Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Matar ´E Demorado
Matar ´E Demorado
Matar ´E Demorado
E-book509 páginas6 horas

Matar ´E Demorado

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A string of brutal murders has bodies piling up in Brooklyn, and Detective Frankie Donovan knows what is going on. Clues left at the crime scenes point to someone from the old neighborhood, and that isn't good. 

     Frankie has taken two oaths in his life—the one he took to uphold the law when he became a cop, and the one he took with his two best friends when they were eight years old and inseparable. 

     Those relationships have forced Frankie to make many tough decisions, but now he faces the toughest one of his life; he has five murders to solve and one of those two friends is responsible. If Frankie lets him go, he breaks the oath he took as a cop and risks losing his job. But if he tries to bring him in, he breaks the oath he kept for twenty-five years—and risks losing his life.

In the neighborhood where Frankie Donovan grew up, you never broke an oath.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento15 de jan. de 2018
ISBN9781547510627
Matar ´E Demorado
Autor

Giacomo Giammatteo

Giacomo Giammatteo lives in Texas, where he and his wife run an animal sanctuary and take care of 41 loving rescues. By day, he works as a headhunter in the medical device industry, and at night, he writes.

Relacionado a Matar ´E Demorado

Ebooks relacionados

Mistérios para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Matar ´E Demorado

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Matar ´E Demorado - Giacomo Giammatteo

    ..

    MATAR É DEMORADO

    Livro I da Série Amizade e Honra

    um romance de

    Giacomo Giammatteo

    jim@giacomogiammatteo.com

    Capítulo 1

    Regra Número Um – Matar É Demorado

    Brooklyn, Nova York – Tempo Presente

    Ele bebeu o último gole de um café de merda e olhou do outro lado da rua para Nino Tortella, o homem que ele ia matar.  Matar era uma arte que exigia refinamento, planejamento, habilidade e, acima de tudo, paciência.  A paciência tinha sido a virtude mais difícil de aprender. O ato de matar veio naturalmente. E ele se amaldiçoava por isso. Rezava a Deus todas as noites para que a força parasse. Porém, até aquele momento, Deus não tinha respondido, e ainda existiam algumas pessoas que precisavam morrer.

    A garçonete se inclinou para encher de novo a xícara, seu decote indicando que o café não era a única coisa oferecida. Quer mais um pouco?

    Ele agitou sua mão – Nino estava se dirigindo ao carro. Só a conta, por favor.

    Ela puxou um lápis amarelo de trás da orelha, espetou-o no coque firme de cabelos ruivos e abriu o talão de recibos preso ao bolso do seu avental. Seu hálito revelava fumaça de cigarro, quase disfarçada pelo chiclete que ela mascava.

    Hortelã, ele pensou, e sorriu. Era seu favorito também.

    Ele a esperou sair, examinou a mesa e os bancos, arrancou alguns fios de cabelo do estofado rasgado e um pedaço de unha do peitoril da janela. Depois de colocá-los dentro de uma pequena sacola plástica, ele limpou tudo com um guardanapo. A conta deu US$ 4,28. Ele tirou uma nota de cinco e outra de um de sua carteira e as deixou sobre a mesa. Conforme caminhava para a porta, ele olhou pela janela. Nino já tinha partido, mas era quinta-feira, dia em que Nino ia comer pizza.

    Ele estacionou a três quarteirões da casa de Nino e encontrou um lugar onde a neve não se acumulara muito no meio-fio. Depois de cobrir a cabeça com um gorro preto de lã, ele vestiu luvas de couro, ergueu a gola de sua jaqueta e agarrou sua bolsa esportiva preta. Apoiando-se na perna esquerda, desceu a rua, baixando os olhos quando passava por alguém. A última coisa que ele queria era uma testemunha que se lembrasse do seu rosto.

    Ele contava as emendas do concreto enquanto andava. Os números o forçavam a pensar de maneira lógica, mantinham sua mente distante do que ele tinha que fazer. Ele não queria matar Nino. Mas precisava. Parecia que, em toda a sua vida, ele fizera coisas que não queria. Refutou a ideia com um gesto de cabeça e voltou a se concentrar nos números.

    Quando chegou próximo à casa, olhou rapidamente ao redor para assegurar que os carros dos vizinhos não estavam ali. Foram precisos menos de trinta segundos para abrir a porta. Ainda de gorro e luvas, ele caminhou até a cozinha e colocou a sacola sobre a bancada. Retirou um fórceps e um pequeno copo de bebida e os colocou sobre a mesa de café. Passando os olhos pela sala, ele ajeitou algumas fotos e levou a louça suja para a pia. A foto de uma mulher mais velha o encarava em uma prateleira acima da mesa lateral. Deve ser a mãe dele, ele pensou, e gentilmente deitou a foto. Voltou para a cozinha. Abriu a parte superior da sacola preta e tirou de lá duas sacolas menores. Colocou uma delas na geladeira e levou a outra para a sala de estar.

