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Assassinato tem consequências
Assassinato tem consequências
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E-book432 páginas5 horas

Assassinato tem consequências

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Sobre este e-book

Assassinato tem consequencias é o segundo livro da série Amizade & Honra. 

Eu sei que parece estranho falar sobre assassinato, amizade e honra na mesma frase, mas é exatamente isso que esta série explora. Trata-se de dois caras que cresceram como melhores amigos, quase irmãos, porém um se tornou um policial e o outro um assassino. 

Você já se perguntou até onde é possivel ir sem que uma amizade se rompa? 

Trinta anos atrás, quatro garotos juraram serem amigos para sempre, sem se afastar um dos outros. Em Muder Takes Time - o primeiro livro da série - esse juramento levou um desses garotos precocemente para o túmulo e outro para a clandestinidade. Ficam apenas dois, mas o juramento continua. 

As palavras de Nicky Fusco servem de tema para o segundo livro: 

Juramentos são coisas que você faz quando é jovem e, ao amadurecer, deseja não tê-los feitos. 

Até onde você iria para honrar um juramento que você fez quando tinha oito anos de idade? Até onde você se sacrificaria? Quebraria até mesmo uma promessa feita para sua esposa? Ou para Deus? 

    Quando o detetive Frankie Donovan está em problemas - e a lei é incapaz de ajudar - ele recorre ao seu melhor amigo, Nicky Fusco. O problema é que Nicky prometeu para sua família e para Deus que andaria na linha. 

A maioria das pessoas pensa que os criminosos não têm honra... mas essas histórias podem te fazer mudar de idéia. 

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento15 de jan. de 2018
ISBN9781547514472
Assassinato tem consequências
Autor

Giacomo Giammatteo

Giacomo Giammatteo lives in Texas, where he and his wife run an animal sanctuary and take care of 41 loving rescues. By day, he works as a headhunter in the medical device industry, and at night, he writes.

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    Pré-visualização do livro

    Assassinato tem consequências - Giacomo Giammatteo

    Introdução

    Capítulo 1

    Restrição

    Capítulo 2

    Regressando ao lar

    Capítulo 3

    Uma linda manhã

    Capítulo 4

    Um longo caminho

    Capítulo 5

    Reunião

    Capítulo 6

    Lou encontra uma parceira

    Capítulo 7

    Um longo velório.

    Capítulo 8

    Um drink no bar

    Capítulo 9

    Outro funeral

    Capítulo 10

    Cavando um buraco fundo

    Capítulo 11

    Perguntas

    Capítulo 12

    O próximo nome

    Capítulo 13

    A Próxima Vítima

    Capítulo 14

    Onde está Marty Ferris?

    Capítulo 15

    As regras da Irmã Thomas

    Capítulo 16

    Borelli Cava Fundo

    Capítulo 17

    Segundas Intenções

    Capítulo 18

    Ligação de Nova Iorque

    Capítulo 19

    Siga o Líder

    Capítulo 20

    De volta a Nova Iorque

    Capítulo 21

    Procura-se Kitty

    Capítulo 22

    Bancos de bar e os segredos

    Capítulo 23

    Three’s Company

    Capítulo 24

    O Retorno de Bugs

    Capítulo 25

    Problemas com Crianças

    Capítulo 26

    Favores e Velhos Amigos

    Capítulo 27

    Alguém observando

    Capítulo 28

    Entrega Especial

    Capítulo 29

    Nada é para Sempre

    Capítulo 30

    O iraniano voltou

    Capítulo 31

    Interrogatório

    Capítulo 32

    Enigmas e orações

    Capítulo 33

    Trapping the Trappers

    Capítulo 34

    Montando armadilhas

    Capítulo 35

    Mea Máxima Culpa

    Capítulo 36

    Monroe

    Capítulo 37

    Sonhos mórbidos

    Capítulo 38

    Testemunhas oculares

    Capítulo 39

    Todo mundo acredita numa freira.

    Capítulo 40

    Mensagem no sangue

    Capítulo 41

    Trens de carga e mendigos

    Capítulo 42

    As ruas falam

    Capítulo 43

    O último nome

    Capítulo 44

    Outro Interrogatório

    Capítulo 45

    Uma conversa com um policial

    Capítulo 46

    A chance de Lisa

    Capítulo 47

    Vamos comprar drogas

    Capítulo 48

    Orações e mortes

    Capítulo 49

    Uma oração para a morte

    Capítulo 50

    O filho pródigo

    Capítulo 51

    Vigília da meia-noite

    Capítulo 52

    Um jantar tranquilo

    Juramentos são coisas que você faz quando é jovem e, ao amadurecer, deseja não tê-los feitos.

