Academia de Ciências Contábeis do Paraná: 45 Anos de História
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Sobre este e-book
A Academia de Ciências Contábeis do Paraná, fundada em julho de 1977, congrega profissionais da Contabilidade que se destacaram dentro da profissão contábil durante os 45 anos de existência e que estão aqui homenageados com o memorial de cada Acadêmico.
A obra buscou homenagear os Acadêmicos que já faleceram e que deixaram um legado de conhecimento contábil para as futuras gerações.
A história da Academia é retratada por meio das diretorias, desde seu início, sendo relembrados os momentos importantes, destacando-se a Comenda de São Mateus, destinada a homenagear profissionais de destaque na área da Contabilidade.
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Academia de Ciências Contábeis do Paraná - Moacir Carlos Baggio
I – HISTÓRIA DA CONTABILIDADE
EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE: DO PERÍODO PALEOLÍTICO À ERA DA GLOBALIZAÇÃO
É comum ouvir a frase a contabilidade é tão antiga quanto o próprio homem
, porém quase nunca paramos para refletir sobre a importância dessa frase. Para além dessa necessária reflexão, a contabilidade é, na sua essência, uma ciência social, visto que sua existência é demonstrada pela própria vida do ser humano, e sua utilização pode ser observada quando esse homem começou a juntar seus objetos de caça, ao observar o crescimento do rebanho no pasto ou, ainda, quando começou a mensurar os objetos e pertences que formavam seu patrimônio.
Nesse contexto, contudo, essa antiguidade é pouco identificada e considerada, até mesmo pelos profissionais da área. A certeza de seu surgimento e evolução é motivo de discórdia. Com o intuito de discorrer um pouco mais sobre essa tão importante ciência é que apresentamos este opúsculo.
Ao escrever sobre a origem da contabilidade, deve-se, primeiramente, ter a consciência de que as datas citadas podem não ser exatas, tendo em vista que alguns autores lançam dúvidas quanto ao escrito por outros, além de, em muitos achados arqueológicos, a exatidão das datas ser de difícil precisão.
Partindo para a análise de datas de origem e evolução da contabilidade, admite-se que há 20.000 anos, no período Paleolítico Superior, foram encontrados vestígios de seu uso. Evidentemente que os recursos e técnicas utilizadas eram bastante precários e rudimentares.
Com a evolução do homem e a consequente acumulação de riquezas, surgiu também a necessidade de maior controle desse patrimônio.
Inicialmente, a contabilidade exercida pelo homem, apesar do empirismo predominante, já trazia como objeto de estudo o patrimônio, que era constituído pelos rebanhos e objetos de caça.
Sendo o homem um ser pensante, constata-se que os primeiros registros, de maneira rudimentar, eram feitos apenas na memória, porém não demorou muito para que se descobrissem formas mais duradouras de manter tais registros, como gravuras em pedras ou nas paredes das cavernas.
Nesse ponto de vista, é possível identificar que a principal ferramenta de registro contábil utilizada era o inventário, com a contagem física para controle dos bens e, tempos mais tarde, a classificação segundo a natureza, em rebanhos, metais, escravos, dentre outros títulos possíveis. Exemplo dessa fase é a descoberta das famosas tábuas de Uruk, datadas da Era da Pedra Polida e citadas por vários autores brasileiros, como Lopes de Sá e Paulo Schmidt. Essas tábuas eram feitas de argila, retangulares ou ovais, medindo aproximadamente 2,5 a 4,5 centímetros, com faces ligeiramente convexas. Nelas eram combinadas a figura com o numérico, pela gravação da cara do animal a ser inventariado e o número correspondente às quantidades existentes. Presume-se, aqui, sua forma rudimentar de controle, pela época dos fatos, porém, pode-se considerar que a forma atual é a evolução do modelo antigo, pelas ferramentas e tecnologias existentes hoje. Na prática atual, exemplificando, o título de uma conta matrizes
, substitui a gravura nas pedras e os demais dados constantes apenas demonstram a evolução, com o nível mais qualificado da informação, pois foi incluído o valor monetário do item ao quantitativo.