    O conteúdo da segunda sacola – cabelo e outros itens – foi espalhado por toda a sala. A unidade de investigação de cenas de crimes tinha agora material para começar. Ele fez uma verificação final, tirou um taco de beisebol da sacola e sentou-se no sofá atrás da porta. O taco descansava na almofada ao lado. Enquanto esticava as pernas e se recostava, ele pensou em Nino. Seria fácil simplesmente atirar nele, mas isso não seria justo. Renzo sofreu com o que ele fez. Nino deveria sofrer também. Ele se lembrou dos avisos de Mamma Rosa: as coisas que as pessoas fazem voltam para assombrá-las. Agora Nino ia pagar o preço.

    Um carro parou na entrada da garagem. Ele se aprumou no sofá e agarrou o taco.

    #

    Nino sorria e caminhava com pequenos saltos. Ainda era quinta-feira e ele já tinha vendido mais carros do que precisava para o mês inteiro. Talvez eu compre aquele casaco que Anna queria. O estômago de Nino reclamou, mas ele levava uma pizza de pepperoni nas mãos e uma garrafa de Chianti no bolso do casaco. Ele abriu a porta, devolveu as chaves no bolso e chutou a porta atrás de si para fechá-la.

    Havia uma sacola esportiva preta sobre a mesa da cozinha. Isso não estava aqui antes, Nino pensou. Um calafrio percorreu seu corpo. Ele sentiu uma presença na casa. Antes que ele pudesse se virar, alguma coisa atingiu suas costas. Seu rim direito explodiu de dor.

    Puta merda. Nino derrubou a pizza, cambaleou e caiu no chão. O lado direito do seu corpo ardia como fogo. Quando seu ombro esquerdo atingiu o chão de madeira, o taco acertou logo acima do seu pulso. O estalo dos ossos quebrando veio logo antes da onda de dor.

    Merda! Ele se virou para o lado e tentou alcançar a arma.

    O taco rodopiou outra vez.

    As costelas de Nino racharam como gravetos. Alguma coisa pontuda o golpeava por dentro. Sua boca se encheu de um gosto quente de cobre. Nino reconheceu o homem que estava diante dele. Se quiser alguma coisa, ele disse. Mate-me de uma vez.

    #

    O taco acertou o joelho de Nino. O esmagar dos ossos era abafado pelos seus gritos. O homem encarou Nino. Deixou ele chorar. Eu peguei Renzo mês passado. Ouviu?

    Nino fez que sim com a cabeça.

    Ele tateou o bolso de Nino com os pés e identificou uma arma. Se tentar pegar a arma, vou bater em você de novo.

    Outro aceno de cabeça.

    Ele se ajoelhou perto de Nino e pegou o copo de bebida da mesa de café. Abre a boca.

    Nino estalou os olhos e sacudiu a cabeça.

    O homem agarrou o fórceps, enterrou uma das pontas na lateral da boca de Nino e apertou o cabo para abrir totalmente a ferramenta. Quando a boca de Nino estava suficientemente aberta, ele empurrou o copo de bebida para dentro dela. O copo era pequeno, mas para Nino parecia grande o suficiente para conter um galão. Nino tentou gritar, mas não conseguiu. Tampouco podia falar com o copo ali. A cabeça de Nino sacudia, e ele se contorcia. Mas nada além de gemidos saíam – murmúrios amedrontados cobertos de sangue.

    O homem se levantou e olhou com fúria para Nino. Agarrou o taco com as duas mãos. Você não devia ter feito aquilo.

    Uma mancha escura se espalhou pelas calças de Nino. O fedor de excremento ocupou a sala. Ele encarou Nino, ergueu o taco acima de sua cabeça e fez ele descer. Os lábios de Nino se arrebentaram, despedaçando-se para os dois lados. Os dentes estilhaçaram, alguns voando para longe, outros se agarrando à carne das bochechas. O copo de bebida explodiu. O vidro abriu sulcos fundos em sua língua, decepando a ponta. Cacos de vidro se cravaram nos lábios e desceram pela garganta.

    Ele olhou fixamente para o rosto de Nino, as tiras de carne dilacerada cobertas de sangue. Ele engoliu em seco. Quase parou. Mas logo pensou no que Nino tinha feito e rodopiou o taco mais uma vez. Depois daquilo, Nino Tortella ficou imóvel.