    Nicky Fusco

    Introdução

    Wilmington, Delaware

    Ações têm consequências. Ouvi isto um tempo atrás.

    •  Ouvi isto quando eu tinha cinco anos e fui pego roubando cigarros.

    •  Ouvi quando Mikey O cara Fagullo bateu em nossos traseiros por não darmos a ele um pouco do fumo que roubamos de um vagão.

    •  Eu ouvi isto quando o padre Tom nos pegou jogando cartas em vez de frequentar a missa.

    •  Ouvi principalmente quando atirei em Freddy Campisi. Esta lição me custou dez anos na prisão.

    Diferentes ações geram diferentes consequências. Faça alguma coisa errada — seja mandado para a prisão. Este é um tipo de consequência. Mas é a mais fácil. Se você for para a prisão, você paga sua dívida e depois fica livre. Acabou. Feito.

    Mas existe outra consequência, muito pior — uma que você tem que mentir todo dia. O tipo de consequência que você bate em você mesmo repetidas vezes. O tipo que você não se livra. Eu paguei minha dívida por ter matado Freddy Campisi. Outras coisas que fiz tenho que conviver com elas. Estas são entre Deus e eu. Elas são minha cruz na terra.

    Nicky Fusco

    Capítulo 1

    Restrição

    Wilmington, Delaware

    Olhei através de minha janela em direção à rua Front, então levantei a cabeça até que eu pudesse avistar o campanário da Igreja de Santa Isabel. Em dias tranquilos, quando minha janela estava aberta, eu podia ouvir os sinos. Tudo que ouço hoje é o barulho do trânsito. Peguei o telefone e liguei para Angie. Ela estava me esperando para o jantar. Me adaptar a minha nova vida tem sido difícil. Troquei emoção e perigo pela rotina de uma família e um emprego estável. Apesar de a troca ter sido um bom negócio, às vezes, sinto falta das coisas que fazia. Angie atendeu no quinto toque. Sempre conto, pois desligo se ninguém atender depois do quinto toque.

    — Alô.

    Angie tem a melhor voz do mundo. Forte e vigorosa, mas também gentil.

    — Ei, querida, tenho que checar um trabalho hoje à noite, então vou me atrasar um pouco. Você e Rosa podem jantar sem mim.

    — Vou esperar por você — respondeu. — Rosa está jantando com uma amiga.

    — Tudo bem, se você não se importar. Nos falamos depois.

    Peguei minha pasta preta de couro que ganhara de Angie no meu aniversário, coloquei as plantas dentro e segui em direção a porta.

    — Sheila, diga a Joe que estou indo checar aquela nova obra.

    — Qual?

    — O novo condomínio.

    — Certo, vejo você amanhã.

    Eu odiava mentir para Sheila. Odiava mais ainda mentir para Angie, porém isto precisava ser feito. Chequei meu relógio enquanto ligava o carro, eram 16:45. Provavelmente eu teria tempo suficiente para chegar lá antes que Marty Ferris saísse do trabalho. Ele é o ex-padrasto de Rosa e precisava aprender uma lição. Isso significava que eu teria que levantar cedo para checar os condomínios antes de ir trabalhar amanhã, mas tudo bem. Eu gostava de visitar a obra, ter certeza que não haveria surpresas. Eu precisava não apenas calcular quantos tijolos e argamassa iriamos precisar, mas também a quantidade de andaimes e esteios. Todo o material.

    Estava pensando em como eu tinha sorte em ter um trabalho como esse quando de repente percebi que estava chegando na rua Union. Liguei o pisca alerta, dobrei à esquerda, e segui em direção ao sul, estacionando no norte da rua Sixth perto da minha sorveteria favorita. Depois de checar o horário novamente, saí, peguei um gelato e voltei para o carro. Marty Ferris deveria sair a qualquer momento. Ele ia pagar pelo que ele fez à Rosa. Já tem mais de seis meses agora, e eu tenho cumprido todas as regras que meu velho mentor, Johnny Muck, me ensinara. Não importa o que eu tenha prometido para Angie, está na hora de Marty aprender uma lição.

