Do fóssil ao fosso: por que desaprendemos a dialogar?
De Thelma Lopes
()
Sobre este e-book
Por que desaprendemos a dialogar? Num mundo dividido e cheio de certezas irredutíveis, a leitura das crônicas de Thelma Lopes oferece um olhar generoso sobre a experiência humana, convidando a uma reflexão mais profunda sobre o que de fato nos aproxima. Nas palavras de Andréa Pachá, "ao democratizar, com um texto denso e acessível, as memórias que nos humanizam, Thelma generosamente nos permite compreender que arte, ciência, justiça, cultura, afeto, são saberes derivados da mesma raiz. Por meio dessa seiva, alimentamos nossa condição precária, provisória e transformamos a banalidade do cotidiano em uma estupenda experiência coletiva."
Relacionado a Do fóssil ao fosso
Ebooks relacionados
Reencontro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSob o Signo das Fúrias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Farol Das Massas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUrbanos, humanos, estranhos… Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPesadelo: Narrativas dos anos de chumbo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAtravessagem: Reflexos e reflexões na memória de repórter Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÀ luz da cegueira - vol. 2: Oitavo selo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuem é essa mulher?: A alteridade do feminino na obra musical de Chico Buarque de Holanda Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMacunaíma E Martin Cererê: Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstética e Raça: Ensaios sobre a Literatura Negra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVitória Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Ventos Também Choram Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDepois do fim do mundo: o despertar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA construção do personagem criminoso na literatura e no cinema: Cidade de Deus, Capão Pecado e Ônibus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRelações étnico-raciais na literatura brasileira do século XXI: textos e contextos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo Se Faz Humor Político - Henfil: Depoimento a Tárik de Souza Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDo radical em revolução às conflitualidades: o pensamento de Antônio Callado no romance Quarup Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO rebelde do traço: A vida de Henfil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPerguntas da história Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSegurança pública e população em situação de rua: desafios políticos, ontológicos, epistêmicos e pedagógicos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMário Peixoto antes e depois de Limite Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAna Cristina Cesar: O sangue de uma poeta Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMachado de Assis, o cronista das classes ociosas: Jornalismo, artes, trabalho e escravidão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConfissões de um heretico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO vendedor de sonhos: O chamado Nota: 5 de 5 estrelas5/5O perfume das tulipas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Patrulha para o desconhecido Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExiste amor em São Paulo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Civilização Eterna Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEngrenagens Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Geral para você
Para todas as pessoas apaixonantes Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mata-me De Prazer Nota: 5 de 5 estrelas5/5100 dias depois do fim: A história de um recomeço Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pra Você Que Sente Demais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para todas as pessoas intensas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGramática Escolar Da Língua Portuguesa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Prazeres Insanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Arte da Guerra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pra você que ainda é romântico Nota: 4 de 5 estrelas4/5SOMBRA E OSSOS: VOLUME 1 DA TRILOGIA SOMBRA E OSSOS Nota: 4 de 5 estrelas4/5O corpo desvelado: contos eróticos brasileiros (1922-2022) Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poesias Nota: 4 de 5 estrelas4/5As Melhores crônicas de Rubem Alves Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Sabedoria dos Estoicos: Escritos Selecionados de Sêneca Epiteto e Marco Aurélio Nota: 3 de 5 estrelas3/5Palavras para desatar nós Nota: 4 de 5 estrelas4/5Onde não existir reciprocidade, não se demore Nota: 4 de 5 estrelas4/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Morte de Ivan Ilitch Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Casamento do Céu e do Inferno Nota: 4 de 5 estrelas4/5Noites Brancas Nota: 4 de 5 estrelas4/5MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dom Quixote Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Do fóssil ao fosso
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Do fóssil ao fosso - Thelma Lopes
Sumário
Aviso de spoiler!
Direita, esquerda e outras tantas direções...
Do fóssil ao fosso: onde nos perdemos?
Galileu, Guarnieri e a cabeça da Medusa
Arte, ciência: ligações necessárias
Sobre ser artista no Brasil e o triste risco de retrocesso à barbárie
Diversidade, inclusão e o segredo de Monet
Razão e insensibilidade ou para que servem a inteligência e erudição?
O educador, o poeta e a amnésia seletiva
Shakespeare, Pasteur e a importância de contextualizar
O grito de Munch, a tecnologia e o terceiro talher
O jogo das damas e as mulheres invisíveis
O museu e as chamas que não se apagam
Valores humanistas e o mundo sustentável
As asas e a âncora ou... Ele não!
