Contos Nos Carris

De Alessandro Caselli e Marzia Bosoni

Carruagens, faixas, monitores, bilhetes, obliteradoras são objetos comuns para aqueles que costumam viajar de comboio para estudar ou trabalhar.

Geralmente, trabalhadores ferroviários, empregados, turistas, estudantes e passageiros geralmente cruzam-se nas estações.

Mas o que acontece quando um elemento externo entra neste quadro familiar?

Dez contos que narram os encontros e desencontros entre o habitual e o diferente, da particularidade que pode existir no que é comum e da anormalidade que há em cada um de nós.

• Idioma: Português
• Editora: BadPress
• Data de lançamento: 10 de nov. de 2018
• ISBN: 9781547550654

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Para Yeboah, que talvez nunca mais encontrarei,

com quem tive uma troca de palavras agradável.

E para Afenah que a escutou.

Introdução

Às vezes é um fulano que olha para o jornal que está a ler e começa a comentar os resultados da última jornada do campeonato de futebol, mas ao qual não se dá qualquer importância.

Às vezes é um Ex-sexagenário, ainda fascinado pela política, que quer pôr-te a par das notícias perturbadoras que acaba de ouvir no rádio.

Às vezes é uma jovem estrangeira que corre atrás de um comboio que acabou de partir e no qual deixou dinheiro, bagagem e documentos, que se vê cercada de pessoas que não falam a sua língua... nem sequer o inglês.

Às vezes é um ex-professor universitário, escritor, viajante de terras, mares e desertos, ou é uma senhora que coloca as roupas no assento e não deixa nenhum passageiro sentar-se nele.

Às vezes é um ex-prisioneiro, estrangeiro e clandestino, que lhe pede para ler alguns documentos do tribunal e explicar-lhe um significado que nem mesmo você é capaz de entender.

Às vezes é um homem louco que escapou de um hospício que não existe mais, que ama motocicletas e bom vinho, e que colocou a sua casa numa mala. Um tolo que tem sido evitado e rotulado como anormal por pessoas normais.

Mas o que significa ser normal?

Ser normal, hoje, significa aceitar apenas aqueles que são considerados normais pelo rebanho, isto é, somente aqueles que são exatamente iguais aos outros normais, e que não têm nada para ensinar uns aos outros porque são todos monotonamente iguais. Estar com os normais significa aceitar apenas como válidas as suas regras e perder a oportunidade de conhecer muitas outras pessoas, pessoas diferentes e com as quais, pelo contrário, se pode aprender.

Cabe a nós escolher se queremos nos isolar desses diferentes, se queremos viver solitários num mundo de solitários normais, ou se queremos seguir o nosso caminho e cruzá-lo, de tempos em tempos, com aquele trilho muito mais tortuoso destas pessoas, escutar as histórias que