    ***

    Marty Ferris saiu do banheiro, lavou as mãos duas vezes, as secou e jogou a toalha de papel em uma lixeira. Estava quase na hora dele sair e nada o deixava mais feliz do que isto. Outro dia cortando peças de carne com um cutelo lhe deu dinheiro suficiente para suas contas semanais e algumas cervejas no bar do Teddy. Não era o que ele merecia por suportar todos os idiotas que pediam corte especial ou remover os excessos de gordura, mas era o melhor que podia ter considerando o estado da economia. Às vezes, ele se sentia como se estivesse pegando as facas e cortando um pouco de gordura de seus clientes, especialmente da senhora Mariano. Que pé no saco aquela mulher. Ela nunca estava satisfeita. Ela vinha ao açougue toda quinta-feira, andando como se tivesse um osso de costela bovina preso no traseiro.

    Não esqueça de retirar toda a gordura, Marty. Toda a gordura.

    Sua voz irritante mexia com os nervos de Marty, permanecendo em sua memória por um longo tempo depois dela ir embora. Essa megera estúpida deveria saber que a gordura é que deixa a carne mais gostosa, mas ele nunca disse isso a ela.

    Marty terminou de embrulhar algumas costelas para um cliente e limpava suas facas enquanto esperava pelo fim do dia de trabalho. O relógio tocou, era 17:30, a primeira coisa desde o almoço que colocou um sorriso no rosto de Marty. Ele tirou seu avental e seguiu para o quarto dos fundos.

    — Estou indo, Sal. Até amanhã.

    — Até amanhã, Marty.

    Depois de lavar suas mãos, ele saiu do edifício, entrou no seu carro e seguiu em direção ao sul, na rua Union. Ele queria ir para casa e tomar banho, mas ele não tomava uma cerveja desde terça-feira à noite, então estava desejando ardentemente uma. Ele pensou em parar em um bar, mas ele se lembrou que era quinta-feira, dia de comer sanduiches na Casapulla.

    ***

    Esperei no carro uma quadra ao norte de onde Marty trabalhava, tomando gelato para me refrescar. Não tem nada melhor que tomar gelato em um dia quente. Estava pensando maravilhado no gênio que havia combinado açúcar, gelo e limão em uma bebida viciante, gostosa e que ainda acaba com a cede. Gelato era uma das coisas que eu senti falta quando morei em Nova Iorque e senti ainda mais falta enquanto eu estava na prisão. Ainda não andei o pais inteiro, mas por onde já passei não encontrei um gelato igual ao de Wilmington. Para uma cidade tão pequena, podia-se encontrar muitas coisas especiais, principalmente tratando-se de comida.

    Alguém que eu não reconheci estava caminhando ao norte da rua Union. Parecia que ele tinha me reconhecido pelo jeito que olhava, inclinando-se um pouco para ver quem estava sentado atrás do volante. Seu rosto me era familiar, mas não consegui ligar um nome ao rosto. Frankie era ótimo para relembrar rostos. Não havia um só rosto que fosse esquecido por ele. Mesmo dez anos depois ele podia facilmente relembrar um nome. Sempre quis ter essa capacidade, mas nunca tive. Suspirei enquanto o cara se dirigia a mim. Não importava o quanto me esforçava, não conseguia lembrar o nome dele.

    O cara curvou-se, encostou-se no carro e sorriu.

    — Ei, Nicky. Bom te ver de novo.

    Cumprimentei-o com um aperto de mão, tentei disfarçar meu esquecimento, mas acabei fazendo o que sempre faço numa situação como essas.

    — Sei que deveria lembrar seu nome, mas não lembro — O cara sorriu, provavelmente para disfarçar o embaraçamento de ter sido esquecido. Se as pessoas soubessem que isto não é nada pessoal, que é apenas uma coisa comum.

    — Sou Howard. Lembra, nono ano, Irmã Louise? — Pensei por um momento, depois balancei minha cabeça. — Não lembro, Howard. Me desculpe. Lembro apenas da Irmã Louise.

    Ele sorriu: — Tudo bem. Bom te ver de novo de qualquer forma. Cuide-se.

    — Até mais, Howard.

