Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Luzes Escuras
Luzes Escuras
Luzes Escuras
E-book735 páginas11 horas

Luzes Escuras

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Quando uma garota chamada Lisa Arrick descobre que não é humana, sua vida se torna um mar de problemas. Por ser a mais forte de sua espécie, ela se vê obrigada a acabar com a guerra que perdura há bilhares de anos entre sua espécie e seus maiores inimigos: os segords. Determinada, Lisa busca a solução de seus problemas e narra sua problemática e conturbada história.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de mai. de 2021
Luzes Escuras

Relacionado a Luzes Escuras

Ebooks relacionados

Ficção Científica para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Luzes Escuras

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Luzes Escuras - Letícia Alvies

    Luzes Escuras

    Por Letícia Alves

    2

    Dedico esse livro à arte que consumi ao longo de minha vida e aos meus amigos que leram e dedicaram um tempo para avaliar o conteúdo , principalmente ao Edivam, que aguentou meus questionamentos por um bom tempo.

    3

    Sumário

    Apresentação........................................................................... 05

    Parte I: Renascimento

    1 O Começo do Fim................................................ 08

    2 O Sítio Belkorg.................................................... 72

    3 As Artes Obscuras.............................................. 19 7

    4 A Batalha Entre Semelhantes............................. 24 3

    Parte II: Vida e Caos

    1 Problemas........................................................... 270

    2 Soli Zit Midlen................................................... 29 7

    3 Mórderan............................................................ 32 7

    4 A Jornada Pelo Espaço....................................... 35 8

    5 Corserer e a Luta em Abess................................ 42 5

    6 Akanemoc........................................................... 4 60

    7 Dráxira................................................................ 47 3

    8 Táluri................................................................... 4 80

    9 Eslúria................................................................. 49 5

    10 O Capítulo Fragmentado................................... 52 5

    11 A Luta Contra os Subordinados........................ 53 8

    12 O Final Realista................................................ 56 2

    4

    Apre sentação

    Frequentemente me pergunto a razão de eu gostar tanto de escrever. Às vezes consigo achar respostas, outras, não. Li em um livro, mais especificamente o livro Santo Guerreiro: Roma Invicta do autor Eduardo Spohr (meu autor preferido), que tudo que trazemos conosco em nossas reencarnações são os talentos. Uma parte de mim sabe que isso é verdade.

    Comecei a escrever com onze anos de idade. Lembro bem a primeira história que escrevi, foi essa mesma que você está prestes a ler. Na época, não passou de vinte páginas de um caderno. Deixei de lado e depois de três anos resolvi retomar. Depois de quatro anos parando e voltando a escrever, finalmente concluí o maior projeto que já fiz até agora, mesmo nunca tendo escrito nenhum livro. Alguns amigos me perguntam como eu consegui escrever um livro e se admiram com minha paciência e dedicação, eu lhes respondo agora. Todo o esforço gasto escrevendo e pensando na história se deu graças a dois fatores: minha paixão pela escrita e a arte que consumi em minha vida. Graças à arte, nossa mente é capaz de gerar ideias incríveis e de florescer. Sem arte não passamos de meras consciências rob óticas.

    Também me perguntam sobre o que meu livro fala, e eu sempre abro um sorriso sem graça e digo: é complicado de explicar. Para isso nunca mais acontecer, vou escrever aqui, decorar e sempre dizer quando me perguntarem. Antes de explicar do que se trata, quero frisar que é um livro amador, escrito por alguém com um português bom, mas não impecável, e com um pé dentro de um possível déficit de atenção.

    Luzes Escuras é uma homenagem a tudo que eu gosto. Por meio da personagem principal, Lisa, somos levados à sua conturbada história de vida onde, aos dezesseis anos, ela descobre ser de outra espécie. Assim que o fato lhe é revelado, Lisa passa por uma série de problemas e precisa resolvê-los de acordo com seu

    5

    melhor julgamento. É só isso que revelarei por ora. Convido você, leitor(a), a deixar sua curiosidade fluir após ter lido uma descrição tão carente de informações e a acompanhar minha querida Lisa e seus amigos pela jornada que travaram e continuarão travando, quem sabe. Ao decorrer do livro, ela irá compartilhar com você sua vida, e viajando pelas linhas, é possível notar seu amadurecimento desde o começo onde ela é uma jovem de dezesseis anos e narra a história como tal, até o fim, onde ela se redescobre como um alienígena de milhares de anos. Si nto informar, mas não vou revelar a real idade de Cárm... Lisa, quis dizer Lisa. Por último, não desista de ler pela quantidade de páginas. Na verdade, o livro contém originalmente 484 páginas, mas aumentei o tamanho da fonte para que seus olhos não se machuquem. Boa leitura e boa sorte.

    6

    Parte I: Renascimento

    7

    O Começo do Fim

    Há bilhares de anos, antes de existir qualquer forma de vida palpável no universo, os luzes escuras foram criados em meio ao espaço vazio do cosmo, até que devido à morte de Eslúria, a criadora, eles se dividiram em segords e mórderos .

    Eslúria era um ser sem corpo, uma consciência feita de escuridão pura. V ivia no breu do universo até achar a luz, isso a deixou tão fascinada que ela criou consciências com a escuridão em si e a luz existente. Por conta da claridade ao seu redor, a essência da criadora foi apagada e ela pereceu em instantes.

    Os segords, irados pela morte da mãe, juraram destruir todos os lugares que a luz tocasse, já os mórderos juraram protegê-la, pois esse fora o último desejo de Eslúria. Os mórderos assim o fizeram, mas todo esse tempo de guerras inacabáveis gerou um ser chamado Scarine, mais inteligente e maior que qualquer segord. El e destruiu meu planeta natal, Mórderan. Vou contar desde o início como descobri tudo. Meu nome é Lisa Arrick, e eu tinha apenas dezesseis anos quando a vaca foi pro brejo.

    Eu morava em Floresta, uma cidade ensolarada e repleta de árvores, uma população de oito mil pessoas e, como diz o nome, grandes florestas em volta. E ra comum vermos animais silvestres algumas vezes ao ano. Meus pais eram nativos de um país que ficava longe do nosso, eles se mudaram antes que eu chegasse em suas vidas, procuravam oportunidades melhores para suas carreiras, e de fato conseguiram .

    O ano era 2021, dia 24 de Junho, às 11h45 da manhã. Eu estava na escola, só que distraída. Meus pensamentos iam e voltavam em meus frequentes pesadelos, grudados na minha mente como um chiclete grudado embaixo de alguma mesa. Eles variavam, às vezes um ser de pele parecida com fumaça que se mexia, sem olhos e um sorriso largo e agoniante me perseguia incansavelmente, outras vezes

    8

    eu fugia de um ser cinza de quatro patas com garras afiadas e a cabeça cheia de olhos, ele era gigante e parecia querer me capturar como se sua sobrevivência dependesse disso, mas nunca conseguiu, sempre acordei antes do pior. Não importava quanto tempo passasse, sempre tive muito medo desses pesadelos , tiravam meu sono e me deixavam em estado de choque, era uma tortura.

