Internato de Meninas
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Sobre este e-book
Cris está nessa instituição por generosidade das freiras, cercada por filhas de fazendeiros e comerciantes fortes da região. A menina não se intimida diante do fosso econômico entre ela e as amigas; ao contrário, exerce forte liderança no internato.
O início da TV, a sociedade machista, a pílula anticoncepcional, a primeira menstruação, bullying e desigualdades sociais são temas discutidos por meio das histórias das meninas, embalados pelas músicas da jovem guarda.
Como ela sobrevive neste ambiente? Como vence a barreira da pobreza para participar das atividades e, ainda, conseguir namorar os garotos mais cobiçados? Diante de condições desfavoráveis, ela burla as adversidades e faz a diferença, criando como estratégia as reuniões, às segundas-feiras, para amenizar os conflitos entre as meninas, e entre elas e a direção da casa.
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Internato de Meninas - Terezinha Lorena Pasqualotto
CAPÍTULO I - O LAZER
O internato é um mundo paralelo. Disciplinado, mas divertido. Assim pensava Cristina, a nossa protagonista da história. Ela até chegou a esquecer a dor da falta da mãe tamanha era a quantidade de meninas e distrações que a instituição oferecia às internas oriundas das fazendas do entorno da região, no interior gaúcho.
Era década de 1960, a Jovem Guarda iniciava os primeiros passos e a TV engatinhava no Brasil. Por volta de 1962, chegou à cidade a televizinha
, como a chamavam as meninas, pois ainda não havia aparelhos de TV no internato. As internas corriam, à noite, depois da janta e antes das 20h30min, horário de dormir, à vizinha, sedentas pela novidade. Eram mais chuviscos do que outra coisa, mas estava valendo.
O lazer mudava de acordo com a idade das meninas. Houve a fase das brincadeiras de casinha, de papai, mamãe e filhinho; depois os jogos com bola, como espiribol, caçador — em algumas cidades, chama-se queimado —, vôlei, jogos de cartas, pingue-pongue; e, por fim, a época dos namorados, reais ou fictícios. Cristina se destacava no espiribol. Se o leitor nunca ouviu falar desse esporte, trata-se de um poste de aproximadamente três metros e, na extremidade superior, coloca-se um fio de nylon com uma bola amarrada na ponta. Joga-se em duas duplas, uma tenta enrolar a bola para a esquerda, e a outra, para a direita, a primeira que conseguir ganha a partida.
Em algumas noites, elas adoravam cantar após a janta. A plenos pulmões, entoavam músicas do Roberto e Erasmo Carlos, Wanderlei Cardoso, Jerry Adriani, entre tantos outros da Jovem Guarda que já apareciam no programa da Record e nas rádios.
Por tudo isso, Cristina gostava do internato, embora algumas pessoas pensassem o contrário por se tratar de uma menina que estava ali por caridade das freiras, porém ela era feliz na maior parte do tempo. Ela só mudava o humor quando lembrava que não tinha uma família como as amigas, nenhuma casa para chamar de sua, nem pai para abraçar e dizer eu te amo
.
Cris, como era conhecida, tinha muitas amigas. Era comunicativa, alegre, brigona e até, pode-se dizer, exercia uma relevante liderança entre as colegas. Talvez por isso não sentisse o abismo financeiro que existia entre ela e as demais, filhas de fazendeiros e comerciantes fortes da região. Além do amor ao espiribol, Cris era do fã-clube do Wanderlei Cardoso. Tinha arquivo com as fotos dele e sabia tudo o que se passava com o seu ídolo. As brigas entre as fãs do Wanderlei e do Jerry eram ferrenhas e intermináveis, e a irmã que cuidava das meninas, com frequência, tinha que