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Só sei que foi assim
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Só sei que foi assim
E-book152 páginas1 hora

Só sei que foi assim

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Sobre este e-book

Só sei que foi assim é uma coletânea de olhares. Maria Bitarello, viajante em muitos sentidos, nos enreda em seus textos, misturando narrativas, cenários e epifanias diante do ordinário e do extraordinário. As crônicas que compõem este volume foram escritas entre 2008 e 2014 e, desrespeitando os limites das páginas, trazem à tona as íntimas questões humanas - tão universais - e os ainda incógnitos traços da contemporaneidade - tão atemporais. Os relatos e retratos que se sucedem neste livro engendram perguntas preciosas e, mais além, são capazes de inaugurar alguns silêncios. O título do livro, famosa fala de Chicó, personagem de Ariano Suassuna, dá pistas ao leitor do que o aguarda entre estas capas: um saber que não explica tudo, mas que encontra, na experiência, as verdades de cada momento.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de mar. de 2015
ISBN9788568197011
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    Só sei que foi assim - Maria Bitarello

    Maria Bitarello

    Só sei que foi assim

    Copyright © Maria Bitarello

    Edição: Ulisses Belleigoli

    Revisão de Texto: Bruno Horta

    Design, Diagramação e Capa: Letícia Coelho

    Ilustrações: Bárbara Bitarello, Letícia Coelho e Ricardo Coimbra

    Fotos: Fábio Nascimento e Maria Bitarello

    Foto da Capa: Fábio Nascimento

    Conversão digital: e-FICÇÕES | www.e-ficcoes.com

    Todas as fotografias por Maria Bitarello, exceto O cheiro das baleiasDiga-me com quem, em que e que horas andas em Los Angeles e De céus e discos voadores, por Fábio Nascimento; 10 anos de solidão e Independência ou Morse?, acervo pessoal família Domingues; Saudades do Aeroporto da Serrinha, cedida pelo Estado de Minas.

    Ilustrações: Arnaldo e Rita, por Letícia Coelho; A era de ouro do punkTroca de presentes, George Whitman e Madonna e Niemeyer, por Bárbara Bitarello; O presente do amanhã, por Ricardo Coimbra.

    Catalogação na Publicação (CIP)

    B624s Bitarello, Maria, 1982 -

    Só sei que foi assim / Maria Bitarello - São Paulo : La petite ferne, 2014.

    200p. : il

    ISBN: 978-85-68197-01-1

    1. Crônicas brasileiras. II. Título

    CDD - 869-98

    CDU-821.134.3(81)-8

    ioncemetagirl.com

    mariabitarello@gmail.com

    amor fati

    Se a felicidade tivesse um som, seria o silêncio.

    Benjamin Taubkin

    Sumário

    Capa

    Créditos

    Entregar-se para vencer

    A era de ouro do punk

    Eleições

    10 anos de solidão

    Seu Juca

    Arnaldo e Rita

    O caminho dos objetos

    Lavar roupa todo dia, que alegria

    Troca de presentes

    Petit Santôs

    George Whitman

    O cheiro das baleias

    Diga-me com quem, em que e que horas andas em Los Angeles

    Independência ou Morse?

    Saudades do Aeroporto da Serrinha

    Vamos falar sobre o elefante

    Coragem e colhões

    O camponês e o marinheiro

    De céus e discos voadores

    A lã da Caxemira

    A cura pelo próprio mal

    A virada do jogo

    Dia das Crianças

    A estrada de cada um

    Madonna e Niemeyer

    Dia de Finados

    A consciência branca

    O presente do amanhã

    Sobre a autora

    Agradecimentos

    Pela colaboração neste livro, Ulisses Belleigoli, Letícia Coelho, Bárbara Bitarello, Matthew Shirts, Fábio Nascimento e Ricardo Coimbra.

    Pela amizade e lealdade, Ulisses Belleigoli.

    Pela escuta e pelo amor, Fábio Nascimento e Carolyn Quinn.

    Pela inspiração e parceria, Anna Pook, Erin Byrne,

    Christina Ammon e Anna Elkins.

    Pelo aprendizado, Tribuna de Minas, UCLA, Shakespeare and Company Bookstore e Editora Abril.

    Pela oportunidade e confiança, André Resende e odisseu.com.

    Pela generosidade, todos os que aparecem em textos ou fotos.

    Pela ética, meu pai.

    Pelo otimismo e entusiasmo, minha mãe.

    Pelo universo, minha irmã.

    Miigwech. Gratidão com humildade.

    Sem vocês, esse livro não seria possível.

    Sem vocês, eu não seria possível.

    Prefácio

    A marinheira

    Maria Domingues Bitarello sentou diante da minha mesa de trabalho em São Paulo e logo foi tirando da mochila um embrulho. Jovem, bonita, com um olhar de curiosidade disfarçada pelas coisas, parecia reunir certa experiência de vida. Morara já, foi me contando ela, no Colorado, em Los Angeles, em Washington D.C. e na França, em Paris. Isto sem falar de Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde fora criada. Eu viria a aprender com o tempo, graças a seu intermédio, que aquela cidade universitária da Zona da Mata tem um alcance espantoso.