    O sinal para o intervalo tocou, me fazendo voltar para o mundo real e perceber que a professora Emma, que ensinava Biologia, havia passado dever de casa enquanto eu viajava nos cantos de minha mente, e ao ver todas aquelas palavras escritas na lousa soltei um suspiro de indignação, mas logo me recompus e fui para o refeitório onde meus amigos me esperavam. Seus nomes eram Meryn, Jack, Kate e Leah, todos tinham a mesma idade que eu, farei uma breve descrição deles. Meryn Davis, seus cabelos eram claros como o trigo, olhos marrons e pele parda ; minha melhor amiga desde que nascemos. Jack Foster, seus cabelos eram castanhos e estavam sem corte há dois meses, caíam sobre suas orelhas, e seus olhos azuis se destacavam com sua pele branca ao sol, juntamente com sua expressão jovem; é a alma do nosso grupo. Kate Tompkins, ela se parece com Jack, a não ser por suas madeixas negras. Tem olhos azuis e pele clara; às vezes zombamos dos dois por serem tão parecidos, falamos que são irmãos que foram separados na infância; ela é como a mãe do grupo. Leah Jones; é a mais diferente de nós, enquanto somos simples na aparência e nas roupas, ela é o contrário, s eus cabelos loiros como o trigo, olhos verdes e pele bronzeada a destacavam, fazendo com que todos a notassem por onde passava e tornando-a popular, mesmo que não quisesse ser.

    Os quatro discutiam sobre o encontro de Leah com um garoto chamado Bill quando me juntei a eles na mesa, ela dizia:

    – OBill foi muito romântico comigo, ele me pagou um sorvete e depois ficamos olhando as estrelas na praça perto da sorveteria, foi legal – ela esboçou um sorriso forçado.

    – Deve ter sido mesmo – respondeu Meryn, olhava ao redor e não prestou atenção na expressão de Leah.

    9

    Me distraí com o barulho do refeitório. Haviam muitas pessoas acomodadas em volta das paredes de tom azul claro e janelas do ambiente. O local estava lotado e muitos alunos conversavam alto demais. Todo tipo de pessoa frequentava a escola, era um lugar que todos se sentiam livres para serem o que queriam ser, isso era um ponto positivo em Floresta, era uma cidade ótima para se viver .

    Quando me virei para olhá-los novamente, encontrei Kate e Meryn se segurando para não rirem. As duas notaram a confusão em minha expressão e apontaram para Jack, que estava vermelho até o pescoço de tanto se segurar p ara não dar uma de suas gargalhadas escandalosas, e Leah mexia em seu celular . Depois de tanto segurar, Jack finalmente riu, Meryn e Kate fizeram o mesmo, e como rir é contagioso, eu ri também. Leah nos encarava com a testa franzida.

    – Por que vocês estão rindo? – perguntou .

    – Eu ri por causa das três crianças do riso aqui – respondi, apontando para os três.

    – Nós rimos por causa da cara do Jack – respondeu Kate, ainda exibindo um sorriso .

    Jack ficou em silêncio, tardando a dar sua explicação e fazendo com que todas nós olhássemos para ele. Meryn perguntou:

    – Por que você estava segurando o riso, Jack? Ficou vermelho de tanto se segurar – ela também sorria, assim como Kate.

    – É que eu fiz isso – Jack ergueu uma folha de papel com um desenho rabiscado nela.

    Ele desenhara Leah e Bill. Aparentemente, Bill estava em um caixão e Leah ao lado, com um balão de fala escrito blá blá, e acima do desenho a frase: "po bre Bill, morreu de tédio porque sua amada não parava de falar ".

    Jack havia acordado o monstro, era seu fim. Leah o encarou por uns quatro segundos e se levantou da mesa bruscamente, preparada para dar um puxão de cabelo nele como sempre fazia quando ele a irritava, mas uma voz a interrompeu, a voz do dura que causava medo em qualquer um. Era o diretor Anthony. Ele falava pelo alto-falante de sua sala, todos na escola o ouviam. A voz ecoou em todo o refeitório.

    10

    – Bom dia, meus caros alunos – cumprimentou.

    Leah voltou para o seu lugar de imediato. O diretor tinha olhos e ouvidos em todos os lugares, ela preferiu não correr o risco de ser descoberta fazendo um carinho agressivo em Jack. Anthony deu uma pausa, então continuou a falar:

    – Eu, juntamente com os professores, analisamos as notas do campeonato de matemática. Irei anunciar os vencedores.

    Fez se um silêncio de expectativa. Todos pareciam apreensivos para saber o resultado.

    – Os vencedores são o segundo e o terceiro ano, ganharam com os maiores pontos do campeonato – revelou por fim o diretor.

    Muitas pessoas vibraram, inclusive eu e meus amigos. O campeonato incluiu todos na escola, e os vencedores iriam para um sítio por três dias. Tudo seria financiado pelo prefeito da cidade. O campeonato tinha como objetivo nos incentivar a aprender matemática, e funcionou, estivemos nos preparando o ano todo para ele, estudávamos sempre que possível visando a recompensa no fim do ano letivo.

    Depois do barulho cessar, o diretor retomou:

    – Meus parabéns por toda a dedicação de vocês, são ótimos matemáticos, e espero que sirvam de exemplo para os alunos que não ganharam. Os professores John e Emma informarão mais coisas sobre a excursão. Por hoje é só, e mais uma vez, parabéns aos alunos pela vitória .

    Logo depois ele desligou seu alto-falante e o sinal tocou, a mesma gritaria de sempre instaurou-se pelo lugar .

    – Não acredito que ganhamos! – vibrou Jack, alegre.

    – Vai ser muito divertido – disse Kate enquanto se levantava.

    – Vamos nos reunir na minha casa amanhã para comemorar e comer bolinhos, pode ser? – perguntou Meryn, os olhos brilhavam.

    – Com certeza – concordou Jack. – Eu adoro seus bolinhos .

    Meryn respondeu o comentário com um sorriso.

    – Eu vou também – confirmei.

    – Ótimo, assim posso levar a Brooke para conhecer vocês – disse Leah.

    11

    – Pode ser.

    – Ok, então nos vemos lá – Leah se levantou e pegou sua bolsa. – Preciso ir, pessoal, até logo.

    – Eu também estou indo, até mais – disse Jack, também pegando sua bolsa e acompanhando Leah até a porta do refeitório .

    – Tchau, pessoal – Meryn acenou.

    – Também estou caindo fora, até amanhã – despediu-se Kate.

    – Até, Kate – acenei.

    Os três seguiram para suas salas apressadamente. Meryn tinha aula de ciências comigo, nós sempre íamos juntas. Eu me levantei para podermos ir, mas assim que o fiz senti uma tontura forte que me fez voltar para o banco no mesmo instante. – Você está bem?! – Meryn se aproximou e apoiou suas mãos em meus ombros. – Eu senti uma tontura forte – esfreguei minhas mãos no rosto. – mas eu estou bem, pode ir sem mim, irei logo atrás.

    – Tem certeza? Eu posso esperar que se recupere.

    – Não precisa, está passando, só preciso ficar sentada por mais tempo – garanti , tentando fazê-la ir para que não se atrasasse.