    Enquanto ele caminhava pela rua, repetir seu nome em minha cabeça, na esperança de me recordar no caso de nos encontrarmos de novo. Alguns minutos depois comecei a procurar por Marty novamente, me concentrando nos carros indo na direção sul da rua Union. Um minuto depois avistei seu carro. Nós tínhamos passado pela rua Front, o parque, a rua onde ele morava e a ponte em Elsemere. Assim que ele passou pela ponte eu soube para onde ele estava indo. Nas quintas-feiras Marty costumava comer cheeseburg na Casapulla. Muitos acham que Philly tem o melhor cheeseburg, mas a pequena e velha Wilmington, Delaware, tem os melhores sandubas e lanches. Casapulla foi considerado rainha dos sandubas por mais de cinquenta anos.

    Originalmente eu tinha planejado torturar Marty, mas alguma coisa dentro de mim não me deixaria fazer isto. Então enquanto eu esperava no carro, decidi apenas conversar com ele. Se isso não funcionasse eu o mataria para acabar com isso. Eu tinha planejado fazer isto antes que ele comprasse sua comida, mas por mais que eu odiasse o cara, nada justificaria matá-lo de estômago vazio. Todo mundo merece uma última boa refeição.

    Ao invés de correr o risco de ser visto, voltei e decidi esperá-lo em sua casa. Cruzei a ponte de volta e fui atraído por uma placa do McDonald's que exibia quantos milhões eles haviam vendido. A placa estava a minha esquerda, decidi estacionar ali perto e esperar. Marty morava no Canby Park, do outro lado da rua e, de onde eu estava, poderia vê-lo chegando. Se ele continuasse com sua rotina, iria para casa banhar e sairia em seguida para tomar algumas cervejas. Perfeito. Eu esperaria ele sair do bar e então o pegaria.

    Meia hora depois, comecei a me preocupar. Não deveria ter levado tanto tempo para comer um sanduiche, mesmo que a lanchonete estivesse lotada. Esperei por mais dez minutos, depois liguei o carro e voltei à Casapulla. O carro de Marty não estava lá.

    Droga! Como pude perde-lo? Voltei para a casa de Marty. Ele também não estava lá. Talvez não fosse para ser. Nunca tinha pensado coisas desse tipo... talvez fosse um presságio. Angie me dava lembretes constantes para não me envolver com nada ilegal. Prometi para ela que não me envolveria. Na verdade isto era algo que eu havia prometido a mim muito antes de Angie me pedir.

    Talvez ela estivesse certa. Mesmo caras como Marty merecem uma segunda chance. Puxei o freio de mão, coloquei o carro em ponto morto, e peguei uma moeda de 25 centavos no porta-luvas embaixo do rádio.

    Coroa!

    Joguei a moeda para cima. Ela decidiria o destino de Marty.

    Cara.

    Assenti. Ok. Marty vive. Engatei a primeira marcha e segui em direção à minha casa, com uma sensação boa. A Irmã Mary Thomas ficaria orgulhosa. Enquanto eu ia para casa, fiquei pensando no que faria caso a moeda tivesse dado coroa.

    Gastei menos de cinco minutos para chegar em casa. Angie e eu tínhamos mudado para uma casa na rua Beech. Ficava a poucos quarteirões de onde nós havíamos crescido, as casas eram mais agradáveis e ficavam no distrito escolar de St. Elizabeth. Também fiquei alguns quarteirões mais perto do lugar onde os caras costumavam se divertir e jogar cartas. Doggs, Patsy a baleia e Charlie ainda estavam por perto. Mikey o Cara estava cumprindo pena e Pockets foi assassinado num roubo à mão armada. Os demais se mudaram.

    Estacionei o carro, joguei a mala no porta-malas, segui pela calçada da casa, e subi a pequena escada, saltando dois degraus de cada vez. Quando eu alcancei o topo da escada, abri a porta da frente. Angie estava no centro da sala, abraçando Rosa. Elas estavam chorando.

    — O que aconteceu? Você está bem? — Corri apressadamente para perto delas.

    — É o Marty — respondeu Angie. — Rosa o encontrou em uma lanchonete para comer sanduiches e eles começaram a discutir. Ele bateu nela.

    Meu corpo ficou tenso. Meus punhos cerrados. Aquele idiota vai pagar por isso.

    Rosa soltou-se de sua mãe e me abraçou.

