Erguida Das Cinzas
De Dany Villar
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Sobre este e-book
Embarque neste romance e descubra uma história que transborda sentimentos, baseada em factos reais da nossa sociedade.
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Erguida Das Cinzas - Dany Villar
Agradecimentos
Eu quero agradecer a muita gente, pois sem eles eu não teria a determinação de escrever, com tanto afinco, o meu livro.
Ao meu marido, Ricardo Calafate, pelo seu apoio incondicional. Ele foi a primeira pessoa a dizer-me: Se pensas que o consegues fazer, então faz. Eu acredito em ti, não podes é desistir.
. Eu amo-te. Sou uma mulher sortuda por te ter encontrado.
Ao meu filho, João Calafate, que, mesmo sem saber, serviu-me de muita inspiração para a personagem. Muitas vezes, retratei-o no livro, com todo o meu amor. Tu és o meu mundo infinito, meu filho.
Ao Ivo Fernandes, pela sua paciência e determinação em fazer a revisão do meu livro. A nossa amizade cresceu muito mais, mesmo convivendo e conversando pelo Messenger, por causa da distância. Ivo, muito obrigada por tudo, mesmo, foste incansável comigo. Às vezes, deixaste de descansar para eu ter os capítulos prontos para os leitores lerem. Obrigada, meu amigo.
A toda a minha família e amigos, que seguiram, desde o início, o meu trabalho e nunca deixaram de acreditar em mim, obrigada. Muitas vezes fui chata, ao pedir para instalarem a aplicação Wattpad para poderem ler o meu livro, mas porque a vossa opinião era muito importante para mim.
Agora quero agradecer aos criadores do Wattpad, foi uma maravilhosa descoberta para mim. Quando entrei pela primeira vez nesta aplicação, perdi-me durante meses, a ler alguns dos milhares de livros que tinha acabado de descobrir. Foi graças a vocês que, do nada, eu, uma mulher comum, entregou-se ao amor pelas palavras e conseguiu escrever um romance. Agradeço de coração.
E, finalmente, aos meus leitores, que nem metade eu conheço, mas cada voto, cada comentário escrito na plataforma, foi como a cereja no topo do bolo. Vocês não sabem como é gracioso saber que inúmeras pessoas leram o meu livro no Wattpad e adoraram. Muito obrigada pelo vosso enorme carinho.
Uma notícia abaladora
Narrado por Daniela
Hoje está um dia nublado, não há alegria nas ruas por onde passo, só a pressa das pessoas para chegar ao seu destino. O meu? É no consultório da minha médica, pois hoje tenho uma consulta muito importante. Há uns dois meses que não me tenho sentido bem, ando muito cansada, só quero dormir. Sem forças para a lida da casa, nem para cuidar do meu bebé tenho tido... meu filhote João, com 5 aninhos, a razão de eu ainda viver... ele é tudo o que eu tenho de mais valor. Pois é, eu tenho 29 anos e sou casada há 10 anos com um homem que, supostamente sendo meu marido, devia amar-me e cuidar de mim. Mas não é isso que acontece… só que, pelo meu filho eu enfrento tudo, até continuar a viver ao lado daquele monstro. Ninguém da minha família sabe, só o meu bebé, pois ele já presenciou algumas situações, mas eu pedi-lhe para não contar nada a ninguém, senão a mamã magoava-se mais. E ele, mesmo com 5 anos, é tão inteligente, prometeu-me não falar nada e cuidar dos meus dói-dóis
, como ele diz.
Finalmente chego ao consultório e vou ao balcão falar com a rececionista:
-Boa tarde, eu chamo-me Daniela Vargas e tenho consulta com a Dra. Graça.- comunico à mulher atrás do balcão.
-Boa tarde, Senhora, pode sentar-se que a Dra. já a chama.- responde-me, e vejo no crachá o seu nome, Mariana. -A propósito, eu chamo-me Mariana, se precisar de alguma coisa é só dizer.- diz ela a sorrir e com uma rapidez, que foi difícil perceber tudo de uma vez, fazendo-me rir.
-Muito prazer, Mariana, obrigada pela simpatia. És nova aqui, certo? Da última vez que cá vim, estava aí uma cobra, que nem dava para olhar para a cara dela de tanta arrogância.- digo-lhe a sorrir.
-Sim, hoje é o meu terceiro dia e estou a gostar muito disto aqui. As pessoas são bem simpáticas e faço o que gosto. Já me tinham falado dela, acho que foi despedida por ser apanhada em flagrante, com o marido de uma paciente no consultório do Dr.- responde a rir sorrateiramente.
