Transgressores E Renascidos
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Transgressores E Renascidos - Jorge Fernandes
Um conflito de classes, um confronto entre entidades, uma batalha nas sombras, segredos que nunca se imaginou que pudessem haver no Brasil pós colonial. No ano de 1880, uma escrava fugitiva e um advogado abolicionista vivem uma experiência surreal, capaz de mudar radicalmente suas vidas, envolvendo-os em uma trama que revela fatos que até então não passavam de lendas e superstições. Uma atroz senhora de escravos torna-se o alvo dos transgressores (uma classe de seres que vivem na escuridão), que a buscam como a esperança de ascensão de sua espécie; do outro lado, os renascidos, aqueles que tem a missão de impedir que os transgressores alcancem seu objetivo, um objetivo catastrófico capaz de mudar os rumos da história. Fatos intrigantes e revelações surpreendentes levam o advogado Ebenizer Wangard e a escrava Jussara a uma experiência surreal.
Transgressores e renascidos
DA-2022-02999327/12/2022 18h09 Copyrights © 22022 j@
Veloz e determinada, com um fôlego surpreendente e o corpo encharcado pela transpiração, corria pela estrada a levar uma carta com urgência, a jovem afoita tentando lidar com o incômodo que lhe causava o vestido preto e as botas acinzentadas. A negra Jussara, serva confidente e amiga da sinhazinha; Jussara, aquela que ainda na infância foi levada à casa grande para servir à preciosa filha do barão, sinhá Helena. Jussara não só servia nos afazeres domésticos, mas também participava dos audaciosos planos de Helena e seus amigos idealistas com relação aos assuntos de sua época. O ano era 1880, e no período pós colonial a condição dos menos favorecidos no Brasil não era diferente do resto do mundo. A mando de sua senhora, sob o céu nublado em uma fatídica tarde de verão, seguia a moça na estrada empoeirada rumo ao casebre que ficava no pasto, fora dos limites da fazenda; ciente da importância de sua missão, Jussara seguia a cumprir uma ordem de sua senhora, quando um grupo de homens montados a interceptou. Armados com rifles e chicotes, altivos e sarcásticos, os feitores surpreenderam a jovem cujo medo dificultava o raciocínio em busca de uma justificativa a dar como resposta àqueles homens. Os feitores eram três, todos a cavalo; estavam com eles, dois escravos mais o capitão do mato, a pé.
— Ora, onde vosmecê vai com tanta pressa a essa hora do dia?— perguntou o capitão do mato, pegando Jussara pelo braço.
—Tire as mãos dela, seu estúpido, e cale essa boca! Aqui, quem fala sou eu — descendo do cavalo, falou Martinez, o feitor, aquele que liderava o grupo. Algor, o capitão do mato, engoliu seco, abaixou a cabeça e recuou constrangido.
— Você vive no luxo, foi criada com mimos e regalias à sombra da sinhazinha, mas não se esqueça de que ainda é uma escrava, e a fazenda é o teu limite. Onde você ia com tanta pressa? — perguntou o feitor, pegando no queixo da moça.
— Eu? Eu não ia a lugar nenhum, senhor… eu estava levando um recado da sinhá Helena para uma de suas amigas na vila — respondeu, trêmula.
— Ora, se é assim, tudo bem — disse o feitor, virando as costas para a moça, dando a entender que ia embora.
— Sim, é isso mesmo… senhor — ainda assustada, concluiu a moça, suspirando.
— Mas, espere um pouco, o caminho para a vila não fica nessa direção — disse o feitor, virando-se para Jussara.
— Ah, é mesmo… olha só, acho que errei o caminho, é claro que não… o caminho para a vila fica na outra direção, já vou indo então — sem conseguir esconder o nervosismo que denunciava sua mentira, Jussara falou e virou-se para partir.
— Vadia miserável! Pensa que pode mentir para mim? — falou Martinez, surpreendendo Jussara ao puxá-la pelos cabelos.
— Ahhhhhhh! O que é isso? — gritou a moça.
— Como se atreve a zombar de mim? — perguntou o feitor, desferindo um golpe contra o rosto de Jussara. Tamanha foi a veemência do tapa, que a jovem foi ao chão.
— Senhor, já basta. O patrão não vai gostar de ver essa moça machucada, ela não é igual as outras, ela é propriedade da filha dele — Interferiu Leonardo, um jovem iniciante no ofício de feitor. Leonardo temia pela integridade da moça, pois mantinha por ela uma paixão secreta, e todos os dias imaginava uma maneira de ir embora da fazenda levando-a consigo.
— Ora, cale essa boca, moleque! Quer apanhar no lugar dela? — Após tirar o chicote que trazia preso ao cinto, Martinez apontou para o rapaz e o repreendeu.
— Senhor Martinez, o garoto tem razão. O barão pode não gostar ao ver que essa negra sofreu dano — falou Leon, o outro feitor.
— Merda! Eu devia chicotear vocês, vocês todos… e Leonardo, agradeça por não ter nascido escravo — falou o feitor, guardando o chicote. Martinez ajudou Jussara a se levantar, puxando-a pela mão, e pediu-lhe que entregasse a carta. Perplexa, tentando entender como descobriram que ela levava uma mensagem secreta a mando de Helena, Jussara tirou a carta que havia escondido no vestido, na altura do peito, e entregou ao feitor.
— O que é isso? — perguntou Leon, ao ver a carta.
