Colar de Ossos: Outras Histórias
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Colar de Ossos - Paulo Erico Canarim
Paulo Érico Canarim
Colar de Ossos e outras histórias
1ªedição
Rio de Janeiro
Edição do Autor
2013
Copyright: Paulo Érico Canarim
Coordenação Editorial: Patricia Canarim
Capa: Vinícius Moore Canarim
Ilustrações: Heliana Laura Rucco
Revisão: Renata Medeiros
FichaDezembro de 2013
Primeira Edição
Pai e mãe ouro de mina
Agradeço a minha família o apoio e a dedicação.
Índice
Algumas palavras...
Histórias que aconteceram no centro da cidade
Um conto de Natal
Sabores de sextas
Hoje tem bife a cavalo?
Algo em comum
Hora extra
Um bom dia
Jaleco branco e tabuleiro na cabeça
Aconteceu em um hotel no centro
Começou pequeno, bem
Uma vendedora de empadas...
O moço
Dona Yolanda
Histórias que ouvi dizer
A volta da guerra
Não, filha; mas deu vontade...
Nasce o filho
A solidão é um equívoco, a vida não deveria permitir isso...
Às vezes é uma questão de sorte
Tiozinho
Chamado
Se beber, melhor não dirigir
Complicado, hein, Juvenal!
Boas intenções
Viúva
Um lençol limpo e velas
Reencontro
Coisas de crianças
Pedro e a árvore
Hora do banho
Essa menina é fogo
Passou rápido
Dois meninos brincando
Colar de Ossos
Colar de Ossos
Algumas palavras...
Isto não é um conto. Talvez, um agrupamento de tipos disparados contra uma página em branco, seguidos por espaço, interrompidos por signos, símbolos, para dar alguma ordem. Em blocos justificados ou não, seguem uns atrás dos outros em ritmo acelerado e, vez por outra, o marcador pisca aguardando...que os tipos continuem chegando, para só assim dar um final ou não, à sequência iniciada.
Histórias que aconteceram no centro da cidade
Um conto de Natal
Chovia muito. Ouvia-se apenas o som das águas correndo e arrastando o que encontrava pela frente. As roupas encharcadas. Levava apenas uma sacola com suas coisas. A chuva parou. Enfiou-se dentro de uma caixa de papelão e ficou olhando o movimento. Pessoas desejavam Feliz Natal umas às outras, carros buzinavam. O relógio da rua marcava dezenove horas.
Tudo calmo, não se via mais ninguém nas ruas. Esticou a mão para sentir a chuva que finalmente parara. De uma sacola plástica tirou dois pedaços de pão. Do outro lado da rua, um cachorro sentiu o cheiro e levantou a cabeça. Os dois encaravam–se, então, ele fez um barulho com os dedos chamando o animal, que imediatamente atravessou a rua e pôs-se ao seu lado.
Os sinos bateram, era missa de Natal.
Jaleco Branco e tabuleiro na cabeça
Na mesa, uma porção de pastel de angu e uma garrafa de cerveja. As outras estavam no chão embaixo da mesa, derrotadas, vencidas. O bar, localizado num bairro próximo ao centro da cidade, recebe todo tipo de gente, em especial às sextas. Os dois sujeitos aparentam ser homens bem casados mas, quando estão desacompanhados, agem como aquele cachorro que passa a vida toda preso e, quando solto, corre de um lado pra outro, sem saber o que fazer. Tudo estava tranquilo, não tinham a intenção de fazer nenhuma besteira e não fizeram; estavam apenas a conversar e deixar o tempo correr. Passava um pouco das seis horas quando o bar começou a encher. Alguém colocou uma música na velha jukebox e, de repente, havia um monte de mulheres desacompanhadas. Os olhares eram trocados feitos flechas.
A conversa foi esfriando, o silêncio entre eles pairava e era como se um não soubesse da existência do outro. As atenções agora eram para o público feminino. Uma bela morena vestida de calça branca justa, que marcava suas formas, caminhou em direção à mesa. Foi então que repararam que todas estavam de roupa branca e que devia ser um encontro de alunas de uma faculdade próxima, de enfermagem ou de medicina, sei lá... Passou direto e sentou-se em uma mesa atrás.
Entre risos, gritos e gargalhadas, perceberam que eram os únicos espécimes masculinos no recinto. Na mesa de trás, só a morena levantava. Um desfile sem fim. Debruçava sobre o balcão, se espremia entre as cadeiras, sentava-se.Não demorava muito, um novo desfile começava.
Olhar era inevitável. Embora desacompanhados, não iriam se aventurar a fazer um papel ridículo. Que sofrimento! Virou, mexeu, lá estava ela desfilando pelo bar. Uma mistura de crueldade com pitadas de ironia.
Entre as sentadas na mesa estava uma mulher de mais idade, que de início imaginaram ser a mãe da morena. Num descuido, eles acompanharam com olhares cumpridos a morena que passava e deram de cara com a senhora, que estampava um sorriso cínico. Pronto. Foram descobertos... Engoliram em seco. O sorriso enigmático daquela senhora dizia: podem olhar, é bonita mesmo, mas é minha
. Um beijo de selinho e as duas