutros. Esses acordos asseguravam que se um dos países do continente americano sofresse agressões, os demais lhe seriam solidários, e o Brasil entrou na guerra, cumprindo sua palavra ao ver os americanos atingidos pelos nipônicos. Isso foi em janeiro de 19421.

    Para completar, após a solidariedade brasileira, mais de três dezenas de navios mercantes do Brasil foram afundados por submarinos do Eixo, agravando as hostilidades contra o país e empurrando-o de vez para a guerra, o que se concretizou em 1 SILVEIRA, Joaquim Xavier da. A FEB por um soldado. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1989, p.35-39.

    9

    agosto daquele mesmo ano. Foram mortas 1.081 pessoas2 por conta desses afundamentos.

    Com a guerra declarada, primeiro o Brasil emprestou bases no nordeste do país para que os americanos pudessem cumprir missões no norte da África, tanto bélicas quanto logísticas, representando o chamado Trampolim da Vitória. Na época, o aeroporto de Natal, no Rio Grande do Norte, foi um dos aeroportos mais movimentados do mundo, tamanha era a infraestrutura de guerra montada no saliente nordestino3.

    Quando o calendário apontou 1943, foi anunciada a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que inicialmente previa 100 mil homens em suas fileiras. No entanto, até o final daquele ano e metade de 1944, recrutou-se apenas um quarto do previsto. Houve alguns poucos voluntários e muitos convocados, cabendo às várias unidades militares do país contribuir com soldados4.

    Esses homens foram agrupados em três regimentos: 1°, 6° e 11°5, com sede no Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP e São João Del Rei/MG, respectivamente. Coube ao 6º

    Regimento embarcar na frente, no primeiro dos cinco escalões de transporte para a guerra. A previsão inicial era enviar mais de 25 mil brasileiros para o front da África, porém, como a vitória foi alcançada naquele continente antes da chegada da FEB, outro front precisava mais de soldados: a Itália6.

    Isso porque os exércitos aliados haviam mobilizado uma grande quantidade de combatentes na Operação Anvil, que foi a invasão do sul da França, em agosto de 1944.

    Com a retirada de unidades da Itália, numericamente, as forças aliadas ficaram quase com o mesmo efetivo do Eixo, o que não era muito seguro. Os brasileiros chegaram para ajudar a completar os efetivos que, naquela parte do front, eram compostos por várias outras nacionalidades, como indianos, paquistaneses, ingleses, sul-africanos, judeus, australianos, entre outros7.

    O primeiro escalão da FEB desembarcou em Nápoles, em agosto de 1944 e, após breve treinamento, entrou no front em setembro. Nessa fase, os brasileiros 2 SANDER, Robert. O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas. Editora Objetiva, 2007.

    3 SANDER, Robert; SILVEIRA, Joaquim Xavier da. Op.cit.

    4 SILVEIRA, Joel. Histórias de pracinhas: reportagens. Rio de janeiro: Leitura, 1945, p.49-51.

    5 Acrescentam-se à lista homens do 9º Batalhão de Engenharia, da Artilharia e dos órgãos não-divisionários.

    6 MASCARENHAS DE MORAES, João Batista. A FEB pelo seu Comandante. São Paulo: Ipê, 1947, p.21-29.

    7OLIVEIRA, Dennison de. Extermine o Inimigo: Blindados brasileiros na Segunda Guerra Mundial.

    Curitiba: Juruá, 2015b, p.83.

    10

    libertaram/ocuparam várias localidades, como Borgo a Mozzano, Massarossa, Abiano, Catagnana, Galicano, Trassílico, Monte Comunale/Il Monte, Piano de La Rocca, Diecimo, Bolognana, Fabricci, Catarozzo, Chivizzano, Oesteria, Coreggia Antelminelli, entre outras. O avanço prosseguiu até 30/31 de outubro de 1944, em Castelnuovo di Garfagnana, quando houve um revés, encerrando a primeira parte da chamada campanha do vale do rio Serchio, em Sommocolonia8.

