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A Herdeira da Morte
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A Herdeira da Morte
E-book230 páginas3 horas

A Herdeira da Morte

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Sobre este e-book

Ela estava feliz trabalhando para Diana. Mas quando sua princesa e melhor amiga é obrigada pelo Tratado a casar com um príncipe do reino vizinho, Minah decide ficar. Sua única saída é buscar refúgio com sua madrasta. Só não esperava que ela mandasse alguém para matá-la. Traída pela família que lhe restou, ela foge e acaba conhecendo um grupo de pessoas que tem mais a ver com ela do que poderia imaginar. Em um mundo onde a cor dos olhos define poderes, a magia vem da terra, as pedras têm mais valor do que se pensa e assassinos nem sempre têm sangue frio, Minah Kor tem que decidir: o que ela fará?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de mai. de 2020
ISBN9786555790023
A Herdeira da Morte

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    A Herdeira da Morte - Mari Lima

    Capitulo I

    arabesco

    As pedras de seu vestido refletiram a luz que entrou pela janela. Balancei de leve a cabeça. Em um único movimento, puxei todo o cabelo em tranças menores e finalizei-as com uma trança maior terminando de arrumar o penteado de Diana. Os fios castanhos eram lisos, de fácil manuseio.

    — Queria que você fosse comigo para o Castelo de Diamantina. Todas as outras damas me acompanharão.

    Suspirei. Fitei os seus olhos castanhos pelo espelho da penteadeira à nossa frente. Vi que Guilda, a outra dama, arrumava a cama dela.

    Faz apenas um ano que trabalho com a princesa, mas ficamos amigas tão rápido que parecia mais tempo. Dividíamos segredos como melhores amigas — talvez realmente eu fosse sua única amiga.

    — Alteza, não posso. Você irá casar amanhã e mudar-se para o reino mais distante possível. Por favor, perceba a ênfase no reino mais distante possível.

    Ela torceu o nariz. Era do outro lado do continente.

    — Sabe o quanto a amo — continuei — , mas meu coração pertence à Luares. É onde minha família está.

    — Minah, se está se referindo à sua madrasta, sinto muito, ela não é família.

    Um dia ela foi, eu quis dizer, mas não consegui.

    Aquilo me atingiu como uma pedra, e minha expressão enrijeceu. Sorri amarelo. A pele morena não impediu que eu visse Diana corar.

    Seu título exigia certa superioridade. Ela não admitiria que errara ao falar algo para sua dama de honra, mesmo que quisesse. Não foi criada para pedir desculpas.

    Ainda assim, seu rosto mostrava o arrependimento. Sempre.

    As paredes de seu quarto eram repletas de quadros, espelhos, cortinas e safiras. Ela não mudava nem sua penteadeira de lugar, e não queria que ninguém a mudasse. Era indiferente em vários aspectos, porém jamais ao mostrar sua superioridade.

    — Eu a entendo, princesa. Mas não me refiro a Cassandra, e sim aos meus pais. É em Luares que eles estão enterrados. Mudando de assunto — falei, buscando o colar de safira de Diana e encaixando-o em seu pescoço —, preciso procurar outro emprego. Tem alguma vaga no castelo?

    — Infelizmente não, querida. Já estamos com muitos empregados. Ah, como eu queria ter sido merecedora, assim não teria de partir!

    Delicadamente, encaixei os brincos de safira e olhei em seus olhos. Se ela fosse merecedora, eles estariam azuis como a pedra, como os olhos de seu pai e de seu irmão mais velho. Seria muito mais fácil, e ela não seria mandada para outro reino. Estaria aqui, e eu poderia continuar a servindo.

    — Guilda — chamei —, você vai arrumá-la a partir de amanhã, e vou lhe dizer quais são as suas joias favoritas; ande, venha ver.

    Ainda naquela tarde, fui atrás de Cassandra. Demorei a sair do castelo, pois havia bastante movimento. Os decoradores ainda estavam em dúvida com a cor das flores que enfeitariam a catedral; os cozinheiros se ocupavam com a massa do bolo e com os aperitivos que seriam servidos na festa após a missa; os guardas, em sua maioria, organizavam um novo sistema de segurança.