    — Papai, não faça nada. Estou bem. Está tudo certo. Não machuque ele, por favor?

    Segurei-a mais perto. Acariciei suas costas. Tudo que eu conseguia me lembrar era o que Mamma Rosa costumava falar para mim quando as coisas não iam bem. Non ti preoccupare, Rosa.

    — Não fale em italiano — protestou. — Não fale em italiano.

    Eu disse apenas para ela não se preocupar. No entanto, por dentro, as coisas se agitaram. Pensamentos do que eu faria com Marty quando o pegasse e o quanto eu o faria sofrer. Pensei em pregos, parafusos, martelos e ácidos... Então senti um beliscão.

    — Papai... Papai, você está escutando? — Olhei para ela e acariciei a parte de trás de sua cabeça.

    — O que foi?

    — Você escutou quando eu pedi para não machucá-lo?

    Seus olhos estavam vermelhos de chorar e suas bochechas estavam cheias de lágrimas, mas seu rosto parecia ser de um anjo. Como poderia negar. — Tudo bem, Rosa. Mas eu juro...

    — Não se preocupe. Nunca mais acontecerá novamente. Não quero vê-lo nunca mais.

    Puxei-a pra mim e lhe dei um abraço. — Você está certa, Rosa. Nunca mais acontecerá novamente.

    Capítulo 2

    Regressando ao lar

    Brooklyn, Nova Iorque

    Tom Jackson achava que seria um assassino toda sua vida. Nasceu um assassino, como seu pai costumava falar de Beau, um de seus cães de caça. Tom lembra-se chorando do dia que Beau matou sua galinha favorita e quando contou para seu pai, ele fez como sempre — ensinou-lhe uma lição. Ele foi até a cozinha, pegou uma faca de açougueiro e a entregou para Tom.

    — Faça o tem que ser feito, garoto — disse balançando a cabeça em direção a Beau.

    Quando Tom cortou Beau, o cão soltou um ganido débil que o fez chorar ainda mais. Seu pai foi até o galpão. Quando retornou trouxe consigo um chicote. Tom secou suas lágrimas rapidamente.

    — Nesta casa, quanto mais se chora mais se leva chicotadas — Tom levou uma surra feroz de seu pai naquele dia, um tipo de surra que seu pai dava nos cachorros se eles não obedecessem, o tipo que deixou marcas e dores por dias. Tom aprendeu sua lição. Mais tarde, depois que sua mãe morreu, Tom usou aquela mesma faca para cortar a garganta de seu pai, porém dessa vez não chorou. Depois, Tom o enterrou ao lado de Beau, liquidou todas as contas da fazenda, embalou o pouco que tinha e saiu.

    Pensando naquele dia, Tom se perguntava se ter matado Beau foi o que o fez com que seguisse por este caminho. Ou matava Beau ou ia para o exército. Se tivesse ido para o exército, eles teriam feito um bom trabalho com ele. Não tinha nada que Tom gostasse mais do que matar, nem mesmo de sexo.

    Pensar em sexo o lembrou de sua esposa, Lisa. Imagens de suas curvas delicadas e da leve camada de gordura em sua barriga vieram a sua cabeça. Tom odiava mulheres muito magras. Metade das mulheres hoje em dia são nada além de ossos. Isso o fez desejar comer uma asa de frango. Lisa tinha carne suficiente e ele adorava envolver seus braços em torno dela durante a noite.

    Uma dor pulsante em sua perna o fez mexer-se. Ele esfregou ao redor do local onde a bala o havia atingido. A ferida já tinha quase cicatrizado por completo. O médico havia dito que provavelmente levaria cerca de um ano para a ferida ficar completamente curada, mas Tom duvidou disto. Suas feridas sempre curavam-se rapidamente. Mesmo quando seu pai lhe batia violentamente, os hematomas desapareciam depois de um dia. Ele supôs que era por isso que seu pai sempre lhe batia na sexta-feira à noite.

    Um impacto na estrada sacudiu Tom, aumentando mais a dor. Ele olhou fixamente pela janela do taxi para todas as pessoas se aglomerando, todas com pressa. Os carros num grande congestionamento, buzinando sem parar. Fazia muito tempo que ele não via nada parecido com isso.

    — Ainda falta muito para chegarmos? — perguntou ao taxista.

    — Cerca de quinze minutos.