    – Tudo bem, então.

    Ela esfregou carinhosamente seus polegares em meus ombros, em seguida saiu porta afora, me deixando sozinha na mesa.

    Aquela tontura inesperada fora estranha, mas achei que minha pressão havia caído por eu ter levantado tão depressa, por isso não me preocupei. Permaneci um tempo sentada, até que me levantei devagar e fiquei parada por alguns segundos para me recuperar totalmente. Estava indo bem até que senti o toque de uma mão em meu ombro e tomei um susto, pensava que eu era a única pessoa que ainda estava no refeitório. O susto me fez tombar, e a tontura que eu achava que tinha passado voltou. Eu teria caído no chão se não fosse Dylan Port, ele me segurou antes que eu caísse.

    – Você está bem? – perguntou, surpreso e ao mesmo tempo preocupado . Quando ouvi sua voz senti um arrepio e uma sensação estranha, mas boa, parecia ternura. Não conseguia decidir qual sentimento era mais embaraçoso – a

    12

    vergonha por ter caído em seus braços ou a ternura por um garoto que eu n ão conhecia. Ele me soltou com cuidado e manteve os braços estendidos caso eu voltasse a cambalear.

    – Sim... sim, desculpe – respondi, tão surpresa quanto ele.

    – Não precisa se desculpar. Você está bem mesmo? Não quer ir para a enfermaria?

    Assim que ouvi a palavra enfermaria, uma lembrança veio à minha mente . Quando eu era criança, tomei minha primeira vacina – coincidentemente com a enfermeira da escola – e fiquei traumatizada, pois além de ter doído muito ela disse que se eu chorasse iria doer mais na próxima vez. Claro que ela quis me encorajar a não chorar, mas escolheu uma péssima maneira. Após esse episódio deixei de frequentar a enfermaria quando me sentia mal.

    Olhei para Dylan, tentando disfarçar o medo em meu rosto, então menti : – Não. Não precisa, estou me sentindo melhor .

    – Ok. Então... quer que eu espere você se recuperar? – sugeriu. Abaixou os braços.

    – Não, eu estou bem, não se preocupe – respondi enquanto me sentava no banco novamente. Fingi estar massageando minha testa para poder cortar o contato visual.

    – Certo. Eu vou indo, se cuide .

    – Ok – não precisei esticar a cabeça para saber que ele agora se distanciava. Meneei a cabeça para o lado e o vi adentrar a porta que dava acesso aos

    corredores.

    Dylan estudava no terceiro ano do ensino médio – assim como eu. Seus cabelos eram lisos, castanhos e se estendiam até o meio das suas costas. Tinha os olhos igualmente castanhos e a pele branca, assim como a minha. Notei que tínhamos algumas características em comum. Nunca o tinha visto falar com ninguém na escola, ele era quieto e reservado, não sabíamos nada dele, na verdade ninguém sabia nada sobre ele, só que era inteligente e muito bonito.

    Não me importei com o fato dele ter me ajudado, e sim com o que havia sentido ao ouvir sua voz. Ternura? Eu nunca trocara sequer uma palavra com ele para

    13

    sentir algo com uma possível interação, foi uma sensação esquisita e repentina, mas teria que deixar de lado por ora. Respirei fundo e fui para minha sala, fiquei aliviada quando cheguei e vi que o professor John não estava lá. Cambaleei imediatamente para minha carteira que ficava atrás da carteira de Meryn. Gostávamos de ficar perto da estante de livros na última fileira da direita, os professores os trocavam constantemente para que os alunos se interessassem por leitura, funcionava bem comigo e com ela, éramos as primeiras a checar os títulos . Ela não esperou que eu me acomodasse em minha cadeira para checar minha saúde.

    – Se sente melhor? – perguntou .

    – Sim, sim – respondi, devaneando. A cena anterior rodava em minha mente. Me sentei e apertei os olhos.

    – Lis, o que aconteceu? – interrogou-me, percebendo meu semblante pensativo. – É que... Dylan Port falou comigo – olhei para baixo, envergonhada.

    – O próprio?! – surpreendeu-se, deixando que seu tom de voz se elevasse. – Shhh! – levei o dedo indicador à boca. – Não fale alto.

    – Desculpe.

    Olhei ao redor procurando olhares curiosos. Mesmo sendo uma ótima escola , não estávamos livres das constantes fofocas. Ninguém parecia ter nos ouvido, o que me deixou calma.

    – Ele me ajudou no refeitório – prossegui – mas essa não é a parte estranha . Quando ele falou comigo senti algo esquisito .

    – Tipo o quê?

    – Ternura e uns arrepios.

    – Será que... você está... – pensou ela, insinuando que eu estaria interessada nele.

    – Não vem com essa, não estou apaixonada por ele, seria ridículo. Eu não o conheço, isso está mais para algo sem explicação.

    – Como assim?

    – É como se eu pudesse sentir a energia dele apenas pelo toque – sugeri, porém não estava nem um pouco convencida de que teria sido esse o motivo.

    14

    – Então o misterioso Dylan é uma pessoa legal? – ela franziu o cenho.

    – Pode ser que sim, afinal, ele me ajudou, mas não posso afirmar com certeza. No exato momento em que terminei a frase, o professor John abriu a porta da sala. Ele ensinava ciências e era o professor mais querido de toda a escola, assim como o mais bonito segundo a professora Emma. Surgiram alguns boatos nos corredores de que ela adorava a barba cor castanho escuro dele, e que seus olhos azuis a faziam sonhar com as estrelas à noite. Era romântico e inspirador para muitos alunos, mas nunca passou disso, pelo menos era o que sabíamos até o momento.

    Ele começou seu discurso, como fazia todos os dias antes de começar a aula:

    – Boa tarde, meus queridos – cumprimentou-nos, colocando seus livros sobre sua mesa. – Vocês já devem ter sido informados sobre a excursão. Ficaremos lá por três dias, portanto, levem roupas, toalhas, escova de dentes e o que mais precisarem para ficar lá, inclusive roupas de banho, no sítio tem um lago enorme, não sei se é permitido nadar, mas a prevenção não custa nada. Dois ônibus virão para nos levar, sairemos às nove horas da manhã do dia vinte e nove deste mês, portanto, não se atrasem .

    Ele mexeu em alguns cadernos. Todos ficaram em silêncio esperando- o finalizar .

    – E mais uma coisa, nada de travessuras – continuou – Lembram o que houve da última vez que algo assim aconteceu? Pois bem .

    Eu me lembrava como se tivesse acontecido há poucas horas. Éramos crianças na época, sexto ano. Voltávamos de um passeio ao museu da cidade quando alguém começou uma guerra de comida no ônibus. Todos participaram e só paramos quando acertaram a cabeça de um menino chamado Michael Fox . Acertaram com tanta força que ele desmaiou. Achamos que jogaram uma laranja inteira nele, mas ninguém viu quem foi, então, no final das contas, Michael se recuperou e nós ficamos sem excursão até os dias de hoje como punição pelo mau comportamento.

    A lembrança em minha cabeça foi interrompido pelo bater de palmas do professor.