    Ele voltou à cozinha e tirou uma pequena caixa da sacola sobre a bancada. Em seguida, voltou para a sala de estar. Dentro da caixa havia mais cabelo, sangue, pele e outras evidências. Ele espalhou os itens sobre o corpo e ao redor dele. Então, foi à cozinha pela última vez para limpar tudo. Ele se despiu, enfiou suas roupas dentro de uma grande sacola de plástico e a amarrou, guardando-a dentro da sacola preta. Ele pegou roupas novas, inclusive sapatos e proteções de plástico para os pés. Atento para não pisar no sangue, ele voltou e parou ao lado do corpo.

    Nino se estendia sobre mijo, merda e sangue, os olhos arregalados e a boca escancarada.

    Você não devia ter feito aquilo, Nino.

    Ele fez o sinal da cruz enquanto repetia a fórmula trinitária: "In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti." Então, atirou em Nino. Uma bala na cabeça. Uma bala no coração. Olho por olho. E muito mais.

    Antes de atravessar a porta, ele tirou as capas de plástico dos sapatos e guardou-as na sacola. Em seguida, fechou e trancou a porta. O vento tinha aumentado desde que ele chegara, intensificando o frio. Ele ergueu a gola da jaqueta e enfiou a cabeça no peito.

    Perdoe-me, Pai, pelo que fiz.

    Caminhou mais dois quarteirões e estava próximo ao carro quando a imagem de Donnie Amato surgiu em sua mente.

    E pelo que ainda tenho que fazer.

    Capítulo 2

    Um Grande Erro

    Quatro dos homens de Tony Sannullo aguardavam do lado de fora do restaurante Cataldi’s, alertas para qualquer sinal de problema. Um Lexus dourado estacionou, e um grande homem vestindo um terno Brioni saiu do carro. Paulie Perlano, conhecido como Paletó, arrumou a gravata de seda azul, passou um pente pelos fartos cabelos negros e caminhou até os rapazes que se reuniam na porta.

    Oi, Paletó, disse um deles.

    Oi, Paulie, disse outro.

    Alguém já contou pro Tony?

    As quatro cabeças negaram juntas. Vai você contar, disse um deles.

    Paulie ficou na ponta dos pés e espiou pela janela. Tony Sannullo, o Crânio, estava sozinho em uma mesa redonda para seis pessoas, de costas para a parede. Havia um expresso à direita de suas palavras cruzadas, e ele mastigava a ponta de uma caneta esferográfica. Apesar dos conselhos que ele recebera a vida toda, Tony gostava de cultivar certos hábitos. Nas manhãs de sexta-feira, ele tomava seu café da manhã com expresso no Cataldi’s.

    Paulie sacudiu a cabeça e subiu três degraus para entrar. Ele não vai gostar disso.

    Anna Cataldi o cumprimentou. "Buongiorno, Paulie. Lindo dia, não?"

    Depende, disse Paulie, rindo em seguida. Ele tinha um riso fácil, do tipo que vinha com o uso frequente. Como você está, Anna? Como vai o bebê?

    Bem, Paulie. E as crianças?

    Ah, Anna, crianças são crianças. Estão sempre bem. Um pé no saco, mas estão bem. Enquanto eles caminhavam para os fundos, Paulie perguntou: Ele está de bom humor?

    Anna ergueu a sobrancelha e deu de ombros. É fevereiro.

    Ah, merda.

    Sim, ela disse, indicando com a mão para ele seguir.

    Ele se dirigiu à mesa de Tony. Os roncos de seu estômago eram uma combinação de fome e nervos.

    Tony rabiscou uma das últimas respostas das palavras cruzadas quando Paulie se aproximou da mesa. Quando você vai se vestir como todos nós, Paulie? Ninguém mais veste terno.

    Paulie mexia impacientemente nos talheres de prata enquanto observava as palavras cruzadas de Tony. Ainda faltam algumas, não? Ninguém gostava de interromper as palavras cruzadas de Tony.

    Conhece alguma palavra de sete letras para radiante ou muito brilhante?

    Claro, Tony. Está na ponta da língua.

    Começa com F.

    "Sim, eu sei uma – fodendo – como em fodendo de brilhante."

    Assim que se fala, Paulie. Eu sabia que podia contar com você. Tony mordeu a ponta da caneta enquanto o garçom trouxe mais um expresso para ele e outro para Paulie. "Fúlgido. Esta é a palavra que eu procurava."

    Paulie ficou ainda mais impaciente. Eu devia falar logo de uma vez. OK, Sr. Fúlgido, se puder tirar o nariz disso aí por um minuto, eu preciso contar uma coisa.

    O quê?

    Nino Tortella foi baleado ontem à noite.

    Merda. Tony bateu na mesa. Como?

    Igual a Renzo.

    Você sabe o que isso significa.

    Sim, eu sei. Não tem como Nino não ter falado. Alguns podem ser inteligentes o suficiente para se calar, mas não Nino.