    Tom enfiou a mão em sua mochila e retirou os papéis da dispensa. Vergonhoso. Que merda eles estavam pensando? Depois de tudo que tinha feito para eles. A pior parte, foi eles o terem dispensado por ter matado quem eles chamavam de um homem santo. Aqueles filhos de uma mãe, não tinham nenhum homem santo. Malditos pagãos. Ele devia ter atirado em toda a vila, crianças e tudo. Assim não teria sobrado ninguém para dizer o que ele havia feito. Isso era o que ele faria se pudesse voltar no tempo — matar todos.

    Ele não tinha percebido o quanto se esticara até sentir outra pontada de dor aguda em sua perna. Ele respirou fundo, relaxou e deixou sua mente se perder em pensamentos. Tentou pensar em coisas tranquilas, mas sua mente teimava em viajar até Lisa. Mas pensar nela o deixava ansioso e tenso. Tudo o que ele queria era agarrá-la e jogá-la na cama, mas temia que ela se envergonha-se dele. Ela tinha tanto orgulho do que ele fizera no exército que tinha até sugerido que ele se realistasse, caso fosse permitido.

    O taxista parou na frente de seu prédio e o ajudou com as malas. Tom pagou a corrida, virou-se, foi de elevador até o quarto andar e seguiu em direção ao apartamento 412. Bateu na porta, mas não esperava encontrá-la em casa. Era muito cedo ainda. Como não obteve resposta, sentou-se no chão encostando-se à parede, lembrando-se da noite que estiveram juntos, mas preocupado em dizer a ela o que havia acontecido. Enquanto ele pensava em todas as questões sobre recomeçar, lembrou-se que ela sempre mantinha uma chave sobressalente escondida na lavanderia.

    Alguns minutos depois, ele voltou com a chave, abriu a porta e jogou suas malas no chão. Bebeu um copo de água e foi tomar um banho. O banheiro era pequeno, mas tinha um bom closet, grande o suficiente para os dois guardarem suas roupas. Enquanto ele tirava sua camisa, foi até o guarda-roupa para sentir o perfume de Lisa. Tinha se passado tanto tempo.

    Tom parou de repente, boquiaberto. Sem acreditar no que estava vendo. Pendurados ao lado das roupas dela haviam diversos ternos, camisas e gravatas. E no chão, três pares de sapatos masculinos.

    — Que merda...

    Ele vestiu sua camisa novamente, não mais incomodando-se em tomar banho, deu um forte soco em seu rosto. Deu outro soco em si mesmo. Depois, sentou-se na beirada da banheira e chorou. Por quase dez minutos ele ficou pensando no que ele teria feito de errado, que havia levado ela a fazer um coisa como essa. Sem respostas, levantou-se e caminhou até a cozinha, abriu a porta, pegou suas malas e as colocou no armário do quarto. Pegou sua faca e sua arma e sentou-se na cama para esperar.

    Viu um gatinho preto com um miado fraco. Ele se esfregou nas pernas de Tom e miou tão brandamente que mal se ouviu.  Tom o pegou, o colocou na cama e alisou sua cabeça. Primeiro o acariciou suavemente, então seus músculos se tencionaram. Se perguntou se o gato pertencia ao homem. Tom apertou o pescoço do gatinho e, quando este estava quase sufocando, soltou outro débil miado. O gato o olhou com olhos inocentes.

    — Você pertence a quem? — Tom perguntou, relaxando seu aperto. Ele pensou. Não é preciso fazer isto agora.

    Uma hora mais tarde a porta da frente foi aberta. O som de uma risada feminina se espalhou pelo corredor. Era Lisa. Ele reconheceria aquela risada em qualquer lugar. Tom sorriu, mas apenas por um instante. Logo em seguida à sua risada ele escutou uma voz masculina. Tom apertou o cabo da faca com tanta força que as veias de sua mão salientaram-se. Fez um grande esforço para se conter e não ir até o fim do corredor e cortar a garganta daquele homem. Esperou pacientemente por mais quinze minutos, sofrendo enquanto eles riam e conversavam sobre experiências compartilhadas que ele desconhecia. Forçou-se a se acalmar. Calma, respire fundo, siga os passos de Qi.

    — Vou tomar banho — disse Lisa.

    — Não sem mim — respondeu o homem. — Pense — Tenho uma semana inteira fora.  Alguma ideia do que fazer com todo esse tempo?