    Dali em diante, os brasileiros mudariam de front, deslocando-se para a região dos Apeninos, chegando a essa região no começo de novembro e às bordas de Monte Castello na segunda quinzena novembro de 1944. Após quatro ataques fracassados e um duro inverno, que em alguns pontos marcou vinte graus negativos, os brasileiros tomaram a elevação em 21 de fevereiro de 1945. Depois, seguiram em frente no mês de março sobre Castelnuovo di Ver gato e adjacências. Montese ocorreu entre 14 e 19 de abril de 1945.

    A guerra terminou para os brasileiros em 30 de abril de 1945, com a rendição incondicional de quase 15 mil soldados da 148ª Divisão de Infantaria Alemã, cercada e combatida em Collechio/Fornovo, já bem no norte italiano.

    Em 239 dias de ação, a FEB fez mais de 20 mil prisioneiros alemães, mas perdeu mais de 451 soldados mortos em combate e teve aproximadamente 1,6 mil feridos, acidentados e desaparecidos em combate.

    No dia 8 de maio, a guerra acabou na Europa. Os brasileiros foram voltando para casa aos poucos, em frações, assim como haviam chegado. A II Guerra só terminaria de vez com o ataque nuclear americano a Nagasaki e Hiroshima, isso em agosto de 1945.

    Mário Novelli

    Mário era o caçula de sete irmãos do casal Giuseppe Novelli e Gemma Tiezzi.

    Antes de Mário, vinham pela ordem: Claudina, Valentin, Zelindo, Maria, Genny e Armando. A família morava em Santo André/SP, dava-se bem e, após a morte do pai de Mário (que tinha apenas 17 anos na época), em 1932, vítima de um câncer na laringe, aos 66 anos, os familiares uniram-se ainda mais. Mário tinha todo um carinho pela mãe, sem nunca se esquecer do pai amado, como se verá no texto.

    8 MASCARENHAS DE MORAES, 1947, Op. Cit., p.77-99.

    11

    Mário ainda com 17 anos de idade, época em que perdeu o pai. (Acervo Gerson Doria) Os irmãos Zelindo e Armando tinham uma pequena cerâmica e foi ali que Mário aprendeu a profissão que exerceria depois da guerra. Dividia o tempo ajudando também em uma pequena venda, que era propriedade familiar, tocando o negócio até 1944, quando a família se desfez do investimento e repartiu o valor entre os irmãos, inclusive com Mário que já estava na Itália, na guerra.

    Mário aos 20 anos, em 1935. (Acervo Gerson Doria)

    Maior de idade, Mário serviu o Exército até os 20 anos de idade. Em 1935, estava trabalhando como tapeceiro na Companhia Streiff de São Bernardo, onde ficou até 1941, tendo saído para ingressar novamente no exército. Neste ponto, não se sabe se ele foi reconvocado em 1942, por conta do estado de guerra declarado, ou se ele se apresentou como voluntário, pois já estava com 27 anos de idade.

    O chamado

    12

    O Brasil declarou guerra contra a Alemanha e a Itália em 22 de agosto de 1942.

    Para quem estava nos quartéis, começaria a preparação que acabaria por filtrar aqueles que comporiam a FEB.

    No final de 1942, por iniciativa própria, Mário começou a registrar o seu cotidiano em um diário, o que mostra que ele tinha consciência de que estava fazendo parte de algo maior, de um evento histórico. Por isso, ele buscou ser bastante preciso e ajudou a preencher algumas lacunas do pré-guerra, ainda no Brasil, ao contar o cotidiano da 8ª Companhia, III Batalhão, do 6º Regimento de Infantaria, na qual esteve presente desde antes da partida para a Itália até o retorno vitorioso.

    A história começa em Araçatuba/SP, cidade em que ele servia, que ficava distante mais de 530 km da cidade natal dele, Santo André. Mário anotou os treinamentos puxados e os momentos de descontração. Como poderá ser observado, ele era um soldado culto e apreciava as artes, principalmente o cinema.