    15

    – Ei! Sem barulho. É só isso que vocês precisam saber, espero que se comportem. Vamos começar a aula.

    Dessa vez eu pude me concentrar .

    Eram três horas da tarde quando saí da escola, como estudava em tempo integral eu passava o dia inteiro fora. Me despedi dos meus amigos e fui andando como sempre fazia. Eu levava dez minutos para chegar em casa e vice-versa, mas andava devagar – e pensativa às vezes – passando pelas cercas das casas, o que me fazia demorar um pouco mais, no máximo quinze minutos de caminhada. Era como uma terapia que eu me obrigava a passar quase todos os dias.

    No caminho de casa eu passava por uma praça, e todos os dias um casal de idosos que passava as tardes nos bancos acenavam para mim. Os dois sempre vestiam suéteres escuros e que combinavam, era fofo e eu sempre me sentia feliz quando eles acenavam. Após acenar para os dois, virei o rosto para continuar andando e acabei vendo a última pessoa que esperava encontrar, era Dylan. Ele estava sentado em um dos bancos estreitos da praça, tinha um livro em mãos e estava o lendo. Seria poético se não tivesse me deixado nervosa, afinal, eu havia literalmente caído em seus braços hoje de manhã, e não fora muito legal. N ão queria ter que cruzar com ele nunca mais, o incidente foi vergonhoso o suficien te para mim. Eu estava prestes a me virar para tentar ir por outro caminho para casa, mas ele virou o rosto e fez um sinal para que eu o esperasse. Que droga, pensei. Ele fechou seu livro e caminhou lentamente em minha direção. Ao se aproximar mais, perguntou :

    – Ei, você está melhor?

    – Sim, minha pressão baixou, apenas – respondi, desviando o olhar para o chão. – Que bom. Fiquei te esperando aqui para ver se você estava bem.

    – Como você sabe que esse é o caminho da minha casa? – levantei a cabeça para olhá-lo, desconfiada.

    – Eu faço o mesmo caminho que você para ir à minha casa, às vezes te vejo por aqui.

    – Ah, sim – ergui as sobrancelhas. – Obrigada por se preocupar, mas não precisava ter me esperado, era só me encontrar na escola amanhã.

    16

    – Não foi um problema ter esperado – ele sorriu com o canto da boca. – Que bom, então.

    Ficamos em silêncio por um tempo. Dylan me fitava e eu me sentia envergonhada por isso, parecia procurar algo escondido em minha fisionomia.

    – Por que você está desviando o olhar? – perguntou ele de repente.

    – Eu não estou – menti, tentando olhar em seus olhos. – Viu? Estou olhando para você.

    – Tudo bem – ele sorriu, se divertiu com meu jeito desengonçado de agir. – Eu vou andando. Até mais, Lisa.

    – Até mais.

    Dylan se virou e foi embora. Seus cabelos voavam com a brisa morna da tarde. Problema número um de pessoas inseguras: não conseguimos conversar com nenhuma pessoa desconhecida olhando diretamente em seus olhos. Eu não consigo, sinto muita vergonha, por isso não consegui encará-lo, e não foi apenas por eu ser insegura. Não queria ter desmaiado nele e ele tinha um olhar profundo, me deixando ainda mais nervosa. Continuei andando alguns minutos depois de observar Dylan indo embora, não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer.

    Chegando em casa, senti o cheiro maravilhoso da comida assim que entrei . Morávamos naquela casa desde que eu era um bebê, mas graças aos meus pais ela ainda permanecia bonita e conservada, assim como nas fotos antigas do nosso álbum de família. Apintura externa era de umcinza escuro muito bonito, as bordas da janela eram brancas, davam um destaque charmoso, e por dentro meus pais escolheram a cor amarelo em tons pastéis, a cor favorita do papai .

    A exceção era meu quarto. Numa tentativa de me fazerem uma surpresa de aniversário eles o pintaram de cinza claro – uma das minhas cores preferidas – e eu amei, combinou com tudo o que eu gostava. O andar de baixo contava com a sala de estar, preenchida por dois sofás e uma pequena mesa de centro feita de vidro, ficavam de frente para nossa televisão, sem contar os vasos de plantas da mamãe. A escada para o andar de cima localizava-se à esquerda na parede, de frente para a porta. A cozinha era separada por uma parede, era ampla e espaçosa

    17

    apesar do balcão no centro do cômodo. Meu quarto ficava no andar de cima, assim como o dos meus pais. Da janela era possível ver a rua de trás e os nossos vizinhos estranhos .

    Mamãe assava alguns bolinhos quando cheguei. Seu nome é Emily Arrick, olhos verdes, cabelo marrom escuro e pele de tons negros claros. É a melhor mãe do mundo, nunca brigamos, nenhuma vez sequer. Deixei minha bolsa no sofá e segui para a cozinha, o cheiro dos bolinhos me atraiu .

    – Oi, mãe – cumprimentei antes de entrar na cozinha.

    – Oi, querida. Como foi na escola hoje? – ela falava alto para que eu a ouvisse . – Foi legal – ela tirava os bolinhos do forno. – Por que a senhora está assando os bolinhos? Era a vez do papa i.

    – Ele vai chegar um pouco mais tarde hoje, e como eu cheguei primeiro adiantei as coisas. Estou ansiosa para comê-los, hoje é o dia do bolinho – mamãe tirou as luvas e as guardou na gaveta.

    – Podia ter esperado eu chegar, a senhora deve estar cansada do trabalho – me debrucei sobre o balcão.

    – Ser advogada não é fácil, querida, mas é o que eu amo fazer, e não me cansa nem um pouco. Estou disposta como uma criança.

    – Mesmo assim, mamãe.

    – Não se preocupe. Aconteceu mais alguma coisa na escola hoje? – mudou de assunto, abanava os bolinhos com a tampa de uma tigela para que esfriassem.

    – Bom, eu falei com uma nova pessoa hoje – comentei, tentando parecer indiferente.

    – Um novo amigo?

    – Não sei se é um amigo, não nos falamos direito, acho que ele só quis ser educado comigo .

    – O que ele falou?

    – Bom... ele me ajudou porquê... eu... – cortei a voz ao perceber que estava encurralada.

    Ela parou de mexer nos bolinhos e me encarou, o semblante sério.

    – O que aconteceu, Lisa?

    18

    Quando mamãe me chamava de Lisa e não de Lis era um mau sinal. Significava que ela estava falando sério ou que estava brava.

    – Eu passei mal na escola, mas não foi nada de mais, estou bem – completei numa tentativa falha de tranquilizá- la.

    – O quê?! – ela arregalou os olhos e veio em minha direção. – O que você sentiu? – mamãe encostou as mãos na minha testa e pescoço para medir minha temperatura.

    – Uma tontura, mãe. Acho que estou há muito tempo sem beber água, três dias no máximo, deve ser por isso que me senti mal.

    – Você é saudável, Lis, mas se continuar assim vai acabar tendo pedra nos rins – mamãe bagunçou meu cabelo.

    – Ai, não, deve doer muito – fui até a pia e enchi um copo de água para beber . – Vá tomar banho, daqui a pouco seu pai irá chegar.