    Várias famílias nobres, especialmente representantes dos Clãs, iriam se estabelecer nas dependências do castelo. Acho que nunca vi o Castelo de Luares tão cheio.

    passagem de tempo

    No portão, Leo, um guarda, me parou.

    — Minah, aonde vai?

    — Ver minha madrasta e… — mordi o lábio, não era um segredo e, de todas as pessoas, ele deveria saber para onde eu iria — pedir abrigo — abaixei os olhos.

    Leo provavelmente já sabia da minha escolha de não acompanhar a princesa. Abriu um sorriso de alguns instantes por me ver afirmar minha permanência, mas logo percebeu o que isso significava.

    — Não vai trabalhar para ela, vai?

    — Não! — arregalei os olhos — Nunca! Não acredito que isso passou pela sua cabeça de vento. Logo você, que eu…

    — Que você…

    Ele iria tocar meu braço, mas devido à grande quantidade de pessoas, afastei-me, ainda corada. Alguns amigos guardas nos olhavam, e eu apenas queria dar um fim naquela cena. Minha vontade era de esfaqueá-lo pela ousadia.

    Seu sorriso malicioso era contagiante, e quando eu estava prestes a imitar, lembrei do meu objetivo.

    — Logo você, que gosto tanto! Eu vou agora, depois te encontro, ainda hoje.

    — Até mais, Branca.

    Eu odiava quando ele me chamava assim. Esse não era meu nome. Eu me chamava Minah, mas Branca era um apelido que somente ele me dera. Passei semanas pedindo que parasse. Um dia eu me acostumei e parei de reclamar.

    Choveu ontem, então a terra da rua virou uma lama grossa que sujava a barra do meu vestido. Faz tempo que não saio do castelo, mas lembro bem do caminho para a casa de Cassandra. Qual beco eu tinha de entrar e sair, e nunca perguntar a ninguém sobre ela.

    Ou cuspiriam em mim, se fossem gentis.

    A chuva forte de ontem não apagou o espírito de verão dos cidadãos. Uma menina, alguns anos mais nova que eu, vendia flores azuis em uma cesta de palha.

    — Uma moeda de bronze, senhora.

    Procurei dentro da bolsa que carregava na cintura e encontrei uma moeda. Comprei, e vi a alegria em seu rosto infantil. Um pouco suja de fuligem e com roupas remendadas, sorriu mais do que antes.

    Não identifiquei o tipo de flor, sempre fui péssima com plantas. Prendi-a no pano em minha cabeça e a fiz de enfeite.

    Vou exagerar se disser que sinto saudades do mundo fora do castelo. É onde não há a mesma segurança, e posso morrer de fome a qualquer momento. Mas a alegria que as pessoas tinham me contagiava.

    Quando vi, tinha dançado com algumas crianças e visto as frutas da estação, vendidas em cestas. Parei quando uma senhora gorda reclamou que eu não compraria.

    Fui procurando, pelas casas sem adorno e sem luxo no exterior, até encontrá-la.

    Com uma pequena porta, era fácil pensar ser uma pequena casa. Mas as duas casas vizinhas eram apenas disfarce, pois tinham uma única estrutura. Ela montou aquelas portas falsas depois que eu parti.

    Qualquer homem da região, ou até mesmo do reino, sabe o que se passa aqui dentro. As mulheres fingem não saber.

    O que realmente não sabem é que anos atrás, uma família bastante gentil, feliz e humilde morou ali.

    — É hora de encarar os fatos — disse em voz alta, mesmo que só eu escutasse.

    Puxei meu decote para cima e, com muita coragem, entrei.

    Encostei na porta e a fechei. Muitos me lançaram olhares por ser a única mulher não desnuda ali. Outros estavam ocupados demais com as meretrizes.

    As cores das cortinas que caíam do teto e os tapetes foram planejados para dar ao ambiente um tom exótico. O pequeno bar cheio de bebidas atiçava os clientes.

    Os que exigiam quartos reservados, pagavam mais caro, óbvio.

    Então, uma mulher alta, negra e bela apareceu com uma manta cor vinho nas costas. Olhou-me com curiosidade.

    — Não esperava encontrar você no meu estabelecimento, ou em qualquer outro lugar, nunca mais.