Estudando alguns historiadores, como Hendriksen, Lopes de Sá, Sérgio de Iudícibus, Alberto Almada, Maria Helena Ferreira, Hélio da Silva, Anete Coelho Costa Ferreira, entre outros, conclui-se que as datas mais prováveis do início do uso da Contabilidade de modo mais evidente está em torno de 8.000 anos, e todos os autores acima citados dividem a história da Contabilidade em fases. Para melhor entendimento, apresentamos a divisão criada por Frederigo Mellis, citada por Lopes de Sá (1997, p. 17), que tomamos por base deste estudo:
Mundo antigo: dos primórdios da história até o ano 1202 de nossa era;
Sistematização: de 1202 até 1494, em razão da formação do processo das partidas dobradas;
Da Literatura: de 1494 (obra de Luca Pacioli) até 1840 (obra de Francesco Villa);
Era científica: de 1840 até nossos dias.
Com base nesses períodos, é possível perceber que a Contabilidade teve influência importante entre os povos primitivos, pois, antes mesmo da invenção da escrita, já estava presente no dia a dia do homem que já a utilizava, mesmo de maneira rudimentar, para inventariar seu patrimônio, como podemos observar na afirmação de Iudícibus (1997, p. 29) ao escrever que o homem primitivo, ao inventariar o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis, ao contar seus rebanhos, ao contar suas ânforas e bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de contabilidade
.
Ainda podemos considerar a conclusão de Hendriksen (1974, p. 26), citando Lyndon Lamarr, de que a contabilidade tem registros de cerca de 3.600 a.C., no Império Greco-Romano. Conta-se a história de um arquiteto romano da era cristã, que avalia um imóvel considerando o custo dele. Vejamos o teor do texto: [...] que a avaliação de uma parede pode ser determinada não somente pelo seu custo, senão após a dedução desse custo, um percentual por cada ano que a parede estivera em pé
(tradução nossa). Como se vê, é a Contabilidade sendo utilizada na sua real finalidade, desde seus primórdios.
Considerando outro aspecto em relação aos períodos evolutivos da Contabilidade, Lopes de Sá (1997) criou sete tempos:
Intuitivo primitivo: vivido nos períodos líticos, da pré-história da humanidade, caracterizando-se pelas manifestações rudimentares de arte e pré-escrita dedicado à simples memória rudimentar da riqueza.
Racional-Mnemônico: de disciplina dos registros, com o estabelecimento de métodos de organização da informação, ocorrido na Antiguidade; iniciou-se aproximadamente em 4.000 a.C.
Lógico Racional: preocupou-se com a evidência de causa e efeito dos fenômenos organizados em sistemas primários, deu origem à partida dobrada e foi desenvolvido na Idade Média; iniciou-se, segundo provas, a partir da segunda metade do século XI.
Literatura: em que a evolução defluiu da produção de matéria escrita de difusão do conhecimento, com a preocupação de ensinar, por meio de livros escritos por autores preocupados com a forma de como realizar os registros e demonstrações
; tal período ensaiou-se a partir do século XI, tendo como berço o mundo islâmico, acelerou-se no Oriente e, assim, definiu-se a partir do século XV.
Pré-científico: em que a intensa busca de raciocínios, definições e conceitos, sem matéria, não só de registros, mas especialmente de fatos ou ocorrências com a riqueza, ensejou a disciplina das contas. Nessa fase, ocorreu a formação das primeiras teorias empíricas, abrindo caminho para a lógica do conhecimento contábil que transcendeu a informação. Tal período começou a ser vivido a partir do fim do século XVI, prolongando-se, sempre em etapas evolutivas, até o início do século XIX.
Científico: neste período apareceram as primeiras obras científicas e estabeleceram-se as bases das escolas do pensamento contábil; foi a época em que se passou a estudar a essência dos fenômenos patrimoniais, de suas relações, ou seja, o que significavam os fatos informados e relativos ao patrimônio. Tendo sido vivido a partir das primeiras décadas do século XIX, este período constitui-se naquele da História das Doutrinas.