    – Ok, estou indo.

    Deixei o copo na pia, peguei minha bolsa e subi para o meu quarto, meu mundo sagrado. Nele habitavam meus pôsteres e meus discos das bandas que eu mais amava, junto com minhas roupas e fotos com o pessoal na minha penteadeira – que ficava de frente para minha cama. Elas estavam por todos os lados. Uma delas era especial, eu, Meryn, Jack e Kate fomos para o maior parque de diversões do mundo junto com os nossos pais. Leah não pôde ir porque teve problemas com sua família, tivemos que ir sem ela. Lembro que Meryn estava com medo de ir na montanha russa. Não queria que ela perdesse a diversão que seria, segurei sua mão e falei que não tinha o que temer, assim ela teve coragem para ir conosco.

    Era muito bom lembrar de todas as coisas que havíamos feito juntos. F izemos um enorme forte na neve para brincarmos, e tínhamos nossa própria casa na árvore que ficava no quintal de Jack, mas um dia choveu tão forte que a árvore caiu, dando fim à nossa amada casa onde jogávamos RPG e brincávamos de astronauta. Nesse dia nosso espírito de criança foi destruído junto com a casa.

    Me distraí por alguns minutos olhando as fotos até a mamãe gritar "Lisa, os bolinhos estão perfeitos!", isso me fez correr para o banheiro. Vesti algumas roupas velhas para ficar confortável, em seguida desci para a sala e vi que meu pai

    19

    havia chegado do trabalho. Seu nome é Chester Arrick, olhos castanho claros, cabelos pretos e a pele pálida, assim como eu. Amamãe sempre disse que eu puxei tudo do papai, mas eu queria ter puxado um pouco mais a ela, sua beleza era estonteante.

    – Boa tarde, flor de Marte – cumprimentou ele, sorrindo para mim.

    – Oi, pai – respondi, o abraçando.

    – Como foi na escola hoje?

    – Eu estava esperando o senhor chegar para contar uma grande novidade. – O que é? – perguntou mamãe, correndo para a sala ao ouvir.

    – Nós ganhamos o campeonato de matemática – anunciei, orgulhosa de mim mesma.

    Os dois arregalaram os olhos instantaneamente e abriram um largo sorriso. – Meu Deus! Parabéns, querida – exclamou mamãe, me abraçando.

    – Eu já sabia que vocês iriam ganhar, por isso te trouxe algo – papai tirou um saco de sua bolsa com uma camiseta dentro.

    – Isso... é o que eu estou pensando que é? – indaguei, deduzindo que era uma camiseta que eu queria há muito tempo.

    – Pegue, abra – ele me entregou o saco.

    Assim que rasguei a embalagem, vi que era a camiseta que eu mais queria no mundo, uma camiseta da banda Murderballs. Tinha a estampa de um de seus álbuns que se chamava Beyond the Camp of Murder balls.

    – Pai! Eu amei! – o abracei de imediato.

    – Eu tive que anotar na mão para lembrar o nome, essas bandas tem o nome complicado demais. Fiquei feliz por ter achado.

    – Muito obrigada! – corri ao meu quarto para guardá- la.

    Mamãe colocava a cesta de bolinhos na mesa quando voltei. Abracei meu pai mais uma vez para agradecê-lo, foi um ótimo presente em uma ótima hora. Por sorte, meus pais permitiam que eu me expressasse como quisesse, não temiam que eu me tornasse uma garota problemática por seguir meus gostos e vontades, er a isso que fazia nossa família ser tão unida, a confiança e a privacidade.

    – Lis, pegue um pouco de suco – disse ela, me entregando um copo.

    20

    – Eu tenho que falar mais uma coisa para vocês – peguei o copo e o enchi com suco de maçã. – O prêmio do campeonato é uma excursão para um sítio, vamos ficar lá por três dias. Posso ir?

    – Não sei, pergunte à sua mãe – respondeu meu pai . – Eu não sei, pergunte ao seu pai – brincou mamãe. – Parem com isso – sorri .

    – Pode ir, contanto que fique sempre perto dos seus amigos e que não cause problemas – ela ergueu as sobrancelhas para mim.

    – Eu nunca causo. Preciso que um dos dois assine a autorização.

    – Sua mãe deve assinar, a letra de um advogado é sempre bonita – papai comeu um bolinho.

    – Não quero me vangloriar, mas é verdade – concordou.

    Papai mostrou a língua para ela, o que nos fez sorrir.

    – Bobo. Me dê aqui, Lis.

    Ela assinou, em seguida levei para minha bolsa para não esquecer-me de levá - la no dia seguinte. Voltei para a cozinha logo depois.

    Comi alguns bolinhos e assisti um pouco de televisão. Mais tarde nos sentamos à mesa para o jantar. Sempre contávamos sobre os nossos dias enquanto comíamos, tudo o que fizemos desde manhã até a hora em que chegamos em casa . Gostávamos de estar presentes um na vida do outro, era uma das coisas que eu mais gostava em minha família.

    Papai contava sobre mais um de seus incríveis e peculiares dias no trabalho :

    – Hoje eu mostrei uma casa para um cliente que era um pouco estranho – comentou ele, afinando a voz ao pronunciar a última palavra, queria nos deixar curiosas.

    – Por que ele era estranho? – perguntei, curiosa.

    – Ele parecia ser uma pessoa normal, bem vestido, educado, até que eu senti um cheiro de mostarda vindo dele – papai arregalou seus olhos ao dizer mostarda. – O louco da mostarda – zombou minha mãe.

    – E ele ainda disse que o cheiro era de um perfume que ele mesmo encomendou, me contou que ama o cheiro da mostarda, por isso usava o perfume.

    21

    – Pelo menos o moço não se envergonha disso – argumentei, sabia que existiam diversos tipos de gostos, e admirava pessoas que não se sentiam envergonhadas disso.

    – E ainda bem que eu consegui vender a casa para. Sair de Amabil foi um tiro no alvo. Era uma cidade pequena, não conseguiríamos muita coisa lá.

    Amabil era a pequena cidade em que meus pais cresceram. Os dois estudaram na mesma escola e se apaixonaram ainda no ensino médio. Eram dois adolescentes ambiciosos, almejavam mais do que um pequeno emprego em uma cidade escondida dos mapas, por isso se mudaram para Floresta, que apesar de não ser tão grande quanto outras cidades, possuía uma das melhores faculdades do mundo, a Universidade Floresta. Eles se formaram na carreira de seus sonhos. Minha mãe seguiu o ramo da advocacia, e meu pai optou por algo mais simples, estudou para ser um corretor de imóveis, o mesmo trabalho dos meus avós.

    Eu me espelhava neles para planejar meu próprio futuro. Queria cursar f ísica quântica e ao mesmo tempo me especializar em música. Pretendia estudar para as provas no ano final da escola e entrar na Universidade Floresta com uma bolsa de estudos. Meu futuro estava arquitetado em minha mente, eu teria que me esforçar para que tudo saísse como o planejado.

    – Vocês me tiveram em Amabil ou aqui? – perguntei, interrompendo meu devaneio.

