Divórcio Póstumo III O Ritual
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Sobre este e-book
Em uma cidadela medieval, em um beco escuro, um estranho pacote passa de mão em mão; um grupo de malfeitores está conspirando para adorar ao Maligno. Ritos ancestrais, a Santa Inquisição, a Peste Negra, julgamentos...
Os seguidores do Diabo conseguirão alcançar seu objetivo?
Bruxas, soldados, nobres, sacerdotes e... muitos outros personagens são misturados em uma trama inédita com um resultado quase impossível de se imaginar. É melhor não revelar o segredo que este livro abriga, no qual a Morte desfila em cada uma de suas páginas sem nenhum pudor. Os seguidores da saga poderão saber, enfim, a origem do anel maléfico que assola várias dinastias familiares ao longo do tempo com sua maldição.
Esta obra pode ser lida de forma independente do restante da saga da qual faz parte. Divórcio Póstumo e Divórcio Póstumo II - O sonho de Berenice, os primeiros volumes, já estão disponíveis na Amazon.
Daniel Canals Flores
Escritor aficionado, a mis 46 años inicio mi carrera sin ninguna experiencia previa. Me gusta escribir poemas, relatos cortos y micro cuentos inspirado por lecturas de Charles Bukowski o Kerouac.Texto: La bicicleta del milenio, publicado en la Revista Ekatombe. Junio 2018III Concurso de Microrrelatos La Radio en Colectivo/Valencia Escribe. Mayo/Junio 2018. 1er. Finalista con el micro cuento: Industria 4.0.III Concurso de cartas Ojos Verdes Ediciones, Cartas quemadas. Texto: Sanatorio La ChapellePoema La cucaracha. Publicado por la Revista La Cucaracha. Julio 2018La rata y Ante todo honestidad. Microrrelatos publicados online por la Revista La Sirena Varada, en México. Julio 2018.Revista Antología Microrrelatos No3 Onomatopeyas de Historias Pulp. Seleccionado por el texto: Peligro inminenteGanador del III Concurso de Microrrelatos Valencia Escribe-La Radio en Colectivo del mes de Junio/Julio. Por el texto:Beso Letal.
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Divórcio Póstumo III O Ritual - Daniel Canals Flores
Prólogo do autor
Divórcio Póstumo III – O Ritual é a continuação da saga Divórcio Póstumo. Esta terceira parte, como as demais, pode ser lida de forma independente. Neste volume, saberemos a origem do anel do mal. Gostaria de informá-los que uma quarta parte, intitulada "Divórcio Póstumo IV – A Batalha das Almas", está prevista para 2021.
A origem do Mal, a cruel Idade Média, a Peste Negra... não vai faltar nada.
Quem quiser conhecer as outras partes desta história, pode comprar Divórcio Póstumo e Divórcio Póstumo II – O Sonho de Berenice, já disponíveis.
Quero agradecer àqueles que me encorajam a escrever, vocês me ajudam a desenvolver minha carreira, especialmente quero agradecer àqueles que leem o que escrevo, usando seu tempo com minhas histórias. Sem vocês, isso não faria o menor sentido.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a colaboração das seguintes pessoas:
Mª José A. P., por seu apoio incondicional, a correção do estilo e a criação do enredo deste romance.
Rafael Blasco López, pelo apoio psicológico, pela correção de estilo e sua fina ironia quando se trata de criticar a obra.
Histórias Pulp, Maria Larralde e Elmer Ruddenskjrik, pela criação desta fabulosa capa, o layout dos textos e seu apoio constante e incondicional em todas as minhas obras.
Eliana Soza, amiga e escritora, por sua leitura-beta.
Aos meus leitores.
A origem do anel do Mal
—Se você mergulhar um homem no elixir da ignorância, estará macerando um ser mesquinho—
Extraído das Crônicas de López de Ayala
—O vulgo ignorante endeusa e exalta até mesmo os cães do Rei—
Extraído das Crônicas de López de Ayala
Capítulo I
Na Idade Média...
O chocalho da carruagem acompanhava o toque do relógio quase milenar do sino da torre. Era meia-noite em ponto quando começou a se aproximar do portão norte. Embora a cidadela tivesse um muro duplo, em tempos de paz, apenas o perímetro externo permanecia guardado. Os soldados, dois veteranos calejados em mil batalhas, prenderam a respiração enquanto observavam o cocheiro singular sob a luz difusa das tochas.
Parecia que o veículo era guiado por um abutre negro, um grande pássaro de mau agouro. Na verdade, era uma freira do convento. Sua vestimenta era escura, inclusive o véu, e não era possível reconhecer seu rosto, porque ela o tinha coberto por uma máscara de bico, para evitar a peste negra.