Filosófico-normativo: vivido a partir da década de 50 do século XX, em que a preocupação de normatizar as informações e de penetrar na interpretação conceptual definiu bem as áreas da informação disciplinada e do entendimento profundo e holístico dos fenômenos patrimoniais. Tal período é o da atualidade, em que paralelas seguem, definidas, as duas correntes: empírico-normativa e a científico-filosófica, ambas suportadas por considerável avanço da tecnologia da informação.
Visando contribuir com a discussão científica dos autores citados, tomamos a liberdade para citar, também, algumas passagens encontradas na Bíblia Sagrada, em que se pode correlacionar o uso de técnicas contábeis desde os tempos bíblicos.
O primeiro fato narrado encontra-se em Gênesis, entre o patriarca Jacó e seu sogro Labão, quando discutiam a evolução do rebanho das duas famílias, há cerca de 4.000 a.C. Porque o pouco que tinhas antes de mim, é aumentado até uma multidão, e o Senhor te tem abençoado por meu trabalho [...]
(BÍBLIA SAGRADA, Gênesis, 30, 30). Podemos notar nesse diálogo que, mesmo sendo rudimentar, o controle existia, pois, se não, como saberiam que houve crescimento do rebanho até uma multidão? O inventário físico era executado.
O segundo fato ocorreu cerca de 2.000 anos mais tarde, com a história de um homem muito rico, cujo escritor relata de maneira detalhada as posses desse homem chamado Jó. O texto encontra-se no livro com o mesmo nome. Vejamos o conteúdo: E era o seu gado sete mil ovelhas, e três mil camelos e quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu serviço, de maneira que este homem era maior que todos os do oriente
(BÍBLIA SAGRADA, Jó, 1, 3). Analisando com atenção esse livro da Bíblia, segue a história em que o personagem Jó passa por inúmeras dificuldades em sua vida, porém, ao final da história, o autor descreve novamente a riqueza, analisando agora o quanto cresceu – no caso, duplicou. Em que pese a rusticidade dos dados e dos elementos avaliados, mesmo que em 2.000 a.C., reconhecemos aqui o uso da técnica de análise de balanços aplicada atualmente pelos analistas e contadores, com a demonstração da variação patrimonial em dois períodos distintos para, na sequência, relatar que o homem era o mais rico da época.
Outro exemplo de utilização da contabilidade na Antiguidade, há, ainda, a narrativa ocorrida cerca de 1.000 anos depois, no livro do Eclesiastes. O escritor apresenta o uso da técnica de auditoria, com a seguinte situação: Vedes aqui, isto achei, diz o pregador, conferindo uma coisa com a outra para achar a causa
(BÍBLIA SAGRADA, Eclesiastes, 7, 27).
São muitos os exemplos da evolução da contabilidade no tempo. O Egito também tinha situações especiais da utilização, com a aplicação da contagem do boi, festa de início de cada ano calendário. Acredita-se que foram os egípcios os primeiros a utilizar o valor monetário em seus registros. A moeda era cunhada em ouro e prata e chamada de Shat. Os modelos de registros utilizados pelos egípcios foram aperfeiçoados pelos gregos, não somente na administração pública, mas também na atividade privada e bancária.
Outras regiões do Oriente também foram importantes para a contabilidade, como é o caso da Síria, com a conta chamada de contas de armas
, no controle das armas do exército.
Citam-se, ainda, os eventos ocorridos na Ilha de Creta, onde o controle era feito em argila, cerca de 2.000 a.C.
Para além dos fatos narrados, temos ainda, na concepção de Iudícibus (1987, p. 31), que a contabilidade teve seu desenvolvimento somente após a utilização da moeda, pois, antes disso, o que era efetuado não passava de simples troca de produto por produto, fato que não exigia avaliação monetária, portanto, era simplesmente o inventário