    – Aqui – mamãe respondeu rapidamente .

    – Que droga, queria ter nascido em outro lugar.

    – Por quê? Mesmo se você não fosse daqui, não iria ter vivido lá – disse papai. – Queria ter algo de diferente, pareço uma pessoa comum – esclareci .

    – Você tem algo diferente – replicou mamãe .

    – O que seria?

    – Esse lindo e longo cabelo preto. Hoje em dia as meninas preferem ser loiras ou preferem ter o cabelo curto. Seu cabelo é uma maravilha.

    – Pode ser. Eu gosto do meu cabelo – sorri, conformada.

    – Isso é ótimo, meu bem.

    22

    Assim como todos os outros jovens, eu tinha o desejo de me destacar. E ra comum ver pessoas diferentes de você e se impressionar por elas, até admirá- las, mas ao contrário de todos eu não fazia muito esforço para que isso acontecesse, eu deixava as coisas acontecerem no devido momento. Não me desesperava para abrir minhas redes sociais e procurar algo que me inspirasse a agir diferente, deixava-me guiar por meus instintos e vontades pessoais, e talvez eu me destacasse simplesmente por ser assim.

    Terminamos de jantar e eu me levantei para lavar os pratos, mas mamãe interviu:

    – Não precisa, querida, na verdade quero que você vá ao mercado, o açúcar acabou .

    – Ok, estou indo.

    Antes de sair, peguei alguns trocados, então fui andando. O mercado ficava perto de casa, mas havia um empecilho, Kyle Manning trabalhava lá, e ele gostava de mim. O problema era o fato de que ele agia como um verdadeiro idiota, s e comportava como o tipo de garoto rebelde e bonito no estilo Seint Jummy de um dos clipes da banda Green Night – mais especificamente o clipe da música Judas Of Suburbia – que acha que consegue ficar com qualquer garota que quiser. Os cabelos pretos e desgrenhados, os olhos verdes e dois piercings, um na sobrancelha e o outro no nariz. Sempre que eu colocava os pés na loja ele falava algo para tentar me impressionar, era d esagradável.

    Assim que cheguei, ele me fitou e tentou esconder o sorriso em seu rosto , conseguiu me ver do balcão porque a loja era minúscula. Vendiam algumas coisas apenas, comida, revistas e esse tipo de produtos. Só pegue o açúcar, pague e vá embora, pensei, e foi o que fiz. Fui até as prateleiras, peguei o açúcar que minha mãe gostava e fui até o caixa, relutante. Ele me olhou e sorriu, disse:

    – Esse açúcar é muito bom, mas eu prefiro os tradicionais – ele se referia ao açúcar orgânico que minha mãe gostava enquanto o registrava no caixa.

    – Minha mãe gosta, mas ela prefere esse – sorri, tentando ser simpática e não grossa.

    23

    – É bom para vocês – acrescentou. – Mas isso é saudável demais, às vezes precisamos sair da linha.

    – Com certeza – respondi, entregando o dinheiro. – Mas sair da linha não é meu forte, posso deixar essa tarefa com você.

    – Não sabe o que está perdendo, bebidas de vez em quando são um analgésico. Kyle pegava pesado quando bebia. Em uma das festas do colégio ele brigou com três garotos de uma vez e teve seu piercing da boca arrancado por conta dos tantos socos que recebera. Era anormal alguém da nossa idade se entupir de álcool, mas não era raro.

    – Bebidas são um veneno e você sabe disso, deveria se lembrar toda vez que se olha no espelho e enxerga sua cicatriz – apontei para sua boca .

    Eu estava pronta para ir embora, dei as costas para ele e tentei sair o mais rápido possível, mas ele interviu :

    – Não sabe o que está dizendo, e não é ninguém para dar opiniões sobre mim. – Não estou opinando, estou aconselhando – me virei para encará-lo. – Vai acabar num hospital se continuar desse jeito, e você ainda tem dezessete anos.

    – Não se intrometa, gracinha – ele não estava bravo, mas sim incomodado com o que eu lhe dissera.

    – Certo, até mais.

    – Espere.

    Ele deu a volta no balcão e ficou a poucos centímetros de mim, próximo ao ponto de eu me sentir um tanto desconfortável.

    – Ninguém nunca foi sincero comigo nesse nível, talvez você não seja só um rosto bonito que me atraiu – ele falava sério e seus olhos não se desviavam do meu rosto nem por um segundo. – Quer sair comigo?

    Que garoto estranho, pensei.

    – Bom, é que... eu não tenho muito tempo para sair – inventei .

    – Eu sempre te vejo sair com seus amigos da escola – insistiu .

    – Sim, mas nós apenas estudamos quando saímos – retruquei, me sentia culpada por mentir, mas não desejava magoá-lo apesar de tudo.

    – Qual é, me dê uma chance, vou melhorar sua vida.

    24

    – Eu não preciso que você melhore nada – afirmei num tom austero.

    – Deixe ela em paz, mané – advertiu uma voz familiar.

    Era Jack, ele segurava um chocolate e encarava Kyle duramente.

    – Está tudo bem, Jack – acalmei-o. Me virei e o olhei.

    – Não está, não, eu vi ele insistindo – Jack encarou Kyle, bravo.

    – Isso não é da sua conta, seu fracote – rosnou Kyle.

    – Ela não gosta de você, na verdade nunca gostou de ninguém, e mesmo que eu não saiba do tipo de pessoas que ela gosta tenho certeza que não seriam iguais a você .

    Jack jogou o dinheiro do chocolate no balcão e me puxou para fora da loja. Antes de atravessarmos a porta olhei para Kyle e lancei um olhar de desculpas. Ao fitá-lo uma última vez percebi que estava indignado com as palavras que acabara de ouvir. Eu e Jack andamos até a esquina em silêncio, ele me puxava por meus dedos.

    – Isso foi incrível – elogiei, impressionada.

    – Finalmente ele descobriu a verdade – aliviou-se .

    – É, obrigada por me salvar.

    – De nada.

    – Por que você veio comprar chocolate aqui? Tem um mercado perto da sua casa – franzi as sobrancelhas, confusa.

    – É que o chocolate que eu mais gosto só tem nessa loja – ele mostrou a embalagem.

    – Com nozes – concluí enquanto a observava.

    – Uma delícia. Quer um pedaço? – ofereceu, agora abrindo a embalagem.

    – Não, obrigada. Tenho que voltar, a mamãe vai ficar preocupada se eu demorar .

    – Vai correndo, a tia Emily fica paranoica quando está preocupada .

    – É. Tchau, Jack, obrigada mais uma vez, fico te devendo uma.

    – Ok, tchau.

    Ele foi para um lado e eu para o outro. Eu teria que ir até o outro mercado mais próximo da minha casa desse dia em diante, seria estranho conversar com Kyle

    25

    outra vez depois desse pequeno incidente, mas valeu a pena, havia me livrado de um grande problema. Ele se comportava como um verdadeiro conquistador, mas em outro campo – o campo dos romances. Queria se envolver com o maior número de garotas possível, no entanto, perdera a partida.