Na parte de trás da carruagem, a mulher carregava um pequeno caixão de madeira, pintado de branco e com uma grosseira cruz na cobertura, algumas tochas sobressalentes e uma pá. Chegando ao encontro dos soldados, ela parou e, com uma voz estranha causada pela máscara cheia de ervas aromáticas, resmungou:
—Deixem-me passar, eu preciso ir ao cemitério para enterrar esta criatura infeliz.
Um dos dois homens, sem se aproximar, respondeu:
—Temos ordens de não deixar ninguém sair depois da meia-noite.
—Tudo bem, soldado. Então, eu vou deixar a carroça aqui com o caixão até amanhã de manhã. O pobre garoto morreu de peste, mas seu corpo ainda não está totalmente podre.
Ouvindo a funesta declaração, o outro soldado, que ainda não tinha aberto a boca, suavizou:
—Deixe-a passar, o que mais podemos fazer? Faz apenas um minuto que passou da meia-noite e a irmã não vai dizer nada sobre isso, vai? —disse, por fim, dirigindo-se a ela.
—Eu vou enterrar o corpo e volto antes do amanhecer. Vocês não terão nenhum problema comigo —disse a freira.
—Tudo bem, pode ir.
Quando atravessou os grossos muros da cidadela, os dois homens suspiraram em alívio. A freira sorriu sob a máscara; conseguiu o que queria. Ela não precisou acender nenhuma tocha, porque uma gigantesca lua cheia iluminava perfeitamente o caminho.
O recém-nascido não tinha morrido por causa da peste, mas estrangulado. Era o fatídico destino de crianças indesejadas concebidas sob o pecado... dentro do convento. Não costumava acontecer com muita frequência, mas aquela noite era uma dessas poucas exceções.
Chegando ao cemitério, ela puxou as rédeas para parar o burro. Pulou para a parte traseira e empurrou a pequena cobertura do caixão para longe. Ela removeu o saco, que continha o corpo enrolado entre alguns trapos sujos e, depois de pegar a pá, desceu da carruagem.
Dirigiu para a área das covas comuns, junto ao monte. Lá, os corpos de desconhecidos, pobres, infectados e excomungados eram enterrados. Ela desabotoou a fivela traseira da máscara, depositou-a no chão e começou a cavar o buraco no qual esconderia o vergonhoso assunto. O solo era macio e bastante úmido, não demorou muito para ela abrir espaço suficiente e enterrar aquele miserável. Como uma despedida, ela murmurou:
—Espero que Deus lhe dê uma vida melhor do que os homens lhe proporcionaram.
Uma vez feito o trabalho, colocou a máscara novamente. Ela não queria ser reconhecida pelos sentinelas. Jogou a pá no vazio do caixão e partiu para de volta por onde tinha vindo. A lua continuou brilhando como se fosse a luz do dia, e os soldados, ao vê-la retornar, deixaram-na entrar sem qualquer objeção.
—Você viu essa velhaca? Ela sequer enterrou a criança com o caixão.
—Não estão para gastos no convento —respondeu o outro.
Nem a freira nem os sentinelas sabiam que a única coisa enterrada naquela noite foi um gato preto envolto em trapos com a intenção de pesar um pouco mais; apenas o suficiente para simular o peso de um recém-nascido.
Na noite seguinte...
Sob o mesmo luar, um embrulho foi trocado de mãos na porta dos fundos do convento de noviças. A madre superiora, Irmã Leonora, fez a misteriosa entrega a uma antiga conhecida dela:
—Eu disse para você vir pelo portão norte, eles não devem nos ver juntas —disse a freira, verificando os dois lados do beco escuro. Àquela prematura hora, não havia vivalma por ali.
A mulher encolheu os ombros, minimizando a importância da observação; ela tinha seu próprio motivo de haver chegado por ali, o qual ela não revelaria.
—Você tem de jurar para mim que este é o último favor que me pede —implorou a Irmã Leonora.
—Por quem quer que eu jure? Pelo seu Deus? —a misteriosa visitante respondeu, acrescentando: —Há pecados que levam muito tempo para serem redimidos, e o seu é um desses. Além disso, você está marcada...
No momento da troca, a freira fechou a porta sem se despedir. —Elas têm-me em suas mãos e eu nunca serei capaz de me livrar delas, —ela pensou amargamente. Anos atrás, em sua juventude e quando ela ainda não tinha sido ordenada madre superiora, ela teve um deslize inconfessável: flertar com a bruxaria. Depois de participar de um ritual fracassado, uma jovem noviça, acusada de ser uma bruxa pelo Santo Ofício, envolveu-a com sua confissão, colocando-a em sérios problemas. Veio pedir ajuda e graças a elas, evitou ir a tormento, onde, certamente, teria sucumbido. Envenenaram a inconveniente testemunha com veneno de tarântula. Suas amigas resolveram o problema, sim, mas a um preço exorbitante.