    — A última coisa que queria era estar aqui, Cassandra, mas minha senhora irá se mudar após o casamento e... bom, eu decidi ficar.

    — Por que alguém trocaria a honra de ser dama de uma princesa — levantou os braços, deu uma voltinha em ironia —, por isto?

    — Porque não quero sair de Luares. E espero que me dê abrigo.

    De repente, tratávamos de negócios. O um ano de separação não pareceu existir entre nós. Ela sorriu e me levou até uma mesa reservada, já com vinho seco em dois copos.

    — Decidiu trabalhar em meu bordel, finalmente?

    Senti um arrepio. Era óbvio que ela pediria isso.

    Quando meu pai faleceu, eu tinha apenas catorze anos. Ela aproveitou a casa deixada e construiu sua própria empresa, juntando todas as prostitutas da região, e tornou-se cafetina. Eu morei por dois anos na casa, ajudava a calcular as contas com o pouco que aprendi e a controlar o dinheiro.

    As mulheres que ali trabalhavam me contaram várias coisas que eu não deveria saber. Mas era bom ter conhecimento pela experiência das outras.

    Aos quinze anos, os vizinhos começaram a comentar que eu trabalhava como elas. Eu e Cassandra negávamos. Se bem que naquela altura, poucos tinham contato conosco.

    Quando fiz dezesseis, a princesa precisava de uma nova dama. Por coincidência, foi na mesma época em que Cass me deu duas opções: trabalhar para ela e continuar na casa ou procurar outro lugar.

    Foi um choque. Achei que tínhamos construído uma forte amizade. Que éramos uma família.

    Então, em um passeio pela cidade, Diana e o seu guarda me encontraram chorando na rua. Ela perguntou qual era o problema e, mesmo sendo da minha idade, parecia muito mais madura.

    Eu não deixaria alguém do Clã sem resposta.

    Ela ofereceu a vaga e eu aceitei, mais por querer ir embora.

    Tomei um gole do vinho e encarei Cass.

    — Claro que não. Ora, parece que não me conhece direito. Quero morar aqui, não vender meu corpo.

    — Então como pretende pagar a estadia?

    Levantei-me de súbito, peguei a faca que carregava na minha bolsa e atirei em cima da sua cabeça, a lâmina se encaixou no estofado da cadeira, centímetros de distância, e ela ficou de olhos arregalados. Sentiu a morte próxima.

    Foi algo que guardei comigo quando aceitei ir. As habilidades que meu pai me ensinou. Estive muito focada no trabalho nos últimos tempos.

    — Acredito que sabe que meu pai era mestre na arte das facas e flechas. Posso ser útil na ceia das suas mulheres. Trazer animais e frutas, sem cobrar uma mísera moeda.

    Sem tirar o olhar fixo em mim, puxou o cabo e estendeu a mão, segurando o punhal, como uma oferta.

    — Trato feito. Arranjarei um quarto para você, amanhã à noite, após o casamento.

    Concordei afirmativamente com a cabeça e guardei a arma selando nosso acordo.

    — Mas não pense que faço porque sou boazinha. Pode ser talvez um instinto materno.

    Ri com escárnio.

    — Sabe que nunca será minha mãe.

    Uma das suas mulheres apareceu, sem corpete ou túnica, apenas os longos cabelos cobrindo seu corpo. Não a conheço, deve ser nova no bordel.

    — Esse cliente exigiu a senhora, Cass.

    Ela se endireitou, puxando o decote para baixo. Tentei ir embora o mais rápido possível, quase corri para a porta. Antes de tocar na maçaneta, meus olhos se cruzaram com quem chamava minha madrasta.

    Era um homem alto, com um par de olhos brancos.

    Prendi a respiração, sem perceber.

    Somente na rua, com os olhos arregalados, que a soltei. Esbarrei em uma moça grávida sem querer.

    — Me desculpa, querida.

    Pus o que acabei de ver em ordem. Ou eu estava delirando, ou aqueles eram os olhos brancos do Clã Imperium. Ou eu estava delirando, ou aquele homem era um merecedor, que estava agora mesmo se deitando com minha madrasta.

    Capitulo II

    arabesco

    — M ira no centro.

    Meu pai me disse uma vez, quando me ensinava. Tinha me trazido para a floresta, posto um alvo de madeira em um tronco e me dado dardos. Um jogo que muitos jogam nas tavernas, bêbados.