    Cheguei em casa e vi meus pais dançando juntos, estavam na cozinha e sorriam um para o outro. Observei-os com certa admiração na soleira da porta até que se viraram e me viram.

    – Vocês são muito fofos – eu disse, sorrindo diante aquela cena.

    – Lembramos do nosso tempo na escola, sempre dançávamos – explicou meu pa i.

    – Que legal – fechei a porta e fui até a cozinha para guardar o açúcar no pote. – Eu também vou dançar até o meu quarto, vou tentar dormir.

    – Mas já? Não são nem nove horas ainda – surpreendeu-se minha mãe. Olhei para o relógio na parede, eram 19h50.

    – Sim, vou ver se consigo dormir bem hoje, tive uma semana cheia de pesadelos – enchi o pote e o guardei de volta.

    – Não se preocupe, querida, estamos procurando outro médico, vamos achar um jeito de acabar com esses pesadelos – garantiu meu pai.

    – Ok – sorri e comecei a dançar para cortarmos o assunto. – Boa noite. Os dois sorriram ao me ver dançar até as escadas.

    – Boa noite – disseram em uníssono.

    Me virei e subi as escadas tranquilamente. Dormir bem não seria fácil, mas eu estava disposta a tentar. Fechei as cortinas do meu quarto e me deitei em minha cama. Antes de tentar dormir peguei meu celular e chequei minhas redes sociais, nada de interessante para ver, apenas fotos e mais fotos de pessoas, dos meus artistas favoritos e uma mensagem de Kate que dizia: Não se esqueça que amanhã será minha apresentação de saxofone, quero que venha. Ela era ótima com saxofone assim como eu era boa com guitarras. Nós duas tocávamos na banda da escola até eu resolver sair por conta de desavenças artísticas com alguns membros, nada muito grave, mas que atrapalharia o rumo das coisas.

    26

    Deixei o celular de lado e fechei os olhos, quando peguei no sono os pesadelos começaram. Pude ver a criatura de rosto fino mais nitidamente dessa vez, ela estava mais perto, era alta, o corpo era assustador; possuía braços longos e dedos pontudos, e da sua cintura para baixo seus membros imitavam os de uma enorme centopeia demoníaca cinza. Assim como os dedos, ela possuía dentes pontudos, e seus olhos eram escuros, parecia até que não havia vida alguma neles. Isso que me deixava mais assustada, seus olhos que pareciam me engolir a cada segundo que eu os fitasse. Ela se aproximava cada vez mais, seu braço estendido em minha direção como se quisesse me agarrar, e conseguiu, porém, despertei bruscamente e muito assustada após o choque. Eu estava ofegante, percebi só depois de alguns minutos que meus lençóis estavam molhados.

    – Ah, não – p rotestei.

    Pensei que havia menstruado, mas me surpreendi ao levantar os lençóis e ver que era urina. Encarei os lençóis molhados por algum tempo até voltar à realidade. – Sem chance, que droga! Voltei a ter cinco anos! – protestei novamente, não conseguia aceitar o que havia acontecido.

    Me levantei, tirei os lençóis da cama e os joguei no canto do meu quarto, em seguida fui direto ao banheiro para tomar outro banho. Logo após o banho levei os lençóis para a máquina de lavar roupa, junto com meu pijama. Voltei para o quarto assim que liguei a máquina, queria tentar dormir outra vez, mas quando me deitei meu despertador tocou. Droga, foi o que eu pensei na hora. Não dormi muito bem, mas olhem pelo lado positivo, eu tinha tomado outro banho, cheirava a flores.

    Era o dia da apresentação de saxofone de Kate e eu estava parecendo um zumb i. Carregava olheiras e um semblante abatido que não me esforcei muito para esconder. Meu cabelo estava penteado, usei-o para cobrir meu rosto o dia inteiro enquanto lutava para não dormir nas aulas. Joguei água em meu rosto mais de cinco vezes ao dia para poder aguentar o sono. Felizmente, Kate se apresentou no final do dia, eu poderia ir para casa em seguida. Meryn assistia ao meu lado , escolhemos as cadeiras da ponta na última fileira da esquerda e assistimos

    27

    atenciosamente ao show. Ela percebeu meu estado sem nenhum esforço, então pergun tou:

    – Você dormiu hoje? – ela sussurrava.

    – Não consegui, meus pesadelos foram os piores nessa noite – sussurrei de volta, minha voz soou rouca.

    – Já procurou ajuda?

    – Sim, meus pais me levaram em alguns médicos, mas nenhum soube dizer o que eu tenho. Eles continuam tentando, mas deveriam desistir.

    – Não diga isso, eles só querem o seu bem.

    – Eu sei, mas todas essas consultas não estão adiantando, acho que meu problema não pode ser resolvido pela ciência.

    – Você e esse papo de novo.

    – É uma hipótese melhor .

    Ficamos em silêncio pelo resto da apresentação. Eu lutava contra meu organismo para poder me manter acordada até que terminasse. O auditório estava quase lotado, muitos pais haviam vindo ver seus filhos tocarem algum instrumento. Os pais de Kate não puderam vir, ela nos disse que eles saíram em viagem de negócios, então nos pediu para substituí-los. Ela tocava muito bem, era o nosso orgulho, tinha certeza de que teria sucesso se escolhesse a carreira de música. Ela veio falar conosco logo no fim da apresentação, sentou ao nosso lado e sorriu.

    – Você é ótima – elogiei.

    – Obrigada – ela franziu a testa e me encarou por alguns segundos. – Você está bem?

    – Eu não dormi direito, nenhuma novidade – respondi, me perguntava se m inha aparência estava tão visível para que notassem minha falta de uma boa noite de sono.

    – Que droga, Lis, não precisava ter vindo na apresentação, poderia ter ficado em casa.

    – Não, eu queria vir – acabei bocejando sem querer. – Desculpe, eu queria mesmo vir .

    28

    – Tudo bem, então. Sem problemas – deu de ombros.

    – Que pena que Jack e Leah não puderam vir – lamentou Meryn .

    – Sim. Estão ocupados com as provas e essas coisas – presumiu Kate. – Por falar nisso eu tenho que ir, preciso fazer um trabalho .

    – Tudo bem, até logo, senhorita do saxofone – brinquei.

    – Boba – riu.

    Ela se despediu e foi embora. Me dei conta que maioria das pessoas que preenchiam a sala haviam ido embora também, restando apenas um grupo de pessoas que conversavam nas cadeiras da frente. Permanecemos sentadas por algum tempo, disse à Meryn que queria contar uma coisa para ela mais cedo, então ela não deixou que eu fosse embora até revelar o grande mistério.

    – Vamos, me conte – insistiu .

    – Tudo bem. Ontem eu estava indo para casa e adivinha quem encontrei? – perguntei, mantendo o suspense no ar.

    – Quem?

    – Dylan. Ele me esperava na praça perto da minha casa, queria saber se eu estava melhor, bom, foi isso o que ele me disse.

    – Sinceramente, eu faria o mesmo, mas não imaginei que ele faria, o cara é muito fechado. Estou impressionada.

    – Ele deve ter ficado preocupado comigo – franzi a testa. Para mim não fazia o menor sentido.

