A Sepultura
De Marcos Lira
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A Sepultura - Marcos Lira
A SEPULTURA
OBRAS DO AUTOR
Evolução – Ed. Clip (2004)
Olhos – Ed. Voxxel (2005)
De l'autre côté du monde – Ed. Voxxel (2006)
Do outro lado do mundo – Ed. Voxxel(2006)
No Reino da Pedra Bonita – Ed. Voxxel(2007)
Marionetes – Clube de Autores (2018)
MARCOS LIRA
A SEPULTURA
2ª edição
Capa: Erivan Araújo
Revisão: Epitácio Carvalho
Clube de Autores Publicações S/A
CNPJ: 16.779.786/0001-27
Rua Otto Boehm, 48 Sala 08, América
Joinville/SC
CEP 89201-700
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal.
1 Coríntios 13:4-5
DEDICATÓRIA
A todos que foram fonte de inspiração para esta novela.
APRESENTAÇÃO
Num tempo em que todos têm a necessidade de exibir a sua própria verdade, é natural que o mundo da ficção também traga personagens que desejam dar a sua versão dos fatos.
Esse é o panorama da narrativa de Marcos Lira, que nos apresenta uma trama envolvente produzida a partir da voz e da verdade de cada personagem. Não há nesta novela a figura de um narrador oficial
que impute aos personagens algum tipo de julgamento leviano. Em vez disso, cada partícipe desta trama revela-se com escancarada honestidade, oferecendo-se em sacrifício ao julgamento mais legítimo possível, o do leitor.
A Sepultura é essencialmente um livro carregado das contradições do nosso tempo, em que todas as vozes são validadas ou invalidadas, a depender da inclinação do nosso interesse particular. Neste sentido, não existem vilões nem mocinhos nesta narrativa, a não ser aparentemente, apenas para sugerir o indispensável toque de maniqueísmo presente em quase todas as histórias que se contam desde que o mundo é mundo.
Mas aqui, logo o leitor vai perceber que, se existe um santo, será do pau oco; e se há algum vilão, não será punido, mas redimido pela complacência do esquecimento ou pela fé ardorosa que tudo perdoa, para o bem e para o mal.
Por fim, o livro de Marcos traz uma lição que o nosso tempo tem nos ensinado cotidianamente: no local de um massacre, basta erguer um monumento sacro.
Epitácio Carvalho
PREFÁCIO
Depois de escrever esta novela, ainda não tinha definido o seu título. Fui procurar o pintor, escultor e escritor Erivan Araújo para criar a capa.
Antes de saber do que se tratava o texto ele me disse que tinha um desenho pronto e me mostrou. Eu pensei só comigo: Tem tudo a ver com a estória
.
Mas não falei nada e pedi que ele lesse o texto e só depois criasse o desenho.
A seguir se deu esse diálogo:
- Por gentileza, poderia me falar da motivação que o levou a escrever este livro, com este formato?
- Fiz o livro nesse formato após observar alguns relacionamentos, nos quais cada um queria ter razão. Resolvi escrever dando voz e seu próprio ponto de vista a cada personagem.
- Me surpreendeu a forma como você expõe as motivações básicas dos personagens. Uma quase crueza. Confesso que vi em cada um deles certo grau de maldade vivido de modo absolutamente normatizado; uma quase psicopatia. De certa forma me afetou. Pensei que tais pessoas estão diariamente no nosso convívio. Você radiografou o egoísmo e complicou meu trabalho, com relação à capa. Tenho um desenho que o chamei de Morte
que bem poderia, na minha visão, ser a capa do seu texto perturbador, independentemente de como vai se chamar o seu livro. Eu acho perfeito. Se você achar adequado, é a sua capa. Tão forte e explícita quanto o seu texto.
- A Morte
se encaixa bem no contexto. – Concluí.
Era o mesmo desenho que ele me mostrara antes mesmo de ler o texto.
Marcos Lira
Menina
- Mãe, eu tenho medo de ficar velha e não achar um marido.
- Minha fia, com uns péis feio desses, você num vai achar marido mermo não.
- O que é que tem de errado com meus pés, mãe?
- A pranta do pé é chata. Num tem? Quando os homi vê, num vão te querê não.
- Kkkkkkkk. Obrigada pelo incentivo, mãe.
Quando me olho no espelho fico imaginando que se eu tivesse roupas de marca e dinheiro para cuidar da pele e do cabelo eu seria bonita e poderia ter sorte de achar um homem da cidade. Poderia até ser um velho que morasse em um hotel, que se sentisse sozinho e que precisasse de mim para cuidar dele. Eu casaria, teria filhos e cuidaria dele pra ele viver muitos anos comigo, me dando tudo que eu preciso.
Mas nessa ilha ninguém me dá nenhum valor. Eu fico em casa cuidando da limpeza, reparando os furos nas redes de pesca, costurando ou cozinhando os peixes que o meu pai traz. Vou para a escola, para a biblioteca e sinto, já com naturalidade, o desprezo das pessoas por mim. Me acostumei.
Na ilha onde eu moro tem três vilas separadas por uns seis quilômetros uma da outra.
A entrada da ilha é por um porto onde tem uma balsa que transporta pessoas, carros, bicicletas e motos. Ela comporta uns nove ônibus grandes. A travessia dura onze minutos. De um dos lados da ilha o porto da balsa fica bem próximo da primeira vila, a maior e principal. Do outro lado do rio, para chegar à próxima cidade, é preciso viajar dez quilômetros por uma estrada asfaltada. Não há nenhuma vila entre a balsa e a cidade, somente cercas de fazendas. Do lado de lá