    — O senhor me disse que eu aprenderia arco e flecha — disse contrariada e cruzando os braços. Devia ter oito anos.

    — Se acha que pode usar uma arma perigosa como arco e flecha, precisa antes saber mirar, minha filha.

    Aborrecida, joguei o dardo. Ele nem sequer encostou na madeira. O segundo bateu de lado. O terceiro, que joguei com mais raiva, prendeu-se na lateral.

    — Viu? Eu acertei um.

    Ele se ajoelhou para ficar da minha altura, tão pequena que era. Pôs a mão no meu ombro e disse:

    — Não basta acertar uma vez ou acertar por um triz. Se quer ser boa no que gosta, tem de seguir todos os passos e fazer como eu falar. Quando conseguir acertar os três dardos no meio daquele alvo, então lhe darei um arco. Até lá, concentre-se no alvo.

    Lembro de ter olhado enraivecida para ele, mas de ter seguido o conselho. Fiquei meses tentando acertar os três.

    Sozinha na floresta, sem saber quais criaturas estavam por perto. Sei que ele me levava ao canto mais seguro, e sei que me vigiava. Mas eu também sabia que precisava aprender sozinha.

    Minha mãe me ensinava a escrita, onde me saía melhor, mas sempre que eu conseguia entender uma frase e não acertar o alvo com o dardo, sentia-me uma inútil.

    Como se eu achasse que uma coisa valia mais que a outra. Minha cabeça de criança preferia a emoção da floresta comparada à monótona língua escrita. Hoje sei que as duas aulas foram igualmente necessárias.

    Não queria ser como as outras meninas, que aprendiam escrita e costumes domésticos. Queria fazer tudo. Todos os outros pais se vangloriavam por seus filhos terem caçado um coelho e meu pai não.

    Nem nunca o fez.

    Percebi que era segredo nosso quando mamãe morreu. Ele me treinava escondido, para que eu soubesse me defender, não para atacar. Nunca para atacar.

    Quando consegui vencer aquele jogo de dardos, ele já tinha um arco pronto com meu nome entalhado.

    passagem de tempo

    Encontrei Leone no jardim. Ainda usava seu uniforme de metal, e eu também usava minha roupa de dama de honra com barra suja. Abraçamo-nos quando nos vimos.

    — Esse Tratado é tão injusto que não apenas vai separar Diana da família, também irá me separar de você — disse.

    — Sabe que ele não é assim tão maldoso.

    Defendi o Tratado, fugindo do que me disse.

    — Me explique de novo então, Branca, por que eu deveria gostar dele — cruzou os braços.

    Fomos andando pelas flores e plantas e atravessando o jardim, com a mesma lentidão, querendo estender o momento.

    — Quando os Clãs se conheceram — estiquei uma palma da mão e arrastei em um arbusto — e perceberam que nem todos os seus parentes eram merecedores, fizeram um acordo para aumentar as relações entre os condados. Quem tivesse sangue real e ainda assim não ganhasse os talentos, teria de se casar com alguém do outro Clã, alguém que tivesse talentos e pudesse fazer herdeiros para seu Clã — inclinei um pouco a cabeça —, não que não conseguissem ter filhos, mas meio que não entrariam na linhagem.

    — Diana Matamore seria expulsa da vida da realeza se não fosse o acordo.

    — Exato. Em vez disso, dão-lhe a chance por meio do matrimônio. Isso também mantém os Quatro Clãs mais unidos, e a paz nas Terras de Érebo mais permanente.

    Aproximamo-nos de um banco e nos sentamos.

    Sua boca estava tão perto da minha que quase senti um arrepio quando disse:

    — O Tratado também estabeleceu que a moeda do comércio seria feita de ouro, prata e bronze, para que nenhum reino tivesse facilidade com a pedra. Não existem Nascentes desses metais.

    — E você sabia disso tudo o tempo todo, só quis que eu gastasse tempo com uma explicação.

    — Tudo para ficar mais tempo ouvindo sua voz.

    Sorri de orelha a orelha; somente ele me fazia sorrir. Já fazia um tempo que nos encontrávamos às escondidas e trocávamos alguns beijos sem que ninguém

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