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Do fóssil ao fosso: por que desaprendemos a dialogar?
Do fóssil ao fosso: por que desaprendemos a dialogar?
Do fóssil ao fosso: por que desaprendemos a dialogar?
E-book162 páginas1 hora

Do fóssil ao fosso: por que desaprendemos a dialogar?

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Sobre este e-book

"Ao questionar por que desaprendemos a dialogar, Thelma constrói, paradoxalmente e sem perceber, pontes de comunicação possíveis, por onde transitam a ciência, a arte e a empatia. Do fóssil ao fosso poderia ser um espelho da nossa degradação. Mas é um convite à esperança e à afirmação da nossa humanidade." [Andréa Pachá]


Por que desaprendemos a dialogar? Num mundo dividido e cheio de certezas irredutíveis, a leitura das crônicas de Thelma Lopes oferece um olhar generoso sobre a experiência humana, convidando a uma reflexão mais profunda sobre o que de fato nos aproxima. Nas palavras de Andréa Pachá, "ao democratizar, com um texto denso e acessível, as memórias que nos humanizam, Thelma generosamente nos permite compreender que arte, ciência, justiça, cultura, afeto, são saberes derivados da mesma raiz. Por meio dessa seiva, alimentamos nossa condição precária, provisória e transformamos a banalidade do cotidiano em uma estupenda experiência coletiva."
IdiomaPortuguês
EditoraImprimatur
Data de lançamento21 de jan. de 2021
ISBN9786599065279
Do fóssil ao fosso: por que desaprendemos a dialogar?

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    Pré-visualização do livro

    Do fóssil ao fosso - Thelma Lopes

    Sumário

    Aviso de spoiler!

    Direita, esquerda e outras tantas direções...

    Do fóssil ao fosso: onde nos perdemos?

    Galileu, Guarnieri e a cabeça da Medusa

    Arte, ciência: ligações necessárias

    Sobre ser artista no Brasil e o triste risco de retrocesso à barbárie

    Diversidade, inclusão e o segredo de Monet

    Razão e insensibilidade ou para que servem a inteligência e erudição?

    O educador, o poeta e a amnésia seletiva

    Shakespeare, Pasteur e a importância de contextualizar

    O grito de Munch, a tecnologia e o terceiro talher

    O jogo das damas e as mulheres invisíveis

    O museu e as chamas que não se apagam

    Valores humanistas e o mundo sustentável

    As asas e a âncora ou... Ele não!

    Einstein, Picasso e a democracia

    Democracia: sem ela, não!

    Quando tentam emudecer o melhor de nós...

    Paulo Freire, onde nos levará a boçalidade de cada dia?

    A biodiversidade e o homem das estrelas pulsantes

    Bravuras e bravatas, ou: ao mestre, só carinho...

    História e consciência negra

    A prostituta da música e o gênio aleijado

    Teatro, educação e cidadania

    Faça o que eu digo...

    Frankenstein e a princesa da paleontologia

    As festas natalinas e a sensibilidade sazonal

    Feliz mundo velho de ideias novas...

    Sobre ser o melhor de nós

    A arte da escuta ou a beleza que nasce do paradoxo

    Mas Brutus era um homem honrado...

    O mar de lama e a flor de Picasso

    O Rio que eles viram...

    A empatia, a dor e a beleza nossa de cada dia

    O cinema e a ciência de fazer pensar com emoção

    O Brasil tomado de assalto e os reféns da mediocridade

    O que emudece não pode ser celebrado...

    Arte e tecnologia ou: vá, pensamento, sobre as asas douradas...

    Pandemia, ciências sociais e a história do que se sente

    Texto de orelha

    Sobre a autora

    Para Euclair, fortaleza e delicadeza. Exemplo de que

    a inteligência mora ao lado dos afetos.

    Para Antonio, Ricardo e Juju, que me ensinam,

    todo dia, que no amor o bom se multiplica.

    Para a grande, em tamanho e bondade,

    família de irmãs e irmãos. Porto seguro...

    Aos Lopes Carlos, Andrade Oliveira e Gardair,

    presentes da vida.

    agradecimentos

    Ricardo e Alexandre, sem vocês, por razões distintas,

    este livro talvez não existisse.

    Christian Gardair, por permitir compartilhar um pouco

    da beleza de sua obra junto aos meus escritos.

    Aviso de spoiler!

    Alexandre Machado

    O ano de 2018 parecia que ia ser longo e angustiante, diante de tantos desafios a serem vivenciados. Falo sobretudo no campo da política, com um histórico recente de turbulências capitaneadas pela Operação Lava Jato, que arrancou um grito de Basta! contra a corrupção. Um grito que parecia entalado na garganta dos brasileiros, que levou boa maioria às ruas, mas que ao mesmo tempo nos fazia manter o pé atrás (refiro-me, aqui, a uma outra boa maioria da população), percebendo ou apenas intuindo, aqui e acolá, certas manipulações que nos assombram desde antes de usurparmos estas terras de seus habitantes originários para chamá-la de nação.

    Nas redes sociais, ensaio virtual de um mundo que já estava concretamente dividido, testemunhávamos a cisão entre aqueles que ponderavam, assumindo não entender completamente o que se passava; e aqueles que grunhiam absolutas certezas a respeito de todos os assuntos. Amizades iam sendo rompidas, equilíbrio emocional virava medo de se posicionar num dos lados a serem defendidos com a própria vida. Do outro.