Einstein, Picasso e a democracia
Democracia: sem ela, não!
Quando tentam emudecer o melhor de nós...
Paulo Freire, onde nos levará a boçalidade de cada dia?
A biodiversidade e o homem das estrelas pulsantes
Bravuras e bravatas, ou: ao mestre, só carinho...
História e consciência negra
A prostituta da música e o gênio aleijado
Teatro, educação e cidadania
Faça o que eu digo...
Frankenstein e a princesa da paleontologia
As festas natalinas e a sensibilidade sazonal
Feliz mundo velho de ideias novas...
Sobre ser o melhor de nós
A arte da escuta ou a beleza que nasce do paradoxo
Mas Brutus era um homem honrado...
O mar de lama e a flor de Picasso
O Rio que eles viram...
A empatia, a dor e a beleza nossa de cada dia
O cinema e a ciência de fazer pensar com emoção
O Brasil tomado de assalto e os reféns da mediocridade
O que emudece não pode ser celebrado...
Arte e tecnologia ou: vá, pensamento, sobre as asas douradas...
Pandemia, ciências sociais e a história do que se sente
Texto de orelha
Sobre a autora
Para Euclair, fortaleza e delicadeza. Exemplo de que
a inteligência mora ao lado dos afetos.
Para Antonio, Ricardo e Juju, que me ensinam,
todo dia, que no amor o bom se multiplica.
Para a grande, em tamanho e bondade,
família de irmãs e irmãos. Porto seguro...
Aos Lopes Carlos, Andrade Oliveira e Gardair,
presentes da vida.
agradecimentos
Ricardo e Alexandre, sem vocês, por razões distintas,
este livro talvez não existisse.
Christian Gardair, por permitir compartilhar um pouco
da beleza de sua obra junto aos meus escritos.
Aviso de spoiler!
Alexandre Machado
O ano de 2018 parecia que ia ser longo e angustiante, diante de tantos desafios a serem vivenciados. Falo sobretudo no campo da política, com um histórico recente de turbulências capitaneadas pela Operação Lava Jato, que arrancou um grito de Basta!
contra a corrupção. Um grito que parecia entalado na garganta dos brasileiros, que levou boa maioria às ruas, mas que ao mesmo tempo nos fazia manter o pé atrás (refiro-me, aqui, a uma outra boa maioria da população), percebendo ou apenas intuindo, aqui e acolá, certas manipulações que nos assombram desde antes de usurparmos estas terras de seus habitantes originários para chamá-la de nação.
Nas redes sociais, ensaio virtual de um mundo que já estava concretamente dividido, testemunhávamos a cisão entre aqueles que ponderavam, assumindo não entender completamente o que se passava; e aqueles que grunhiam absolutas certezas a respeito de todos os assuntos. Amizades iam sendo rompidas, equilíbrio emocional virava medo de se posicionar num dos lados a serem defendidos com a própria vida. Do outro.
As manchetes dos jornais, telejornais e portais de notícias da internet ora corriam atrás de agradar ao senso comum e ganhar – ou ao menos reter – público; ora se equilibravam em máscaras de imparcialidade para mostrar que eles também não tinham lado, não tinham partido.
Vivíamos, então, uma guerra declarada entre ninguém. A classe média cortejante das elites mais uma vez virava massa para expressar seus sentimentos – e arrogâncias – e se fazer visível diante de um palco onde ela própria atuava, sem direção. A nobreza que a média almejava, agora a aproximava cada vez mais da comunidade contra a qual seus médios integrantes já não faziam questão de disfarçar a ojeriza. As facções criminosas das cidades-Estado, que dividiam territórios, marcavam seus seguidores pela cor da roupa e da pele e exerciam seu poder à base de terror, intimidação e violência, agora serviam de inspiração – inconsciente? – para as classes sociais que vestiam o verde&amarelo em nome dos bons costumes, da família e de Deus, Todo Poderoso Aqui Na Terra Como No Céu. A média ameaçava quem ousasse irromper suas fronteiras com outras bandeiras, com outras cores, fossem unicamente vermelhas ou de muitas misturadas. Não eram de Deus, pois.