    Alguém viu Donnie Amato?

    Paulie bebeu seu expresso. Eu liguei. Ninguém atendeu.

    Mande dois caras pra avisar ele.

    Você sabe como Donnie é cabeça-dura. Ele acha que pode se virar sozinho.

    Tony engoliu o resto do expresso. Isso é quase impossível. Ele largou duas notas de vinte sobre a mesa. Tenho que ligar pro Tito. A gente se fala mais tarde.

    Paulie espremeu seus olhos. Você não tem nada a ver com isso, certo?

    Você sabe quem está fazendo isso.

    Não devíamos ter feito aquilo, Tony. Estava errado desde o começo.

    E eu não sei?, disse Tony, seguindo para a porta. Muita gente vai morrer agora.

    Capítulo 3

    Vínculos com o Passado

    O detetive Lou Mazzetti estacionou no meio-fio e desceu do carro. Seus mocassins enrugados enchiam de lama as barras desgastadas de sua calça. Ele abotoou seu casaco, arrumou o chapéu para cobrir uma área sem cabelos e subiu até a antiga casa de tijolos. A casa ainda estava bem conservada, assim como a maioria delas nesse bairro, uma comunidade predominantemente italiana e irlandesa, mas com uma boa mistura de poloneses e um pequeno número de judeus. Lou acenou com a cabeça para um policial parado na porta enquanto subia os degraus. Ele se sentia cansado como se fosse velho.

    Como está?, Lou perguntou.

    Os vizinhos não ouviram nada, mas só chegaram em casa tarde. O policial sacudiu a cabeça. Parece igual ao primeiro.

    Igual ao primeiro. Um pensamento perturbador, mas que se mostrou verdadeiro conforme Lou examinou a cena: homem baleado com um tiro na cabeça e outro no coração. E quase todos os ossos do seu corpo quebrados. Nenhuma cápsula de bala. Além disso, ele tinha certeza de que a unidade de investigação de cenas de crimes encontraria cabelo, sangue, pele e DNA de uma grande variedade de pessoas. Lou olhou para Kate Burns, a médica-legista, uma linda garota com a pele tão pálida e sardenta quanto sugeria seu nome irlandês. Alguma coisa?

    Kate sacudiu a cabeça, embrulhou seu kit e o enfiou em uma sacola. Tenho certeza de que temos o DNA dele, mas está misturado com o resto.

    Examine tudo.

    Vou examinar, mas se você não conseguir mais nada, não vai adiantar porcaria nenhuma.

    #

    O detetive Frankie Donovan atravessou a porta e limpou o barro de seus sapatos Moreschi usando um lenço gravado com seu monograma. Ele soltou os botões do casaco de caxemira, pendurou-o em um gancho atrás da porta e, então, investigou a cena do crime com os olhos castanhos que herdou de seu pai. Os boatos diziam que ele tinha herdado também a sorte irlandesa, mas que seus dons não iam além disso. A pele escura, o nariz marcante e o cabelo castanho vieram de sua mãe siciliana, junto com uma marca de nascença no pescoço, que seu avô jurava ser parecida com o mapa da Sicília. Era um pigmento escuro, quase preto, que ficava logo abaixo e à esquerda de uma sólida mandíbula quadrada, que parecia prestes a se estilhaçar. Ele já a tinha batido tantas vezes que sabia que ela não se quebraria.

    Acabei de encontrar Kate. Ela disse que não temos nada.

    Oi, Frankie. Lou caminhou até ele e lhe deu um tapa nas costas. Eles me disseram que você viria. Alguém já contou os detalhes?

    O tenente me contou o básico. Ele disse que agora são três.

    Mazzetti confirmou: Três, isso mesmo, mas talvez este seja o pior.

    Frankie fez um sinal para que Lou fosse com ele até a cozinha. Escute, Lou, eu...

    Donovan, não se preocupe. Eu sabia que o capitão daria a investigação pra alguém. Estou feliz que seja você.

    Obrigado, Lou.

    Deixe eu contar os detalhes. O primeiro foi ruim, igual a este. O cara faz todos sofrerem. Kate afirma que já estavam mortos antes dos tiros.

    Frankie ouviu Lou apresentar os detalhes e, então, caminhou pelo ambiente por um tempo. Ele verificou o corpo, observou a sujeira no chão, pegou algumas coisas da cômoda e seguiu para a cozinha. O que é isto?, ele perguntou, olhando para uma sacola de evidências sobre a bancada.

    Merda de rato.

    Você disse que não havia pistas.