    – Sim, mas ele perdeu a postura de garoto assustador, agora é o garoto cuidador de Lisas.

    – Com certeza – sorri com o nome estranho.

    – Ei, ele está ali, olha – falou, apontando discretamente para a porta.

    Mevirei e olhei na direção em que Meryn apontou. Dylan mexia tranquilamente nas coisas de seu armário. O observei durante alguns segundos e desviei o olhar, tomada pelo constrangimento.

    – Por que você não o convida para sair com a gente? Nunca o vi com ninguém pela escola, deve ser solitário, e ele tem quase o mesmo estilo que o seu.

    – Não sei se ele toparia – admiti, queria que ela desistisse daquela ideia.

    29

    – Não custa nada tentar. Se você não quiser convidá-lo eu mesma o farei. Meryn ficava muito animada em algumas situações inoportunas. Eu não lhe contara que desmaiei quase em cima dele, ela e Leah agiam como cupidos para mim em alguns momentos, sempre com péssimas escolhas. Lembro que ela me convenceu a conhecer um dos amigos de Jack, seu nome era Chris. Era alto, esguio, seus cabelos eram curtos e marrons e seus olhos também. Ele curtia algumas bandas em comum comigo. Nos demos bem nos primeiros dias, mas no fundo eu sabia que não iríamos chegar a lugar nenhum. Algum tempo depois o vimos ser preso por traficar drogas. Após esse episódio as duas nunca mais me apresentaram ninguém, mas quem garantiria que não iriam voltar a agir? Preferi não arriscar minha vida.

    – Outro dia eu o convido, ok? Tudo que quero fazer agora é chegar em casa e tentar dormir – cedi.

    – Tá bom, mas o convide – reforçou.

    – Certo, eu irei.

    Dei outra olhada para checar se Dylan ainda estava lá, mas ele havia ido embora . Nada de tão interessante aconteceu na escola naquele dia, a não ser a apresentação de Kate, então voltei rapidamente para casa, sem pausas no caminho , apenas eu e meus confusos pensamentos sobre o ocorrido no dia anterior. Quando cheguei, encontrei minha mãe sentada no sofá, ela virou o rosto rapidamente para me olhar e deu um sorriso .

    – Oi, querida – cumprimentou- me.

    – Oi, mãe. O que a senhora está assistindo? – olhei para a televisão e distingui alguns personagens e cenários.

    – A novela. Lis, eu queria te perguntar algo.

    – Pode falar – falei enquanto me sentava ao seu lado.

    – Por que seus lençóis estavam na máquina de lavar? Eu troquei eles anteont em. – É que... – fui interrompida por um vislumbre da cena da madrugada, pensar naquilo me deixou um pouco nervosa.

    – É que...? – questionou mais uma vez.

    – Eu... acordei toda suada porque tive um pesadelo horrível – menti – Desculpe.

    30

    – Ah, querida, não tem problema, eu só queria saber, não tinha a intenção de te dar um sermão. Eu os dobrei e guardei em seu guarda- roupas.

    – Tudo bem, obrigada.

    Ela fez carinho em meus cabelos e continuou assistindo. Acabei prestando atenção também. A novela falava sobre um homem e uma mulher que se amavam mas que não podiam ficar juntos, o típico roteiro de histórias de amor. Os personagens atuavam muito bem, mamãe estava hipnotizada pela trama.

    – O amor é tão bonito – suspirou .

    – Deve ser mesmo – concordei.

    – Você já se apaixonou por alguém, Lis? – perguntou ela, surpreendendo- me. – Não, acho que não.

    – Nunca se interessou por ninguém? – mamãe me fitou, impressionada.

    – Também não. É estranho, não é? Às vezes acho que vai ser assim por um bom tempo.

    – Acha que nunca vai se interessar por ninguém?

    – Sim.

    – Pode ser, mas também pode não ser, isso demora para vir à tona, mas algum dia terá a certeza do que sente, e quando esse dia chegar quero que conte para sua velha mãe.

    – A senhora não é velha, só tem 37 anos – olhei para a televisão.

    – Para os adultos isso é ser velho – rebateu el a.

    – Não é, mãe .

    – Você é muito cabeça dura, puxou muito o seu pai .

    Assim que ela terminou a frase, ele abriu a porta, havia chegado do trabalho . – Pai?, o que eu fiz? – perguntou, confuso.

    – Oi, pai – cumprimentei.

    – Nada, querido, é que sua filha é totalmente igual a você, muito cabeça dura – esclareceu mamãe.

    Ele se aproximou e beijou o topo da minha cabeça, como sempre fazia, depois deu um beijo na mamãe, então respondeu:

    – Claro que não puxou, esse papel é meu.

    31

    – Então a Lis fica com o papel do Nodzilla – brincou mamãe .

    – Bom, esse é melhor, vamos trocar? – perguntou ele.

    – Feito, agora tenho um paizilla.

    Algum tempo depois senti meu celular vibrando no bolso da calça, o peguei para checar, era uma mensagem de Meryn, ela dizia: Nós vamos sair no d omingo pra tomar sorvete, chame o Dylan pra ir com a gente, respondi com um logo em seguida. Era sexta-feira, no dia seguinte iríamos na casa da Meryn. Eu não fazia ideia de como convidá-lo, mas pensar sobre isso ficaria para outro momento, eu estava quase dormindo sentada, e o que mais desejava fazer era cair em minha cama e relaxar.

    – Eu vou dormir – avisei.

    – Não conseguiu dormir de novo ontem? – perguntou mamãe .

    – Não, dormi pouco na noite passada, e tenho que acordar cedo amanhã, vou ir na casa da Meryn .

    – Ok. Espero que você consiga dormir, meu bem.

    – Eu também. Até amanhã .

    Fui para meu quarto, vesti meu pijama e me deitei, mas antes dei uma olhada em minhas redes sociais e acabei vendo uma coisa muito ruim. Haviam fotos de Leah beijando uma menina chamada Courtney, foi o primeiro amor dela, mas ninguém sabia que ela era bissexual, só eu, Jack, Kate, Meryn e talvez a Brooke, nem a própria família sabia, o pai dela era do tipo conservador e jamais aceitaria algo do tipo. Ela o odiava por isso, mas tinha medo de que ele fizesse alguma coisa contra ela. O autor da postagem era anônimo, não havia nenhuma foto. A postagem já somava mais de quatrocentas curtidas. Mandei várias mensagens para Leah perguntando se ela estava bem, mas sua foto de perfil havia sumido e ela estava offline. Não me preocupei muito porque iríamos vê-la no dia seguinte, então poderíamos falar com ela.

    Quase todos os alunos da escola viram as fotos, inclusive Meryn, que me ligou alguns minutos depois de eu ter visto a postagem.

    – Lis, você viu o que postaram? – perguntou ela, preocupada.

    32

    – Sim. Quem será que fez isso? As fotos ficavam no armário dela e só nós sabíamos a senha .

    – Não fui eu .

    – Nem eu, e com certeza Jack e Kate também não, eles não fariam isso.

    – Veremos isso amanhã. Eu vim avisar que não

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1