    Por ser mais velho do que a maioria dos outros soldados, também era mais sério e mais reservado. No diário, por exemplo, não anotava seus amores, nem mesmo os da Itália, ainda que dê sinais de que esteve apaixonado por algumas moças que lá conheceu, como Emma, Clara e Liccia.

    A rotina no quartel do Brasil foi bem diferente da rotina na Itália, onde teve mais liberdade para trabalhar e menos burocracia. Mário era solteiro e apreciava a companhia de amigos e da família. Permaneceu solteiro até o fim da vida.

    Mário quando se apresentou ao Exército, já com 27 anos. (Acervo Gerson Doria) 13

    Retornou da guerra com problemas nervosos, traumas que hoje chamamos de estresse pós-traumático. Voltou a trabalhar na cerâmica da família e morreu aos 39

    anos, em 1954, sem filhos e sem o devido tratamento e reconhecimento que o Estado lhe devia. Nas linhas que se seguem, o jovem revela sua personalidade e realiza o desejo que deixou anotado na última folha do diário, onde diz o seguinte:

    "Não façam caso das minhas palavras alterando cartas que já tenho escrito,

    porque já estou acostumado com a nossa gíria, e também gosto de falar demais. Até

    gostaria de ser um escritor e escrever um grande livro para mostrar ao mundo o que é

    a guerra".

    Por isso, para manter as palavras do autor, o diário passou apenas por atualização ortográfica e gramatical, tendo recebido notas de rodapé, do jornalista, doutor em comunicação e pesquisador da FEB, Helton Costa, para que quem leia a obra consiga situar-se no tempo e espaço e também ter mais informações sobre aquele evento ou situação. O estilo de Mário foi preservado.

    O sobrinho bisneto de Mário, Gerson Doria Neto, que fez a introdução da obra, encarregou-se de pesquisas aprofundadas nos registros fotográficos e na genealogia da família, possibilitando ao leitor ter acesso ao acervo que Mário despachou e trouxe da Itália. De certa forma, Mário retorna nesta obra, conversa conosco e explica-nos como se passaram aqueles dias em que ele colocou a vida dele em risco, junto com outros milhares de jovens, para que nós pudéssemos ter o privilégio de viver as nossas em nossos dias. Obrigado, Mário, esteja onde estiver!

    14

    Capítulo 1

    1942

    7 de dezembro de 1942. Segunda-feira. Às 17 horas deste dia, chegamos à estação de Araçatuba, onde fomos apresentados ao nosso capitão, senhor João Augusto Los Reis, e dali fomos em forma para o grupo escolar, onde jantamos e fomos alojados provisoriamente. Era bastante calor.

    8 de dezembro de 1942. Terça-feira. Às 5h30 levantamos sob toque de alvorada e fomos para o estádio Adhemar de Barros, na Avenida 10 de novembro, em frente ao cemitério.

    Estádio este que seria brevemente nosso quartel. Ali tomamos o café, almoçamos, passamos o resto do dia e jantamos. À noite, voltamos para o grupo.

    Os soldados no estádio Adhemar de Barros. Mário é o primeiro da esquerda. (Acervo Gerson Doria) 9 de dezembro de 1942. Quarta-feira. Como no dia anterior, fomos logo cedo para o estádio e à tarde voltamos para o grupo. À noite, escrevi uma carta para casa, dando uma boa notícia e outra para meu irmão, Armando.

    10 de dezembro de 1942. Quinta-feira. Este dia correu normalmente, como nos dias anteriores. À noite, saí com meus amigos, por ordem do nosso capitão, dada a toda a companhia para voltar às 21h30 e com muitas recomendações do mesmo.

    11 de dezembro de 1942. Sexta-feira. Este dia passamos normalmente como nos outros dias e o capitão tomou nome, endereço certo de cada um e documento. À tarde, ao voltarmos para o grupo, recebemos cama.