    Eu a ensaquei, não foi? Mas isso não é pista. É merda de rato. Mazzetti riu. Quer mais? Temos pelos de gato na pia, mas ele não tinha gato. Provavelmente, há merda de cachorro no quarto ou, quem sabe, na droga da geladeira. Mas nenhum cachorro. E temos DNA suficiente para representar metade dos criminosos do Riker’s. Mazzetti sacudiu as mãos no ar como que se rendendo. É a mesma merda de sempre. Por isso que não temos nenhuma pista depois de três assassinatos.

    Acho que temos pistas demais, disse Frankie, pegando uma sacola de papel marrom do canto da bancada. O que tem aqui?

    Um rato morto. Achamos dentro da geladeira. Que tal essa para um psicopata? Acha que esse cara o comeu?

    Merda de rato e um rato morto. Mazzetti, quero saber tudo o que temos sobre esses assassinatos. Todos os mínimos detalhes. Todas as fotos.

    Acabei de falar. Não temos nada.

    Prepare tudo pra mim.

    Você sabe de alguma coisa?

    Frankie se lembrou de quando Nicky e Tony invadiram a casa de Billy Flannagan e enfiaram um rato na geladeira. Talvez eu saiba.

    Não acha que deve me contar?

    Frankie pensou cuidadosamente em sua resposta. Certas coisas nem mesmo os parceiros contavam uns aos outros. Vou pensar sobre isso.

    Do que você está falando? É assim que você trabalha com seu parceiro? Eu estaria melhor com o Jumbo.

    Frankie abriu a porta, mas se virou para Lou antes de sair. Acho que alguém me mandou uma mensagem. Se eu estiver certo, você não vai querer saber.

    #

    Frankie estacionou em uma das vagas da garagem e caminhou para seu apartamento. Alex e Keisha, duas das crianças do prédio, estavam sentados na escada. Ele estava com pressa para subir, mas sempre tinha tempo para esses dois. Alex tinha dez anos de idade e, como muitas das crianças da rua, era só pele e osso. Keisha tinha doze anos e passava por uma daquelas fases levemente gorduchas que as jovens meninas odiavam. O que meus pirralhos favoritos estão fazendo aqui fora neste frio?

    Alex sequer olhou para cima. Nem todo mundo odeia o frio como você, FD.

    Você sabe porque estamos aqui, disse Keisha.

    Frankie se sentou ao lado deles e tremeu quando sua bunda tocou o concreto. Ele se esticou para esfregar a mão na cabeça de Alex. Sua mãe está acompanhada?

    O queixo de Alex descansava sobre as mãos. Sim.

    E de resto, como vai?

    Aquilo despertou um sorriso. Nada mal, FD, e você? Ainda prendendo bandidos?

    Mais procurando do que prendendo, mas isso me mantém ocupado. Frankie colocava o máximo de entusiasmo que podia reunir em sua voz. Preciso sair deste frio. Por que vocês não sobem comigo? Vou preparar o jantar.

    Eu já provei sua comida, respondeu Alex.

    Então acho que somos apenas eu e minha amiga.

    Keisha ajeitou a saia, segurou a mão de Frankie e entrou com ele.

    Alex os seguiu. Eu não disse que não ia. Sua comida é ruim, mas melhor que a de casa.

    Frankie ainda sorria enquanto eles subiam as escadas. O que ele queria fazer era pegar a mãe de Alex e jogá-la na cadeia. E ele faria isso se tivesse como manter Alex longe do juizado de menores.

    Quando eles chegaram ao segundo andar, a mãe de Keisha bisbilhotou com a cabeça para fora da porta. Keisha, está na hora de comer, querida.

    Vamos jantar com FD.

    Ela saiu para o corredor com as mãos nos quadris e um olhar carrancudo no rosto inclinado. "Menina, quantas vezes tenho que dizer? O detetive Donovan não precisa de você e Alex atrapalhando o trabalho dele. Só Deus sabe como tem gente nesta cidade que precisa ser presa. Aqui mesmo neste prédio algumas prisões cairiam muito bem." E olhou para Frankie com a sobrancelha erguida enquanto falava.

    Keisha protestou, mas a mãe acabou de vez com a história. Sem reclamar. Enquanto voltava ao apartamento, ela se virou. Traga Alex se quiser.

    Alex cheirou o ar e olhou para Frankie. "FD, vou recusar seu convite. Sentiu o cheiro dessa carne assada? Vai ser muito melhor do que sua comida."

    Não se surpreendam se eu descer pra jantar com vocês, disse Frankie, e começou a subir os degraus rumo ao apartamento. Ele estava aliviado por ter a noite livre, mas também triste por não ter a companhia das crianças. Algumas pessoas tinham uma queda por cachorros ou gatos. Para Frankie, as crianças eram seu ponto fraco. Ele não podia ver uma criança em apuros. Talvez pela sua própria juventude problemática ou talvez por simplesmente achar que podia fazer a diferença.