Nos estádios – terras de esporte que deveriam servir apenas como catarse, purgação, purificação de almas que brincavam de oponentes para, saindo dali, descarregadas de suas animalidades, conseguirem lembra-se da civilidade do dia a dia que nos permite ir e vir, falar e ouvir –, o coro, agora, elevava o tom de voz e baixava o nível e os polegares, indicando quem deveria morrer ou ser esquecido.
Nem a paixão nacional conseguiu aplacar essa fúria. Alçada a projetos de modernização, que afastaram torcedores e atraíram eleitores, até mesmo o futebol virou encenação religiosamente política, politicamente religiosa. O objetivo era vencer. Não importavam os métodos, os meios. A encenação diante das câmeras, expondo o inimigo e suas fragilidades físicas e morais, eram um espelho do que vivíamos fora dos Maracanãs. Virávamos uma torcida que insistia não ter time, mas que torcia contra.
Faltava apenas às hordas, que se organizavam na desordem do ódio de suas vísceras, partirem para o último refúgio daqueles que ousavam pensar, refletir, ponderar, ir além para aprender o caminho. Exposições de arte, peças teatrais, cinema, músicas, músicos, artistas, todos e tudo deveriam se enquadrar à nova ordem de novas siglas de nada de novo. Se insistissem, seriam humilhados até cair sob gritos guturais vindos de um passado indiferente.
Houve resistência. Em meio a tanta indignação e desamparo emocional, um ou outro movimento se atreveu a surgir. Todos comunistas comedores de criancinhas, naturalmente. Naquele início de 2018, uma dessas vozes de resistência parecia renascer das cinzas. O bom e velho Jornal do Brasil, que tanto orgulho ainda estufava nos peitos de muitos cariocas, saudosos de uma segunda opinião médica, anunciava seu retorno retumbante (talvez nem tenha sido isso tudo; talvez nem tenha havido tantos avisos ao mercado consumidor, mas o jb estava lá de volta às poucas bancas de jornais que ainda se mantinham de pé).
Recebi o convite para fazer parte daquele momento histórico. O jb tinha sido a primeira redação de jornal em que pisei a trabalho, no até então último endereço glorioso, no imponente prédio da Avenida Brasil 500. Quis isso para mim. Fantasiei até que este seria o fim de um ciclo, começado e terminado sob o mesmo logotipo.
O Rio de Janeiro, enfim, teria novamente uma voz para refletir pensamentos, opiniões, ideias. Renovação. Por 12 meses, o Jornal do Brasil se fez presente. Por 12 meses segui à frente da editoria Opinião. Tive o privilégio de receber e ler artigos variados sobre múltiplos pontos de vista. Ampliei meus horizontes, dividi essa experiência com leitores. Não quis ser humilde. Pensava em fazer daquelas páginas, juntamente com meus amigos de redação, novamente um farol para mentes irrequietas e até mesmo para aquelas que teimassem na inércia. Presunção, arrogância e um toque de boa imaginação.
Agora, peço permissão para um pequeno voo de volta no tempo, ao ano de 1996, se não me falha a memória. Fora do mercado formal de jornalismo – entenda-se sem o teto de uma grande empresa de comunicação –, eu tentava a vida com alguns frilas que me trouxessem sustento e preenchessem minha mente, fazendo com que eu pudesse lidar com a recente morte de meu pai. Naquele momento, Thelma Lopes, minha amiga, já naquele época, de longo tempo, acenou com a possibilidade de um trabalho diferente, irreverente e desafiador: cuidar da memória da construção do Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz. Para me convencer a aceitar, Thelma falou horas sobre o trabalho que ela desenvolvia naquele projeto embrionário. Depois de cursarmos a escola de comunicação da ufrj, eu insisti na brincadeira de ser jornalista; Thelma seguiu o caminho que sua sensível inteligência indicava: o teatro. Na Fiocruz, ela iria provar que Ciência e Arte podiam conviver harmoniosamente, podiam se complementar, podiam contar uma a história da outra. Foi com essa emoção que me convenceu a frequentar uma nova fase da minha vida.
De volta a 2018, lembrei que, no meio daquela turbulência política, social e humana, precisávamos mais do que nunca de alguém que pudesse romper fronteiras e nos fazer lembrar que não há política sem arte, não há ciência sem arte, não há futebol sem arte. Lembrar que não há vida sem arte. Temi, confesso, antes de lhe fazer o convite para escrever periodicamente nas