Nem sempre as víboras venenosas devoram os deuses gregos
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Sobre este e-book
Gea tinha decidido que no momento já tinha se cansado o suficiente para não querer saber de mais nada com os homens depois do cornífero do seu ex-namorado ter ido embora com aquelazinha.
Um reencontro com alguém que não esperava voltar a ver dá uma reviravolta em todos seus planos e coloca sua vida de pernas para o ar.
A fantasia de nossa protagonista voa, mas seu coração está fechado a sete chaves. Como Heitor poderá solucionar isso?
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Nem sempre as víboras venenosas devoram os deuses gregos - Raquel Antúnez
Nem sempre as víboras venenosas devoram os deuses gregos
Raquel Antúnez
Este livro é protegido por direitos autorais @Raquel Antúnez
Tradução: Rafaella C.S. Barros em colaboração com Babelcube
Título original: Las tarántulas venenosas no siempre devoran a los dioses griegos
Março 2017
Índice
Raquel Antúnez
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 1
––––––––
Sem poder evitar, meus olhos baixaram até seus lábios, enquanto ele não parava de falar e juro que tentava com todas as minhas forças escutá-lo, mas esses lábios carnudos me davam arrepios de cima a baixo. Olhava o piercing de sua língua e me perdia na conversa.
— Sempre achei que fosse melhor comprar essa caminhonete...
Ah, claro! Ele estava falando de carros. Concordei e bebi um gole da minha marguerita, olhando ao redor para ver se alguém havia percebido que minhas bochechas estavam um pouco rosadas. Não sabia exatamente por que. Talvez porque tivesse bebido mais de meia taça?
Olhei para a marguerita pensando que talvez o garçom pudesse ter colocado algo nela que estivesse me causando esse calor entorpecente. Dei-lhe uma olhada furtiva, já que nesse momento ele passava pelo meu lado e pegava o cinzeiro de nossa mesa para trocá-lo por um limpo. "Babaca arrogante! Esse garçom realmente acreditava que eu cairia nos braços de Heitor ali mesmo?.
¡Ah, Heitor continua falando! É melhor ouvi-lo".
— ... claro, sempre quis uma T1, talvez de sessenta e sete, não sei exatamente porque desse ano, mas é um sonho, suponho. Incluso, seria melhor que fosse de cor vermelha, admito que era o que eu fantasiava quando criança...
Outra vez esse maldito piercing prateado de sua língua ficava à mostra e senti um forte beliscão no estômago que me fez recuar. Felizmente, ele não percebeu. Sorri e voltei a afirmar com a cabeça. "O que raios será uma T1?" Não fazia ideia do que ele estava falando, mas talvez por conta daquela terrível droga que aquele garçom estúpido tinha colocado na minha marguerita, ele parecia ainda mais sedutor e para mim, estávamos tendo a conversa mais interessante do mundo.
Tive vergonha por um segundo pensando que mal conhecia Heitor e não entendia como ele podia provocar-me tamanho calor. "Devia pedir uma Coca-Cola".
Baixei um pouco a vista. Aff, não podia olhar mais olhar para seus lábios e me deparei com essas mãos: robustas e de tamanho perfeito. Deixei minha imaginação voar por um instante pensando no que aquelas mãos poderiam fazer. Por alguma razão absurda o que me veio a mente foi a imagem de uma jovenzinha de vinte anos se derretendo nelas e fui tomada de um ciúme incompreensível.
— Quer mais alguma coisa? — silêncio —. Gea? — mais silêncio —. Terra chamando a Gea! Quer mais alguma coisa?
Por fim voltei ao planeta onde havia deixado meu corpo inerte e ouvi meu nome sair de sua boca. Claro que sempre desejei que ele falasse meu nome, mas talvez com um tom mais doce, agora parecia incomodado. Olhei para meu copo, vi que restava quase metade e neguei com a cabeça enquanto me envergonhava ainda mais.
Heitor riu. Pude ver os dentes brancos como pérolas colocados perfeitamente um ao lado do outro, com a intenção de roubar o fôlego de pessoas como eu.
— Acho que você bebeu muito para as sete da tarde — ele brincou com um sorriso e neguei com a cabeça.
— Desculpe, eu estava distraída. E como você comprou essa Toyota Hiace? —"espero não ter errado a marca—. De que ano você disse que era? De oitenta e um? —
Af, tanto a meu favor". Heitor pareceu relaxar sua expressão. Menos mal que tinha escutado alguma coisa da conversa. Isso me daria talvez outra meia hora para poder explorá-lo de cima a baixo.
—Sim, sabe, me ofereceram por uma ninharia, acho que não chegou a mil euros. Eu a vi e pensei...
"Seria melhor subir o olhar e parar de pensar nas sirigaitas de vinte anos rolando com Heitor, como eu tinha feito... Faz quanto tempo? Mil anos?". Olhei de novo para seus lábios. "Não, aqui não, pelo amor de Deus!" e seguir subindo até seus olhos.
