Demonialidade
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Demonialidade - Ludovico Maria Sinistrari
DEMONIALIDADE
ÍNCUBOS E SÚCUBOS
LUDOVICO MARIA SINISTRARI
(SINISTRARI DE AMENO)
Demonialidade
Íncubos e Súcubos
Um Tratado de Demonologia
por
Reverendo Padre Ludovico
Maria Sinistrari (de Ameno)
MMXXIV
Era Vulgaris
Editora Rubrum Draco
rubrumdracoeditora.wixsite.com/website
ÍNDICE
Prefácio............................................................11
Demonialidade...............................................22
Apêndice.......................................................120
Provas da Demonialidade..............................121
Penalidades...................................................127
Sobre o Autor.................................................128
Um tratado onde é mostrado que há na terra criaturas racionais além do homem, dotadas, como ele, de corpo e alma, que nascem e morrem como ele, redimidas por nosso Senhor Jesus Cristo e capazes de receber salvação ou condenação.
Século XVII
PREFÁCIO
Por Isidore Liseux
Eu estava em Londres no ano de 1872 e procurei livros antigos:
Car que faire là bas, à moins qu’on ne bouqui-ne?
(O que se pode fazer lá, a não ser que procure livros antigos?) Fizeram-me viver em épocas passadas, feliz por escapar do presente e por trocar as paixões mesquinhas do dia pela intimidade pacífica de Aldus, Dolet ou Estienne.
Um dos meus livreiros favoritos era o Sr. Allen, um velho e venerável cavalheiro, cujo local de trabalho ficava na estrada de Euston, perto do portão do Regent’s Park. Não que sua loja fosse particularmente rica em livros velhos e empoei-rados; muito pelo contrário: era pequeno, mas nunca cheio. Apenas quatrocentos ou quinhen-tos volumes de cada vez, cuidadosamente espa-nados, brilhantes, dispostos simetricamente em prateleiras ao alcance da mão; as prateleiras superiores permaneceram desocupadas. À di-reita, Teologia; à esquerda, os clássicos gregos e latinos em maioria, com alguns livros franceses e italianos; pois essas eram as especialidades do 11
Sr. Allen; parecia que ele ignorava absolutamente Shakespeare e Byron, e como se, em sua opinião, a literatura de seu país não fosse além dos sermões de Blair ou Macculloch.
O que, à primeira vista, mais impressionou nesses livros foi a moderação de seu preço, compa-rado com seu excelente estado de preservação.
Eles, evidentemente, não haviam sido comprados em lote, por um metro cúbico, como o entu-lho de um leilão, e ainda assim os mais bonitos, os mais antigos, os mais veneráveis pelo seu tamanho, fólios ou quartos, não estavam marcados acima de 2 ou 3 xelins; um oitavo era ven-dido por 1 xelim, o duodécimo seis centavos: cada um de acordo com seu tamanho. Assim governou o Sr. Allen, um homem metódico, se é que alguma vez existiu; e ele ficou ainda melhor com isso, pois, fielmente patrocinado por cléri-gos, estudiosos e colecionadores, renovou seu estoque a uma taxa que especuladores mais pretensiosos poderiam ter invejado.
Mas como conseguiu aqueles volumes bem encadernados e bem conservados, pelos quais, em qualquer outro lugar, teriam sido cobrados cinco ou seis vezes mais? Aqui também o Sr. Allen tinha seu método, seguro e regular. Ninguém comparecia com mais assiduidade aos leilões que acontecem todos os dias em Londres: o seu estande estava marcado ao pé da mesa do leilo-12
eiro. Os livros mais raros e escolhidos passaram diante de seus olhos, disputados a preços muitas vezes fabulosos por Quaritch, Sotheran, Pi-ckering, Toovey e outros bibliopolistas da me-trópole britânica; Sr. Allen sorriu diante de tal extravagância; quando uma oferta fosse feita por outro, ele não acrescentaria um centavo, se um desconhecido Gutenberg ou o Boccaccio de Valdarfer estivessem em jogo. Mas se, ocasionalmente, por desatenção ou cansaço, a concorrência diminuía (habent sua fata libelli), o Sr.