    Quando chegou ao final da escada, ele já tinha tirado a gravata e desabotoado a camisa, apesar do frio no corredor. Ele virou a chave e empurrou a porta. Foi saudado por um imenso vazio. Uma casa vazia para uma pessoa vazia. É o que Mamma Rosa costumava dizer. Ele deu de ombros como se aceitasse o inevitável, foi até a cozinha, abriu uma garrafa de Chianti e, depois, tomou uma ducha.

    Depois de sair vestindo short e camiseta, ele encheu uma taça de vinho e se sentou à mesa. Escrever abria sua mente e permitia que ele pensasse de maneira diferente. Ele refletiu sobre o dia e a cena do crime. Merda de rato e um rato morto. O rato tinha um significado especial. Para qualquer outro detetive, não seria nada, mas para Frankie, isso dizia muito. Se alguém do antigo bairro estivesse envolvido, isso reduziria a lista de suspeitos de milhões de pessoas para apenas algumas. E no topo dessa pequena lista havia duas pessoas: Tony Sannullo, chefão da família de criminosos Martelli, e Niccolo Fusco, também conhecido como Nicky Rato.

    Ele pressionou a ponta da caneta esferográfica, pegou um caderno de linhas estreitas da gaveta e começou. Frankie usava computador para fazer quase tudo, mas ele preferia escrever à moda antiga, usando papel e caneta. A caneta ficava confortável em sua mão. Até mesmo as freiras da escola diziam que ele ainda seria um escritor.

    Qualquer um com uma caligrafia igual à sua pode aprender a escrever. Era o que irmã Mary Thomas lhe dizia. Talvez a inspiração dela o tenha ajudado a continuar quando ele quis desistir. Frankie bebeu um gole de vinho, pousou a caneta no papel e escreveu:

    Esta história começou há cerca de trinta anos, perto da Filadélfia. Muito longe daqui e enterrada muitos anos no passado. Ainda assim, minha memória é clara – como você pergunta – e é fácil para mim. Tony, Nicky e eu éramos grandes amigos. Então, como Frankie Donovan, um detetive do Brooklyn, Tony Sannullo, um chefe da máfia, e Nicky Fusco, o ‘Rato’, viraram grandes amigos?

    Frankie largou a caneta e se recostou na cadeira. Ele sentia que não era certo contar essa história. Talvez fosse por isso que ele não conseguia começar. As pessoas dizem que o passado guarda a chave para o futuro. Frankie não sabia se isso era mesmo verdade, mas sabia que alguém do antigo bairro estava envolvido nesses crimes. Se tivesse a esperança de solucioná-los, ele precisaria descobrir quando as coisas tinham dado errado. Frankie entrelaçou as mãos atrás da cabeça e ergueu os pés. Se isso tiver relação com o antigo bairro, será mesmo a história de Nicky. Talvez ele devesse contar a todos.

    Capítulo 4

    Vida e Morte Lado a Lado

    Wilmington, Delaware. Verão – 32 Anos Atrás

    O nome da minha mãe era Maria Fusco. Dizem que ela teve uma gravidez muito difícil e que os primeiros oito meses pareceram dezoito. O enjoo matinal durou por quatro meses. Em seguida, vieram as dores de cabeça, dores nas costas, cólicas estomacais – tudo o que ela não queria, especialmente com o primeiro filho. Rosa Sannullo, sua vizinha e melhor amiga, disse que aquilo não era um bom sinal. Ter problemas nos primeiros meses significava que o bebê poderia ter dores de dente ou excesso de gases. Nos meses seguintes, significava uma juventude problemática. Mas problemas durante toda a gravidez geralmente significavam uma criança má, um sinal de coisa do diabo. Rosa sempre se benzia quando dizia aquilo e levava consigo um cornicello – um amuleto para afastar o diabo – para colocar na criança assim que ela nascesse.

    Rosa ficou com minha mãe o dia todo, tocando levemente o rosto dela com um pano frio quando veio a febre e enfiando colheradas de pastine em sua boca quando ela diminuía. Come, Maria.

    Não tenho fome, ela resmungou. Onde está Dante?

    Dante ainda está trabalhando. Mas escute aqui. Eu já tive quatro filhos, cuidei de outros oito ou dez, e estou prestes a ter mais um. Você precisa comer para alimentar o bebê. Ele precisa se fortalecer.

    O riso de Maria era fraco e forçado. "Você vive dizendo ele. Como sabe que não é menina?"

    Rosa brincava. "Uma menina jamais daria tanto problema. As garotas esperam ficar grandes – só então elas trazem problemas. Ela ergueu a cabeça para o céu e suspirou. Dio Santo. Não queira saber as encrencas que elas arrumam."