A mulher desapareceu satisfeita entre os becos da praça. Ela tinha conseguido um dos ingredientes mais difíceis de se obter, graças à chantagem feita à madre superiora. Ela poderia em breve compartilhar sua satisfação com as outras companheiras: se aproximava o sabbat definitivo.
Dois personagens antagônicos observavam o firmamento ao mesmo tempo, pela mesma razão, mas em lugares diferentes. Em poucos dias haveria um alinhamento dos planetas e uma profecia antiga, escrita em um livro sacrílego, que previa para essa data o Apocalipse e a chegada do Anticristo.
Monsenhor López de Ayala, famoso teólogo e inquisidor, era um homem culto e bastante moderado para os tempos que em que vivia. Ao enviar alguém a tomento, para a armadilha, ou simplesmente uma alcunha, procurava reunir todas as informações e ser o mais objetivo possível sobre a culpa do acusado, antes de emitir uma sentença. Ele tinha a reputação de ser severo, mas justo também. Ele não costumava sentenciar à morte sem uma causa justificável. Como um bom estudioso, se preocupava com a profecia descrita e, embora a ciência da Astronomia ainda fosse proibida pela Igreja, queria ver por si mesmo os acontecimentos dos eventos planetários.
Em outros lugares da região, o açougueiro da cidadela também observava as estrelas com cuidado, usando seu único olho. Graças a um velho grimório de origem desconhecida, guardado por sua família por séculos, ele sabia precisamente o que estava para acontecer. Sua profissão era um disfarce que escondia sua verdadeira atividade: a bruxaria. O feiticeiro era responsável pela execução de sacrifícios, feitiços e, acima de tudo, pela preparação do evento mais importante: o ritual. Só ele conhecia o hermetismo, cujas fórmulas e disposições lhe permitiram conjurar as várias autoridades malignas existentes, incluindo o lord do Mal, conhecido pelos iniciados como Satanás, Belzebu, Leviatã ou simplesmente: o Maligno. Um dos dois homens sorriu depois de concluir as comprovações celestiais: o necromante.
Naquela mesma noite...
A mulher enigmática parou em um dos becos escuros, cheio de sujeira, e desembrulhou o pacote sem ser capaz de conter sua ansiedade; ela precisava se alimentar. Entre os trapos apareceu o cadáver de uma criança morta logo após o nascimento.
O corpo, rígido como uma pedra, tinha um tom de amora. Sem mais delongas, ela aproximou sua boca até o pescoço da pequena criatura e cravou-lhe suas presas afiadas. Ainda havia sangue no interior, o suficiente para aliviar a agonia da fome.
Ao ouvir o barulho, um rato preto, peludo e cheio de pulgas chegou seu focinho no lixo. Seu instinto animal o alertou que não era apropriado chegar muito perto daquela criatura, muito menos enquanto estivesse se alimentando. Depois de chupar até a última gota, a vampira contraiu as presas para dentro de suas gengivas e arrotou.
A cor do cadáver tinha mudado para roxo escuro, mas ela não deu importância à mudança de tonalidade e embrulhou-o novamente. Afinal, ele estava morto de qualquer maneira. Verificando se não havia ninguém por perto, ela saiu cautelosamente na direção do palácio.
Sabia que a senhora esperaria acordada por ela, até seu retorno. Quando entrou pela porta, que dava para uma das cozinhas, encontrou a baronesa sentada em uma cadeira. Ela estava descalça e usava apenas uma camisola leve que transluzia seu corpo nu. Ao vê-la, perguntou impacientemente:
—Você está com ele?
—Sim, está embrulhado nestes trapos.
—Deixe-me vê-lo, Suzette —disse a baronesa enquanto acendia uma vela.
Ela colocou o embrulho sobre a mesa, abriu-o e se afastou a uma distância razoável. Ela não gostava muito de luz direta. Enquanto contemplava o conteúdo do pacote, a baronesa olhou severamente para Suzette, mas não disse nada. Incapaz de manter seu olhar, a empregada se aproximou e cobriu o pequeno cadáver novamente.
—Coloque-o em salmoura e esconda-o entre os velhos barris, no final da adega. Certifique-se de que ele estará a salvo dos ratos e não o morda mais —ordenou a baronesa.
O corpo tinha um aspecto lamentável, embora já esperasse algo assim por parte de Suzette. Enquanto a empregada descia as escadas para completar suas instruções, a baronesa recuou para seus aposentos. O barão, dono e senhor da cidadela, roncava a plenos pulmões no palácio de Vailly. Ao amanhecer, Suzette, ainda com fome, foi para seu quarto, localizado no sótão. Lá, alguns grosseiros vidros opacos, embutidos nas janelas, protegiam-na dos nocivos raios solares.