Allen se adiantava: seis pences!, ele sussurrava, e, às vezes, o item lhe era deixado; às vezes, até dois números consecutivos, unidos por falta de se encontrarem separadamente com um comprador, eram-lhe derrubados, ainda pelo míni-mo de seis pences que era o seu máximo. Muitos daqueles desprezados sem dúvida merece-ram o seu destino; mas entre eles podiam escapar alguns que não eram indignos das honras do catálogo e que, em qualquer outro momento, compradores mais atentos, ou menos capricho-sos, talvez pudessem cobrir de ouro. Isto, no entanto, não entrou de forma alguma no cálculo do Sr. Allen: o tamanho era a única regra de sua estimativa.
Ora, um dia em que, depois de um leilão considerável, ele expôs em sua loja compras mais numerosas do que o habitual, notei especialmente alguns manuscritos em língua latina, 13
cujo papel, cuja escrita e encadernação denota-vam origem italiana, e que pode muito bem ter duzentos anos. O título de um deles era, creio eu: De Venenis; de outro: De Viperis; de um terceiro (a presente obra): De Dæmonialitate, et Incubis, et Succubis. Todos os três, aliás, de autores diferentes e independentes entre si.
Venenos, víboras, Demônios, que coleção de horrores! No entanto, se fosse apenas por uma questão de civilidade, eu certamente compraria alguma coisa; depois de alguma hesitação, escolhi a última: Demônios, é verdade, mas Íncubos, Súcubos: o assunto não é vulgar e muito menos a forma como me pareceu ter sido tratado. Em suma, eu tinha o volume por seis pences, um preço vantajoso para um quarto: o Sr.
Allen considerava, sem dúvida, tal valor abaixo da taxa do tipo.
Esse manuscrito, em papel resistente do século XVII, encadernado em pergaminho italiano e lindamente preservado, tem 86 páginas de texto. O título e a primeira página estão na caligra-fia do autor, de um idoso; o restante foi escrito de forma muito distinta por outro, mas sob sua direção, como atestam as notas autográficas e retificações distribuídas ao longo da obra. É, portanto, o manuscrito original genuíno, aparentemente único e inédito.
O nosso negociante de livros antigos tinha-o 14
adquirido poucos dias antes na Sotheby’s Hou-se, onde se realizou (de 6 a 16 de dezembro de 1871) a venda dos livros do barão Seymour Kir-kup, coleccionador inglês, falecido em Florença. O manuscrito foi inscrito da seguinte forma no catálogo de venda:
Nº 145. Ameno ( R. P. Ludovicus Maria [Cotta]
de). De Dæmonialitate, et Incubis, et Succubis, Manuscript.
Sæc. XVII-XVIII.
Quem é esse escritor? Ele deixou obras impres-sas? Essa é uma questão que deixo aos bibliógrafos; pois, apesar de numerosas investigações em dicionários especiais, não consegui verificar nada a esse respeito. Brunet ( Manuel du librai-re, art. Cotta d'Ameno) supõe vagamente sua existência, mas o confunde com seu homônimo, provavelmente também seu conterrâneo, Laza-ro Agostino Cotta de Ameno, advogado e literato de Novara. O autor
, diz ele, "cujo real nome de batismo parece ser Ludovico-Maria, escreveu muitas obras sérias..." O equívoco é óbvio.
Uma coisa é certa: nosso autor vivia nos últimos anos do século XVII, como resulta de seu próprio testemunho, e havia sido professor de Teologia em Pavia.
Seja como for, seu livro pareceu-me muito inte-ressante em diversos aspectos, e apresento-o 15
com confiança àquele público seleto para quem o mundo invisível não é uma quimera. Eu ficaria muito surpreso se, depois de abri-lo ao acaso, o leitor não se sentisse tentado a refazer seus passos e ir até o fim. O filósofo, o confessor, o médico encontrarão nisso, em conjunto com a fé robusta da Idade Média, visões novas e engenhosas; o literato, o curioso, apreciará a solidez do raciocínio, a clareza do estilo, a vivacidade dos recitais (pois há histórias - e contadas com delicadeza). Todos os teólogos dedicaram mais ou menos páginas à questão das relações materiais entre o homem e o demônio; grossos volumes foram escritos sobre bruxaria, e os méritos deste trabalho seriam apenas escassos se ele apenas desenvolvesse a tese comum; mas essa não é a sua característica. A matéria fundamental, da qual deriva uma marca verdadeiramente original e filosófica, é uma demonstração inteiramente nova da existência