    Rosa esfregou a panela que usou para preparar o pastine e a colocou para secar enquanto terminava o resto da louça. Além disso, você precisa ter um menino para ele brincar com meu Antonio. Ela esfregou sua enorme barriga e riu.

    Maria se virou de lado, segurando a barriga. Talvez seja melhor entrar.

    Rosa se curvou e pôs a mão sobre a barriga de Maria. "A bolsa ainda não se rompeu, mas ele está chutando forte. Isso é um bom sinal. Ela se levantou, refletindo. Mas se você estiver com dor, talvez seja melhor entrar. Vou chamar Dominic."

    #

    Rosa falou durante todo o caminho para o hospital, sempre segurando a mão de Maria. Betty McNulty perguntou de você. E aquela mulher de sobrenome Snyder que vive na Chestnut Street.

    Maria assentiu com um gesto de cabeça. Ela é gentil. Como está a filha dela? Ela não teve problemas no nascimento? As mãos de Maria voaram direto para sua barriga. Seus joelhos se ergueram. Rosa. Seus dentes rangiam, a testa enrugada. Meu Deus. Dói muito.

    Rosa dava tapinhas no rosto de Maria enquanto ela esmagava sua mão. Vai ficar tudo bem. Aguenta firme. Ela se aproximou de Dominic e sussurrou: "Sbrigati."

    "Eu estou correndo, Rosa." Dominic acelerou, mas a cada quarteirão Rosa gritava ainda mais. Quase um quilômetro depois, os pneus de seu carro cantaram quando ele parou em frente à entrada do hospital. Ele desceu, arremessou-se em direção à porta traseira para abri-la e tirou Maria, carregando-a em seus braços.

    Rosa segurava a porta e gritava. Chamem um médico. Esta mulher está dando à luz. E está sangrando.

    Um funcionário os encontrou no saguão com uma cadeira de rodas. Ele ajudou a tirar Maria dos braços de Dominic e a empurrou apressado rumo à sala de cirurgia. Rosa puxou um médico que falava com uma enfermeira. "Dottore, entre lá com Maria. Aquela mulher está dando à luz. Sanguina. Ela está sangrando."

    Eles esperaram de cinco a dez minutos até que Rosa lembrou que ninguém tinha avisado Dante, casado com Maria há dez anos. Às vezes, era difícil dizer quem amava mais o outro. Ele era louco por ela, e ela cuidava dele como se esta fosse sua única função na vida. Deus nos ajude, Dominic, não avisamos Dante.

    Acalme-se, Rosa. Sabe onde ele está trabalhando?

    É um trabalho... Ela coçou a cabeça. Na zona portuária. Descendo a Front Street.

    Dominic concordou com a cabeça. Eu sei qual é.

    Em meia hora, Dominic voltava com Dante, seu rosto cheio de preocupação. Ele correu e abraçou Rosa.

    Como ela está?

    Ela estava com muita dor.

    Preocupados, eles esperaram por mais de uma hora, ora sentados, ora andando de um lado para outro. Enquanto Rosa percorria as contas do seu rosário, Dante se levantou pela terceira vez. Caminhou ainda mais. Apertou suas mãos secas. O que poderia estar errado? Sua testa acumulava rugas por toda parte.

    Senta, pediu Rosa. A preocupação aperta ainda mais o coração.

    Dante voltou para o sofá e se sentou. Não podemos perder esse bebê. Ele é a razão de vida de Maria.

    Rosa olhou nos seus olhos e segurou seu rosto. Dante Fusco era pedreiro, um homem forte. Mais do que isso, ele era um homem respeitado. Ela o abraçou de novo e acenou para que o marido os deixasse sozinhos. Vai ficar tudo bem, Dante. Tente não se preocupar.

    Poucos minutos depois, um médico surgiu das portas duplas da sala de espera. Ele olhou ao redor enquanto tirava a máscara verde do seu rosto. Sr. Fusco?

    Dante deu um pulo e correu até ele. Sou Dante Fusco. Como está Maria?

    O silêncio parecia durar um ano. Quando o médico estendeu suas mãos para Dante, Rosa já estava de pé e corria até ele.

    Sinto muito, Sr. Fusco, disse o médico. Não conseguimos salvá-la.

    Dante ouviu aquelas palavras e sabia o que significavam, mas não podia aceitá-las. Alguma coisa se contorceu dentro dele. Rompeu-se. Quebrou-se. Ele encarou o médico. Nenhuma lágrima. E o bebê?

    Você tem um saudável menino.

    Dante acenou com a cabeça, virou-se e se afastou. Passou por Rosa, que esperava para consolá-lo. Passou também por Dominic, que voltava com café. Saiu pela porta e caminhou até sua casa sem parar para nada, pensando apenas em Maria. Na vida que eles nunca teriam juntos.