-Bem, por essa eu não esperava... eu vou me sentar ali e esperar pela Dra. Olha, gostei muito de te conhecer. Vou-te deixar aqui o meu número de telemóvel, quando quiseres ir tomar café e conversar sobre supostos barracos estás à vontade. Não tenho muitas amigas e gostava que o fôssemos.- digo e entrego-lhe o um cartão com o meu contacto.
-Muito obrigada e sim, eu aceito ser tua amiga. Estou na cidade há pouco tempo e também não tenho amigos. Vamos ser boas amigas! Agora vai-te sentar, por favor, que estás muito branca para o meu gosto.- afirma a rir-se e a despachar-me do balcão, mas, como estou mesmo cansada, aceitei e sentei-me.
Quando ia pegar numa revista para ler, ouço a Dra. a chamar pelo meu nome, então levanto-me e vou até à sala dela, bato à porta e a própria manda-me entrar.
-Olá, minha amiga, como estás?- diz-me a Graça, cumprimentando-me com dois beijos na bochecha. Somos amigas desde o secundário e não podia ter escolhido melhor médica, a própria seguiu a minha gravidez e fez o parto do meu filho.
-Estou bem, Graça, apesar de continuar sempre cansada.- comunico-lhe.
-Bem, primeiro senta-te. Os teus exames já chegaram, Daniela, vou dizer-te tudo e, mesmo que tenhas dúvidas, ouves-me primeiro e depois fazes as tuas perguntas, combinado?- pergunta-me, pois já me conhece. Ela sabe que já estou nervosa e com medo do que aí vem.
-Ok...Combinado...- digo-lhe, receosa.
-Bem, não há uma forma fácil de dizer isto, amiga, mas os teus exames não deixam dúvidas sobre o que eu já suspeitava... tens cancro do pulmão. Caso não percebas bem o que é, eu explico-te: é uma doença caracterizada pelo crescimento celular descontrolado nos tecidos do pulmão. Se não for tratado, esse tumor pode-se espalhar para fora do pulmão, por um processo chamado metástase, acometendo órgãos adjacentes e, eventualmente, disseminando-se para outras partes do corpo.- explica ela, calmamente.
Estou paralisada... deixei de ouvir desde o momento em que ela disse aquelas três palavras: CANCRO DO PULMÃO.
-Mas como isso é possível, Graça? Eu não fumo, tento levar a vida o mais saudável possível...- digo, levantando-me nervosa.
-Não são só os fumadores que podem ter cancro, Daniela... não fumantes compreendem cerca de 10 a 15% dos casos, e são, frequentemente, atribuídos a fatores genéticos, poluição do ar, incluindo o tabagismo passivo...- diz, a chorar, e corre para me abraçar. Mas eu estou estática, sem reação. Não esperava por esta. Mal tinha reparado, que, nos meus olhos, também havia inúmeras lágrimas que não paravam de descer.
O primeiro olhar
Narrado por Daniela
Sentámo-nos no sofá do seu consultório, estávamos a tremer. Eu por receber esta notícia abaladora e ela por ser a amiga e doutora a entregá-la.
-Estás mais calma, querida?- pergunta-me ela, limpando-me as lágrimas.
-Quanto tempo eu tenho, Graça...?- pergunto-lhe entre soluços.
-É relativo, mas quanto mais precocemente o cancro for detetado, maior sucesso terá o tratamento, maior será a taxa de cura, como é o teu caso. Então, o primeiro passo é saber qual o tratamento que queres fazer. Eu aconselho-te a fazer quimioterapia, que é, geralmente, uma combinação de fármacos recebidos periodicamente. O seu objetivo é eliminar todas as células cancerígenas ou diminuir o seu crescimento, prevenir a sua disseminação ou mesmo aliviar os sintomas causados pelo cancro. Mesmo quando não cura, pode ajudar, de modo paliativo, a viver mais tempo e de forma mais confortável. Temos de ser confiantes, ainda vais no início e se começares o tratamento cedo, mais probabilidades tens de o vencer. Eu vou estar sempre contigo!- diz ela, querendo-me passar a sua confiança.
-Está bem, dá-me só esta semana para pôr tudo em ordem e contar à minha família...- peço e levanto-me.
-Por mim, tudo bem, mas não percas a fé, minha amiga. Depois liga-me.- pede-me. A seguir dá-me um beijo e abre a porta para eu sair. Saio de lá mais rápido que o próprio flash, nem me despedi da Mariana, mas também... como eu teria cabeça para isso?
Ando pela calçada da rua perdida nos meus pensamentos e nas minhas lágrimas, como se a minha vida já fosse fácil, ainda vem esta bomba para cima de mim. Como irei contar isto à minha família? E o meu filho, como fica nisto tudo? Pois se algo me acontecer, quem irá protegê-lo?
, penso para mim, e, sem contar, bato contra um muro, caindo de rabo no chão. Vai ficar marca, aposto.