Desde o primeiro momento não tinha conseguido distinguir bem a cor de seus olhos. Podia dizer que eram verdes com detalhes em mel, enfeitados por aquelas imensas sobrancelhas que faziam a inveja de mais de uma mulher. Claro que no auge de meus dezoito anos, quando o conheci, os hormônios estavam muito agitados para parar e pensar de que cor eram os olhos daquele deus grego, (sim, já que Heitor era um príncipe de alguma época. Talvez Tróia? Acho que sim, cuja vida foi tirada por Aquiles, mas para mim parecia mais como Eros... sem dúvida nenhuma seus pais tinham errado ao escolher o nome). Como estava dizendo? Ah, claro! ...que fazia amor desesperadamente na caminhonete de seu amigo. Caminhonete? Ah, meu Deus!
Soaram os alarmes e toda a minha pele se arrepiou. Era exatamente do que ele estava falando agora. Eu podia jurar que tinha ouvido a palavra caminhonete
ao menos umas doze vezes na última hora que estivéramos conversando naquele bar. Talvez tivesse me lembrado daquela maravilhosa época de sexo desenfreado e desamor, os três meses mais sufocantes da minha vida e eu não estava escutando nem uma palavra do que ele dizia.
Envergonhei-me do meu comportamento de adolescente cheia de hormônios, sem parar de assentir. Graças a Deus tinha pedido essa marguerita de morango, assim tinha uma desculpa perfeita para ter essa cor de camarão recém-pescado. Heitor sorriu novamente, talvez tivesse pensado que tinha conseguido capturar meu interesse na conversa.
—Eu queria pintá-la, mas não sei... Não parece tão mal agora. Não acha?
Tinha visto sua caminhonete fazia pouco tempo. "Tenho que voltar ao carro, esqueci meu celular, deixei-o na parte de trás, ele me disse quanto tinha acabado de chegar. Por um instante achei que ia sair correndo e ia me deixar ali esperando, pensando:
Que horror de mulher! O que estou fazendo aqui?". Mas não, ele me pediu que o acompanhasse e voltamos juntos até a cafeteria, o que deu a ele um motivo para conversar e falar por um bom tempo.
—Eu acredito que esteja perfeita como está — respondi. Menos mal que tinha escutado sua pergunta, não queria que ele chamasse novamente à Lua que era onde eu estava nesse momento. Concordou satisfeito, sorrindo e continuou dizendo algo a respeito de que tinha tido que consertar com fibra de vidro. Ai, Deus, porque eu era tão ignorante a respeito dessas coisas! Gostaria de poder intervir e dizer: "Como? Não seria melhor ter consertado com um pouco de..." Que raios se usa nesses casos? Não sei... lembro que uma vez uma tubulação foi danificada em casa e meu pai me mandou à loja de ferragens para comprar durepoxi. Será que durepoxi serviria para algo no carro? Tive que abrir um sorriso pela minha grande ignorância. Heitor sorriu satisfeito por ter conseguido minha atenção.
Nesse exato momento decidi que outra marguerita não cairia mal ao fim, afinal o álcool tinha conseguido fazer com que escutasse de uma vez por todas o que o pobre garoto me estava contando com tanto interesse.
Passou do meu lado aquele garçom que tinha nos atendido quando chegamos. "Não, esse não. Não quero outra dose dessa droga, me dá muito calor". Vi uma garçonete passar no fundo do corredor, vinha até nós e em apenas dois minutos estaria do meu lado. Era pequena, muito morena, talvez pela estação do ano em que estávamos, e diria que tinha curvas exuberantes se isso me importasse. Mas eu só queria outra marguerita para saber onde raios colocar as mãos.
Olhei para Heitor e a verdade é que eu estava agradecida por ele ter rompido o gelo daquela forma, ainda que não estivesse entendendo nada. Quase morri de vergonha quando o vi aparecer. Fazia muito tempo que eu não ouvia nada dele e ali ele estava de novo, eu o havia encontrado.
––––––––
Capítulo 2
––––––––
Fazia um tempo que vivia conectada às redes sociais pela internet, um pequeno vício que havia adquirido fazia um ano, quando ainda saía com o cornífero* do Marcos (cornífero: pequeno idiota, filho da mãe, que tinha se jogado para cima de todo ser vivente enquanto saía comigo. Algo que parecia que todo mundo na face da Terra sabia, menos eu).
Não sabia nem que existia nada parecido, até que Marcos me ensinou a criar meu próprio perfil, onde tive a satisfação de encontrar a amigos que fazia anos que não via. Incluindo nessa enorme lista a Heitor.
Quando vi sua foto não soube que era ele. Acho que ele saiu nas Sugestões
por dois meses antes de que eu me desse conta. Isso aconteceu porque eu tinha um amigo, Sérgio, que era sobrinho da ex-namorada dele, Helena, uma antiga amiga
do instituto. Aquela sirigaita que não havia hesitado em roubar meu... namorado? (bom, não sei se éramos exatamente noivos).
Ela passou diante dele com seus peitos espetaculares e curvas intermináveis. Era mais alta e magra que eu, ainda que eu tivesse olhos