    Tom fechou seus olhos, tenso.

    Quando a porta do quarto abriu, ele agarrou o braço de Lisa e a puxou para dentro. Ele deu um passo à frente, em direção ao homem e enfiou a faca em sua barriga. Lisa gritou, mas Tom enfiou toda a lâmina abaixo de suas costelas. O homem levou a mão ao ferimento ofegando enquanto caía. Morreria em poucos minutos.

    Tom se virou para Lisa, colocou a faca contra seu rosto. — Não faça barulho ou eu te mato.

    Ela finalmente o reconheceu. Ela tomou fôlego e levou as mãos à boca.

    — Tom! Meu Deus. O que você fez?

    Ele queria cortá-la. Sua mão tremeu, começou a se mover, mas conseguiu manter o controle. Empurrou-a para a cama.

    — Silêncio.

    O homem no chão arfou. Um filete de sangue escorreu de sua boca.

    — Meu Deus, você o matou. — Lisa se moveu em direção ao homem, mas Tom a puxou de volta.

    — O que você esperava que eu fizesse?

    — O que você está fazendo aqui? Por que...

    Tom apertou o cabo da faca.

    — Eu faço as perguntas. — Ele apertou a garganta dela, pressionando a faca contra seu pescoço. — Existe algum motivo pelo qual eu não deveria matar você?

    Ele queria bater nela, mas ele foi ensinado a não bater em mulheres. Isso foi o que seu pai sempre lhe ensinou. Pelo menos era isso que seu ele dizia antes de bater forte em sua mãe, o que acabou a levando para a sepultura. Bateu nela tão forte que sua cabeça inchou como um melão podre. Cerca de duas semanas depois ela faleceu. Papai mandou Tom pegar a pá naquele dia e começar a cavar.

    — Cave bem fundo — disse a Tom. — Bem fundo. Você não quer que nenhum coiote encontre o corpo dela.

    Não senhor. Tom não batia em mulheres. Se uma mulher fosse um alvo, ele atiraria nela com uma calibre cinquenta, destruiria metade de sua cabeça, mas não fazia sentido bater em uma mulher. Ele viu seu pai fazer o suficiente disso.

    — Acalme-se, Lisa. Pare de chorar.

    O choro dela passou de um pranto descontrolado a soluços, até se tornar apenas uma fungadela. Finalmente ela se sentou na cama, trêmula.

    Tom caminhou até ela. Havia sangue em suas mãos, arma e roupas.

    — Não queria te aborrecer, mas... bem, ele precisava morrer. Você entende, não entende? — Lisa assentiu, enxugando os olhos com a manga da camisa.

    Termine seu trabalho. A frase surgiu em sua cabeça. Mas ele não iria fazer isso, não podia fazer. De jeito nenhum ele mataria Lisa. Ele a puxou para si, o sangue em sua camisa sujou a testa dela. Ela tremeu. Ele a sentiu resistente, mas a manteve perto de si.

    — Você tem que ser corajosa. Não vou te machucar enquanto você fizer o que eu mandar.

    Ela soluçou mais alto.

    — Tudo bem.

    — Nós teremos que limpar toda essa bagunça e é importante que limpemos muito bem.

    — Ok — sussurrou entre soluços.

    — Pegue-o pelos pés e me ajude a colocá-lo na banheira.

    Lisa chorou por todo o caminho até o banheiro. Ela manteve a cabeça virada para o outro lado, se recusando a olhar para o corpo, mas ela fez isso sem vomitar — isso era bom. Ele retirou a cortina do box do banheiro depois encheu a banheira antes de pôr o corpo dentro. Lisa ficou ao lado de Tom, sacudindo e olhando fixamente para suas mãos ensanguentadas.

    — Preciso tomar um banho — Ela disse.

    — Ainda não — respondeu Tom. — Pegue a serra.

    Tom retirou a cabeça, mas fez Lisa retirar os pés e as mãos. E o pênis, é claro. Ela vomitou várias vezes e desmaiou uma vez por alguns segundos, mas conseguiu passar por tudo isso. Eles colocaram as partes do corpo em vários sacos plásticos. Ele enrolou três sacolas, as colocou dentro das malas e as cobriu com mais sacos plásticos. Tudo que ele não queria era algum vazamento. Ele gravou alguma coisa nas costas de uma das mãos dele, depois colocou o pênis do homem e elas em sacos diferentes.