    As manchetes dos jornais, telejornais e portais de notícias da internet ora corriam atrás de agradar ao senso comum e ganhar – ou ao menos reter – público; ora se equilibravam em máscaras de imparcialidade para mostrar que eles também não tinham lado, não tinham partido.

    Vivíamos, então, uma guerra declarada entre ninguém. A classe média cortejante das elites mais uma vez virava massa para expressar seus sentimentos – e arrogâncias – e se fazer visível diante de um palco onde ela própria atuava, sem direção. A nobreza que a média almejava, agora a aproximava cada vez mais da comunidade contra a qual seus médios integrantes já não faziam questão de disfarçar a ojeriza. As facções criminosas das cidades-Estado, que dividiam territórios, marcavam seus seguidores pela cor da roupa e da pele e exerciam seu poder à base de terror, intimidação e violência, agora serviam de inspiração – inconsciente? – para as classes sociais que vestiam o verde&amarelo em nome dos bons costumes, da família e de Deus, Todo Poderoso Aqui Na Terra Como No Céu. A média ameaçava quem ousasse irromper suas fronteiras com outras bandeiras, com outras cores, fossem unicamente vermelhas ou de muitas misturadas. Não eram de Deus, pois.

    Nos estádios – terras de esporte que deveriam servir apenas como catarse, purgação, purificação de almas que brincavam de oponentes para, saindo dali, descarregadas de suas animalidades, conseguirem lembra-se da civilidade do dia a dia que nos permite ir e vir, falar e ouvir –, o coro, agora, elevava o tom de voz e baixava o nível e os polegares, indicando quem deveria morrer ou ser esquecido.

    Nem a paixão nacional conseguiu aplacar essa fúria. Alçada a projetos de modernização, que afastaram torcedores e atraíram eleitores, até mesmo o futebol virou encenação religiosamente política, politicamente religiosa. O objetivo era vencer. Não importavam os métodos, os meios. A encenação diante das câmeras, expondo o inimigo e suas fragilidades físicas e morais, eram um espelho do que vivíamos fora dos Maracanãs. Virávamos uma torcida que insistia não ter time, mas que torcia contra.

    Faltava apenas às hordas, que se organizavam na desordem do ódio de suas vísceras, partirem para o último refúgio daqueles que ousavam pensar, refletir, ponderar, ir além para aprender o caminho. Exposições de arte, peças teatrais, cinema, músicas, músicos, artistas, todos e tudo deveriam se enquadrar à nova ordem de novas siglas de nada de novo. Se insistissem, seriam humilhados até cair sob gritos guturais vindos de um passado indiferente.

    Houve resistência. Em meio a tanta indignação e desamparo emocional, um ou outro movimento se atreveu a surgir. Todos comunistas comedores de criancinhas, naturalmente. Naquele início de 2018, uma dessas vozes de resistência parecia renascer das cinzas. O bom e velho Jornal do Brasil, que tanto orgulho ainda estufava nos peitos de muitos cariocas, saudosos de uma segunda opinião médica, anunciava seu retorno retumbante (talvez nem tenha sido isso tudo; talvez nem tenha havido tantos avisos ao mercado consumidor, mas o jb estava lá de volta às poucas bancas de jornais que ainda se mantinham de pé).

    Recebi o convite para fazer parte daquele momento histórico. O jb tinha sido a primeira redação de jornal em que pisei a trabalho, no até então último endereço glorioso, no imponente prédio da Avenida Brasil 500. Quis isso para mim. Fantasiei até que este seria o fim de um ciclo, começado e terminado sob o mesmo logotipo.

    O Rio de Janeiro, enfim, teria novamente uma voz para refletir pensamentos, opiniões, ideias. Renovação. Por 12 meses, o Jornal do Brasil se fez presente. Por 12 meses segui à frente da editoria Opinião. Tive o privilégio de receber e ler artigos variados sobre múltiplos pontos de vista. Ampliei meus horizontes, dividi essa experiência com leitores. Não quis ser humilde. Pensava em fazer daquelas páginas, juntamente com meus amigos de redação, novamente um farol para mentes irrequietas e até mesmo para aquelas que teimassem na inércia. Presunção, arrogância e um toque de boa imaginação.

    Agora, peço permissão para um pequeno voo de volta no tempo, ao ano de 1996, se não me falha a memória. Fora do mercado formal de jornalismo – entenda-se sem o teto de uma grande empresa de comunicação –, eu tentava a vida com alguns frilas que me trouxessem sustento e preenchessem minha mente, fazendo com que eu pudesse lidar com a recente morte de meu pai. Naquele momento, Thelma Lopes, minha amiga, já naquele época, de longo tempo, acenou com a possibilidade de um trabalho diferente, irreverente e desafiador: cuidar da memória da construção do Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz. Para me convencer a aceitar, Thelma falou horas sobre o trabalho que ela desenvolvia naquele projeto embrionário. Depois de cursarmos a escola de comunicação da ufrj, eu insisti na brincadeira de ser jornalista; Thelma seguiu o caminho que sua sensível inteligência indicava: o teatro. Na Fiocruz, ela iria provar que Ciência e Arte podiam conviver harmoniosamente, podiam se complementar, podiam contar uma a história da outra. Foi com essa emoção que me convenceu a frequentar uma nova fase da minha vida.

    De volta a 2018, lembrei que, no meio daquela turbulência política, social e humana, precisávamos mais do que nunca de alguém que pudesse romper fronteiras e nos fazer lembrar que não há política sem arte, não há ciência sem arte, não há futebol sem arte. Lembrar que não há vida sem arte. Temi, confesso, antes de lhe fazer o convite para escrever periodicamente nas

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