    Não tinha mais do que uma vaga ideia de quem fosse a garota, mas reconheci a xícara tão logo a vi saindo dos papéis de embrulho. Trazia meu nome e sobrenome impressos em letras grandes junto ao logotipo do centro de estudos onde eu trabalhara, décadas antes, em Washington D.C. Esquecera-me por completo da xícara. Como chegara às mãos daquela jovem era um mistério. Ela a comprara numa feira de quinquilharias? Alguém a jogara fora, será? Entreguei-me à busca do tempo perdido, antes mesmo de ouvir sua explicação. Quem me dera a xícara fora meu saudoso amigo, guru e chefe no centro de estudos Woodrow Wilson, em D.C., Richard Morse. Autor de O Espelho de Próspero, um dos últimos grandes pensadores do Brasil e das Américas, Morse morrera em 2001. Estávamos em 2012. A xícara parecia um recado enviado do além. Quem conhece o Morse, como eu, poderia desconfiar que fosse até algum tipo de magia. Seu entendimento dos labirintos da cultura latino-americana é lendário, afinal.

    A xícara, daquelas grandes, americana, ficara na casa da mãe da Maria (aluna do Morse, tal como eu), em Juiz de Fora durante a adolescência da autora. Sua mãe a trouxe para mim no Brasil, a pedido do professor, quando a família saiu de Washington. Mas a xícara não chegou a São Paulo. Ficou em Juiz de Fora. Fizemos as contas. De Washington D.C. até a minha mesa, em São Paulo, a xícara levara 17 anos.

    Assim começou nossa amizade, com abraços e lágrimas e saudades do velho e bom professor com quem ela vivera quando criança e eu, antes, como aluno. Era uma apresentação auspiciosa. Não poderia ser desperdiçada. Maria trabalha comigo desde então em projetos variados, sobretudo de livros. Aos poucos foi me apresentando seus escritos. São textos curtos, crônicas, na tradição brasileira do gênero, temperadas com uma pitada de ensaísmo.

    Aprendi com uma das crônicas que existem dois tipos de narradores na literatura: o marinheiro e o camponês. O primeiro viaja o mundo e conta do que viu. É estrangeiro, é imigrante, é náufrago. Sua condição é o exílio. Sua sina, não pertencer. Um observador condenado. O segundo é o que fica. Que vê o forasteiro visitar suas terras. Que vê as chegadas e partidas sempre do mesmo lugar. Ele sabe de si e do seu povo. Se confunde com a própria terra. Porque passou a vida inteira no mesmo lugar, e isso ninguém tira dele. Esses dois narradores, dizem, dão conta de todas as histórias contadas. Eles são os narradores de fundação.

    Maria Bitarello é uma marinheira. Traz para nós as aventuras vividas entre as culturas e os livros dos outros, seja na África ou na sua casa em São Paulo, onde lava louça e enfrenta a fauna urbana, desejada ou não. Diz-se apaixonada pela literatura dos beats americanos, como eu já fui. De uma geração mais jovem do que a minha, Maria começa pelo filme Na Estrada, feito por um brasileiro, Walter Salles, para chegar ao livro de Jack Kerouac e toda a patota, Ginsberg, Burroughs, Cassidy, Ferlinghetti, da qual ela sonhava fazer parte. Queria aquela liberdade, aquela vontade de viver, aquela sede de experiências e ausência de censura. Queria viver jazz, viajar a América, ler, amar, beber e fumar. Viver poesia.

    Este espírito kerouaquiano está em Só sei que foi assim. "Adoro turbulências durante o voo. O trepidar lembra um ônibus da Cometa e aumenta minhas chances de adormecer a bordo", escreve a certa altura. Assim chegaremos ao Benim, com escala em Trípoli, na Líbia, num itinerário de orgulhar os beats. Compraremos juntos, de um vendedor habilidoso, caxemira na Índia. Conversaremos com a roqueira Patti Smith, em Paris, para conseguir um autógrafo no livro de memórias, Just Kids, dos seus favoritos. Em Paris, também, Maria nos leva para dentro da lendária livraria Shakespeare and Company, que ela conheceu depois de ler Um Livro Por Dia, de Jeremy Mercer e onde chegou a estudar redação. E, em uma das minhas crônicas favoritas desta coletânea deliciosa, ela conclui

    e nos convence de que a França é igualzinho a Minas Gerais. Claro. Faz sentido depois de ler Só sei que foi assim.

    Matthew Shirts

    4 de julho de 2014

    Entregar-se para vencer

    13 • 07 • 2012

    Obarulho da chave na porta me tira atenção do livro e levanto o olhar justo quando ele entra na sala com a mala e a mochila de equipamento. Deixo o livro aberto na página 47 para não perder o ponto da leitura, ao lado da minha própria mala ainda jogada no chão, e ele atravessa a sala aflito, uma mão ao peito. Com algumas horas de diferença, chegamos ambos da Rio+20, a Conferência da Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, encerrada na noite anterior. Só que ele acabou de perceber que esqueceu seus HDs, sua vida e obra, no banco de trás do táxi que o trouxe do Aeroporto de Congonhas até em casa.

    Mas tudo bem. Muita calma. Vamos lá. Temos um recibo: R$ 34, uma rubrica e uma placa. A letra do meio está ilegível, mas o número é, com certeza, 3985. Será que é um Y, um Z ou um T? Acho que é um Y. Vamos com o Y. No computador, descobrimos que Congonhas tem duas frotas de táxi, e cada uma tem mais de 600 placas. A placa que temos em mãos, inacreditavelmente, não está filiada a nenhuma das duas. Inércia compulsória – o que fazer, afinal? Aleatoriamente, tentamos algumas palavras chave no Google. Ligo para uma amiga taxista, que sugere a Prefeitura

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