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Marchas de orgulho crespo e infâncias negras
Marchas de orgulho crespo e infâncias negras
Marchas de orgulho crespo e infâncias negras
E-book97 páginas1 hora

Marchas de orgulho crespo e infâncias negras

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Sobre este e-book

Este livro aborda reflexões acerca das Marchas do Orgulho e Empoderamento Crespo no Brasil. Tais análises foram desenvolvidas por meio de observações participantes e minhas escrevivências entre o período de 2014 a 2019, nos movimentos sociais de valorização da estética negra e do cabelo crespo em nove capitais brasileiras. Destacamos a relevância das marchas como um marco para o fortalecimento das infâncias negras na sociedade brasileira, oferecendo condições para a crítica às armadilhas estéticas coloniais e para o processo de descolonização subjetiva em pessoas negras.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2024
ISBN9786527019176
Marchas de orgulho crespo e infâncias negras

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    Marchas de orgulho crespo e infâncias negras - Maylla Chaveiro

    1.

    INTRODUÇÃO: CAMINHOS QUE ANTECEDERAM ESTA PESQUISA

    Lá vem a força, lá vem a magia/ Que me incendeia o corpo de alegria (...)

    De onde vem essa coisa tão minha/ Que me aquece e me faz carinho?/

    De onde vem essa coisa tão crua/ Que me acorda e me põe no meio da rua?

    (Milton Nascimento)

    Este livro é parte de uma tese de doutorado chamada Cabelos Crespos em Movimento(s): Infância e Relações Étnico-Raciais (CHAVEIRO, 2020), a qual buscou analisar a articulação entre relações étnico-raciais, infâncias e estética negra a partir das informações obtidas por meio da observação participante realizada em marchas e encontros de valorização do cabelo crespo e da revisão da literatura da área. Com base em um arcabouço teórico-metodológico anticolonial, a infância foi situada como ponto de partida para se pensar as relações étnico-raciais em diáspora, a fim de vislumbrar novas produções epistemológicas, estéticas e políticas que se distanciem das elaborações subjetivas coloniais (CHAVEIRO, MINELLA, 2021).

    Foram realizadas observações participantes durante o período de 2014 a 2019 em Marchas do Orgulho Crespo, Marchas do Empoderamento Crespo e Encontros de Crespas em nove capitais brasileiras (Salvador - BA, Rio de Janeiro - RJ, São Paulo - SP, Florianópolis - SC, Curitiba - PR, Porto Alegre - RS, Goiânia - GO, Mato Grosso - MT e Mato Grosso do Sul -MS).

    A dinâmica de elaboração da escrita de um livro envolve múltiplos caminhos de pesquisa. Para algumas pesquisadoras/pesquisadores, esses caminhos podem ser complementares desde o estudo que se inicia com o TCC na graduação, passando pela dissertação de mestrado, e tendo sequência na tese de doutorado. Nesse sentido, o percurso de criação e desenvolvimento de uma investigação científica pode ser marcado por compromissos teórico-metodológicos e inclinações ético-políticas que são articulados no decorrer de todo esse processo. Contudo, não foram estas as circunstâncias que antecederam esta pesquisa de tese.

    Diferente disso, esta pesquisa de doutorado reflete meus deslocamentos geográficos, subjetivos e epistêmicos oportunizados pelo contato com diferentes contextos e saberes. Minha formação acadêmica se iniciou no ano de 2006 no curso de Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Nesse período, me interessei pela área de estudos teórico-conceituais, comparando e analisando influências epistemológicas e históricas acerca de alguns conceitos psicológicos. Também realizei o mestrado em Psicologia pela UFMS, sendo que nesta etapa acadêmica desenvolvi uma pesquisa orientada pelo método experimental, tentando incorporar o rigor característico do controle de variáveis e aplicando questionários estruturados.

    Mesmo que as análises no período de graduação tenham sido distintas metodologicamente dos estudos realizados no mestrado, em ambos processos acadêmicos de construção de pesquisa científica a minha estética corporal refletia o projeto ideológico de embranquecimento, sendo submetida à realização de constantes alisamentos físico-químicos em meus cabelos crespos. Sabendo que a formação profissional e científica não se apresenta descolada da constituição subjetiva (HARAWAY, 1995), segui realizando reflexões que pudessem explicar o sentimento de inadequação em relação ao meu corpo, algo que se refletia também nos espaços de produção de conhecimento.

    No ano de 2013, enquanto atuei como professora na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), aprendi com as estudantes o que era transição capilar, sendo acolhida por elas para que eu pudesse realizar esse processo de resgate das minhas raízes. Durante esta fase de ressignificação existencial, novos interesses de pesquisa foram também despontando. Emergiram desejos e motivações para leituras diversas acerca dos mais variados temas e perspectivas de mundo. Nesse resgate, tanto estético como epistêmico, foi necessário desaprender muitas concepções de verdade assimiladas no decorrer do meu processo de formação intelectual disciplinar, o qual esteve interligado, mesmo que indiretamente, ao alisamento e apagamento existencial de minhas raízes. Esta imersão subsidiou a busca pela construção de novos valores por meio de diálogos virtuosos com alguns campos do conhecimento. A transição capilar representou um terreno profícuo para recomeçar trilhando distintos caminhos de pesquisa, alicerçados ontologicamente no reconhecimento da minha localização histórica e existencial.

    Tendo minhas raízes crespas fortalecidas, busquei ouvir e conhecer memórias de outras pessoas sobre seus cabelos crespos, participando de vários encontros e debates acerca da transição capilar e do fortalecimento das identidades étnico-raciais pelo Brasil. Durante meu período de transição capilar entre 2013 e 2014 participei de alguns encontros com mulheres crespas e me inseri em redes sociais voltadas a trocas de experiência com pessoas que estavam vivenciando o mesmo processo.

    Este momento de resgate coincidiu com minha mudança para a cidade de Florianópolis em Santa Catarina, no ano de 2015, quando, para além da militância, procurei também me inserir em contextos de discussão teórica que fundamentassem tais inquietações políticas e existenciais. Nessa etapa, participei de disciplinas isoladas no Programa de Pós-Graduação em Filosofia e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH). Ao conhecer o PPGICH, me surpreendi com tamanha riqueza de conhecimentos se interligando de maneira complexa e dinâmica no decorrer das aulas e eventos. Este ambiente suscitou a possibilidade de crescimento intelectual por meio da construção de saberes interdisciplinares através de uma visão sistêmica da realidade, contrapondo-se aos princípios cartesianos de fragmentação dos fenômenos.

    O contato com alguns textos foi essencial para possibilitar o aprofundamento necessário dentro da perspectiva da corporeidade e dos cabelos como ferramentas teóricas para compreender a complexidade das dimensões sociais, históricas, políticas e culturais. Entre tais materiais, destaco as reflexões da pesquisadora iraquiana Ella Shohat, professora no departamento de Arte e Políticas Públicas, além de compor também o departamento de Estudos Islâmicos

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