— O senhor barão disse que isso aqui é o jogo sujo dos engomadinhos da capital, os doutorzinhos estão de conchavo com aqueles nobres preguiçosos para libertar os escravos, mas nós os que zelamos pelos bons costumes somos mais espertos.
— Isso é uma carta de alforria? — perguntou Algor.
— Não, isso é um ato contra a moral e os bons costumes, um atentado contra as pessoas de bem da sociedade, isso aqui fala sobre a tal da abolição, aqui tem propostas para o fim da escravidão, e há também nesta carta um alerta para um tal advogado abolicionista que está prestes a ser preso por ajudar criminosos — respondeu Martinez.
— Como ocê sabe disso, homem? Ocê é iletrado igual a nós — questionou Leon.
— O senhor barão me contou. Agora vamos embora… ô moleque, põe a moça no cavalo e siga a pé com os outros — ordenou Martinez a Leonardo, após responder a pergunta de Leon. Mas a maldade do feitor não parou por aí; mais à frente, passando pelos outeiros na lateral da estrada, havia um riacho cercado por pedras e vegetação rasa, o lugar que vindo à memória, despertou em Martinez um intento que ele não hesitou em externar naquela tarde. Sob alegação de que não poderia regressar à fazenda levando a escrava suada e empoeirada, Martinez obrigou a moça a se despir e entrar no riacho para se banhar até que ele a considerasse limpa para retornar; na verdade, tal alegação não passava de uma ação maliciosa, um pretexto para ver a nudez da intocável escrava que tantos cobiçavam naquela fazenda. E assim foi feito, a nudez de Jussara tornou-se um espetáculo aos olhos dos homens que naquela tarde se deleitavam exultantes com comentários sórdidos e desprovidos de qualquer moderação ou forma de compaixão. Sim, deleitavam-se os homens, feitores e escravos, sem perceberem o olhar de descontentamento do jovem Leonardo, que por um momento deixou passar pela cabeça a ideia de aproveitar a distração de seus companheiros para matar todos ali mesmo. Movido tanto pelo ciúme quanto pelo desejo, o rapaz considerou a ideia de fugir levando sua amada e começar uma nova vida longe da fazenda; mas caindo em si, Leonardo viu que não tinha condições para seguir com aquilo. Algum tempo depois, o feitor mandou a moça se vestir, e após adverti-la severamente para não contar o ocorrido, seguiram todos de volta à fazenda. Ninguém ousou assediar ou tocar na escrava, pois temiam as consequências por atentarem contra a favorita da filha do barão.
À margem da estrada, no final da trilha de acesso ao pasto, havia um casebre, um lugar pouco atraente, que a ninguém interessava. O casebre ficava na propriedade de um armeiro que nunca aparecia por lá, sequer alguém sabia como era a sua face, não havia empregados nem parentes, ou qualquer outra coisa que pudesse identificá-lo; o casebre, porém, foi o lugar escolhido para o encontro de um pequeno grupo de idealistas que planejavam a fuga de um escravo condenado à forca. No interior do casebre não havia boa iluminação, nem durante o dia, pois havia apenas uma janela que ficava fechada o tempo todo, a sombra das bananeiras impedia a passagem da luz do sol pela porta, e o picumã entre as telhas e o travessão também limitava a luz que chegava pelo alto. As paredes encardidas com tinta descascada e partes mofadas formavam o cenário ideal para traças e mariposas, porém nada aconchegante para o rapaz que aguardava ansioso a chegada de alguém. Sentado em uma cadeira ao lado de um pequeno móvel sobre o qual havia um bloco de anotações e uma lamparina já quase sem óleo, o ruivo bem apessoado, usando finos trajes, dividia a atenção entre o relógio de bolso e a mosca que com um irritante zumbido insistia em pousar na sua testa.
— Ebenizer, Ebenizer Wangard! O senhor está aí? Já chegamos para a nossa reunião — falou a voz do lado de fora, após chamar o rapaz pelo nome.
— Olá, podem entrar, estou aqui — respondeu.
— Doutor Wangard, Ebenizer Wangard, o senhor está preso — falou o homem, ao entrar acompanhado por três soldados armados.
— O que está acontecendo? — perguntou o rapaz.
— O senhor está preso, é isso que está acontecendo.
— Você sabe quem sou?
— Sim, o senhor é o doutor Ebenizer Wangard, advogado. O meu nome é Leonel Augustus, sou o delegado responsável pela tua prisão.
— Estou sendo preso com base no quê?!
— O senhor faz parte de uma conspiração que visa o resgate de um criminoso condenado à forca, entre outros delitos passíveis de detenção.
— Não pode fazer isso, sei os meus direitos. Saiba que tenho amigos influentes na capital, pessoas que podem complicar muito a tua vida, senhor delegado… ei, tirem as mãos de mim!
— Aqui, o único direito que o senhor tem é o de ficar calado.
— Isso é um absurdo, vocês não podem me tratar assim, sou um advogado… me soltem!
— O senhor pretendia dar fuga a um criminoso condenado, além de contaminar a mente das pessoas com essas ideias abolicionistas.
— Criminoso?! Aquele homem agiu em legítima defesa!
— Um escravo matou um homem livre, e isso já é o bastante. Guardas, podem levá-lo — concluiu o delegado.
Jussara havia falhado em sua missão, não por displicência, tampouco por incompetência, mas por se tratar de tempos perigosos para os idealistas; sendo assim, não seria de se admirar se ocorresse um ato de traição entre os abolicionistas. Helena,