    #

    Três dias depois, Rosa e Dante foram buscar o bebê. Dominic estava ao volante.

    Dante, um bebê não pode ficar sem nome por tanto tempo. Assim ele pode perder a alma.

    Quando chegar com ele em casa, vou encontrar um nome.

    Sempre gostei de Gianni, contou Rosa. Ou Vittorio.

    Vou pensar nisso, Rosa.

    Rosa se benzeu. Pense que você só precisa... Dê logo um nome a ele antes que Satã o faça.

    Quando eles se aproximaram de casa, Rosa se esticou e abençoou o bebê. Ela já tinha colocado o cornicello em volta do pescoço dele. Ele precisa ser amamentado. A dois quarteirões, a vizinha daquela Snyder acabou de ter um filho. Ela pode alimentar ele. E aquela garota irlandesa da Maryland Avenue – acho que se chama Camille – tem um bebê de apenas três meses de idade. Ela deve ter muito leite. Essas irlandesas sempre têm leite bom.

    Rosa se recostou, esfregando sua própria barriga inchada. Este aqui está chutando. Acho que ele quer sair pra brincar.

    Como você sabe que é menino?

    Porque ela é bruxa, respondeu Dominic no banco do motorista.

    Rosa sacudiu as mãos no ar. Porque já tive quatro meninos, e a sensação era a mesma com eles. Devo ter feito algo muito errado para que Deus me castigue desse jeito. Ela se benzeu ao dizer aquilo. "Dio Santo. Ele chutou de novo. Talvez a gente não precise daquela garota irlandesa. Parece que Antonio vai chegar antes do que o médico imaginou."

    Dante deu um tapinha no braço dela. Você é uma boa mulher, Rosa. Obrigado pela sua ajuda. Ele se inclinou para a frente e disse: Obrigado, Dominic. Sou muito grato por tudo que você e Rosa fizeram.

    Não se esqueça do que eu disse sobre amamentação. Ele já está ficando magrinho.

    Dante suspirou. Rosa, eu sei como você se sente, mas os bebês reagem bem às fórmulas. Ele segurou o bebê com suavidade e firmeza, envolvendo-o em um cobertor tricotado por Rosa. Observou seus traços tortuosos, o rosto rosado, os pés curvados. Não é uma boa troca ele no lugar de Maria. Definitivamente não.

    Meu pai só me deu um nome quando eu tinha cinco anos de idade. Rosa o alertou para não esperar, pois Satã poderia me reivindicar.

    Niccolo Conte Fusco: este é o nome que ele me deu. Acho que é questionável se ele fez isso em tempo. Alguns, como Rosa, juram que sim. Já outros... bem, outros dizem que ele esperou muito. Tempo demais.

    Capítulo 5

    Polícia

    Wilmington – 26 Anos Atrás

    Acordei feliz no meu sexto aniversário. Primeiro de agosto era o dia do meu nascimento, mas Mamma Rosa me fez celebrar dois aniversários: o dia em que nasci e o dia em que meu pai me deu um nome, só para garantir que os santos não se confundam.

    Ainda faltava mais de um mês para a volta às aulas. Tínhamos muito tempo para aproveitar. Muito tempo para arrumar encrenca, como dizia meu pai. Quase sempre ele estava certo. Tony, Frankie e eu corríamos pelo bairro, pelo menos em nossas cabeças. Tínhamos seis anos, estávamos perto dos oito e queríamos ter dez.  

    Fumar cigarros já não era mais novidade. Era um dos sentidos das nossas vidas. Sempre que estávamos suficientemente longe de casa ou dos olhos intrometidos de um vizinho, havia um cigarro pendurado no canto esquerdo das nossas bocas. Tinha que ser do lado esquerdo. Não sei de onde isso veio, mas alguém que vimos e admiramos devia estar fumando desse jeito. 

    Eu ainda estava largado na cama quando a porta da frente se abriu. Ouvi passos golpeando os degraus.

    Levanta essa bunda, Nicky. Tony entrou seguido por Frankie.

    O nome verdadeiro de Frankie era Mario, uma homenagem ao seu avô materno, mas ele não gostava de como Mario soava junto com Donovan. Então, ele decidiu usar o nome do meio. Quando a gente queria irritá-lo, bastava chamá-lo de Francis. Funcionava sempre.

    Pelo amor de Deus, já perdemos metade do dia, disse Tony. Vamos.

    Eu pulei da cama e comecei a me vestir. Pra que essa pressa?

    Vocês vão me ajudar com a limpeza.

    Seu cuzão, disse Frankie, lutando com ele até caírem na cama.

    Todos rimos e, então, corremos rua acima

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1