-Tu estás bem...?
-Eu penso que sim, não vi o muro e caí...- respondo, levantando a minha cabeça e paralisando, mais uma vez. Afinal, não fui contra um muro, mas sim contra um homem, por sinal, muito bonito. Bonito é pouco, o homem mais parece um deus grego, e também parece um muro. É alto e entroncado, os seus músculos são visíveis pela camisa branca que usa. Ele é moreno, de olhos verdes profundos, que parecem que me vão engolir para dentro deles.
-Já me chamaram de muita coisa, mas nunca de muro. Deixa-me ajudar-te a levantar.- diz ele, a rir-se descaradamente.
-Obrigada.- respondo, envergonhada.
-Prazer, eu chamo-me Ricardo.- cumprimenta-me ele com a mão.
-Igualmente, sou Daniela, e desculpa ter-te comparado com um muro.... mas também ninguém te manda ser duro como uma pedra.- digo-lhe, e aceito o cumprimento da sua mão.
-Além de cair em cima de mim, ainda me ofende, Senhorita.- diz-me, sendo sarcástico e mostrando um sorriso perfeito, de me deixar toda derretida.
-Não era minha intenção ofendê-lo, Senhor. E eu não sou senhorita, sou senhora casada. Poderia devolver-me a minha mão, se não for incómodo?- digo-lhe, retribuindo a sua ironia e mostrando a minha aliança. Apesar de não ter um casamento feliz, não significa que não fosse casada.
-Ah sim, peço desculpa... então, até uma próxima, senhora Daniela.- despede-se ele, sorridente como sempre, e afasta-se de mim, dando costas.
Um encontro inesperado
Narrado por Ricardo
Decidi sair um pouco daquele escritório, pois comecei a sentir-me sufocado lá dentro. Apesar de ser patrão de mim mesmo, tenho horário de trabalho e muitos casos para trabalhar. Gerencio um escritório de advogados em sociedade com o meu grande amigo e advogado, Ivo Fernandes. Somos os melhores e isso implica muito trabalho, mas ele prefere a boa vida e deixa o escritório ao meu encargo. Sermos solteiros e uns dos mais ricos do país tem as suas vantagens, e ele usufrui delas todas. Já eu nem tempo tenho para isso. Penso para mim mesmo como um café ia bem agora, com todo o trabalho que tenho pela frente será melhor tomar um duplo. Vejo um do outro lado da rua e caminho para lá, até alguém bater em mim e cair. Olho para o chão e, tentando disfarçar a minha vontade de rir, pergunto-lhe:
-Tu estás bem?
-Eu penso que sim, não vi o muro e caí...- diz ela, levantando a cabeça, e foi aí, nesse mesmo instante, que vi a baixinha mais linda na minha vida. Morena, cabelos castanhos escuros compridos em perfeitas ondas, uns olhos castanhos brilhantes, que lhe transmite um olhar doce, apaixonante e também... triste? Vestindo um vestido estilo vintage colorido, mostrando-lhe as pernas... e que pernas, meu Deus.
-Já me chamaram de muita coisa, mas nunca de muro. Deixa-me ajudar-te a levantar.- digo, sem parar de rir. Ajudo-a a levantar e continuo a minha apreciação. Um bom quadril, belas curvas, não muito magra tipo aquelas modelos esqueléticas, mas sim no ponto perfeito, permitindo ter uma boa anca ondulada, sem peso a mais. Os peitos não são exagerados e vejo que devem preencher a minha mão… mas que pensamentos são estes? Conheço-a há cinco minutos... foco, Ricardo.
-Obrigada.- diz-me, envergonhada, que linda que fica quando está corada.
-Prazer, eu chamo-me Ricardo.- respondo, cumprimento-a com a mão.
-Igualmente, sou Daniela, e desculpa ter-te comparado com um muro... mas também ninguém te manda ser duro como uma pedra.- diz e aceita o cumprimento da minha mão. Mas que língua afiada esta tem... adorei. Se ela soubesse o que eu faria com a sua língua...
-Além de cair em cima de mim, ainda me ofende, Senhorita.- digo-lhe, provocando-a com um pouco de sarcasmo.
-Não era minha intenção ofendê-lo, Senhor. E eu não sou senhorita, sou senhora casada. Poderia devolver-me a minha mão, se não for incómodo - diz-me, ironicamente, e mostrando a aliança, que por acaso não tinha reparado... mas porque me senti triste com aquela notícia?
-Ah sim, peço desculpa... então, até uma próxima, senhora Daniela.- respondo a sorrir, despeço-me dela e vou me afastando, indo em direção para o trabalho. Entro no escritório e paro à frente da minha secretária.
-Sofia, cancele os meus compromissos e não me incomode com nada, só ser for o Ivo, ou os meus pais.