    Tom se virou para Lisa.

    — Tire todas aquelas roupas do armário e agradeça que eu não meta você em uma dessas malas.

    Quando ela terminou, correu para a pia e começou a se lavar.

    — Ainda não — respondeu Tom. — Você precisa limpar aquela banheira. Vai ser preciso ser bem esfregada.

    Tom cortou o carpete onde o sangue manchou. Ele enfiou os pedaços em outros sacos e os colocou ao lado dos demais. Então, ele fez Lisa esfregar o chão, e a banheira por cinco vezes com alvejante. Quando ela terminou, ele pediu que ela entrasse na banheira.

    O medo invadiu o seu ser. Ela chorou.

    — Não vou te machucar — disse ele. — Lave-se.

    Ela começou a se lavar sem tirar os olhos dele. Depois de ter se esfregado, ela se enxaguou e foi desligar o chuveiro. Ele a parou.

    — Você ainda não está limpa. Continue se esfregando.

    Ela estava nua, seus braços envoltos em torno dos seios, tremendo.

    — Estou limpa. — Ele negou com a cabeça. — Ainda não.

    Ela teve que se lavar por mais cinco vezes até Tom a permitir parar. Ele pôs sua faca contra sua pele, acima dos pelos pubianos.

    — Isso não vai doer — disse ele. E deslizou a lâmina por ela, fazendo um risco de sangue. Lisa sufocou um grito.

    — Isso é para te limpar — disse ele. — O sangue limpa a alma.

    Lisa tremeu tão forte que parecia que ia se fragmentar.

    O sangue escorria se misturando com seus pelos. Quando ele pensou que já havia saído sangue o suficiente, atirou um pano limpo para ela.

    — Se limpe com isto. Certifique-se que ficará bem limpa. Quero você pura.

    Ela se limpou por quinze minutos, chorando o tempo todo. Depois, ele limpou o corte, pôs um curativo, a fez vestir uma camisola enquanto eles assistiam TV.

    — Preciso telefonar para uma pessoa. Avisar que não vou ao trabalho amanhã.

    — Besteira — Comentou ele. — Você tem que ir trabalhar. Não pode perder um dia de trabalho por algo assim. — Ele passou alguns canais e olhou para ela. — Pensando bem, talvez seja melhor você telefonar. Precisarei de ajuda com essas malas. Decidi colocá-las em algum lugar que chame atenção.

    — Talvez eu devesse ir — disse Lisa. — Eles podem ficar preocupados...

    — Você vem comigo — A voz de Tom adquiriu um tom feroz. — Ligue e deixe uma mensagem. Apresse-se. Quero assistir a um show.

    Lisa fez a ligação, voltou e se sentou no sofá com Tom, o mais longe dele que ela pode. Ele a fez sentar mais próxima dele. Ela deslizou somente um pouquinho em sua direção.

    — De quem é aquele gato?

    Lisa engasgou-se e correu em direção ao quarto.

    — Buster! Buster, onde está você?

    — Não o machuquei — disse Tom. — Perguntei de quem é ele?

    Lisa voltou com o gato aninhado em seus braços.

    — Eu o achei na rua — Ela lançou um rápido olhar para a porta e depois de volta para Tom.

    Ele sorriu: — Se você quiser manter Buster vivo, terá que fazer tudo que eu mandar — A voz de Tom ganhou um tom rude e então disse: — Se você olhar para aquela porta novamente, você vai terminar igual ao seu namorado. Vou te cortar em pedacinhos e dar para seu gato comer.

    Lisa se ajoelhou diante dele, lágrimas correndo.

    — Farei o que você quiser, Tom. Por favor não machuque Buster. Ele não fez nada. — Tom pegou o gato dos braços dela e o colocou no sofá.

    — Faça o que eu disser e nada ruim irá acontecer.

    Eles assistiram televisão por quase duas horas, antes que Tom dissesse que queria ir para a cama. Quando eles foram para o quarto, Lisa tirou sua camisola e pegou um pijama verde em sua gaveta. Ele tinha pequenos gatinhos brancos estampados.

    — Durma nua — ordenou Tom. — Gosto que durmamos nus.

    Ela concordou com a cabeça e silenciosamente subiu na cama, o medo afetando cada movimento. Enquanto ela

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