    15

    12 de dezembro de 1942. Sábado. Neste dia, estivemos no estádio pela manhã e tivemos um pouco de vivacidade9 ainda à paisana10. E eu fiquei de lado por estar com o pé inchado. Ficamos no estádio até à tarde. À noite, saí, estive na cidade.

    Com um amigo, após atividades físicas. (Acervo Gerson Doria) 13 de dezembro de 1942. Domingo. Passamos o dia bem. À tarde, fui à piscina nadar com meu amigo Angelo11 e vimos na volta, na estação, a passagem do 9º Batalhão de Engenharia, da Vila Militar do Rio de Janeiro, que seguia rumo a Mato Grosso12. À

    noite, estive na cidade. O dia foi bom, mas sempre muito calor.

    14 de dezembro de 1942. Segunda-feira. Neste dia, eu ainda tinha o pé inchado por uma bolha d'água que me havia saído jogando futebol e houve vivacidade no campo do estádio, ainda à paisana.

    15 de dezembro de 1942. Terça-feira. Neste dia, fomos e voltamos cedo para o grupo, a fim de recebermos fardamento. Tivemos recomendações do nosso capitão.

    16 de dezembro de 1942. Quarta-feira. Na manhã deste dia, marchamos pela cidade em solenidade ao dia do reservista e fomos seguidos pelo povo. O nosso capitão discursou na frente da escola normal.

    17 de dezembro de 1942. Quinta-feira. Fomos ao estádio, como sempre, e fizemos um pouco de instrução de física. Começamos a fazer mais instruções.

    9 Série de exercícios físicos regulamentares das forças armadas.

    10 Com roupa civil.

    11Angelo Gazoli, melhor amigo de Mário.

    12 Atual Mato Grosso do Sul. Deslocavam-se para a cidade de Aquidauana, entrada do Pantanal.

    16

    18 de dezembro de 1942. Sexta-feira. Neste dia, também tivemos física e demais instruções.

    19 de dezembro de 1942. Sábado. Neste dia, estivemos, como sempre, no estádio. À

    tarde, fui ao grupo e lavei umas peças de roupa branca. À noite, estive passeando na cidade.

    20 de dezembro de 1942. Domingo. Passamos a manhã regularmente no estádio e à tarde fui ao fotógrafo com meus amigos Angelo e Niacava13, a fim de tirar muitas fotografias. E depois fomos até o Rio Baguaçu. A tarde deste dia foi ótima e, à noite, estive na cidade.

    21 de dezembro de 1942. Segunda-feira. Neste dia, fazíamos ordem unida14 na rua, quando recebi carta de casa dando boas notícias e passei o resto do dia normalmente. À

    tarde, o capitão nos apresentou, no estádio, o 1º tenente Sinésio Santana Reis, que fora designado oficial subalterno da nossa subunidade.

    22 de dezembro de 1942. Terça-feira. Neste dia, também tivemos ordem unida. O dia foi bom. À noite, escrevi para casa dando boas notícias e pedindo um quepe15 e mais roupas de esportes.

    23 de dezembro de 1942. Quarta-feira. Neste dia, pela manhã, tivemos instrução de campo, choveu e voltamos molhados para o grupo, a fim de trocar de roupa. À tarde, o capitão deu dispensa de 12 dias para quem quisesse passar as festas em casa e eu não quis ir.

    24 de dezembro de 1942. Quinta-feira. Neste dia, tivemos ordem unida, bastante batida, com o tenente Sinésio. À tarde, teoria16, e o dia foi bem quente. Passei o dia bem.

    25 de dezembro de 1942. Sexta-feira. Este dia tivemos instrução, como sempre. Passei o dia aborrecido. À noite, saí um pouco e me recolhi cedo. O dia foi bom.

    26 de dezembro de 1942. Sábado. Neste dia, mudamos para o quartel no estádio e todos nós

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