-Sim, Senhor.- diz-me. É assim mesmo que eu gosto, rápido e eficaz. Também se não o fosse, não trabalharia para mim. Entro no meu gabinete e sento-me na minha cadeira. Perco-me nos pensamentos de hoje à tarde... ai aqueles olhos.
-Porque não me sais da cabeça, Daniela?- pergunto para mim mesmo.
-A falar sozinho, parceiro?
O convite
Narrado por Ricardo
-A falar sozinho, parceiro?- pergunta-me o Ivo, entrando no gabinete.
-Ei, nem te vi entrar, já não se bate à porta?- brinco com ele.
-Eu bati, mas alguém estava a sonhar acordado...- cumprimenta-me ele, com um sorriso malicioso, e dá-me um abraço.
-Bem, já que estás aqui, senta-te. Queres café? O que te traz aqui?- pergunto-lhe.
-Aceito o café, e não tenho motivos para vir visitar o meu sócio e amigo, ou tenho?- fala ele, sempre brincalhão. Ligo para a minha secretária e peço para trazer dois cafés, nem cinco minutos demora e bate à porta.
- Entre.- digo-lhe.
-Com licença, aqui estão os cafés, se precisar de mais alguma coisa é só dizer, chefinho.- diz ela, com aquele olhar e sorriso carregado de segundas intenções que eu conheço bem, mas, para o azar dela, eu nunca misturo prazer e negócios.
-Não preciso de nada, Sofia, pode sair.- digo-lhe, o mais profissionalmente que sei ser, e assim ela o faz.
-Bem, essa tua secretária está cada vez mais atiradiça para os teus lados, meu amigo. Pena que não mistures prazer com negócios.- diz ele, a brincar comigo.
-Conheces-me tão bem, ou melhor que eu mesmo, Ivo.- digo-lhe a rir.
-E então?- pergunta.
-E então o quê?- retribuo a pergunta, sem saber o que ele quer dizer.
-Porque não me sais da cabeça, Daniela
, não tens nada para me contar?- diz ele a rir-se da minha cara.
-Ah isso...- respondo, não sabendo o que lhe dizer.
-Sim? Pormenores?- interroga-me, pois ele quer saber mais.
-Ok... bem, ao bocado saí daqui para ir apanhar um pouco de ar e ia ao outro lado da rua tomar café, até que alguém foi contra mim e caiu de rabo no chão.- declaro-lhe, relembrando-me daquele perfeito momento.
-E esse alguém chama-se Daniela?- questiona-me.
-Sim e é a mulher mais linda que já vi na minha vida.- digo-lhe, com um sorriso bobo.
-E então? Ficaste com o número dela? Vão sair? Vais desencalhar, meu amigo? Bem que precisas, sabes que já passou uns anos desde... bem, desde aquilo.- pergunta ele, sucessivamente, e relembrando-me de algo que já não fazia há um tempo. Levanto-me e vou até à janela do meu gabinete.
-Não me precisas lembrar daquilo, Ivo, sabes que é um assunto proibido na minha vida. E não, não fiquei com o número dela, infelizmente ela é casada, a própria disse-me. Então não vou desencalhar...- digo, notando-se a tristeza na minha voz. Já há muitos anos que nenhuma mulher me chamava a atenção como a Daniela fez, e o Ivo sabe disso. Tirando os casos que eu tinha de uma noite de sexo apenas, não tenho uma mulher na minha vida há muito tempo.
-Que pena meu amigo, fico triste por ti, mas sabes o que se diz... não cobiçarás a mulher do próximo.- diz ele, dando-me umas palmadas nas costas como conforto.
-Sim, eu sei disso, mas havia algo nela, naqueles olhos, eles tinham marcas de tristeza e mágoa...- falo, mais para mim mesmo, do que para ele.
-Bem, se há ou não nunca o saberás, será uma sorte se te voltares a esbarrar nela por aí. Bem, chega de coisas tristes, hoje à noite vamos sair, vamos ao bar do meu amigo Henrique, chama-se Devil ella
.- comunica-me.
-Não sei se me apetece.- falo-lhe.
-Nem penses que vou sozinho, e pode ser que arranjes lá alguém para te aquecer, pelo menos por esta noite. Passo em tua casa às 20h.- diz, pisca-me o olho e vai embora.
Continuei a trabalhar até ao mesmo horário de sempre, fechei tudo e fui para casa. Entro direto e vou um pouco para o sofá. Uma casa tão grande e só para mim, se não fosse a minha empregada, a casa estaria quase sempre vazia, tirando os dias em que os meus pais e irmãos vêm cá. Ouço o toque da campainha.
-Quem é?- pergunto.
-Sou eu, seu totó.